segunda-feira, 5 de março de 2012

RÚSSIA

Milhares de russos vão às ruas de Moscou contra vitória de Putin
Segundo a Reuters, ao menos 50 manifestantes foram presos na capital
O GLOBO
MOSCOU — Diante das suspeitas de fraude nas eleições presidenciais russas, vencidas pelo premier Vladimir Putin no domingo, milhares de manifestantes foram às ruas de Moscou e se reúnem neste momento na Praça Pushkin. Segundo a agência de notícias Reuters, ao menos 50 pessoas foram presas até agora na capital e outras dezenas teriam sido detidas em São Petersburgo. A expectativa é que o protesto seja a maior manifestação desde a queda da União Soviética, em 1991.
Relatos sugerem uma presença maciça de forças de segurança nos arredores da praça, em Moscou. Algumas ruas chegaram inclusive a ser interditadas para o tráfego de carros. Com quase 100% das urnas apuradas, Putin teve mais de 63% dos votos, mas em Moscou (onde o movimento opositor é mais forte) não chegou a alcançar a marca de 50%.
No domingo, a oposição já tinha prometido retomar os protestos anti-Putin. Assim como os observadores internacionais, críticos do premier suspeitam de fraudes nas eleições e, como fizeram em dezembro, prometeram levar mais de 100 mil pessoas às ruas. O popular blogueiro anticorrupção Aleksei Navalny, por exemplo, instou os opositores a instalarem um acampamento permanente nos mesmos moldes do que foi visto no Ocupe Wall Street, nos EUA.
Nesta manhã, observadores internacionais da Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) denunciaram irregularidades na votação e acusaram o Kremlin de favorecer o primeiro-ministro no pleito deste fim de semana. Os monitores dizem ter encontrado problemas em um terço dos colégios eleitorais do país e acusaram falhas na contagem dos votos.
— O sentido de uma eleição é que o resultado deve ser sempre incerto — disse o porta-voz da OSCE, Tonino Piscula. — Esse não foi o caso da Rússia. Não houve competição real, e o abuso de recursos do governo garantiu que não houvesse dúvidas sobre o vencedor final dessas eleições.
O ministro das Relações Exteriores da França, Alain Juppé, também criticou duramente o pleito da Rússia:
— A eleição não foi exemplar, para dizer o mínimo — disse o chanceler em entrevista coletiva.
Contrariado com as denúncias de fraudes, o chefe das eleições Vladimir Churov acusou os observadores internacionais de entrar na Rússia apenas para espionar instalações militares e nucleares do país. Churov diz que recentemente novas tentativas para acessar os segredos russos foram feitas, mas não ofereceu provas.
— Nós estamos diante de mais e mais tentativas inaceitáveis de infiltrar nossas fronteiras para fechar centros nucleares, para atacar nossos centros e mais. Cada vez mais pessoas estão pensando assim — disse Churov.
Após discurso agressivo de Putin, Medvedev faz gesto conciliador
Após o Kremlin comemorar a vitória de Putin nas urnas (resultados preliminares dão mais de 60% dos votos ao ex-presidente), o presidente Dmitri Medvedev acenou com um gesto de reconciliação com a oposição nesta segunda-feira. O chefe de Estado ordenou a revisão do cárcere do milionário Mikhail Khodorkóvski, acusado de vários crimes financeiros e símbolo da resistência de Moscou.
O presidente ainda pediu que o ministro da Justiça russo explique por que razão se negou a registrar o movimento opositor Parnas, liderado pelo ex-primeiro-ministro Mikhail Kasyanov. Além do processo de Khodorkóvski, outros 31 casos devem ser revisador por ordem de Medvedev.
Khodorkóvski foi preso em 2005 após voltar de Londres, onde estava em exílio. O milionário decidiu retornar à Rússia, dizendo que preferia se transformar em um preso político a viver no exílio. Desde então, ele nega pedir indulto ou anistia e continua a criticar o Kremlin. Para analistas, o milionário foi preso por usar sua fortuna para financiar partidos de oposição a Putin.
Na semana passada, Medvedev já havia anunciado uma reforma política que facilitaria o registro de partidos e instituiria de novo as eleições diretas para governadores e também para prefeito de Moscou e São Petersburgo, extintas por Putin em nos anos 2000.

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