quarta-feira, 22 de agosto de 2012

A GRÉCIA FOI ESQUECIDA POR DEUS E FICOU NAS MÃOS DO DEMÔNIO E DA TROIKA

Não há solução barata para salvar a Grécia da crise, afirmam analistas
Charles Hawley - De Spiegel
A Grécia, ao que parece, está cambaleando de novo. A “Spiegel” revela que o país precisa fazer cortes adicionais de 14 bilhões de euros, em vez dos 11,5 bilhões presumidos até então, para cumprir as condições estabelecidas por seus credores estrangeiros.
A diferença – 2,5 bilhões de euros – pode não parecer muito diante das centenas de bilhões de euros que a comunidade internacional já colocou no caminho da Grécia para impedir sua falência. Mas um número cada vez maior de políticos, particularmente na Alemanha, não tem medido esforços recentemente para prometer que um terceiro pacote de resgate para Atenas é simplesmente inaceitável. Além disso, apesar de todo seu otimismo forçado nas últimas semanas, os credores internacionais do país apontaram que tanto a receita de impostos quanto o programa de privatização do país não estão se desenvolvendo do modo planejado. Um relatório final sobre o estado atual das finanças da Grécia deverá ser apresentado no início de setembro.
Ainda não se sabe se a Grécia será o primeiro país a sair da zona do euro. Quarenta e cinco dos 64 economistas entrevistados pela agência de notícias “Reuters”, em agosto, acreditam que a Grécia ainda fará parte da moeda comum daqui um ano, em comparação a 35 dos 64 entrevistados em maio. E o país ainda pode receber uma prorrogação, na forma de dois anos adicionais para chegar aos 11,5 bilhões em economias que atualmente são exigidos dele. Esse adiamento promete ser um elemento nas negociações no final desta semana, à medida que o primeiro ministro da Grécia, Antonis Samaras, visita tanto Berlim quanto Paris.
Todavia, a nova rodada de más notícias da Grécia deixou os comentaristas alemães com humor fatalista na última segunda-feira (20), ao ponderarem sobre o que saiu errado e o que o futuro pode reservar.
O jornal conservador “Die Welt” escreve:
“Há algum tempo, a chancelaria em Berlim está oscilando entre dois pontos de vista. Aqueles que aderem à teoria do lastro acreditam que a zona do euro se estabilizará assim que a zona do euro se livrar da Grécia, um país que notoriamente não atingiu nenhuma de suas metas e que é politicamente não confiável, mesmo sob o novo governo. A teoria do dominó, por sua vez, argumenta que assim que a Grécia sair, os mercados financeiros se concentrarão nos próximos países na fila: Portugal, Espanha e talvez a Itália. Não porque investidores malignos têm a intenção de destruir o euro, mas simplesmente porque uma saída da Grécia significaria que os países membros da zona do euro não cumpriram sua palavra. Eles prometeram não deixar nenhum país para trás. Se a Grécia fosse abandonada e repetissem a promessa para os 16 países restantes, quem acreditaria neles? Os governos se colocaram em uma situação onde só podem quebrar as promessas e regras que estabeleceram para eles mesmos.”
“Merkel ainda não tomou sua decisão. Ela ainda está à procura de meios para limitar os danos, tanto à credibilidade da zona do euro quanto às suas finanças. Será decisivo se a chanceler e o presidente francês François Hollande puderem trabalhar juntos no desenvolvimento de uma estratégia comum. O sucesso dos esforços para salvar o euro depende disso.”
O jornal de centro-esquerda “Süddeutsche Zeitung” escreve que há um crescente desejo, particularmente na Alemanha, por uma união política e fiscal. “Não seria, entretanto, a forma inteligente de proceder. Uma reforma dessas sobrecarregaria os povos da Europa e provavelmente fomentaria sua desintegração em vez de sua união...”
“O compartilhamento da dívida por todo o bloco acalmaria os mercados, mas não forneceria à UE uma estabilidade duradoura. A turbulência experimentada pela moeda comum não é a causa, mas sim apenas uma expressão do verdadeiro problema que a UE enfrenta: ela não é confiável. Ela ainda precisa convencer o mundo, ou mesmo seus próprios cidadãos, de que pode exercer o papel de uma potência forte e confiável. Há simplesmente contradições demais na UE, não apenas quando se trata de economia e finanças, mas também em política externa e de segurança. A Europa ainda não convenceu o restante do mundo de que se uniu de modo irreversível.”
O jornal de inclinação de esquerda “Die Tageszeitung” escreve:
“Tente este experimento extremo de pensamento: presuma que todas as dívidas da Grécia sejam perdoadas, o que aliviaria o país de todos os pagamentos de juros. Mesmo nesse caso, os gregos ainda assim acumulariam mais dívida. O Estado não pode financiar totalmente a si mesmo porque suas receitas tributárias são insuficientes. E também não basta à Europa exigir ainda mais programas de austeridade. Eles apenas piorariam a recessão, e as receitas tributárias despencariam ainda mais.”
“A metáfora do ‘poço sem fundo’ há muito tempo se tornou sinônimo da Grécia, e é verdade que o fundo ainda não está à vista. Em outras palavras, não há solução barata. Em vez disso, a única questão é qual das soluções caras é a mais barata.”
“A história mostra que nenhum país conseguiu voltar à saúde enquanto preso em uma recessão. É preciso investir no crescimento. Isso, é verdade, exigiria novos empréstimos, mas um programa draconiano de austeridade também leva a novas dívidas. Para ser cínico por um momento: é uma situação onde todos vencem. Não é um risco lançar um programa de estímulo econômico. É a última chance da Grécia.”
O jornal de centro-direita “Frankfurter Allgemeine Zeitung” escreve:
“É justificado, e consistente com o espírito da Europa, questionar a (...) legitimidade dos esforços, supostamente obrigatórios, para salvar o euro. É verdade: o debate em torno da Europa está caótico. Medidas de curto prazo estão sendo confundidas com estratégias de longo prazo. Por outro lado, não é fácil desenvolver visões plausíveis enquanto se encara o abismo. (...) Mas uma regressão aos velhos padrões de ressentimentos nacionalistas também é uma possibilidade quando todo o respeito é perdido pelas regras que regem a união. O fato de termos desde então criado uma comunidade de passivos compartilhados – em violação ao espírito dos tratados europeus– está longe de ser uma boa fundação para a confiança.”
Tradutor: George El Khouri Andolfato

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