quarta-feira, 22 de agosto de 2012

DE TREM NÃO. É MUITO CARO!

Abusos no frete ferroviário devem ser eliminados
O Estado de S.Paulo
O jornal Valor publicou na sua edição de ontem o protesto dos produtores de grãos que se queixam de que a América Latina Logística (ALL) lhes cobra um frete ferroviário superior ao do transporte por caminhões, ou equivalente a 95% deste. Pode-se entender que, diante da denúncia, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) esteja querendo cortar o teto das tarifas das ferrovias.
A ALL desmente a denúncia, embora pareça existir, entre a companhia ferroviária e as grandes tradings, um acordo para reduzir o frete no caso dos clientes importantes e regulares. Isso, todavia, não justificaria um frete tão elevado para os produtores independentes de grãos.
Embora os valores variem de país a país, a regra geral é que o transporte ferroviário é 8 vezes mais barato que o rodoviário, comparação que deve ser ainda mais favorável no Brasil, considerando a péssima conservação das nossas estradas.
No caso, porém, existe um fator muito especial: a importância da safra de soja num momento em que, por causa da seca que atinge outros países e especialmente os EUA, o preço da soja está atingindo nível elevado - o que estimula a ALL a ser sócia no transporte de uma commodity cujo valor está explodindo.
Nada justifica essa tentativa de "participação indireta nos lucros" dos produtores, especialmente sabendo que, no caso de uma safra ruim, a ALL não se mostraria disposta a participar das perdas. O frete ferroviário é ainda muito elevado no Brasil, e é bem conhecido o fato de que, produzindo soja a um preço muito inferior ao da soja americana - por causa dos custos de transporte terrestre e portuário -, esse produto acaba chegando nos EUA a um preço superior ao da soja ali produzida.
A ALL, que não se arrisca a elevar o custo do frete das tradings - que lhe garantem cargas volumosas -, procura obter vantagem da demanda aquecida de uma mercadoria valorizada.
É uma situação que tem sua origem na falta de concorrência no transporte ferroviário. Não se justifica, no entanto, a implantação de uma outra ferrovia na região que não teria negócios suficientes, já que a demanda de transporte é sazonal. Em compensação, justifica-se, sim, a intervenção pública para evitar abusos no quadro de uma análise real da situação.
Não se pode admitir um excesso de preferência para as tradings, mas se pode examinar com a ALL a hipótese de aumentar a capacidade de transporte. O que não é aceitável é que o frete ferroviário negue a vantagem desse meio de transporte.

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