Celso Ming - O Estado de S.Paulo
Ontem, a presidente Dilma se sentiu na obrigação de lembrar os mercados de
que o Brasil tem "bala na agulha" para dar conta da grande demanda por moeda
estrangeira. A munição a que ela se referiu são os US$ 372 bilhões em reservas
externas que poderiam ser usados para conter a disparada dos preços da moeda
estrangeira no câmbio interno.
É uma intervenção sem precedentes para a qual há três perguntas à procura de respostas. A primeira consiste em saber por que a presidente Dilma entendeu que teria de passar esse recado que, a rigor, não é muito diferente do que vêm passando o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. Segunda pergunta, quem a presidente Dilma quer afastar: o especulador ou aquele que procura proteção cambial para futuros compromissos em moeda estrangeira e teme pela escalada do dólar em reais? E, terceira, até que ponto o governo estaria de fato disposto a queimar reservas?
Antes de tudo, as autoridades estão obviamente incomodadas com a cavalgada do dólar, ao contrário do que acontecia até abril, quando pretendiam o contrário, pretendiam a desvalorização do real para dar competitividade à indústria. A presidente Dilma entende que o dólar foi longe demais, o que leva a presumir que alguma coisa ao redor de R$ 2,30 por dólar seja, no momento, o teto admitido.
O que ela teme é o impacto da alta sobre a inflação, fato que obrigaria o Banco Central a puxar pelos juros, sabe-se lá se não ao nível inadmissível dos dois dígitos. Além disso, o uso dessa artilharia retórica aconteceu porque até agora nem Mantega nem Tombini mostraram suficiente credibilidade para inverter o jogo cambial apenas com discurso.
Avançando agora à segunda pergunta: tudo se passa como se, na percepção do governo, a esticada das cotações no câmbio seja obra de especuladores que vêm fazendo posição em moeda estrangeira para lucrar no mole com debilidades da economia. E, de fato, quem precisa de proteção (hedge) contra eventual disparada do câmbio não precisa comprar dólares no mercado à vista (spot) para enfrentar despesas futuras em moeda estrangeira. Bastaria montar algumas posições em títulos (leilões de swap) que o Banco Central está oferecendo à ração diária de US$ 500 milhões de segunda à quinta-feira ou aproveitar o leilão de linha, de US$ 1 bilhão a cada sexta-feira.
Se o perigo maior na ótica do governo for mesmo a ação do especulador, conviria saber se este tem bala suficiente, desta vez em reais, para fazer posição arriscada em dólares, levando-se em conta o custo cada vez mais alto em juros no mercado interno. Provavelmente, não.
Finalmente, até que ponto o governo estaria mesmo disposto a queimar reservas? Economistas, como Chico Lopes, Edmar Bacha e Luiz Gonzaga Belluzzo têm lembrado que reservas são extintores de incêndio prontos a serem acionados sempre que a casa começar a pegar fogo. O risco seria de que o uso do arsenal pelo Banco Central seja interpretado como sinal de grande fragilidade da economia, o que encorajaria ainda mais os especuladores, ao contrário do que pretende o governo. O economista Yoshiaki Nakano teme, nesse caso, o esgotamento rápido das reservas.
O fato é que nem o governo nem o mercado conhecem bem seus limites. Os dois lados continuam se estudando.
É uma intervenção sem precedentes para a qual há três perguntas à procura de respostas. A primeira consiste em saber por que a presidente Dilma entendeu que teria de passar esse recado que, a rigor, não é muito diferente do que vêm passando o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. Segunda pergunta, quem a presidente Dilma quer afastar: o especulador ou aquele que procura proteção cambial para futuros compromissos em moeda estrangeira e teme pela escalada do dólar em reais? E, terceira, até que ponto o governo estaria de fato disposto a queimar reservas?
Antes de tudo, as autoridades estão obviamente incomodadas com a cavalgada do dólar, ao contrário do que acontecia até abril, quando pretendiam o contrário, pretendiam a desvalorização do real para dar competitividade à indústria. A presidente Dilma entende que o dólar foi longe demais, o que leva a presumir que alguma coisa ao redor de R$ 2,30 por dólar seja, no momento, o teto admitido.
O que ela teme é o impacto da alta sobre a inflação, fato que obrigaria o Banco Central a puxar pelos juros, sabe-se lá se não ao nível inadmissível dos dois dígitos. Além disso, o uso dessa artilharia retórica aconteceu porque até agora nem Mantega nem Tombini mostraram suficiente credibilidade para inverter o jogo cambial apenas com discurso.
Avançando agora à segunda pergunta: tudo se passa como se, na percepção do governo, a esticada das cotações no câmbio seja obra de especuladores que vêm fazendo posição em moeda estrangeira para lucrar no mole com debilidades da economia. E, de fato, quem precisa de proteção (hedge) contra eventual disparada do câmbio não precisa comprar dólares no mercado à vista (spot) para enfrentar despesas futuras em moeda estrangeira. Bastaria montar algumas posições em títulos (leilões de swap) que o Banco Central está oferecendo à ração diária de US$ 500 milhões de segunda à quinta-feira ou aproveitar o leilão de linha, de US$ 1 bilhão a cada sexta-feira.
Se o perigo maior na ótica do governo for mesmo a ação do especulador, conviria saber se este tem bala suficiente, desta vez em reais, para fazer posição arriscada em dólares, levando-se em conta o custo cada vez mais alto em juros no mercado interno. Provavelmente, não.
Finalmente, até que ponto o governo estaria mesmo disposto a queimar reservas? Economistas, como Chico Lopes, Edmar Bacha e Luiz Gonzaga Belluzzo têm lembrado que reservas são extintores de incêndio prontos a serem acionados sempre que a casa começar a pegar fogo. O risco seria de que o uso do arsenal pelo Banco Central seja interpretado como sinal de grande fragilidade da economia, o que encorajaria ainda mais os especuladores, ao contrário do que pretende o governo. O economista Yoshiaki Nakano teme, nesse caso, o esgotamento rápido das reservas.
O fato é que nem o governo nem o mercado conhecem bem seus limites. Os dois lados continuam se estudando.
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