Jovens alemães de descendência turca são favoráveis à integração e à religião
Der Spiegel
Quando chegou às manchetes há poucos meses que os salafistas na Alemanha estavam distribuindo Alcorões gratuitos nos centros das cidades por todo o país, o protesto foi imediato. Políticos pediram para que a campanha fosse proibida, jornalistas escreveram extensamente sobre o radicalismo salafista e até mesmo a editora que imprimiu os Alcorões gratuitos se distanciou.
Mas um grupo de pessoas que vive na Alemanha, entretanto, não se incomodou com a promoção. Segundo uma nova pesquisa entre as pessoas de descendência turca que vivem no país, quase dois terços daqueles com idades entre 15 e 29 anos consideram a distribuição do Alcorão como sendo “boa” ou “muito boa”, e um terço deles doaria dinheiro à causa.
O resultado, diz Holger Liljeberg, que chefia a Info GmbH, a empresa que realizou a pesquisa, “pode ser resultado de um ressurgimento entre os jovens dos valores religiosos da terra de seus pais”.
Entretanto, Liljeberg alertou contra concluir que os resultados da pesquisa –com base em entrevistas com 1.011 pessoas de descendência turca na Alemanha com mais de 15 anos de idade –indicam uma tendência de radicalização. De fato, apesar do número dos que se identificaram como sendo rigidamente religiosos estar aumentando (de 33% em 2009 para 37% neste ano), também aumentou a parcela de imigrantes que deseja se integrar plenamente à sociedade alemã.
Vontade de se integrar está em alta
É esta segunda tendência que talvez seja mais surpreendente. Dificilmente passa um ano na Alemanha sem um surto de inquietação altamente pública a respeito da população de 4 milhões de muçulmanos do país (dentre o total de aproximadamente 82 milhões de habitantes). Neste ano, foram os salafistas e sua violência subsequente em resposta à agitação anti-Islã por parte do partido populista de direita Pro-NRW –e o breve debate sobre a circuncisão. Em 2010 e 2011, foi um debate prolongado provocado pelo livro espantosamente simplista sobre os muçulmanos, de autoria do provocador-chefe da Alemanha, Thilo Sarrazin, que argumentava, entre outras coisas, que a imigração estava reduzindo o QI do país.
Mas apesar da natureza às vezes estridente do debate, a pesquisa publicada na sexta-feira pareceu indicar que os ataques verbais abertamente racistas contra as pessoas de descendência turca estão diminuindo. Enquanto uma pesquisa semelhante em 2010 apontou que 42% dos entrevistados diziam já ter sido publicamente insultados por sua aparência turca, o número agora caiu para 29%, apesar de permanecer próximo de 50% entre as pessoas com menos de 30 anos.
Além disso, a disposição dos imigrantes turcos e de seus descendentes de se integrarem à sociedade alemã permanece alta e está crescendo. Enquanto 70% disseram em 2010 que queriam se “integrar de modo absoluto e sem reservas à sociedade alemã”, a nova pesquisa apontou que 78% dos entrevistados concordavam. De modo semelhante, enquanto 59% disseram há dois anos que queriam pertencer à sociedade alemã, 75% disseram isso agora. E 95% disseram que todas as crianças de origem turca deveriam ir para creches para aprender alemão antes de entrarem na escola.
Cada vez mais religiosos
No geral, a pesquisa divulgada na sexta-feira pinta uma imagem de uma comunidade turca na Alemanha dividida entre uma tendência de maior religiosidade, particularmente entre as gerações mais jovens, e um desejo de se encaixar na sociedade alemã. Por exemplo, enquanto apenas 8% dos entrevistados disseram ser favoráveis a escolas primárias apenas de língua turca para crianças de origem turca, 62% (em comparação a 40% em 2010) disseram preferir sair com outros turcos.
Além disso, apesar da disposição de se integrarem parecer estar em alta, o número daqueles que identificam a Alemanha como sendo sua pátria parece estar caindo. Enquanto 21% disseram considerar a Alemanha como sendo sua pátria, e não a Turquia, em 2010, esse número agora caiu para 15%. Além disso, o número daqueles que dizem que planejam voltar algum dia para a Turquia subiu de 42% para 45% – apesar dos motivos mais comuns dados serem o desejo de passar a aposentadoria na Turquia e o clima consideravelmente melhor de lá.
Interessantemente, é a faixa demográfica abaixo de 30 anos que apresenta maior probabilidade de identificar a Alemanha como sendo seu lar – o mesmo grupo que parece estar se tornando cada vez mais religioso. O desejo de mais mesquitas na Alemanha foi expresso por 70% daqueles com menos de 30 anos, 15 pontos percentuais a mais do que a média de todos os entrevistados, e 72% disseram que o Islã é “a única religião verdadeira”.
“O estudo mostra que há um foco cada vez maior na tradição e nos valores religiosos”, diz Liljeberg.
Tradutor: George El Khouri Andolfato
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