Pressão em relação ao programa nuclear iraniano desestabiliza Teerã
Martin Indyk - Herald Tribune
Enquanto o governo Obama aumenta a pressão das sanções para que o Irã aceite coibições significativas ao seu programa nuclear, ele segue uma estratégia de diplomacia coerciva que apresenta uma falha fundamental. Consequentemente, o presidente Obama corre o risco de obter o oposto de sua intenção: o Irã pode muito bem decidir que, em vez de negociar uma concessão, sua melhor opção é cruzar o limiar de armas nucleares, com consequências fatídicas para todos.
A premissa de Obama é de que apenas deixando o regime iraniano de joelhos, por meio das sanções contra seu banco central e esforços orquestrados para reduzir suas exportações de petróleo, ele desistirá de suas aspirações de armas nucleares. O fato de o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, agora ter rotulado pessoalmente as sanções de “debilitantes” e de os negociadores nucleares do Irã terem anunciado na semana passa que estavam prontos para voltar à mesa, foram encarados como evidência de que a estratégia do presidente está funcionando. O julgamento é, na melhor das hipóteses, prematuro, ou, na pior, apenas uma ilusão.
O Irã não reduziu sua produção de urânio enriquecido. Pelo contrário, o regime anunciou em fevereiro que estava construindo uma usina de enriquecimento adicional com centrífugas mais eficientes. E nem cooperou com os inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica, que presumiram equivocadamente que o anúncio da decisão de voltar à mesa resultaria em uma maior disposição iraniana de tratar de suas preocupações.
Os defensores da estratégia atual explicarão a continuidade do desafio do Irã como um prelúdio necessário para as concessões. Mais provavelmente, o que estamos vendo são reações por reflexo de um regime que acredita estar acuado contra uma parede. O pior que o líder supremo iraniano poderia fazer nessas circunstâncias é demonstrar fraqueza, especialmente se temer que sua oposição interna poderia explorá-la para mudar seu regime de dentro para fora.
E se ele olhar ao redor, veria evidência de que submeter seu programa nuclear a controles internacionais poderia ser um convite para uma intervenção militar derrubá-lo. Foi o que aconteceu tanto com Saddam Hussein quanto com o coronel Muammar Gaddafi. Por outro lado, a determinação desafiante da liderança norte-coreana de desenvolver armas nucleares parece tê-la protegido de uma intervenção.
Se o líder supremo de fato chegar à conclusão de que o desafio é a melhor forma de assegurar a sobrevivência de seu regime, então entraremos em um círculo vicioso.
À medida que o Irã prosseguir com seu programa nuclear, ele chegará cada vez mais perto da linha vermelha de Israel do limiar de capacidade de armas. Isso deixaria os israelenses cada vez mais nervosos e determinados a atacar as instalações nucleares do Irã antes que seja tarde demais. Isso, por sua vez, levaria o governo Obama a aumentar as sanções para persuadir os israelenses de que há uma alternativa viável a um ataque preventivo. E à medida que essas sanções se tornassem mais debilitantes, os iranianos concluiriam não ter escolha a não ser adquirir o meio supremo de assegurar a sobrevivência do regime. Isso alarmaria os israelenses, recomeçando o círculo vicioso. A certa altura, um erro de cálculo ou desespero poderia levar um dos lados a atacar.
Há uma dimensão adicional a esse círculo vicioso que reforça sua dinâmica negativa. Visando dar às sanções tempo para terem o impacto desejado, os consultores militares de Obama alertam constantemente sobre as consequências negativas de um ataque militar israelense. Isso sinaliza aos iranianos que os Estados Unidos conterão os israelenses.
Mas os israelenses veem as declarações públicas como minando a eficácia de sua ameaça de uso de força e da insistência de Obama de que “todas as opções estão na mesa”. E isso reforça a convicção deles de que cedo ou tarde terão que cuidar eles mesmos do assunto.
A política de ano eleitoral também reforça a dinâmica negativa. Para superar a percepção na comunidade judaica americana de que é inamistoso com Israel, Obama tem acentuado seu compromisso com a segurança de Israel –algo de que muito ouviremos falar nesta semana, quando o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, visitar a Casa Branca e Obama discursar na convenção anual do lobby pró-Israel. Mesmo que o presidente declare fortemente que não permitirá que o Irã adquira armas nucleares, seus oponentes republicanos sem dúvida acusarão Obama de já ter cedido ao Irã. O aumento da retórica de ameaça no ano eleitoral então reforça o ímpeto iraniano de responder desafiadoramente.
A única forma de sair do círculo vicioso é Khamenei entender que Obama não está buscando derrubá-lo –que por trás das negociações se encontra uma porta para o uso pacífico pelo Irã de energia nuclear, não um corredor para a forca. Mas como, ao mesmo tempo em que busca sanções visando cortar a jugular econômica do Irã, Obama pode sinalizar isso de forma crível para Khamenei, sem se abrir para a acusação de fraqueza? Qualquer indício de tentativa de tranquilizar o regime iraniano certamente seria explorado por seus rivais republicanos como um sinal de apaziguação.
Infelizmente, a dinâmica da situação atual parece tornar o conflito inevitável. Nós agora estamos envolvidos em um “jogo da galinha” a três, no qual para Khamenei, Netanyahu e até mesmo Obama, a sobrevivência física ou política torna piscar mais perigoso do que o confronto.
(Martin Indyk é o diretor do Programa de Política Exterior da Instituição Brookings e autor, juntamente com Kenneth Lieberthal e Michael O’Hanlon, de “Bending History: Barack Obama’s Foreign Policy”.)
Tradutor: George El Khouri Andolfato
Nenhum comentário:
Postar um comentário