O fatiamento da votação acabou com o karaokê dos doutores no bar do Kakay
Augusto Nunes - VEJA
Ao aprovar a divisão por itens do julgamento do mensalão, proposta pelo relator Joaquim Barbosa, o Supremo Tribunal Federal impôs um constrangimento adicional de bom tamanho aos ministros dispostos a inocentar culpados. Com a fórmula do voto contínuo, eles ficariam expostos por um único dia à indignação dos brasileiros ─ 73% da população adulta, segundo o Datafolha ─ que enxergam perfeitamente a montanha de provas dos inúmeros crimes. O fatiamento da votação,como registra o comentário de 1 minuto para o site de VEJA, vai obrigar os padroeiros de pecadores a repetir o numerito pelo menos oito vezes.
É compreensível, portanto, a reação indignada da tropa de bacharéis que, chefiada por Márcio Thomaz Bastos, luta pelo triunfo da injustiça. A primeira parte do voto de Joaquim Barbosa já implodiu a falácia forjada para transformar roubalheira deslavada em “recursos não contabilizados” e assalto a cofres públicos em “dinheiro de caixa 2″. Os argumentos do relator estão frescos demais na memória nacional. “Quero ver quem vai conseguir rebater o meu voto sem apelar para o blá blá blá”, disse Joaquim Barbosa na nota publicada pelo blog de Lauro Jardim. Não será fácil, concorda quem vê as coisas como as coisas são..
Na petição redigida pelo ex-ministro da Justiça e subscrita por 20 advogados de defesa, o fatiamento da votação é qualificado de “verdadeira aberração”, suficiente para comprovar que o “devido processo legal” foi substituído por um “julgamento de exceção”. A chicana de porta de cadeia informa que os devotos de God Bastos já começaram a ofensiva para rebaixar o STF a “tribunal de exceção” e contestar as decisões da Justiça brasileira em cortes internacionais. Haja cinismo.
O lado bom da coisa é constatar que os doutores perderam a pose, a autossuficiência e a alegria. Andam sem ânimo para o karaokê noturno no restaurante do Kakay. Berreiro piora a voz. E chilique não combina com cantoria.
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