Reajuste salarial do setor público afeta o setor privado
O Estado de S.Paulo
Os inconvenientes de um sistema de indexação, ainda por cima mal feito, podem se acumular em cadeia. Exemplo: o salário mínimo, com um sistema de dupla indexação (crescimento do PIB de dois anos anteriores mais a elevação do IPCA), tem um efeito inflacionário duradouro.
Era previsível que o funcionalismo público pleitearia elevação real de salário igual à do salário mínimo (em torno de 10%), na falta de uma legislação com regras claras para o direito de greve na função pública. O Congresso Nacional também não as definiu. E o resultado é que o Supremo Tribunal Federal vem ditando algumas normas muito tímidas.
O governo parece estar pronto a ceder parcialmente a esses pedidos de reajustes que põem em risco a execução equilibrada do Orçamento, numa economia em que os salários do setor púbico já ultrapassam os do setor privado.
Não podemos alimentar ilusões de que, diante da concessão de um reajuste real de 10%, obtido pela maioria do funcionalismo no início da safra de dissídios das grandes categorias de sindicatos, isso não seja tomado como base para exigências de reajustes salariais equivalentes ou até mais elevados no setor privado.
As discussões em torno do aumento dos salários vão se realizar num período em que os preços estarão no seu pico, por causa da pressão dos preços agrícolas e da provável elevação do preço da gasolina, que criará uma expectativa de retorno da inflação e, portanto, de anulação rápida das conquistas salariais.
Os setores que foram beneficiados com o alívio temporário dos encargos sociais logo verificarão que, com salários mais altos, o faturamento aumentará nominalmente e a vantagem prevista com o alívio dos encargos vai desaparecer. Já os outros setores verão o aumento de outros inconvenientes.
Há um fato inelutável: a competitividade da economia continuará diminuindo e tornando sem efeito os ganhos de eficiência que poderiam decorrer de uma melhora da infraestrutura, a partir dos investimentos anunciados no País.
Temos de ser realistas: outros países, como o Chile e o México, estão tendo taxa de crescimento muito superior à nossa, embora sofrendo também, como a nossa economia, dos efeitos da crise nos países desenvolvidos. É um desdobramento que nos pode eliminar do grupo dos países que conseguiram manter crescimento num contexto internacional desfavorável (Brics). Mas pior do que isso pode ser a volta progressiva da superinflação.
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