terça-feira, 21 de agosto de 2012

Entidades que reúnem países árabes fracassam nas negociações diplomáticas entre seus membros
Tomás Alcoverro - La Vanguardia
Só algumas vezes assisti a reuniões de chefes de Estado da Organização da Conferência Islâmica, no Kuwait e na Turquia, das quais quase não tenho lembranças, a não ser as crônicas impressas e as notas que escrevi à mão. Esse grupo de 57 países nasceu em 1969 com uma vocação pan-islâmica baseada na Umma, ou comunidade de muçulmanos, dominada pelo reino da Arábia Saudita, em cuja cidade de Jedá está seu secretariado-geral.
Na cidade vizinha de Meca se realizou a conferência em que o governo sírio foi suspenso da organização devido a sua política repressiva contra rebeldes, como ocorreu há meses em outra reunião da Liga Árabe no Cairo. A OCI é a única organização supranacional de caráter religioso com o fim de fomentar sua ajuda mútua, salvaguardar os lugares santos, apoiar a "causa palestina". É um conjunto heterogêneo de Estados, alguns laicos e outros só com minorias muçulmanas, do qual não participa a Índia, apesar de sua numerosa população islâmica.
A OCI, que se orgulha de sua Carta dos Direitos Humanos Islâmicos, nunca serviu para resolver nem aliviar os grandes conflitos entre seus membros. Fracassou rotundamente em sua mediação entre Iraque e Irã, que se envolveram na guerra mais cruel e longa do Oriente Médio contemporâneo, entre 1980 e 1988. A Liga Árabe reúne 22 Estados, incluindo a Autoridade Palestina, além de Somália, Jibuti ou as ilhas Comores. É uma entidade fundada na mediterrânea Alexandria em 1944, confirmada um ano depois no Cairo, que aspirava a zelar por sua segurança, por seus intercâmbios comerciais, pelo desenvolvimento econômico e cultural e o apoio à causa palestina.
De todas as conferências da Liga Árabe a que assisti, de todas as suas aborrecidas e inúteis conferências de cúpula, que sempre acabavam com precipitação ao chegar a sexta-feira, dia de oração especial dos muçulmanos no Cairo, Amã, Beirute, Damasco, lembro com emoção a de Bagdá no verão de 1990. Ali fracassaram com estrépito iniciativas diplomáticas para que o Kuwait aceitasse pagar as indenizações financeiras que o Iraque exigia por sua guerra árabe contra os revolucionários xiitas persas.
Semanas depois os soldados de Saddam Hussein ocuparam o Kuwait em represália e cumprindo uma reivindicação histórica, desencadeando a engrenagem de hecatombes que ainda perduram sobre a população iraquiana. A Liga Árabe também nunca serviu para restabelecer a paz nas guerras civis do Iêmen, do Líbano, nos conflitos do Iraque, Sudão, Saara Ocidental, na grave crise do Egito e Líbia, no contencioso fronteiriço entre Argélia e Marrocos. Em seus dois grandes temas prioritários durante anos, Palestina e Iraque, demonstrou sua inutilidade. Uma vez, visitando sua sede na Praça Tahrir no Cairo, vi em seus porões montanhas de documentos, de protocolos, expedientes e resoluções adotadas com estrépito, e nunca aplicadas.
A Liga Árabe foi com frequência a palestra de hostilidades, rixas, lutas de influência entre seus membros. Até 1979 o Egito foi o país mais poderoso - sempre um diplomata egípcio era seu secretário-geral, mas a assinatura da paz em separado com Israel o transformou em um infecto entre os governos árabes, que o expulsaram da organização, negando-lhe o pão e o sal.
Devido a esse ostracismo, sua sede se estabeleceu em Túnis, e tunisiano foi seu malogrado secretário-geral, Shadli Klibi, quem sofreu a divisão da Liga entre inimigos e partidários de Saddam. Com Mubarak se restabeleceram as relações do Egito com os demais países árabes, e a bandeira da Liga voltou a tremular na Praça Tahrir. Inúmeras anedotas, às vezes pitorescas, extravagantes amenizaram suas soporíferas e redundantes conferências. O coronel Gaddafi foi um de seus mais imprevisíveis participantes.
Às vezes criticava abertamente seus pares do dividido e desnorteado mundo árabe, os desafiava com sua megalomania beduína e africana, os mantinha em tensão porque ninguém sabia se o coronel se dignaria a assistir à solene reunião de cúpula. Uma vez, no Cairo, não só montou sua tenda, rejeitando o luxuoso hotel reservado, como fez levar seu cavalo branco da Líbia. Os árabes, fartos de tanta ineficácia, de tantas palavras no vazio, de tantos desperdícios e fracassos, se perguntavam ano após ano, para que serviam essas pomposas conferências. Mas a Liga Árabe continua, imperturbável, em seu caminho para a próxima convocação de uma conferência de cúpula.
Organizações "decorativas"
- Liga Árabe. Fundada em 1945 no Cairo por sete países: Arábia Saudita, Transjordânia, Egito, Iraque, Líbano, Síria e Iêmen. Atualmente reúne 22. Tem estatuto de observador na ONU.
- Organização da Cooperação Islâmica. Até junho de 2011 foi a Organização da Conferência Islâmica, como foi fundada em 1969. Tem 57 membros e uma delegação permanente na ONU. É a única organização supraestatal de caráter religioso no mundo.
- Conselho de Cooperação do Golfo. Desde 1981 é formado por Arábia Saudita, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Omã e Catar. Rejeitou a entrada de novos membros para se consolidar antes.
- Conselho de Cooperação Árabe. Idealizado por Saddam Hussein no final de sua guerra com o Irã, dissolveu-se ao ser derrotado na Guerra do Golfo de 1990-91. Agrupava Egito, Jordânia, Iraque e Iêmen do Norte.
- União do Magreb Árabe. Em fevereiro de 1989 os cinco países do Grande Magreb decidiram formar a União do Magreb Árabe. A fronteira terrestre entre Marrocos e Argélia está fechada.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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