Punk, Pussy, Putin
FSP - Editorial
Não seria nem preciso que a Rússia condenasse a dois anos de prisão três moças da banda punk Pussy Riot para que se evidenciasse o perfil autoritário do regime de Vladimir Putin.
Desde que chegou ao governo em 1999, quando foi premiê de Boris Ieltsin, o ex-diretor da KGB (serviço secreto da extinta União Soviética) se esmera em subjugar as instituições russas para hipertrofiar o próprio poder.
Eleito presidente pela primeira vez em 2000, com 53% dos votos, reelegeu-se em 2004, beneficiado pelo forte crescimento econômico. Impedido de concorrer mais uma vez, promoveu, em 2008, a candidatura de Dimitri Medvedev, de quem se tornou primeiro-ministro.
Conseguiu então modificar a Constituição e ampliar o mandato presidencial de quatro para seis anos. Vitorioso novamente num pleito presidencial controvertido, em março passado, Putin já acumula 12 anos no poder -e ficará até 2018, com chance de reeleição.
Espécie de Hugo Chávez do mundo eslavo, tratou de reduzir a autonomia das regiões, sujeitar a imprensa e criar um ambiente hostil ao pluralismo, à crítica e à liberdade de expressão. Ao longo desse percurso, conquistou a simpatia da influente Igreja Ortodoxa, que não lhe tem negado apoio político.
Foi essa aliança que as integrantes do Pussy Riot -representantes de um setor jovem mais cosmopolita- tentaram fustigar numa performance tão irreverente quanto agressiva, bem ao estilo punk.
Com capuzes de tipo balaclava e roupas coloridas, criaram um fato midiático, devidamente filmado e divulgado. Dentro da catedral de Cristo Salvador, em Moscou, as três moças dançaram e pularam enquanto gritavam um rock cuja letra blasfema foi avaliada por muitos russos como profanação de um local sagrado.
A prisão e o julgamento que levou à condenação transformaram as integrantes do grupo em celebridades mundiais, despertaram protestos de jovens na internet e expuseram, para públicos variados, o ânimo intolerante do regime.
Embora metade da população desaprove a pena de prisão, tida como muito pesada, o presidente russo não perderá, só por isso, o apoio da população. Porém, para a imagem global da Rússia, que já padece pela falta de combate à corrupção, o episódio equivale a um tiro no pé de Putin.
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