quinta-feira, 22 de março de 2012

O TERRORISMO ISLÂMICO NÃO DEIXA OUTRA ALTERNATIVA PARA O OCIDENTE: ELE DEVE SER DESTRUÍDO, NÃO IMPORTANDO OS EFEITOS COLATERAIS NO IRÃ, AFEGANISTÃO, PAQUISTÃO E EM QUALQUER OUTRA PORCARIA QUE PROMOVA OU ACOLHA ESSE TIPO DE AÇÃO

Suposto atirador de Toulouse pertencia a grupo taleban que aceita estrangeiros
Jacques Follorou - Le Monde
Era o que todos os especialistas da inteligência francesa temiam: a ação de um “lobo solitário jihadista” francês, radicalizado fora das redes e de pequenos grupos conhecidos que eram monitorados tanto na França quanto em outros países. A decadência da Al Qaeda, antes mesmo da morte de Osama Bin Laden pelas forças especiais americanas, no dia 1º de maio de 2011, não teve influência em um sistema desterritorializado que escapa de qualquer forma de organização e de estrutura, alimentado por um mecanismo de “franquia” onde a simples menção da Al Qaeda equivale a uma adesão.
Mohammed Merah, 24, o suposto suspeito dos ataques de Montauban e de Toulouse, apresenta esse perfil. Segundo informações, ele foi ao Paquistão duas vezes, em 2010 e em 2011, para entrar em grupos de combatentes de zonas tribais paquistanesas, uma região montanhosa semiautônoma que acompanha o Afeganistão por 1.360 quilômetros e abriga o Tehrik-e-taliban Pakistan (Movimento dos Talebans do Paquistão, TTP).
Depois de ter sido treinado em campos que recebem talebans paquistaneses, jihadistas estrangeiros e membros da poderosa rede Haqqani, ele atravessou a fronteira dentro de grupos enviados para lutar contra os soldados da Otan no Afeganistão.
Assim, ele teria primeiramente ficado nas agências do Waziristão, nos FATA, antes de ir até o sul do Afeganistão, sobretudo nas províncias de Candahar e de Zabul. Durante uma estadia na região, ele foi revistado por uma patrulha de polícia na entrada da cidade de Candahar. Sua nacionalidade estrangeira chamou a atenção, mas não constituiu motivo para prisão. No entanto, sua presença foi registrada nos serviços de inteligência afegãos que repassaram a informação aos ocidentais.
Portanto, ele pertencia a um grupo de talebans paquistaneses aos quais se juntam estrangeiros que vêm em reforço aos talebans afegãos. Esses insurgentes migram de província em província em toda a parte leste do Afeganistão, especialmente durante a temporada de combates que atinge seu pico durante o verão. As voltas do suspeito ao Paquistão e à França são explicadas sobretudo pela interrupção desses deslocamentos de insurgentes vindos do Paquistão durante o inverno.
Embora os talebans afegãos sejam antes de tudo religiosos nacionalistas, eles aceitam o apoio desses estrangeiros que muitas vezes mantêm o rosto mascarado e não falam a língua local. Em Ghazni, cidade afegã próxima da fronteira paquistanesa pela qual transitam muitos grupos insurgentes, o general Sayed Amir Shah, chefe dos serviços de inteligência afegãos da província, foi entrevistado no dia 16 de março pelo “Le Monde” e falou sobre a existência desses combatentes vindos de zonas tribais.
“Existem quase 200 madrasas [escolas religiosas] nos FATA que ensinam o jihad aos futuros insurgentes que, depois, ou até ao mesmo tempo, recebem um treinamento militar”. O TTP se associou à Al-Qaeda e, segundo os serviços de inteligência americanos em Khost, sudeste do Afeganistão, teria uma centena de campos de treinamento ao longo de toda a fronteira. Do pequeno pátio interno de uma casa entrincheirada, esses centros fornecem as tropas que alimentam a insurreição tanto contra as forças ocidentais no Afeganistão quanto contra o exército de Islamabad no Paquistão.
Os ataques de aviões não tripulados americanos que se multiplicaram desde 2009 contra esses centros de treinamento e seus líderes (423 em 2010, contra um em 2007) espalharam essas células combatentes e esses pontos de doutrinamento. O percurso do assassino jihadista de Toulouse mostra a mobilidade desses indivíduos, que podem ir do Paquistão até as zonas tribais, e depois para o Afeganistão, antes de voltarem para a França.
Uma fonte britânica em Cabul garantia, em fevereiro de 2012, que os jihadistas estavam se dirigindo para a África.
Diferentemente dos talebans afegãos, o TTP aderiu aos projetos jihadistas da Al-Qaeda. Ele forneceu ajuda e até reivindicou, em maio de 2010, a tentativa de atentado com carro-bomba na Times Square, em Nova York. O TTP também ajudou na operação de infiltração conduzida pela Al Qaeda contra a CIA por um médico jordaniano. No dia 30 de dezembro de 2009, esse agente duplo detonou seu cinturão de explosivos na base de Chapman, no Afeganistão.
Fiel ao mulá Omar, líder dos talebans, a poderosa família Haqqani também abriu seus campos e suas finanças para a Al Qaeda ao mesmo tempo em que mantinha laços estreitos com os serviços secretos militares paquistaneses (ISI). Segundo os serviços franceses, Haqqani colaborou com Abdul Hadi al-Iraqi, chefe militar da Al Qaeda para o Afeganistão preso em 2006, e depois com Abou Laith al-Libi, líder para a Al Qaeda para o Leste Afegão morto em 2008. Um parente do jihadista jordaniano-palestino Abdallah Azzam, conhecido pelo nome de Abou Harès al-Filastini, também teria exercido a função de agente entre a rede Haqqani e a Al Qaeda.
Segundo os serviços de inteligência ocidentais, em Cabul “uma centena de europeus estariam atualmente nas zonas tribais depois de terem sido treinados por redes jihadistas”. Uma fonte diplomática afirmava, no final de 2011, que metade desses voluntários possuía um passaporte alemão e uma dezena de franceses dentre eles eram registrados pelos serviços especializados. Foram identificadas redes belgas e argelinas, e os indivíduos muitas vezes possuem dupla nacionalidade, germano-marroquina ou ítalo-argelina.
Tradutor: Lana Lim

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