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Membro da equipe de investigadores da ONU recolhendo amostras de areia perto de um míssil que pode ser sido um dos usados no ataque na Síria
Existe uma grande potência instalada na Síria. Dois anos atrás, ela teria tido condições de incitar Bashar al-Assad a adotar moderação. Ela poderia ter facilitado um diálogo entre o governo e a oposição. Na época, esta não se encontrava corroída pelo jihadismo e se manifestava pacificamente – algo muitas vezes esquecido – contra o regime baathista.A chamada grande potência, sempre ávida por reconhecimento, poderia ter tido um papel eminente. Mas ela não o fez, preferindo outra coisa: a política da degeneração deliberada; E ela tem uma parte enorme de responsabilidade, esmagadora, no fato de que o regime sírio violou o tabu da utilização de uma arma de destruição em massa.
Essa grande potência é a Rússia. Ela equipa e treina o exército sírio. Desde o início do conflito, Moscou teve como questão de honra continuar, e mesmo intensificar, seu fornecimento de armas para Damasco. Bashar al-Assad dizia, até poucos dias atrás, na imprensa moscovita: graças à Rússia, não falta nada a seu exército – peças avulsas para os aviões de caça, lança-mísseis, blindados etc., não faltou nem um alfinete no arsenal da guerra total que o regime sírio tem conduzido contra a rebelião.
Como a relação militar entre os dois Estados data do início dos anos 1970, a Rússia é o país que melhor conhece o estado-maior sírio e também, provavelmente, os serviços secretos do regime. Foi a Rússia que equipou – maciçamente, pelo visto – a Síria com armas químicas. Ela deve ter uma ideia bastante precisa do local onde estão armazenadas.
A Rússia defende interesses perfeitamente legítimos na Síria. A cooperação econômico-militar que ela mantém com esse país se parece com a que os Estados Unidos têm com muitos países da região. Mais importante, Moscou dispõe de uma base marítima na Síria, em Tartous, que é a chave de seu dispositivo naval no Mediterrâneo. Os laços comerciais também são consideráveis.
Americanos e europeus asseguraram a Moscou que uma solução política, se ela fosse buscada em conjunto, preservaria os interesses russos na Síria. Mas o Kremlin não fez nada para favorecê-la. Pelo contrário, ele se recusou a exercer qualquer pressão sobre o regime. À medida que a guerra civil ia tomando forma, foi fácil para Moscou dizer que a Rússia estava contendo na Síria a extensão de um extremismo sunita que a ameaçava em suas fronteiras caucasianas.
Mas essa não é toda a história. O comportamento irresponsável dos russos na Síria se explica de outra forma. Ele é produto dessa "ressovietização" da diplomacia russa que o presidente Vladimir Putin está conduzindo. Uma mistura de ultranacionalismo com paranoia, ela consiste em ser contra "o Ocidente" em tudo, que é apresentado como um inimigo estratégico e cultural, cuja única preocupação seria impedir a Rússia de voltar a ser uma grande potência. Então Putin é contra a intervenção na Síria... ainda que isso signifique a banalização do uso das armas químicas.
O Kremlin só tem uma desculpa: em nenhum momento os "ocidentais" exerceram pressões sérias para fazer com que ele mudasse sua política sobre a Síria.
Tradutor: Lana Lim
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