quinta-feira, 22 de março de 2012

A ESTRATÉGIA DOS COVARDES ISLÂMICOS

Autoridades são incapazes de impedir ataques de "lobos solitários" como o atirador de Toulouse
Christoph Sydow - Der Spiegel
Toulouse está em estado de sítio. O suspeito pelo assassinato de três soldados, assim como de três crianças e um adulto em uma escola judaica local, está fortemente armado e entocado em seu apartamento há horas na quarta-feira (21). A polícia cercou o local e milhares de pessoas estão acompanhando o drama pela televisão.
Quem é Mohammed Mareh, um cidadão francês de ascendência argelina de 24 anos, suspeito de ter matado sete pessoas a tiros? Apesar de pouco se saber a seu respeito, as autoridades da França e de outros lugares da Europa têm prendido a atenção das pessoas com suas primeiras poucas informações. Mareh parece se encaixar perfeitamente no perfil do tipo de perpetrador que os investigadores mais temem: o lobo solitário. Apesar de todos os esforços feitos pela polícia e pelos serviços de segurança na caça de possíveis terroristas, eles ainda se veem impotentes diante desse tipo de agressor.
Na Alemanha, um exemplo desse tipo de perpetrador mortífero veio com o primeiro ataque islâmico doméstico bem-sucedido, em março de 2011. Arid Uka, natural de Kosovo e de etnia albanesa, ficou enfurecido com um vídeo postado on-line que supostamente mostrava soldados americanos estuprando mulheres muçulmanas. Ele conseguiu uma arma no mercado negro poucos dias depois. Em seguida, aguardou por um grupo de soldados americanos no aeroporto de Frankfurt. Ele pediu cigarro para um dos homens e então abriu fogo, matando dois americanos antes de sua arma emperrar.
Alertas do serviço de inteligência
O caso de Uka fornece um exemplo perfeito de agressor que parece sair do nada. Uka era devoto, mas não exibia nenhum sinal de radicalismo ou tendências violentas. Sua radicalização graças a um vídeo on-line, que na verdade era uma cena de um filme de Hollywood tirada de contexto, aconteceu tão rapidamente que nenhuma autoridade tomou conhecimento dela a tempo. Em maio de 2011, Ernst Uhrlau, o então chefe da agência de inteligência estrangeira da Alemanha, a BND, resumiu a situação dessa forma: “No momento, nós devemos permanecer particularmente vigilantes contra perpetradores solitários, que não saem de organizações estruturadas, mas desejam contribuir com sua parte para a jihad por meio de atos de punição”.
O atual suspeito em Toulouse mostra semelhanças com Uka. Mas ele é diferente, já que supostamente teria passado algum tempo em campos de treinamento de terroristas no Afeganistão e no Paquistão, vários anos atrás. Segundo os relatos afegãos, ele foi localizado na província de Kandahar, no sul do país, em setembro de 2007, pela agência de inteligência do país, o Diretório Nacional de Segurança (DNS).
Na época, Merah foi sentenciado a três anos de prisão por um tribunal afegão, apesar do filho de pai francês e mãe argelina logo ter ficado livre de novo. Ele e centenas de outros presos, incluindo membros importantes do Taleban, teriam escapado durante um ataque contra a prisão de Kandahar em junho de 2008. Mas o órgão de imprensa do governo da província de Kandahar nega a história, segundo o jornal francês “Le Monde”.
Merah disse à polícia francesa que pertencia à Al Qaeda, mas até o momento não houve confirmação independente por parte da organização terrorista. No passado, a Al Qaeda reivindicou responsabilidade por vários ataques realizados por terroristas islâmicos --incluindo, por exemplo, um massacre cometido por um soldado americano, que matou 12 soldados na base militar de Forte Hood, em novembro de 2009.
O jihadista itinerante
Se os relatos sobre as viagens de Merah ao Afeganistão e Paquistão forem verdadeiros, então ele pertenceria a uma categoria diferente de perpetrador: os chamados jihadistas itinerantes. Apenas na Alemanha, cerca de 250 pessoas são conhecidas por terem viajado à região de fronteira entre Paquistão e Afeganistão desde os anos 90, onde supostamente foram treinadas em campos montados por grupos terroristas.
Esse tipo de perpetrador já atacou na Europa. Em dezembro de 2010, um homem-bomba explodiu a si mesmo em Estocolmo, a capital da Suécia. Ninguém morreu na ocasião fora o agressor, um sueco de origem iraquiana chamado Taimour Abdulwahab. Ele também se radicalizou na Europa antes de viajar para um campo de treinamento da Al Qaeda no Iraque, visando se tornar um mujahid. Daí em diante, ele permaneceu em contato com a Al Qaeda no Iraque, apesar de ter realizado o ataque por conta própria.
O ministro do Interior da França, Claude Guéant, fez comentários semelhantes sobre o perpetrador de Toulouse. O suspeito, disse ele, “tinha contatos com pessoas que apoiam o salafismo e o jihadismo”.
Um fiasco para a inteligência francesa?
No caso de Abdulwahab, o homem-bomba sueco, o processo de radicalização durou vários anos. Mais de três anos antes do ataque em Estocolmo ele já havia chamado a atenção em uma mesquita por suas declarações extremistas. O caso de Mohammed Merah também é semelhante nesse aspecto. Outro paralelo é que, em ambos os casos, familiares tinham conhecimento dos planos dos agressores. A agência de inteligência doméstica francesa DCRI mantinha o suposto perpetrador de Toulouse sob observação há anos. Mas nunca descobriu nenhuma evidência de que o homem pudesse estar planejando um crime, disse Guéant na quarta-feira.
O caso corre o risco de se tornar um fiasco para as autoridades francesas. Aparentemente, Merah conseguiu viajar para o campo terrorista no Afeganistão e posteriormente voltar à França sem ser incomodado, apesar de ter sido preso e ter escapado da prisão nesse ínterim. Apesar dos eventos terem colocado o homem sob atenção das agências de inteligências, elas subestimaram fatalmente a ameaça que ele representava.
As sete mortes nos últimos dias são um trágico lembrete de que os serviços de inteligência ocidentais podem ser capazes de observar suspeitos de terrorismo, mas não conseguem controlá-los.
Tradutor: George El Khouri Andolfato

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