segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Armar os rebeldes é a melhor saída para o conflito na Síria?
Nikolai Korchunov (*) - Le Monde
Enquanto prossegue a crise síria, nós ouvimos mais e mais pedidos para que os rebeldes sejam armados. A ideia é clara – quanto mais armas as forças de oposição tiverem, mais rápido o governo sírio cairá. Esses autointitulados “Amigos da Síria” parecem já ter decidido que essa ideia será boa para o país, independente da opinião dos próprios sírios.
Aqueles que pedem pelo envio de mais armas aos rebeldes devem saber que essas ações inevitavelmente levariam a uma escalada ainda maior do conflito e a novas mortes. Isso lembra o velho ditado dúbio, “quanto pior, melhor”. Mas armar os rebeldes seria de fato melhor?
A história do mundo nos dá evidência abundante para provar que a evolução pacífica é melhor do que a revolução sangrenta, que é mais fácil fomentar a violência do que colocar um fim a ela. Por que isso seria diferente na Síria?
Aqueles que pedem para que os rebeldes sejam armados parecem acreditar que os princípios da lei internacional e da Carta das Nações Unidas podem ser substituídos por oportunismo político. Nós já testemunhamos essa situação durante a operação liderada pela Otan na Líbia, quando os países que apoiaram o embargo de armas e até mesmo assumiram a responsabilidade de implantá-lo foram os mesmos que entregaram armas aos oponentes do regime de Muammar Gaddafi. Eles nem mesmo negaram fazê-lo, como se a contradição na política fosse algo trivial. O argumento deles era de que o “mal” devia ser combatido de todos os modos possíveis, independente da lei internacional ou de seus próprios compromissos.
Aparentemente o “sucesso” líbio parece encorajador para alguns, uma tentação de contornar o Conselho de Segurança da ONU. Esse é um precedente perigoso. Em outras partes do mundo, certos países podem estar com vontade de usar os mesmos métodos para atingir suas metas. Se um país pode fazê-lo, por que outros não podem?
Nós temos que lembrar – a quebra de acordos, o ignorar dos princípios básicos ou o abandono de decisões em concordância leva inevitavelmente à destruição de todo o sistema da lei internacional. Às vezes não é fácil encontrar soluções mutuamente aceitáveis, mas honrar nossos compromissos internacionais e seguir a lei são as únicas formas de manter nosso mundo estável e seguro.
Nós não devemos esquecer outro ponto. Ao fornecer armas para uma força ou facção, não se pode ter certeza de que elas algum dia não serão direcionadas contra você. Visando impedir a União Soviética no Afeganistão, certos países enviaram armas e treinaram insurgentes. Uma década depois, esses “combatentes da liberdade” mostraram sua verdadeira face. Alguns agora são inimigos jurados dos mesmos países que ajudaram a empoderá-los. E agora os esforços de toda a comunidade mundial são necessários para combater o mal do terrorismo internacional.
A mensagem da Rússia é clara. Qualquer disputa deve ser resolvida por meios pacíficos e políticos. Despejar gasolina nas chamas de conflitos internos ou outras soluções “simples” que violam a lei internacional levarão apenas a uma reação em cadeia destrutiva. Assim que for aberta, essa caixa de Pandora será impossível de ser fechada.
(*) Nikolai Korchunov é o representante permanente da Rússia na Otan
Tradutor: George El Khouri Andolfato

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