Alemães que partiram para o Ocidente começam a voltar para o Oriente
Maximilian Popp - Der Spiegel
Desde a reunificação, as pessoas vêm abandonando a Alemanha Oriental em busca de empregos e de uma vida melhor no Ocidente. Mas muitas agora estão voltando para casa. A saudade de casa é uma das razões para o retorno, mas melhorias no mercado de trabalho e na qualidade de vida também são atrativos.
À primeira vista, parece um passo atrás. Sebastian Müller, em 2010, era engenheiro da fabricante de carros alemã Audi, tinha um apartamento em Munique e um salário anual de US$ 56.000 euros (em torno de R$ 140.000). Ele se mudou de volta para Leste, para a região de Oberlausitz, onde agora trabalha para um fornecedor de autopeças. Ele ganha menos, está longe dos jogos de futebol profissionais e, em vez de frequentar o Teatro do Estado da Baviera em Munique, ele agora precisa se virar com apresentações de bonecos.
Mas Müller, 30, foi para o Leste por vontade própria. Ele fez as malas e mudou-se de volta para o lugar do qual fugiu quando era estudante.
Müller encontrou seu atual emprego na cidade de Grosspostwitz por meio de um anúncio online divulgado pela Câmara de Indústria e Comércio da Saxônia. "Estou mais satisfeito do que jamais estive na Alemanha Ocidental", diz ele.
"O lugar errado para mim"
Por um longo tempo, a migração na Alemanha tinha praticamente uma direção: do antigo Leste comunista para o mais próspero Oeste. Os Estados da antiga Alemanha Oriental, chamados de "novos Estados alemães" desde a reunificação, perderam mais de 2 milhões de pessoas para os Estados antigos desde 1990. A tendência, porém, está começando a se reverter, ao menos em algumas regiões. Os alemães orientais estão voltando para casa.
No ano passado, pela primeira vez desde 1997, mais pessoas se mudaram para a Saxônia do que as que saíram do Estado. Berlim e Brandenburgo também estão tendo migração líquida positiva. E apesar de a Turíngia ainda estar perdendo mais moradores do que recebe, relata que mais pessoas se mudaram para o Estado em 2011 do que em qualquer momento dos últimos 15 anos.
Não são apenas os estudantes fugindo das altas tarifas universitárias ou aposentados do Ocidente investindo suas poupanças em imóveis da Alemanha Oriental. O maior grupo de migrantes hoje são pessoas voltando para o Leste. De acordo com cálculos do Instituto Alemão de Pesquisa Econômica (DIW Berlin), elas perfazem metade dos migrantes que vão do Oeste para o Leste. "Notamos uma forte tendência ao retorno", diz Alexander Kubis do Instituto de Pesquisa em Emprego de Nuremberg (IAB).
Os motivos variam. No caso de Sebastian Müller, foi saudade de casa. Durante todos os seus estudos, sua meta era fazer carreira no Oeste, e ele se inscreveu para fazer estágios na Baviera enquanto ainda estudava na Universidade de Ciências Aplicadas de Zwickau. Após se graduar, no outono de 2007, ele encontrou o emprego de seus sonhos na Audi de Ingolstadt, perto de Munique.
Contudo, logo compreendeu que o Oeste não era o que ele imaginava. Sua namorada tinha ido com ele, e também encontrou um emprego em Munique, mas o aluguel do apartamento na capital da Baviera comia quase metade de todo o salário dele. Ele teve dificuldades em fazer amigos na nova cidade e também se sentiu perdido na multidão no trabalho. Quando Müller ia para casa para os eventos de família, se surpreendia em ver o quanto tinha mudado. Havia novas construções e novos empregos. "Subitamente, tive a sensação que Munique era o lugar errado para mim", diz ele.
"Pequeno milagre econômico" do Leste
Müller provavelmente não teria se sentido assim se não fosse pelo progresso econômico do Leste. A Saxônia e a Turíngia viram as maiores quedas no índice de desemprego entre os 16 Estados alemães no ano passado, e o desemprego também caiu nos Estados de Mecklenburgo Pomerânia Ocidental, Berlim e Brandenburgo. É claro que essas estatísticas são sempre relativas, pois o desemprego no Leste é mais que o dobro do Oeste. Mas na Saxônia, a densidade de emprego já está mais alta do que nos Estados ocidentais de Baixa Saxônia e Renânia Palatinado.
Há poucos anos, os novos Estados mantinham agências para promover a emigração, temendo que pessoas demais só levariam a um maior índice de desemprego. Na época, os Estados Orientais achavam que poderiam encolher para ter maior saúde econômica. Hoje, há demanda por especialistas, e as empresas estão cortejando os candidatos. "Atualmente, ninguém é forçado a deixar nosso Estado em busca de uma vaga de trainee", diz o governador de Brandenburgo, Matthias Platzeck.
Segundo a Iniciativa da Nova Economia de Mercado Social, que acompanha as mudanças dos principais dados econômicos entre 2006 e 2010, todos os novos Estados estão nos primeiros lugares. As crises estruturais -tais como a recente falência da empresa solar Q-Cells- foram golpes para algumas cidades e regiões. Mas Ulrich Blum, professor de economia da Universidade de Halle, ainda espera desdobramentos positivos e estima que, até 2020, a força econômica da Alemanha Oriental atinja 90% do nível ocidental. O ministro de defesa alemão, Thomas de Maizière, cujo distrito eleitoral está em Meissen, na Saxônia, já está falando sobre o "pequeno milagre econômico" do Leste.
Melhorias em casa
Ainda assim, a recuperação econômica e as melhorias no mercado de trabalho por si só não podem explicar a tendência das pessoas mudarem de volta para o Leste. Joachim Ragnitz, diretor da filial de Dresden do instituto de economia Ifo, acredita que a desilusão com o Oeste é pelo menos tão importante quanto o renascimento do Leste. Apesar da renda média no Oeste ainda ser 25% mais alta do que no Leste, a diferença diminui quando se fatora os alugueis e o custo de vida. Quando os alemães orientais voltam para casa, isso também se deve às esperanças despedaçadas.
E mais, algumas das cidades para as quais os emigrados estão retornando estão começando a se comparar com o Oeste. Em termos de desenvolvimento econômico, as cidades da Alemanha Oriental como Jena e Dresden já superaram algumas cidades altamente endividadas do Oeste, tais como Bremen e Duisburg. E o fato que tantos centros históricos no Leste terem sido restaurados fez com que vários prefeitos do Estado da Renânia do Norte-Vestfália iniciassem novo debate sobre o Pacto de Solidariedade, pelo qual o Oeste enviou dezenas de bilhões em transferências para o Leste desde a reunificação para ajudar a reforçar a economia e a infraestrutura.
Kubis, o economista do IAB, calculou que dois terços dos que saíram dos Estados orientais estão pensando em voltar. Muitos sempre quiseram voltar, acrescenta Anke Matuschewski, professora de geografia econômica na Universidade de Bayreuth, que entrevistou pessoas que voltaram da Saxônia e de Mecklenburgo Pomerânia Ocidental, em um projeto de pesquisa. Mas ela conclui que eles só pensam seriamente voltar para o Leste quando as condições econômicas melhoram.
Desbancando estereótipos
Matuschewski tentou detectar padrões na migração do Oeste para o Leste. De acordo com suas pesquisas, os que voltam, em geral, são homens de 30 a 35 anos. Eles agora moram em cidades como Jena ou Leipzig, que estão se beneficiando com a entrada de pessoas, enquanto a população rural continua a encolher. O migrante típico já completou seus estudos e treinamento e iniciou sua carreira, trabalhando como especialista em uma empresa de pequeno ou médio porte ou fazendo pesquisa universitária.
Outros estudos também desbancam os estereótipos que as pessoas que voltam para o Leste são primariamente as que fracassaram no Oeste. De fato, um número acima da média de graduados está disposto a voltar para o Leste.
Entre eles, está Jens Thiele, que é da Saxônia e trabalhou para a farmacêutica Pfizer na cidade de Freiburg por oito anos antes de se mudar para Dresden, no verão passado. Com 34 anos, o engenheiro de produção diz que estava ansioso por novos desafios e que o Leste lhe parecia mais dinâmico do que o Oeste. Thiele conseguiu um emprego na GlaxoSmithKline, competidora da Pfizer.
Governadores da Alemanha Oriental, tais como Stanislaw Tillich, da Saxônia, veem a tendência de reversão como resultado de suas políticas bem sucedidas. "Nos últimos anos, criamos estruturas modernas e sustentáveis", disse Tillich, acrescentando que a Saxônia atrai pessoas de toda a Alemanha.
"As pessoas no Leste estão se orientando para o futuro", diz o especialista em software Dirk Weckerlei, 31, que se mudou de volta para a Turíngia em 2009 para estar mais próximo à família, após passar dois anos na cidade de Osnabrück, no Noroeste.
Outra característica dos que retornam é que querem profissões compatíveis com sua vida pessoal e estão dispostos a aceitar salários menores em troca. Também há muitas jovens famílias. Elas valorizam a ampla gama de oportunidades para as crianças no Leste, onde também é mais fácil de encontrar vaga nas creches.
"Precisamos de vocês em casa"
Aqueles que voltam também são valiosos para as empresas orientais. Eles aliviam a falta de especialistas, conhecem a região e a mentalidade das pessoas e também reuniram experiência de trabalho nos Estados ocidentais. Johannes Miunske, proprietário da fornecedora de autopeças que contratou Müller, o ex-engenheiro da Audi, especificou em seu anúncio na Internet que estava procurando engenheiros que fossem originalmente da Alemanha Oriental. "Somos uma empresa de médio porte na Saxônia, e não podemos atingir as expectativas de salário dos ocidentais", diz ele, que sabe que aqueles que voltam têm laços com a região e não vão partir em busca de um novo emprego após poucos anos.
Os políticos também reconheceram o potencial dos filhos e filhas perdidos do Leste. Todos os novos Estados mantêm agências de apoio aos que retornam, algumas das quais têm nomes como "saxões voltam para casa". Nos próximos anos, essas iniciativas serão críticas para a sobrevivência dos novos Estados, diz Hans-Liudger Dienel, diretor do Centro de Tecnologia e Sociedade da Universidade Técnica de Berlim. É a única forma que tem para segurar os seus trabalhadores na competição nacional por especialistas.
Alguns dos esforços de recrutamento são admitidamente um pouco estranhos. Por exemplo, a cidade de Magdeburg enviou "caixas de casa" de pão crocante para 1.000 pessoas na Alemanha que deixaram a região. No ano passado, Sven Morlock, ministro da economia da Saxônia, distribuiu bolo para os passantes em um posto na estrada.
O governador da Saxônia-Anhalt, Reiner Haseloff, recentemente embarcou em uma viagem pela Alemanha Ocidental. No meio de abril, ele recebeu um grupo em um restaurante em Stuttgart, onde ele distribuiu panfletos, chaveiros e canecas para uma dúzia de ex-moradores de seu Estado. Haseloff discursou sobre os empregos que estão sendo criados em seu Estado. "Precisamos de vocês em casa", disse ele. "Não esquecemos de vocês".
Haseloff considerou a noite um sucesso. Ele planeja viajar para a Renânia do Norte-Vesfália em seguida.
Tradutor: Deborah Weinberg
segunda-feira, 30 de abril de 2012
ESPANHA NO FUNDO DO POÇO
Custo do estouro da bolha imobiliária da Espanha pode forçar resgate
Landon Thomas Jr. e Raphael Minder - NYT
Segundo qualquer medida, o boom imobiliário espanhol foi um dos maiores já vistos. Estimulado por taxas de juros baixas recordes, os espanhóis acumularam casarões de veraneio ao longo da Costa Blanca, apartamentos luxuosos em Madri e milhões de casas populares por todo o país.
Mas desde que o frenesi elevou os preços dos imóveis espanhóis a um pico em 2007, eles caíram em pelo menos um quarto do valor, e o fundo do poço ainda parece longe de vista. Enquanto a Espanha enfrenta sua segunda recessão em três anos e uma taxa de desemprego de quase 25%, um número crescente de espanhóis endividados não consegue pagar as mensalidades dos financiamentos que seus bancos eram ávidos em conceder.
Com uma porção crescente dos 663 bilhões de euros em financiamento imobiliário da Espanha correndo risco de calote, muitos economistas dizem que é apenas questão de tempo até que alguns dos maiores bancos espanhóis precisem de resgate. E o governo espanhol, cambaleando sob o peso de sua própria dívida e déficits orçamentários, pode não dispor do dinheiro para isso.
As implicações de tudo isso para o restante da Europa foram o tema principal das reuniões do último fim de semana do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial em Washington. O grande temor é de que a União Europeia precise intervir com um resgate à Espanha –um muito maior do que qualquer um dos já feitos à Irlanda, Grécia e Portugal.
"Os financiamentos imobiliários deverão se transformar no calcanhar de Aquiles do sistema bancário espanhol", disse Edward Hugh, um economista e blogueiro de Barcelona que estudou minuciosamente o assunto.
Há dois anos, quando os bancos irlandeses sucumbiram ao estouro da bolha imobiliária, o esforço de resgate do governo irlandês acabou forçando o país a receber um empréstimo de 80 bilhões de euros da UE e do FMI. Analistas dizem que um resgate semelhante para a Espanha custaria pelo menos 200 bilhões de euros –quase o dobro dos 110 bilhões de euros dados à Grécia, cujos problemas de dívida há muito levantam a pergunta sobre qual será a próxima economia europeia que precisará de resgate.
Na semana passada, o banco central espanhol divulgou que os empréstimos inadimplentes atingiram o maior nível desde 1994. E apesar da estimativa oficial do governo de financiamentos imobiliários não pagos ser de apenas 3%, Hugh e outros economistas dizem que os números de fato provavelmente são muito maiores –de dois dígitos para alguns mutuantes.
Não há dúvida de que o número de novos financiamentos imobiliários caiu fortemente na Espanha. O número de financiamentos concedidos em fevereiro caiu 46% em comparação ao ano passado –a maior queda desde que esses dados começaram a ser publicados em 2004, disse o instituto nacional de estatísticas da Espanha.
O boom imobiliário, enquanto durou, deu à Espanha a maior taxa do mundo de propriedade de imóvel –com mais de oito entre dez espanhóis sendo proprietários dos imóveis onde viviam. Mas os mutuantes agora dependem de pessoas como Marta Afuera Pons, que arcando com dois financiamentos –um para sua casa, outro para um investimento em um imóvel que não saiu do papel– e que conta com uma dívida de cerca de 350 mil euros.
No final de 2010, Afuera Pons, que tinha acabado de perder seu emprego como administradora do seguro social, parou de pagar as mensalidades do financiamento de 132 mil euros que ela e o homem com quem vivia fizeram para a casa deles em Tordera, perto de Barcelona.
Separadamente, eles ainda devem 185 mil euros ao mesmo banco, após receberem um financiamento adicional em 2007 para compra de uma casa que nunca foi construída, porque a construtora faliu um ano depois.
Como muitos espanhóis, Afuera Pons está chegando ao limite de dois anos para recebimento do seguro desemprego. Neste mês, ela receberá seu último benefício de 1.100 euros.
Sem encontrar compradores para sua casa em Tordera, Afuera Pons diz que está tentando persuadir seu mutuante, a caixa econômica BMN, a receber de volta o financiamento e o imóvel. Ela então provavelmente voltaria a morar com sua mãe, porque seu parceiro partiu no ano passado para o Brasil e agora está casado lá.
Afuera Pons diz que assume a culpa por seu desastre financeiro, mas considera seu mutuante, a BMN, o facilitador. Ela se juntou a uma associação de mutuários que tem promovido manifestações exigindo ajuda.
"Agora é fácil dizer que querer esta nova casa foi um investimento arriscado, mas o banco apoiou plenamente a ideia", ela disse. "Todo mundo perdeu todo senso de cautela, começando pelos bancos."
A BMN disse que não comentaria o caso específico de Afuera Pons. Mas um porta-voz, Miguel Portilla, disse que a política do banco sempre foi "tentar encontrar toda forma possível de evitar despejar as pessoas de seus lares e jogá-las na rua".
Especialistas em imóveis na Espanha estimam que aproximadamente 300 mil propriedades foram retomadas desde o início da crise financeira em 2007. Não dispostos a ficarem com o prejuízo, os bancos mantiveram esses imóveis. Mas agora, sob pressão para levantar mais capital, os bancos estão correndo para vendê-los, oferecendo descontos de até 60%.
Muitos investidores também veem um sinal de alerta na deterioração da performance do mercado de títulos garantidos por hipotecas da Espanha, no valor de 100 bilhões de euros.
Assim como seus pares fizeram nos Estados Unidos durante a bolha imobiliária americana, os bancos espanhóis venderam hipotecas para financiar empresas, que as reembalaram em pacotes de hipotecas securitizadas –veículos de investimento que pagavam rendimentos altos e eram comprados por seguradoras, fundos de pensão europeus e outros investidores institucionais.
Mas deveria haver uma diferença supostamente crucial. Nos Estados Unidos, muitas das hipotecas por trás dos veículos de investimento que fracassaram eram subprime (de alto risco), o que significa que os mutuários apresentavam histórico duvidoso de crédito. Na Espanha, as hipotecas usadas como garantia para os veículos de investimento eram consideradas "prime" (seguras) –empréstimos concedidos apenas a mutuários com bom crédito.
Mas com o desemprego se aproximando de 25%, a distinção entre mutuário prime e subprime pode não ser tão clara. Muitos desses financiamentos agora estão inadimplentes, provocando uma onda de rebaixamentos por agências de avaliação de crédito como Standard & Poor’s e Moody’s, que deram aos veículos de investimento baseados em hipotecas as mais altas notas durante o boom, como fizeram nos Estados Unidos.
Os investidores estão monitorando ansiosamente o site de uma associação espanhola de gerentes de fundos que lidam com títulos garantidos por crédito hipotecário. Em alguns casos, até 14% dos ativos em certos pools hipotecários estão mais de 90 dias atrasados. "É realmente assustador", disse um banqueiro de investimento que compra e vende os títulos, mas não está autorizado por seu banco a discuti-los publicamente. "Todo trimestre os números pioram."
Segundo o site da associação, entre os títulos garantidos por crédito hipotecário com pior desempenho nos fundos de investimento são aqueles apoiados pelo Bankia, que atualmente é o maior provedor da Espanha de financiamento imobiliário. O Bankia disse que não comentaria o desempenho desses fundos.
Até recentemente, os bancos estavam comprando de volta, a preço pleno, alguns dos títulos garantidos por crédito hipotecário com pior desempenho visando proteger os investidores detentores deles, estrangeiros na maioria, na esperança de preservar a posição de investimento dos bancos. Mas à medida que aumenta os calotes dos empréstimos e o capital se torna ainda mais escasso, alguns bancos agora enfrentam o inevitável e estão oferecendo a recompra desses títulos com descontos de 10% a 30%.
Muitos analistas dizem que os dados oficiais sobre os preços dos imóveis espanhóis, com queda de 25% segundo algumas medições, não reflete a realidade de quanto os preços realmente caíram. Até que ajustes de preço sejam feitos, e os bancos e investidores contabilizem suas perdas –como aconteceu na Irlanda e nos Estados Unidos– os economistas dizem que será impossível para a economia espanhola realmente se recuperar.
À medida que essas perdas são assumidas, a pergunta então se torna se a Espanha será capaz de absorvê-las. O próprio fundo de resgate aos bancos do governo está ficando sem dinheiro. Em uma contradição reveladora, Madri propôs que os bancos do país emprestem dinheiro ao governo para manter o fundo.
Borja Mateo, autor de um livro recente sobre o mercado imobiliário espanhol, disse que atualmente existem 1,9 milhão de imóveis residenciais à venda na Espanha e aproximadamente 3,9 milhões que podem ser colocados à venda nos próximos anos. Com a demanda atual de imóveis em aproximadamente 175 mil unidades por ano, Mateo previu que o excesso de oferta pode vir a provocar uma queda dos preços de 60%.
Como o espanhol típico tem 80% de seus ativos investidos em imóveis, uma queda de preços dessa magnitude seria devastadora. "O que estamos vendo", ele disse, "é um imenso empobrecimento do país".
Tradutor: George El Khouri Andolfato
Landon Thomas Jr. e Raphael Minder - NYT
Segundo qualquer medida, o boom imobiliário espanhol foi um dos maiores já vistos. Estimulado por taxas de juros baixas recordes, os espanhóis acumularam casarões de veraneio ao longo da Costa Blanca, apartamentos luxuosos em Madri e milhões de casas populares por todo o país.
Mas desde que o frenesi elevou os preços dos imóveis espanhóis a um pico em 2007, eles caíram em pelo menos um quarto do valor, e o fundo do poço ainda parece longe de vista. Enquanto a Espanha enfrenta sua segunda recessão em três anos e uma taxa de desemprego de quase 25%, um número crescente de espanhóis endividados não consegue pagar as mensalidades dos financiamentos que seus bancos eram ávidos em conceder.
Com uma porção crescente dos 663 bilhões de euros em financiamento imobiliário da Espanha correndo risco de calote, muitos economistas dizem que é apenas questão de tempo até que alguns dos maiores bancos espanhóis precisem de resgate. E o governo espanhol, cambaleando sob o peso de sua própria dívida e déficits orçamentários, pode não dispor do dinheiro para isso.
As implicações de tudo isso para o restante da Europa foram o tema principal das reuniões do último fim de semana do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial em Washington. O grande temor é de que a União Europeia precise intervir com um resgate à Espanha –um muito maior do que qualquer um dos já feitos à Irlanda, Grécia e Portugal.
"Os financiamentos imobiliários deverão se transformar no calcanhar de Aquiles do sistema bancário espanhol", disse Edward Hugh, um economista e blogueiro de Barcelona que estudou minuciosamente o assunto.
Há dois anos, quando os bancos irlandeses sucumbiram ao estouro da bolha imobiliária, o esforço de resgate do governo irlandês acabou forçando o país a receber um empréstimo de 80 bilhões de euros da UE e do FMI. Analistas dizem que um resgate semelhante para a Espanha custaria pelo menos 200 bilhões de euros –quase o dobro dos 110 bilhões de euros dados à Grécia, cujos problemas de dívida há muito levantam a pergunta sobre qual será a próxima economia europeia que precisará de resgate.
Na semana passada, o banco central espanhol divulgou que os empréstimos inadimplentes atingiram o maior nível desde 1994. E apesar da estimativa oficial do governo de financiamentos imobiliários não pagos ser de apenas 3%, Hugh e outros economistas dizem que os números de fato provavelmente são muito maiores –de dois dígitos para alguns mutuantes.
Não há dúvida de que o número de novos financiamentos imobiliários caiu fortemente na Espanha. O número de financiamentos concedidos em fevereiro caiu 46% em comparação ao ano passado –a maior queda desde que esses dados começaram a ser publicados em 2004, disse o instituto nacional de estatísticas da Espanha.
O boom imobiliário, enquanto durou, deu à Espanha a maior taxa do mundo de propriedade de imóvel –com mais de oito entre dez espanhóis sendo proprietários dos imóveis onde viviam. Mas os mutuantes agora dependem de pessoas como Marta Afuera Pons, que arcando com dois financiamentos –um para sua casa, outro para um investimento em um imóvel que não saiu do papel– e que conta com uma dívida de cerca de 350 mil euros.
No final de 2010, Afuera Pons, que tinha acabado de perder seu emprego como administradora do seguro social, parou de pagar as mensalidades do financiamento de 132 mil euros que ela e o homem com quem vivia fizeram para a casa deles em Tordera, perto de Barcelona.
Separadamente, eles ainda devem 185 mil euros ao mesmo banco, após receberem um financiamento adicional em 2007 para compra de uma casa que nunca foi construída, porque a construtora faliu um ano depois.
Como muitos espanhóis, Afuera Pons está chegando ao limite de dois anos para recebimento do seguro desemprego. Neste mês, ela receberá seu último benefício de 1.100 euros.
Sem encontrar compradores para sua casa em Tordera, Afuera Pons diz que está tentando persuadir seu mutuante, a caixa econômica BMN, a receber de volta o financiamento e o imóvel. Ela então provavelmente voltaria a morar com sua mãe, porque seu parceiro partiu no ano passado para o Brasil e agora está casado lá.
Afuera Pons diz que assume a culpa por seu desastre financeiro, mas considera seu mutuante, a BMN, o facilitador. Ela se juntou a uma associação de mutuários que tem promovido manifestações exigindo ajuda.
"Agora é fácil dizer que querer esta nova casa foi um investimento arriscado, mas o banco apoiou plenamente a ideia", ela disse. "Todo mundo perdeu todo senso de cautela, começando pelos bancos."
A BMN disse que não comentaria o caso específico de Afuera Pons. Mas um porta-voz, Miguel Portilla, disse que a política do banco sempre foi "tentar encontrar toda forma possível de evitar despejar as pessoas de seus lares e jogá-las na rua".
Especialistas em imóveis na Espanha estimam que aproximadamente 300 mil propriedades foram retomadas desde o início da crise financeira em 2007. Não dispostos a ficarem com o prejuízo, os bancos mantiveram esses imóveis. Mas agora, sob pressão para levantar mais capital, os bancos estão correndo para vendê-los, oferecendo descontos de até 60%.
Muitos investidores também veem um sinal de alerta na deterioração da performance do mercado de títulos garantidos por hipotecas da Espanha, no valor de 100 bilhões de euros.
Assim como seus pares fizeram nos Estados Unidos durante a bolha imobiliária americana, os bancos espanhóis venderam hipotecas para financiar empresas, que as reembalaram em pacotes de hipotecas securitizadas –veículos de investimento que pagavam rendimentos altos e eram comprados por seguradoras, fundos de pensão europeus e outros investidores institucionais.
Mas deveria haver uma diferença supostamente crucial. Nos Estados Unidos, muitas das hipotecas por trás dos veículos de investimento que fracassaram eram subprime (de alto risco), o que significa que os mutuários apresentavam histórico duvidoso de crédito. Na Espanha, as hipotecas usadas como garantia para os veículos de investimento eram consideradas "prime" (seguras) –empréstimos concedidos apenas a mutuários com bom crédito.
Mas com o desemprego se aproximando de 25%, a distinção entre mutuário prime e subprime pode não ser tão clara. Muitos desses financiamentos agora estão inadimplentes, provocando uma onda de rebaixamentos por agências de avaliação de crédito como Standard & Poor’s e Moody’s, que deram aos veículos de investimento baseados em hipotecas as mais altas notas durante o boom, como fizeram nos Estados Unidos.
Os investidores estão monitorando ansiosamente o site de uma associação espanhola de gerentes de fundos que lidam com títulos garantidos por crédito hipotecário. Em alguns casos, até 14% dos ativos em certos pools hipotecários estão mais de 90 dias atrasados. "É realmente assustador", disse um banqueiro de investimento que compra e vende os títulos, mas não está autorizado por seu banco a discuti-los publicamente. "Todo trimestre os números pioram."
Segundo o site da associação, entre os títulos garantidos por crédito hipotecário com pior desempenho nos fundos de investimento são aqueles apoiados pelo Bankia, que atualmente é o maior provedor da Espanha de financiamento imobiliário. O Bankia disse que não comentaria o desempenho desses fundos.
Até recentemente, os bancos estavam comprando de volta, a preço pleno, alguns dos títulos garantidos por crédito hipotecário com pior desempenho visando proteger os investidores detentores deles, estrangeiros na maioria, na esperança de preservar a posição de investimento dos bancos. Mas à medida que aumenta os calotes dos empréstimos e o capital se torna ainda mais escasso, alguns bancos agora enfrentam o inevitável e estão oferecendo a recompra desses títulos com descontos de 10% a 30%.
Muitos analistas dizem que os dados oficiais sobre os preços dos imóveis espanhóis, com queda de 25% segundo algumas medições, não reflete a realidade de quanto os preços realmente caíram. Até que ajustes de preço sejam feitos, e os bancos e investidores contabilizem suas perdas –como aconteceu na Irlanda e nos Estados Unidos– os economistas dizem que será impossível para a economia espanhola realmente se recuperar.
À medida que essas perdas são assumidas, a pergunta então se torna se a Espanha será capaz de absorvê-las. O próprio fundo de resgate aos bancos do governo está ficando sem dinheiro. Em uma contradição reveladora, Madri propôs que os bancos do país emprestem dinheiro ao governo para manter o fundo.
Borja Mateo, autor de um livro recente sobre o mercado imobiliário espanhol, disse que atualmente existem 1,9 milhão de imóveis residenciais à venda na Espanha e aproximadamente 3,9 milhões que podem ser colocados à venda nos próximos anos. Com a demanda atual de imóveis em aproximadamente 175 mil unidades por ano, Mateo previu que o excesso de oferta pode vir a provocar uma queda dos preços de 60%.
Como o espanhol típico tem 80% de seus ativos investidos em imóveis, uma queda de preços dessa magnitude seria devastadora. "O que estamos vendo", ele disse, "é um imenso empobrecimento do país".
Tradutor: George El Khouri Andolfato
JOÃO BOSCO LEAL
Os custos da liderança brasileira
Pelo tamanho de seu território, número de habitantes e riquezas naturais, o Brasil é o país que possui as maiores possibilidades de manter a liderança política e econômica já conseguida entre todos os situados na América Latina. Para isso, a existência de políticas destinadas ao fortalecimento econômico e social de todos os países vizinhos ou próximos é indispensável, mas algumas concessões realizadas pelo Brasil nos últimos anos têm extrapolado todo o bom senso que seria esperado de um governante.
Por determinação de Lula, a Petrobrás firmou com a empresa PDVSA, da Venezuela, um acordo para a construção da refinaria de petróleo Abreu de Lima, em Pernambuco, fora dos grandes centros de consumo brasileiro e consequentemente não estratégica para a empresa. A refinaria já está praticamente pronta, mas até agora a empresa venezuelana não participou com nenhum centavo da parte que lhe caberia na obra da qual é sócia.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, BNDES, em seu próprio nome já declara o motivo para o qual foi criado, mas no governo Lula fez com que este financiasse a construção de portos e em Cuba, linhas de metrô em Caracas na Venezuela, indústrias da Argentina, estradas na Bolívia e usinas hidrelétricas no Equador, enquanto no Brasil faltam recursos para investimentos em infraestrutura.
A sanidade animal é outro grave problema enfrentado principalmente pelos estados que fazem divisa com Paraguai, de onde por diversas vezes vieram focos de febre aftosa que contaminaram nossos rebanhos causando prejuízos de milhões de dólares aos produtores e ao país. Além dos veículos aqui roubados para serem trocados por drogas nesses países, muitas armas são constantemente apreendidas pela Polícia Federal entrando no país, provenientes principalmente da Bolívia e Paraguai.
A imprensa brasileira divulgou esta semana que o governo da Argentina, que acaba de expropriar a empresa petrolífera YPF-Repsol, da Espanha, enviou um representante ao Brasil para cobrar maiores investimentos da Petrobrás naquele país. A nossa Presidente Dilma será irresponsável a esse ponto? Afinal, apesar de o Governo Federal ser seu maior acionista, esta é uma empresa privada que como tal deveria demitir o responsável por um investimento como este ou que continuasse usando a Petrobrás para controlar a inflação como já vem fazendo, impedindo o aumento do preço dos combustíveis de acordo com o mercado internacional.
Necessitamos de países economicamente fortes como parceiros comerciais, mas não de países que se utilizam do Brasil e depois impedem a entrada de nossos produtos, como constantemente faz a Argentina.
Produzam o que necessitamos, comprem o que produzimos e cumpram os contratos realizados, são as regras mais claras e determinantes para o bom andamento de qualquer tipo de parceria comercial.
João Bosco Leal é jornalista, escritor e produtor rural
www.joaoboscoleal.com.br
Pelo tamanho de seu território, número de habitantes e riquezas naturais, o Brasil é o país que possui as maiores possibilidades de manter a liderança política e econômica já conseguida entre todos os situados na América Latina. Para isso, a existência de políticas destinadas ao fortalecimento econômico e social de todos os países vizinhos ou próximos é indispensável, mas algumas concessões realizadas pelo Brasil nos últimos anos têm extrapolado todo o bom senso que seria esperado de um governante.
O contrato para a construção de Itaipú, construída na divisa Brasil-Paraguai, na época a maior hidrelétrica do mundo, dizia que a energia por ela gerada seria de propriedade dos dois países em partes iguais, mas a construção seria realizada exclusivamente com recursos brasileiros com a condição de que toda a energia não utilizada pelo Paraguai da parte que lhe coubesse seria vendida ao Brasil por um preço e período pactuado contratualmente na época. O governo Lula, porém, aceitou alterar um contrato vigente com o Paraguai e passou a pagar para aquele país o triplo do valor pela energia gerada em Itaipú, além de, como maior contribuinte do Fundo para a Convergência Estrutural do Mercosul (Focem), autorizar a construção de uma rede de transmissão de energia, com 350 quilômetros de ex tensão para levar energia de Itaipú a Assunção, capital daquele país.
No mesmo governo Lula o país assistiu de braços cruzados a Bolívia se apoderar de todos os investimentos da Petrobrás naquele país e ainda aceitou uma brutal elevação nos preços do gás que de lá importamos, e a imposição por aquele país de uma quantidade de gás a ser importada maior que as nossas necessidades, mas que, mesmo não utilizando, por ela pagamos. Depois, assistiu também passivamente o governo Evo Morales assinar a legalização naquele país de aproximadamente cem mil veículos roubados do Brasil, mediante o simples pagamento de uma taxa entre 2 e 3,5 mil dólares.Por determinação de Lula, a Petrobrás firmou com a empresa PDVSA, da Venezuela, um acordo para a construção da refinaria de petróleo Abreu de Lima, em Pernambuco, fora dos grandes centros de consumo brasileiro e consequentemente não estratégica para a empresa. A refinaria já está praticamente pronta, mas até agora a empresa venezuelana não participou com nenhum centavo da parte que lhe caberia na obra da qual é sócia.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, BNDES, em seu próprio nome já declara o motivo para o qual foi criado, mas no governo Lula fez com que este financiasse a construção de portos e em Cuba, linhas de metrô em Caracas na Venezuela, indústrias da Argentina, estradas na Bolívia e usinas hidrelétricas no Equador, enquanto no Brasil faltam recursos para investimentos em infraestrutura.
A sanidade animal é outro grave problema enfrentado principalmente pelos estados que fazem divisa com Paraguai, de onde por diversas vezes vieram focos de febre aftosa que contaminaram nossos rebanhos causando prejuízos de milhões de dólares aos produtores e ao país. Além dos veículos aqui roubados para serem trocados por drogas nesses países, muitas armas são constantemente apreendidas pela Polícia Federal entrando no país, provenientes principalmente da Bolívia e Paraguai.
A imprensa brasileira divulgou esta semana que o governo da Argentina, que acaba de expropriar a empresa petrolífera YPF-Repsol, da Espanha, enviou um representante ao Brasil para cobrar maiores investimentos da Petrobrás naquele país. A nossa Presidente Dilma será irresponsável a esse ponto? Afinal, apesar de o Governo Federal ser seu maior acionista, esta é uma empresa privada que como tal deveria demitir o responsável por um investimento como este ou que continuasse usando a Petrobrás para controlar a inflação como já vem fazendo, impedindo o aumento do preço dos combustíveis de acordo com o mercado internacional.
Necessitamos de países economicamente fortes como parceiros comerciais, mas não de países que se utilizam do Brasil e depois impedem a entrada de nossos produtos, como constantemente faz a Argentina.
Produzam o que necessitamos, comprem o que produzimos e cumpram os contratos realizados, são as regras mais claras e determinantes para o bom andamento de qualquer tipo de parceria comercial.
João Bosco Leal é jornalista, escritor e produtor rural
www.joaoboscoleal.com.br
domingo, 29 de abril de 2012
JORGE LUIS BORGES
EL OTRO TIGRE
And the craft createth a semblance.
Morris: Sigurd the Volsung (1876)
Pienso en un tigre. La penumbra exalta
La vasta Biblioteca laboriosa
Y parece alejar los anaqueles;
Fuerte, inocente, ensangrentado y nuevo,
él irá por su selva y su mañana
Y marcará su rastro en la limosa
Margen de un río cuyo nombre ignora
(En su mundo no hay nombres ni pasado
Ni porvenir, sólo un instante cierto.)
Y salvará las bárbaras distancias
Y husmeará en el trenzado laberinto
De los olores el olor del alba
Y el olor deleitable del venado;
Entre las rayas del bambú descifro,
Sus rayas y presiento la osatura
Baja la piel espléndida que vibra.
En vano se interponen los convexos
Mares y los desiertos del planeta;
Desde esta casa de un remoto puerto
De América del Sur, te sigo y sueño,
Oh tigre de las márgenes del Ganges.
Cunde la tarde en mi alma y reflexiono
Que el tigre vocativo de mi verso
Es un tigre de símbolos y sombras,
Una serie de tropos literarios
Y de memorias de la enciclopedia
Y no el tigre fatal, la aciaga joya
Que, bajo el sol o la diversa luna,
Va cumpliendo en Sumatra o en Bengala
Su rutina de amor, de ocio y de muerte.
Al tigre de los simbolos he opuesto
El verdadero, el de caliente sangre,
El que diezma la tribu de los búfalos
Y hoy, 3 de agosto del 59,
Alarga en la pradera una pausada
Sombra, pero ya el hecho de nombrarlo
Y de conjeturar su circunstancia
Lo hace ficción del arte y no criatura
Viviente de las que andan por la tierra.
Un tercer tigre buscaremos. Éste
Será como los otros una forma
De mi sueño, un sistema de palabras
Humanas y no el tigre vertebrado
Que, más allá de las mitologías,
Pisa la tierra. Bien lo sé, pero algo
Me impone esta aventura indefinida,
Insensata y antigua, y persevero
En buscar por el tiempo de la tarde
El otro tigre, el que no está en el verso.
A perversidade da diversidade
Walter Williams - IMB
As expressões 'ação afirmativa', 'representação paritária', 'tratamento preferencial' e 'cotas raciais' não possuem grande apelo entre a população. Sabendo disso, a elite intelectual, a mídia, o governo e todos os demais entusiastas criaram o termo 'diversidade', uma palavra aparentemente benigna que funciona muito bem para encobrir políticas racialmente discriminatórias. Via de regra, tais políticas exigem que as universidades, as empresas privadas e as burocracias do governo formem seus quadros de acordo com a proporção de cores e etnias existentes no país.
Por exemplo, se os negros formam 20% da população, então eles devem formar 20% dos estudantes universitários, 20% dos professores, 20% dos gerentes de empresas e 20% dos funcionários públicos. Por trás dessa visão de justiça está a ignara noção de que, não fosse a discriminação, todas as cores e etnias estariam igualmente distribuídas em termos de renda, educação, ocupação e outros critérios.Não há absolutamente nenhuma evidência, em nenhum lugar do mundo, de que a proporcionalidade estatística seja a norma. Ainda assim, grande parte de nossas leis, de nossas políticas públicas e do nosso modo de pensar partem do princípio de que a proporcionalidade é a norma. Vejamos agora algumas diferenças raciais e vamos pensar sobre suas causas e possíveis curas.
Nos EUA, ao passo que 13% da população é formada por negros, estes representam 80% dos jogadores profissionais de basquete e 65% dos jogadores profissionais de futebol americano, sendo que, em ambos os esportes, os negros são os jogadores mais bem pagos. Em contraste, os negros representam apenas 2% dos jogadores profissionais da liga americana de hóquei sobre o gelo. Logo, não há diversidade racial no basquete, no futebol americano e nem no hóquei. Tais esportes em momento algum atendem aos critérios de 'igualdade racial'.
Mesmo no que diz respeito a conquistas esportivas, a diversidade racial está ausente. No baseball, quatro dos cinco recordistas de home-runs são negros. Desde que os negros entraram nas principais ligas de baseball, das 8 vezes em que houve mais de 100 bases roubadas em uma temporada, todas foram feitas por negros. Por outro lado, o Departamento de Justiça americano recentemente ordenou que o departamento de polícia de cidade de Dayton, no estado de Ohio, diminuísse a nota mínima de aprovação nas provas escritas para que assim mais negros pudessem entrar na força policial.
O que o Procurador Geral da Justiça dos EUA, senhor Eric Holder, deveria fazer a respeito da falta de diversidade racial nos esportes? Por que as elites intelectuais não protestam? Será que é porque os proprietários desses multibilionários times profissionais de basquete, futebol e baseball são pró-negros ao passo que os proprietários dos times da liga de hóquei e os donos das grandes empresas são racistas relutantes em colocar negros em altas posições e com altos salários?
Dentre as questões de diversidade étnica, há uma que foi completamente varrida para debaixo do tapete: os judeus americanos representam menos de 3% da população do país e somente 0,2% da população mundial. Todavia, entre 1901 e 2010, esses judeus ganharam 35% de todos os prêmios Nobel que foram concedidos a americanos, o que significa que eles ganharam 22% do todos os prêmios Nobel já distribuídos.
Se, para a turma que advoga a diversidade, a sub-representação é uma "prova" de que há discriminação racial, o que eles sugerem fazer para os casos de sobre-representação? Afinal, se uma raça está sobre-representada, então isso pode significar que um grupo de pessoas está se apossando daquilo que, "por direito", pertence a outra raça.
Há outras questões de representação para as quais talvez seja necessário alguém começar a dar mais atenção, para poder criar políticas públicas corretivas. Por exemplo, os asiáticos repetidamente obtêm as maiores pontuações na seção de matemática do SAT, ao passo que os negros obtêm as menores. Os homens são 50% da população, assim como as mulheres; entretanto, os homens são atingidos por raios em uma frequência seis vezes maior do que as mulheres. As estatísticas populacionais para os estados americanos de Dakota do Sul, Iowa, Maine, Montana e Vermont mostram que a população negra desses estados não chega nem a 1%. Por outro lado, em estados como Geórgia, Alabama e Mississippi, os negros estão sobre-representados em relação à sua porcentagem na população geral dos EUA.
Há outros exemplos globais de desproporcionalidade. Por exemplo, durante a década de 1960, a minoria chinesa da Malásia recebeu mais diplomas universitários do que a maioria malaia. Somente na engenharia, foram 400 diplomas para chineses e apenas quatro para malaios, não obstante o fato de que os malaios dominavam o país politicamente. No Brasil, no estado de São Paulo, mais de dois terços das batatas e 90% dos tomates produzidos foram cultivados por pessoas de ascendência japonesa.
O moral da história é que não há, em nenhum lugar do mundo, evidências de que, não fosse a discriminação, as pessoas estariam divididas ao longo de todas as atividades produtoras de acordo com suas porcentagens na população. Diversidade é um termo elitista utilizado para dar respeitabilidade a atos e políticas que, em outros contextos, seriam consideradas racistas.
Walter Williams é professor honorário de economia da George Mason University e autor de sete livros. Suas colunas semanais são publicadas em mais de 140 jornais americanos.
Tradução de Leandro Roque
NINGUÉM NEGA O CRIME COMETIDO. TODOS OS ENVOLVIDOS RECLAMAM DAS GRAVAÇÕES QUE APONTAM QUE ELES SÃO CRIMINOSOS...
Dono da Delta conhecia 'esquema Cachoeira', diz PF
Escutas sugerem que Cavendish orientava diretor ligado a grupo
Entrega de agrados a políticos incluiu vinho raro
As investigações da Polícia Federal no caso Cachoeira indicam que Fernando Cavendish, presidente licenciado da Delta Construções, tinha conhecimento e orientava a atuação de seu ex-diretor para o Centro-Oeste, Cláudio Abreu.
Demitido após a revelação de que trabalhava em conjunto com Carlos Cachoeira, Abreu sempre teve sua atuação classificada como autônoma pela Delta, empreiteira líder no recebimento de recursos do Executivo federal desde 2007.
As escutas também sugerem que Cachoeira remunerou um assessor do ex-diretor do Dnit Luiz Antônio Pagot, que ameaçava dar um depoimento explosivo em Brasília.
Nos volumes do inquérito, Cachoeira aparece ainda como patrocinador de presentes luxuosos a políticos, entre eles um lote de vinhos raros comprado para Demóstenes Torres (ex-DEM-GO), ameaçado de cassação. Advogado do senador -e também do governador Marconi Perillo (PSDB-GO), citado nas investigações-, Antonio Carlos de Almeida Castro diz que a operação está baseada em escutas ilegais.
Empresa afirma que é vítima de vazamentos
A empreiteira Delta informou que não vai comentar o grau de conhecimento de Fernando Cavendish sobre os negócios da empresa no Centro-Oeste. A empresa se disse vítima de "vazamentos parciais" da operação da PF.
"A Delta, que é vítima de vazamentos parciais e descontextualizados de áudios saídos de interceptações telefônicas de um inquérito sigiloso, não teve acesso a essas gravações", diz a nota.
Em entrevista à Folha no dia 19, Cavendish negou que tivesse conhecimento de supostas condutas ilegais de seu ex-diretor Cláudio Abreu.
A reportagem não conseguiu contato com o advogado de Abreu até a coclusão desta edição. A defesa de Cachoeira diz que as provas do caso são ilegais.
Escutas sugerem que Cavendish orientava diretor ligado a grupo
Entrega de agrados a políticos incluiu vinho raro
As investigações da Polícia Federal no caso Cachoeira indicam que Fernando Cavendish, presidente licenciado da Delta Construções, tinha conhecimento e orientava a atuação de seu ex-diretor para o Centro-Oeste, Cláudio Abreu.
Demitido após a revelação de que trabalhava em conjunto com Carlos Cachoeira, Abreu sempre teve sua atuação classificada como autônoma pela Delta, empreiteira líder no recebimento de recursos do Executivo federal desde 2007.
As escutas também sugerem que Cachoeira remunerou um assessor do ex-diretor do Dnit Luiz Antônio Pagot, que ameaçava dar um depoimento explosivo em Brasília.
Nos volumes do inquérito, Cachoeira aparece ainda como patrocinador de presentes luxuosos a políticos, entre eles um lote de vinhos raros comprado para Demóstenes Torres (ex-DEM-GO), ameaçado de cassação. Advogado do senador -e também do governador Marconi Perillo (PSDB-GO), citado nas investigações-, Antonio Carlos de Almeida Castro diz que a operação está baseada em escutas ilegais.
Empresa afirma que é vítima de vazamentos
A empreiteira Delta informou que não vai comentar o grau de conhecimento de Fernando Cavendish sobre os negócios da empresa no Centro-Oeste. A empresa se disse vítima de "vazamentos parciais" da operação da PF.
"A Delta, que é vítima de vazamentos parciais e descontextualizados de áudios saídos de interceptações telefônicas de um inquérito sigiloso, não teve acesso a essas gravações", diz a nota.
Em entrevista à Folha no dia 19, Cavendish negou que tivesse conhecimento de supostas condutas ilegais de seu ex-diretor Cláudio Abreu.
A reportagem não conseguiu contato com o advogado de Abreu até a coclusão desta edição. A defesa de Cachoeira diz que as provas do caso são ilegais.
VAZAMENTO DAS GRAVAÇÕES POSSIBILITA COMPREENDER A TEIA DE CORRUPÇÃO QUE ENVOLVE A DEGENERADA POLÍTICA BRASILEIRA
As gravações que revelam escândalos da República
Merval Pereira - O Globo
Os vazamentos dos documentos sigilosos referentes à investigação da Polícia Federal sobre a relação do Senador Demóstenes Torres com o bicheiro Carlinhos Cachoeira que o Supremo Tribunal Federal enviou ao Congresso estão por toda a parte, e já nem são mais seletivos. Há fatos para todos os gostos.
Tanto a chamada “grande imprensa” quanto uma variedade imensa de blogs, de várias tendências políticas e com diversos interesses em jogo, estão divulgando sem parar documentos e gravações, para desespero, suponho, do senador autointitulado bedel da CPI.
Aliás, muitos dos documentos vazaram enquanto estavam sob a guarda do Supremo, e continuaram vazando mesmo antes de chegarem ao Congresso.
Eles demonstram mais uma vez que o relacionamento de jornalistas da revista Veja com o bicheiro Carlinhos Cachoeira e seus asseclas nada têm de ilícito, ficando preservada, por tudo que se conhece até o momento, a tênue linha que separa a ética jornalística de atos que podem comprometê-la.
O caso do jornal popular inglês News of the World, que colocou seus diretores e proprietários no banco dos réus na Inglaterra, é exemplar dessa diferença: lá os jornalistas contratavam arapongas para espionar celebridades e políticos.
Aqui, até o momento está demonstrado que a revista se utiliza de gravações realizadas para revelar os escândalos da República.
E em diversos momentos, como revelam as gravações, a revista se colocou contra os interesses de sua fonte de informações, divulgando notícias que desagradaram o bicheiro e sua turma.
A já conhecida gravação em que Cachoeira se queixa de que o diretor da sucursal de Brasília da revista Policarpo Junior não dá nada em troca das informações que recebe é uma evidência disso.
O máximo que aparece nas novas gravações é um tratamento íntimo do bicheiro com o jornalista, e um pedido de uma notinha na revista, fatos que podem desagradar os que tentam politizar o caso para se vingar, mas não chegam a condenar a revista nem seus jornalistas.
As gravações mostram também, de maneira evidente, o trabalho do senador Demóstenes Torres de proteger a empreiteira Delta por interesse direto do bicheiro.
Tanto que o PSOL já decidiu aditar à sua representação contra Demóstenes no Conselho de Ética do Senado, todo o material que receber da investigação da Polícia Federal sobre o esquema Cachoeira, através do senador Randolfe Rodrigues, seu representante na CPI.
O Partido Socialismo e Liberdade, aliás, indica que terá nessa CPI um papel semelhante ao que o PT originalmente tinha quando estava na oposição.
Seus membros são praticamente todos oriundos da base petista, formados na dissidência primeiramente dentro do próprio partido, depois na formação de um novo partido que se quer distante do “pragmatismo” que passou a ditar as regras do governo Lula.
Por motivos errados a meu ver, pois o gatilho para a dissidência foi a reforma previdenciária que o ex-presidente Lula acertadamente tentou levar adiante no início de seu governo, o PSOL já pressentia os rumos que o PT no governo tomaria, e seus fundadores desembarcaram dele antes que estourasse o escândalo do mensalão, em 2005.
Embora insista em teses arcaicas como a implantação do socialismo no país, objetivo que o próprio PT deixou como letra morta em seu estatuto, o PSOL guarda uma certa indignação com as atitudes pouco republicanas na prática política brasileira que é saudável.
Seu instrumento de pressão, a maioria das vezes inócuo pelos próprios vícios do sistema em vigor, são as comissões de Ética e as CPIs no Congresso, como a reforçar a ideia de que o primeiro passo para uma reforma política seria a reforma de nossas práticas políticas.
O partido pretende ampliar o anexo de sua representação à Comissão de Ética com diálogos 'pouco republicanos' de Demóstenes com o contraventor, publicados na imprensa, segundo seu líder, o deputado federal Chico Alencar.
Ele contesta a tendência declarada pelo relator da Comissão de Ética, senador Humberto Costa, de desconsiderar as gravações, afirmando que “não se sustenta” a tese de que elas podem ser anuladas pelo Supremo.
Alencar utiliza-se do argumento do próprio Humberto Costa, que já declarou que o julgamento do senador de Goiás no Conselho é político, e não se cinge às tecnicalidades jurídicas.
“Portanto, tudo o que — sendo veraz, por óbvio — contribui para a análise política da quebra da Ética e do Decoro Parlamentar tem que ser levado em consideração. Assim cobraremos”.
Na análise do líder do PSOL, “há alguns parlamentares na CPMI que confiam uns nos outros, pois são independentes e não têm medo de seu passado e de seu presente, isto é, não têm ‘telhado de vidro’. Nem estão ali para blindar correligionários”.
O deputado Chico Alencar admite que “não são muitos os que não recuarão por conveniências políticas, é verdade”.
Mas acha que os “independentes” são em número suficiente para, em último caso, fazer um voto em separado, denunciando o que, na verdade, está em questão: “o padrão degenerado da política brasileira, no qual os interesses privados, legais e ilegais, imbricam-se com os negócios públicos, e capturam, para o enriquecimento ilícito de pessoas e empresas, as instituições”.
Chico Alencar considera que o caso guarda semelhanças, nesse aspecto da promiscuidade do público com o privado, com o caso do mensalão:
“Trata-se da tarefa de ‘republicanizar a República’, e a oportunidade é singular”, diz ele.
Ele chama a atenção para uma declaração do governador petista do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, segundo quem "tomar a denúncia como produto de uma conspiração é errado: é deixar de lado que o Estado brasileiro — historicamente cartorial, bacharelesco e barroco nos seus procedimentos, e forjado sob o patrocínio de um liberalismo antirrepublicano — tem um sistema político, eleitoral e partidário totalmente estimulante a desvios de conduta e a condutas que propiciam a corrupção".
Genro, por sinal, foi uma das poucas lideranças petistas que, em decorrência do escândalo do mensalão, tentou liderar um movimento dentro do partido para sua “refundação”.
Merval Pereira - O Globo
Os vazamentos dos documentos sigilosos referentes à investigação da Polícia Federal sobre a relação do Senador Demóstenes Torres com o bicheiro Carlinhos Cachoeira que o Supremo Tribunal Federal enviou ao Congresso estão por toda a parte, e já nem são mais seletivos. Há fatos para todos os gostos.
Tanto a chamada “grande imprensa” quanto uma variedade imensa de blogs, de várias tendências políticas e com diversos interesses em jogo, estão divulgando sem parar documentos e gravações, para desespero, suponho, do senador autointitulado bedel da CPI.
Aliás, muitos dos documentos vazaram enquanto estavam sob a guarda do Supremo, e continuaram vazando mesmo antes de chegarem ao Congresso.
Eles demonstram mais uma vez que o relacionamento de jornalistas da revista Veja com o bicheiro Carlinhos Cachoeira e seus asseclas nada têm de ilícito, ficando preservada, por tudo que se conhece até o momento, a tênue linha que separa a ética jornalística de atos que podem comprometê-la.
O caso do jornal popular inglês News of the World, que colocou seus diretores e proprietários no banco dos réus na Inglaterra, é exemplar dessa diferença: lá os jornalistas contratavam arapongas para espionar celebridades e políticos.
Aqui, até o momento está demonstrado que a revista se utiliza de gravações realizadas para revelar os escândalos da República.
E em diversos momentos, como revelam as gravações, a revista se colocou contra os interesses de sua fonte de informações, divulgando notícias que desagradaram o bicheiro e sua turma.
A já conhecida gravação em que Cachoeira se queixa de que o diretor da sucursal de Brasília da revista Policarpo Junior não dá nada em troca das informações que recebe é uma evidência disso.
O máximo que aparece nas novas gravações é um tratamento íntimo do bicheiro com o jornalista, e um pedido de uma notinha na revista, fatos que podem desagradar os que tentam politizar o caso para se vingar, mas não chegam a condenar a revista nem seus jornalistas.
As gravações mostram também, de maneira evidente, o trabalho do senador Demóstenes Torres de proteger a empreiteira Delta por interesse direto do bicheiro.
Tanto que o PSOL já decidiu aditar à sua representação contra Demóstenes no Conselho de Ética do Senado, todo o material que receber da investigação da Polícia Federal sobre o esquema Cachoeira, através do senador Randolfe Rodrigues, seu representante na CPI.
O Partido Socialismo e Liberdade, aliás, indica que terá nessa CPI um papel semelhante ao que o PT originalmente tinha quando estava na oposição.
Seus membros são praticamente todos oriundos da base petista, formados na dissidência primeiramente dentro do próprio partido, depois na formação de um novo partido que se quer distante do “pragmatismo” que passou a ditar as regras do governo Lula.
Por motivos errados a meu ver, pois o gatilho para a dissidência foi a reforma previdenciária que o ex-presidente Lula acertadamente tentou levar adiante no início de seu governo, o PSOL já pressentia os rumos que o PT no governo tomaria, e seus fundadores desembarcaram dele antes que estourasse o escândalo do mensalão, em 2005.
Embora insista em teses arcaicas como a implantação do socialismo no país, objetivo que o próprio PT deixou como letra morta em seu estatuto, o PSOL guarda uma certa indignação com as atitudes pouco republicanas na prática política brasileira que é saudável.
Seu instrumento de pressão, a maioria das vezes inócuo pelos próprios vícios do sistema em vigor, são as comissões de Ética e as CPIs no Congresso, como a reforçar a ideia de que o primeiro passo para uma reforma política seria a reforma de nossas práticas políticas.
O partido pretende ampliar o anexo de sua representação à Comissão de Ética com diálogos 'pouco republicanos' de Demóstenes com o contraventor, publicados na imprensa, segundo seu líder, o deputado federal Chico Alencar.
Ele contesta a tendência declarada pelo relator da Comissão de Ética, senador Humberto Costa, de desconsiderar as gravações, afirmando que “não se sustenta” a tese de que elas podem ser anuladas pelo Supremo.
Alencar utiliza-se do argumento do próprio Humberto Costa, que já declarou que o julgamento do senador de Goiás no Conselho é político, e não se cinge às tecnicalidades jurídicas.
“Portanto, tudo o que — sendo veraz, por óbvio — contribui para a análise política da quebra da Ética e do Decoro Parlamentar tem que ser levado em consideração. Assim cobraremos”.
Na análise do líder do PSOL, “há alguns parlamentares na CPMI que confiam uns nos outros, pois são independentes e não têm medo de seu passado e de seu presente, isto é, não têm ‘telhado de vidro’. Nem estão ali para blindar correligionários”.
O deputado Chico Alencar admite que “não são muitos os que não recuarão por conveniências políticas, é verdade”.
Mas acha que os “independentes” são em número suficiente para, em último caso, fazer um voto em separado, denunciando o que, na verdade, está em questão: “o padrão degenerado da política brasileira, no qual os interesses privados, legais e ilegais, imbricam-se com os negócios públicos, e capturam, para o enriquecimento ilícito de pessoas e empresas, as instituições”.
Chico Alencar considera que o caso guarda semelhanças, nesse aspecto da promiscuidade do público com o privado, com o caso do mensalão:
“Trata-se da tarefa de ‘republicanizar a República’, e a oportunidade é singular”, diz ele.
Ele chama a atenção para uma declaração do governador petista do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, segundo quem "tomar a denúncia como produto de uma conspiração é errado: é deixar de lado que o Estado brasileiro — historicamente cartorial, bacharelesco e barroco nos seus procedimentos, e forjado sob o patrocínio de um liberalismo antirrepublicano — tem um sistema político, eleitoral e partidário totalmente estimulante a desvios de conduta e a condutas que propiciam a corrupção".
Genro, por sinal, foi uma das poucas lideranças petistas que, em decorrência do escândalo do mensalão, tentou liderar um movimento dentro do partido para sua “refundação”.
PETROBRAS ESCAPOU DAS GARRAS DO BISCATÓN (PELO MENOS POR ENQUANTO)
Respeito a contratos
O Estado de S.Paulo
Felizmente para seus acionistas e para o País, a presidente da Petrobrás, Graça Foster, garante ao mercado que os recursos da empresa não serão usados em novas ações internacionais de interesse do governo e decididas em nome de uma diplomacia terceiro-mundista e antiamericanista tão ao gosto do PT. Poucos dias depois da vinda ao Brasil do ministro do Planejamento da Argentina, Julio De Vido, com o qual se reuniu e de quem ouviu pedidos de novos investimentos em seu país - e cujo atendimento foi admitido pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão -, Graça Foster deixou claro que a Petrobrás investirá o que já foi anunciado e que "não há indícios de aumento".
São várias as razões, todas com sólida fundamentação técnica e financeira, para a firme decisão da presidente da Petrobrás a respeito de novos investimentos na Argentina. Ao participar de audiência pública na Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados, no dia 25, Graça Foster disse que a previsão de investimentos no país vizinho é a que já foi aprovada no Plano de Negócios 2011-2015 da empresa.
"É legítimo o ministro argentino pedir mais investimentos", reconheceu. Mas, em seguida, deixou claro que o pedido do ministro De Vido, um ato político, não muda a decisão sobre o plano de investimentos. "O investimento (na Argentina) não será maior porque foi feito um pedido", insistiu. Em 2012, lembrou Graça Foster, a Petrobrás fará investimentos totais recordes de mais de R$ 80 bilhões. Mas o montante será aplicado de acordo com as prioridades da empresa e, como disse sua presidente, "a grande prioridade da Petrobrás é o pré-sal".
Sem citar a expropriação pelo governo argentino de Cristina Kirchner da petrolífera YPF, que era controlada pelo grupo espanhol Repsol, Graça Foster deu um recado aos investidores, destacando a maior segurança jurídica da atividade empresarial no Brasil. "Não rasgaremos contratos, como acontece em outros países", afirmou, acrescentando que "é seguro investir em petróleo e energia no Brasil".
No início de abril, a própria Petrobrás - à qual o representante do governo Kirchner veio pedir novos investimentos em seu país - foi surpreendida com a decisão do governo da Província de Neuquén de cancelar a concessão dada à empresa brasileira para exploração de petróleo de três áreas, o que afetará severamente sua atividade na Argentina.
"Havíamos cumprido o plano exploratório mínimo na íntegra e anunciamos que faríamos a perfuração de seis poços no segundo semestre deste ano", disse Graça Foster na ocasião. Esperava-se que a vinda de De Vido a Brasília no dia 19 permitisse o esclarecimento da situação em Neuquén. No entanto, o ministro argentino limitou-se a dizer que a questão "está bem encaminhada". Em se tratando do governo Kirchner, não se sabe o que isso significa.
Não é a primeira violação de contrato por governos latino-americanos de que a Petrobrás é vítima desde a chegada do PT ao poder e que resultou na ampliação das atividades da empresa para países governados por aliados do partido. Em 2006, o governo nacionalista-esquerdista de Evo Morales ocupou militarmente as instalações da Petrobrás na Bolívia, depois do anúncio da nacionalização dos hidrocarbonetos. No mesmo ano, o governo bolivariano de Hugo Chávez forçou a Petrobrás a reduzir de 100% para 40% sua participação em projetos na Venezuela.
Ainda com a Venezuela, e por decisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Petrobrás tem parceria na Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. O início da operação da refinaria está previsto para 2013, mas, até hoje, o parceiro estrangeiro não investiu nenhum tostão na obra.
São experiências mais do que suficientes para justificar a posição da presidente da Petrobrás no que se refere ao pedido do governo argentino. Pela firmeza da resposta, certamente se aplica a futuros casos semelhantes. Investimentos externos da Petrobrás devem estar condicionados exclusivamente a interesses empresariais, não a projetos políticos do governo.
O Estado de S.Paulo
Felizmente para seus acionistas e para o País, a presidente da Petrobrás, Graça Foster, garante ao mercado que os recursos da empresa não serão usados em novas ações internacionais de interesse do governo e decididas em nome de uma diplomacia terceiro-mundista e antiamericanista tão ao gosto do PT. Poucos dias depois da vinda ao Brasil do ministro do Planejamento da Argentina, Julio De Vido, com o qual se reuniu e de quem ouviu pedidos de novos investimentos em seu país - e cujo atendimento foi admitido pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão -, Graça Foster deixou claro que a Petrobrás investirá o que já foi anunciado e que "não há indícios de aumento".
São várias as razões, todas com sólida fundamentação técnica e financeira, para a firme decisão da presidente da Petrobrás a respeito de novos investimentos na Argentina. Ao participar de audiência pública na Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados, no dia 25, Graça Foster disse que a previsão de investimentos no país vizinho é a que já foi aprovada no Plano de Negócios 2011-2015 da empresa.
"É legítimo o ministro argentino pedir mais investimentos", reconheceu. Mas, em seguida, deixou claro que o pedido do ministro De Vido, um ato político, não muda a decisão sobre o plano de investimentos. "O investimento (na Argentina) não será maior porque foi feito um pedido", insistiu. Em 2012, lembrou Graça Foster, a Petrobrás fará investimentos totais recordes de mais de R$ 80 bilhões. Mas o montante será aplicado de acordo com as prioridades da empresa e, como disse sua presidente, "a grande prioridade da Petrobrás é o pré-sal".
Sem citar a expropriação pelo governo argentino de Cristina Kirchner da petrolífera YPF, que era controlada pelo grupo espanhol Repsol, Graça Foster deu um recado aos investidores, destacando a maior segurança jurídica da atividade empresarial no Brasil. "Não rasgaremos contratos, como acontece em outros países", afirmou, acrescentando que "é seguro investir em petróleo e energia no Brasil".
No início de abril, a própria Petrobrás - à qual o representante do governo Kirchner veio pedir novos investimentos em seu país - foi surpreendida com a decisão do governo da Província de Neuquén de cancelar a concessão dada à empresa brasileira para exploração de petróleo de três áreas, o que afetará severamente sua atividade na Argentina.
"Havíamos cumprido o plano exploratório mínimo na íntegra e anunciamos que faríamos a perfuração de seis poços no segundo semestre deste ano", disse Graça Foster na ocasião. Esperava-se que a vinda de De Vido a Brasília no dia 19 permitisse o esclarecimento da situação em Neuquén. No entanto, o ministro argentino limitou-se a dizer que a questão "está bem encaminhada". Em se tratando do governo Kirchner, não se sabe o que isso significa.
Não é a primeira violação de contrato por governos latino-americanos de que a Petrobrás é vítima desde a chegada do PT ao poder e que resultou na ampliação das atividades da empresa para países governados por aliados do partido. Em 2006, o governo nacionalista-esquerdista de Evo Morales ocupou militarmente as instalações da Petrobrás na Bolívia, depois do anúncio da nacionalização dos hidrocarbonetos. No mesmo ano, o governo bolivariano de Hugo Chávez forçou a Petrobrás a reduzir de 100% para 40% sua participação em projetos na Venezuela.
Ainda com a Venezuela, e por decisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Petrobrás tem parceria na Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. O início da operação da refinaria está previsto para 2013, mas, até hoje, o parceiro estrangeiro não investiu nenhum tostão na obra.
São experiências mais do que suficientes para justificar a posição da presidente da Petrobrás no que se refere ao pedido do governo argentino. Pela firmeza da resposta, certamente se aplica a futuros casos semelhantes. Investimentos externos da Petrobrás devem estar condicionados exclusivamente a interesses empresariais, não a projetos políticos do governo.
SE ARREPENDIMENTO MATASSE...
HÁ 50 anos 29.abr.1962
No Rio, ministros de Brasil e Bolívia fazem pacto para ampliar relações
FSP
BANCO DE DADOS - Ontem, no Rio de Janeiro, os ministros das Relações Exteriores do Brasil, San Tiago Dantas, e da Bolívia, José Feliman Vellarde, reafirmaram em documento a fidelidade dos países à democracia e ao resguardo da unidade e cooperação entre os povos.
A intenção dos países é dinamizar suas relações. Para isso, serão tomadas medidas para ampliar a colaboração entre Brasil e Bolívia.
Os chanceleres também debateram no Itamaraty novos rumos a serem dados para o Acordo de Roboré, pacto assinado em 1958 e que previa investimentos da Petrobras no altiplano boliviano.
No Rio, ministros de Brasil e Bolívia fazem pacto para ampliar relações
FSP
BANCO DE DADOS - Ontem, no Rio de Janeiro, os ministros das Relações Exteriores do Brasil, San Tiago Dantas, e da Bolívia, José Feliman Vellarde, reafirmaram em documento a fidelidade dos países à democracia e ao resguardo da unidade e cooperação entre os povos.
A intenção dos países é dinamizar suas relações. Para isso, serão tomadas medidas para ampliar a colaboração entre Brasil e Bolívia.
Os chanceleres também debateram no Itamaraty novos rumos a serem dados para o Acordo de Roboré, pacto assinado em 1958 e que previa investimentos da Petrobras no altiplano boliviano.
ELIÂNICAS
Bonde andando
Eliane Cantanhêde - FSP
BRASÍLIA - CPIs investigam, interrogam, produzem provas, usam e abusam da imprensa para divulgar os tesouros descobertos e, no final, entregam a arca cheia para o Ministério Público, sob animada expectativa de punições.
Pois a CPI do Cachoeira pegou o bonde andando e faz o percurso inverso. A Polícia Federal fez o grosso do trabalho, o MP e o Supremo já estão a bordo e a imprensa tem publicado torrentes de nomes, diálogos, fatos e evidências.
As próprias punições, policiais e políticas, já começaram antes mesmo da instalação da CPI. O pivô Carlinhos Cachoeira está preso desde fevereiro, o senador Demóstenes Torres perdeu o partido e está para perder o mandato, o empresário Fernando Cavendish abandonou a presidência da construtora Delta, que perde, um a um, grandes contratos.
O foco, neste momento, está nos governadores Marconi Perillo, de Goiás, e Agnelo Queiroz, do DF, com a feliz (ou infeliz) coincidência de que um é do PSDB e outro, do PT.
A base das investigações, assim, caiu pronta e detalhada no colo dos integrantes da CPI: o inquérito da PF que está na Procuradoria-Geral da República e no Supremo Tribunal Federal e que liquida o discurso ético e a carreira política de Demóstenes.
Essa, porém, é só a base para os trabalhos da CPI. Um início, um roteiro. Se é para valer, a CPI precisa identificar conexões, fazer cruzamentos, ir fundo num esquema que, ao contrário do que querem fazer crer, não se limita a Goiás e ao DF.
Por isso, surpreende que as bancadas do PT na Câmara e no Senado defendam uma CPI "com foco" e "rápida", para o bonde não sair dos trilhos e não perder o rumo. E quem manda na CPI, sob coordenação do Planalto, é justamente o PT.
E a orientação de Lula para abrir o foco e não medir esforços para apurar tudo, "doa a quem doer"? Era bravata, ou caiu a ficha de que pode doer em mais gente do que o esperado?
Eliane Cantanhêde - FSP
BRASÍLIA - CPIs investigam, interrogam, produzem provas, usam e abusam da imprensa para divulgar os tesouros descobertos e, no final, entregam a arca cheia para o Ministério Público, sob animada expectativa de punições.
Pois a CPI do Cachoeira pegou o bonde andando e faz o percurso inverso. A Polícia Federal fez o grosso do trabalho, o MP e o Supremo já estão a bordo e a imprensa tem publicado torrentes de nomes, diálogos, fatos e evidências.
As próprias punições, policiais e políticas, já começaram antes mesmo da instalação da CPI. O pivô Carlinhos Cachoeira está preso desde fevereiro, o senador Demóstenes Torres perdeu o partido e está para perder o mandato, o empresário Fernando Cavendish abandonou a presidência da construtora Delta, que perde, um a um, grandes contratos.
O foco, neste momento, está nos governadores Marconi Perillo, de Goiás, e Agnelo Queiroz, do DF, com a feliz (ou infeliz) coincidência de que um é do PSDB e outro, do PT.
A base das investigações, assim, caiu pronta e detalhada no colo dos integrantes da CPI: o inquérito da PF que está na Procuradoria-Geral da República e no Supremo Tribunal Federal e que liquida o discurso ético e a carreira política de Demóstenes.
Essa, porém, é só a base para os trabalhos da CPI. Um início, um roteiro. Se é para valer, a CPI precisa identificar conexões, fazer cruzamentos, ir fundo num esquema que, ao contrário do que querem fazer crer, não se limita a Goiás e ao DF.
Por isso, surpreende que as bancadas do PT na Câmara e no Senado defendam uma CPI "com foco" e "rápida", para o bonde não sair dos trilhos e não perder o rumo. E quem manda na CPI, sob coordenação do Planalto, é justamente o PT.
E a orientação de Lula para abrir o foco e não medir esforços para apurar tudo, "doa a quem doer"? Era bravata, ou caiu a ficha de que pode doer em mais gente do que o esperado?
O DECLÍNIO DOS EUA COMEÇA PELO GOVERNO DE MALACK OBAMA
EUA gastam US$ 467 mil com férias de Michelle Obama
Primeira-dama não reembolsou valor total de viagem a Espanha, diz organização
PETER BAKER - NYT/O Globo
WASHINGTON — Uma escapada à Espanha feita pela primeira-dama dos Estados Unidos em 2010 custou aos cofres americanos US$ 467 mil (R$ 881 mil), segundo uma organização que acompanha os gastos federais. As despesas decorrem do uso do avião presidencial e dos serviços de segurança.
Os dados foram divulgados pelo Judicial Watch, uma instituição de interesse público que se considera conservadora, classifica Barack Obama como um “político corrupto”, mas que também investiga os gastos dos republicanos.
A viagem já era conhecida, mas não o valor da conta que os contribuintes tiveram que pagar. A divulgação ocorre em um momento no qual os republicanos vêm pressionando Barack Obama em razão de viagens que parecem ter motivação eleitoral. O presidente tenta a reeleição em novembro. Nesta quinta-feira, o deputado republicano John Boehner, presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, exigiu que Obama devolva o valor gasto na visita a três estados que têm disputa acirrada.
A viagem de Michelle Obama à Espanha também gerou barulho por ter ocorrido em um período no qual os Estados Unidos passam por uma turbulência econômica. Para o passeio pelas praias mediterrâneas, a primeira dama levou sua filha mais nova, duas pessoas conhecidas e os quatro filhos delas. Um colunista do jornal novaiorquino “The Daily News“ chamou Michelle de “Marie Antonieta da modernidade”, em referência à rainha francesa conhecida por seu comportamento perdulário.
Reembolso não cobre despesas
A Casa Branca diz que Michelle e os convidados pagaram suas próprias despesas de alojamento, alimentação e transporte. Como usou um avião oficial, a primeira-dama reembolsou o governo no valor equivalente a passagens de primeira classe para ela e para a filha. Os convidados utilizaram voos comerciais convencionais.
Mas o custo de voar pelo avião do governo ultrapassou o valor reembolsado. Além disso, a segurança é paga pelo Estado. Agentes do Serviço Secreto sempre viajam com qualquer primeira-dama e normalmente insistem para que ela utilize o transporte oficial. Michelle também levou alguns assessores, pois fez uma visita de cortesia ao rei da Espanha, Juan Carlos I, e à sua esposa, a rainha Sofia, na ilha de Maiorca.
De acordo com os dados levantados pelo Judicial Watch, os voos para Málaga, dali para Maiorca e depois de volta para os Estados Unidos custaram US$ 199.323,75 (R$ 376 mil). Os gastos dos 15 integrantes da comitiva envolveram US$ 10.290,60 (R$ 19,4 mil) pelo alojamento, US$ 2.633,50 (R$ 5 mil) pelo aluguel de carros e US$ 876,30 (R$ 1,7 mil) pela comida — incluindo US$ 57,68 (R$ 108,83) gastos com molhos e mistura para panquecas.
O custo de proteção do Serviço Secreto totalizou US$ 26.670,61 (R$ 50 mil). Desses, US$ 26.670,61 (R$ 50,3 mil) são referentes ao passeio com motorista pela Costa del Sol e US$ 50.078.78 (R$ 94,5 mil), aos serviços de uma empresa de planejamento de viagem. O governo teve de pagar ainda pela hospedagem de um cão de guarda e pela pessoa responsável por ele.
Primeira-dama não reembolsou valor total de viagem a Espanha, diz organização
PETER BAKER - NYT/O Globo
WASHINGTON — Uma escapada à Espanha feita pela primeira-dama dos Estados Unidos em 2010 custou aos cofres americanos US$ 467 mil (R$ 881 mil), segundo uma organização que acompanha os gastos federais. As despesas decorrem do uso do avião presidencial e dos serviços de segurança.
Os dados foram divulgados pelo Judicial Watch, uma instituição de interesse público que se considera conservadora, classifica Barack Obama como um “político corrupto”, mas que também investiga os gastos dos republicanos.
A viagem já era conhecida, mas não o valor da conta que os contribuintes tiveram que pagar. A divulgação ocorre em um momento no qual os republicanos vêm pressionando Barack Obama em razão de viagens que parecem ter motivação eleitoral. O presidente tenta a reeleição em novembro. Nesta quinta-feira, o deputado republicano John Boehner, presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, exigiu que Obama devolva o valor gasto na visita a três estados que têm disputa acirrada.
A viagem de Michelle Obama à Espanha também gerou barulho por ter ocorrido em um período no qual os Estados Unidos passam por uma turbulência econômica. Para o passeio pelas praias mediterrâneas, a primeira dama levou sua filha mais nova, duas pessoas conhecidas e os quatro filhos delas. Um colunista do jornal novaiorquino “The Daily News“ chamou Michelle de “Marie Antonieta da modernidade”, em referência à rainha francesa conhecida por seu comportamento perdulário.
Reembolso não cobre despesas
A Casa Branca diz que Michelle e os convidados pagaram suas próprias despesas de alojamento, alimentação e transporte. Como usou um avião oficial, a primeira-dama reembolsou o governo no valor equivalente a passagens de primeira classe para ela e para a filha. Os convidados utilizaram voos comerciais convencionais.
Mas o custo de voar pelo avião do governo ultrapassou o valor reembolsado. Além disso, a segurança é paga pelo Estado. Agentes do Serviço Secreto sempre viajam com qualquer primeira-dama e normalmente insistem para que ela utilize o transporte oficial. Michelle também levou alguns assessores, pois fez uma visita de cortesia ao rei da Espanha, Juan Carlos I, e à sua esposa, a rainha Sofia, na ilha de Maiorca.
De acordo com os dados levantados pelo Judicial Watch, os voos para Málaga, dali para Maiorca e depois de volta para os Estados Unidos custaram US$ 199.323,75 (R$ 376 mil). Os gastos dos 15 integrantes da comitiva envolveram US$ 10.290,60 (R$ 19,4 mil) pelo alojamento, US$ 2.633,50 (R$ 5 mil) pelo aluguel de carros e US$ 876,30 (R$ 1,7 mil) pela comida — incluindo US$ 57,68 (R$ 108,83) gastos com molhos e mistura para panquecas.
O custo de proteção do Serviço Secreto totalizou US$ 26.670,61 (R$ 50 mil). Desses, US$ 26.670,61 (R$ 50,3 mil) são referentes ao passeio com motorista pela Costa del Sol e US$ 50.078.78 (R$ 94,5 mil), aos serviços de uma empresa de planejamento de viagem. O governo teve de pagar ainda pela hospedagem de um cão de guarda e pela pessoa responsável por ele.
MAIS UMA TENTATIVA DOS VAGABUNDOS DE BRASÍLIA EM CONTROLAR O JUDICIÁRIO
Uma proposta de estarrecer
O Estado de S.Paulo - Editorial
Está em curso na Câmara dos Deputados uma tentativa de golpe contra o Judiciário. Na quarta-feira, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa acolheu por unanimidade um projeto de emenda constitucional que autoriza o Congresso a "sustar os atos normativos dos outros Poderes que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites da delegação legislativa". A Constituição já lhe assegura esse direito em relação a atos do gênero praticados pelo Executivo.
A iniciativa invoca o artigo 49 da Carta que inclui, entre as atribuições exclusivas do Parlamento, a de "zelar pela preservação de sua competência legislativa em face da atribuição normativa dos outros Poderes". Poderia parecer, portanto, que a proposta pretende apenas afirmar a plenitude de uma prerrogativa legítima do Congresso, adequada ao princípio republicano do equilíbrio entre os Três Poderes, uma das bases do regime democrático. Antes fosse.
O alvo do projeto apresentado em fevereiro do ano passado pelo deputado Nazareno Fonteles, do PT piauiense, é o Supremo Tribunal Federal (STF), ao qual compete se pronunciar sobre a constitucionalidade das leis e a eventual infringência dos direitos constitucionais da pessoa. Alega o relator da proposta na CCJ, Nelson Marchezan, do PSDB gaúcho, que ela não alcança as decisões de natureza "estritamente jurisdicional" da Corte, mas o que ele considera a sua "atividade atípica".
O termo impróprio se refere às decisões judiciais que, por sua própria natureza, adquirem força de lei, como devem ser efetivamente aquelas que dirimem em última instância dúvidas sobre a constitucionalidade dos textos legais ou eliminam omissões que, ao persistir, representam uma distorção ou supressão de direitos. O Judiciário não ultrapassa as suas funções ao estabelecer novos marcos normativos, seja porque os existentes são inconstitucionais, seja para suprir lacunas resultantes da inoperância do Congresso.
De mais a mais, a Justiça não toma tais iniciativas, ou outras. Ela só se manifesta quando provocada por terceiros - no caso do Supremo, sob a forma de ações diretas de inconstitucionalidade e arguições de descumprimento de preceito fundamental. Fica claro assim que a emenda Nazareno carrega dois intentos. No geral, bloquear a vigência de normas que o estamento político possa considerar contrárias ao seus interesses, a exemplo de determinadas regras do jogo eleitoral.
No particular - e muito mais importante -, o que se quer é mudar decisões do STF coerentes com o caráter laico do Estado brasileiro. Em maio do ano passado, julgando ações impetradas pela Procuradoria-Geral da República e pelo governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, a Corte reconheceu a união estável de casais do mesmo sexo. Há duas semanas, diante de ação movida pela Confederação Nacional dos Trabalhadores da Saúde, autorizou o aborto de fetos anencéfalos.
À época da primeira decisão, as bancadas religiosas da Câmara, notadamente a Frente Parlamentar Evangélica, presidida pelo deputado João Campos, do PSDB goiano, não conseguiram incluir na pauta da CCJ o projeto de Nazareno. Agora, a pressão funcionou. Em tempo recorde, a proposta entrou na agenda, foi votada e aprovada. Tem um longo caminho pela frente: precisa passar por uma comissão especial e por dois turnos de votação na Câmara e no Senado, dependendo, a cada vez, do apoio de 3/5 dos parlamentares.
Mas a vitória na CCJ - uma desforra contra o Supremo - chama a atenção para a influência dos representantes políticos daqueles setores que gostariam que todos os brasileiros fossem submetidos a normas que espelhassem as suas crenças particulares, como nos países islâmicos regidos pelas leis da sharia, baseada no Corão. Não é uma peculiaridade brasileira. Pelo menos desde 1973, quando a Corte Suprema dos Estados Unidos legalizou o aborto, a direita religiosa do país deplora o seu "ativismo".
A diferença é que, ali, nenhum parlamentar, por mais fundamentalista que seja, ousaria propor a enormidade de dar ao Congresso o direito de invalidar uma decisão da mais alta instância do Judiciário. Seria um escândalo nacional.
O Estado de S.Paulo - Editorial
Está em curso na Câmara dos Deputados uma tentativa de golpe contra o Judiciário. Na quarta-feira, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa acolheu por unanimidade um projeto de emenda constitucional que autoriza o Congresso a "sustar os atos normativos dos outros Poderes que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites da delegação legislativa". A Constituição já lhe assegura esse direito em relação a atos do gênero praticados pelo Executivo.
A iniciativa invoca o artigo 49 da Carta que inclui, entre as atribuições exclusivas do Parlamento, a de "zelar pela preservação de sua competência legislativa em face da atribuição normativa dos outros Poderes". Poderia parecer, portanto, que a proposta pretende apenas afirmar a plenitude de uma prerrogativa legítima do Congresso, adequada ao princípio republicano do equilíbrio entre os Três Poderes, uma das bases do regime democrático. Antes fosse.
O alvo do projeto apresentado em fevereiro do ano passado pelo deputado Nazareno Fonteles, do PT piauiense, é o Supremo Tribunal Federal (STF), ao qual compete se pronunciar sobre a constitucionalidade das leis e a eventual infringência dos direitos constitucionais da pessoa. Alega o relator da proposta na CCJ, Nelson Marchezan, do PSDB gaúcho, que ela não alcança as decisões de natureza "estritamente jurisdicional" da Corte, mas o que ele considera a sua "atividade atípica".
O termo impróprio se refere às decisões judiciais que, por sua própria natureza, adquirem força de lei, como devem ser efetivamente aquelas que dirimem em última instância dúvidas sobre a constitucionalidade dos textos legais ou eliminam omissões que, ao persistir, representam uma distorção ou supressão de direitos. O Judiciário não ultrapassa as suas funções ao estabelecer novos marcos normativos, seja porque os existentes são inconstitucionais, seja para suprir lacunas resultantes da inoperância do Congresso.
De mais a mais, a Justiça não toma tais iniciativas, ou outras. Ela só se manifesta quando provocada por terceiros - no caso do Supremo, sob a forma de ações diretas de inconstitucionalidade e arguições de descumprimento de preceito fundamental. Fica claro assim que a emenda Nazareno carrega dois intentos. No geral, bloquear a vigência de normas que o estamento político possa considerar contrárias ao seus interesses, a exemplo de determinadas regras do jogo eleitoral.
No particular - e muito mais importante -, o que se quer é mudar decisões do STF coerentes com o caráter laico do Estado brasileiro. Em maio do ano passado, julgando ações impetradas pela Procuradoria-Geral da República e pelo governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, a Corte reconheceu a união estável de casais do mesmo sexo. Há duas semanas, diante de ação movida pela Confederação Nacional dos Trabalhadores da Saúde, autorizou o aborto de fetos anencéfalos.
À época da primeira decisão, as bancadas religiosas da Câmara, notadamente a Frente Parlamentar Evangélica, presidida pelo deputado João Campos, do PSDB goiano, não conseguiram incluir na pauta da CCJ o projeto de Nazareno. Agora, a pressão funcionou. Em tempo recorde, a proposta entrou na agenda, foi votada e aprovada. Tem um longo caminho pela frente: precisa passar por uma comissão especial e por dois turnos de votação na Câmara e no Senado, dependendo, a cada vez, do apoio de 3/5 dos parlamentares.
Mas a vitória na CCJ - uma desforra contra o Supremo - chama a atenção para a influência dos representantes políticos daqueles setores que gostariam que todos os brasileiros fossem submetidos a normas que espelhassem as suas crenças particulares, como nos países islâmicos regidos pelas leis da sharia, baseada no Corão. Não é uma peculiaridade brasileira. Pelo menos desde 1973, quando a Corte Suprema dos Estados Unidos legalizou o aborto, a direita religiosa do país deplora o seu "ativismo".
A diferença é que, ali, nenhum parlamentar, por mais fundamentalista que seja, ousaria propor a enormidade de dar ao Congresso o direito de invalidar uma decisão da mais alta instância do Judiciário. Seria um escândalo nacional.
DÓRICAS
A revolta dos inativos
DORA KRAMER - O Estado de S.Paulo
Com todos os olhos e ouvidos voltados para a CPI que promete abalar Brasília, não se deu a devida atenção a uma decisão tomada pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara na última quarta-feira.
Revoltados com o "ativismo" do Supremo Tribunal Federal, os deputados resolveram exorbitar: autorizaram a tramitação de proposta de emenda constitucional que dá ao Congresso a prerrogativa de suspender atos do Poder Judiciário.
Ou seja, em reação a uma presumida interferência da Justiça nas atividades do Legislativo dá-se um peteleco na Constituição com a sem cerimônia de quem vai ao bar da esquina.
Como bem observa o ministro Luiz Fux, do STF, "não é assim tão fácil". A independência dos Poderes é cláusula pétrea da Constituição, o que significa que para mudá-la de forma ao Legislativo ter o direito de desfazer atos do Judiciário seria necessário convocar uma nova Assembleia Nacional Constituinte.
E por que, então, discorrer sobre isso se o absurdo é assim tão evidente e a chance de prosperar aparentemente nula?
Justamente porque a nulidade é aparente. Existe chance de a proposta prosperar na Câmara se não se atentar para a completa falta de juízo da douta Comissão de Justiça.
Um dos poucos, talvez o único, parlamentar a se posicionar contra, o deputado Chico Alencar previu: "Vai virar discurso de valorização do Legislativo." Na opinião dele a proposta "é tão irracional e ilógica quanto popular aqui dentro".
Precisa previsão. O autor da emenda, deputado Nazareno Fonteles, faz exatamente esse discurso alegando que o Judiciário não tem legitimidade para legislar e defendendo a tese de que o Legislativo "precisa ser o Poder mais forte da República" por seu caráter representativo da sociedade.
O leitor ouviu direito, ele propõe a instituição do conceito de desequilíbrio entre Poderes.
Voltemos ao ministro Fux, que entende do riscado e explica o que se passa. Primeiro há o pressuposto da cláusula pétrea. "Em segundo lugar, se o Congresso está insatisfeito com o que chama de judicialização da política é preciso que seja informado sobre a impossibilidade de o Judiciário não se manifestar sobre os temas postos à sua consulta."
Portanto, estamos bem entendidos até aqui: o Supremo não inventa debates nem levanta questões por iniciativa própria, apenas examina e se pronuncia sobre a constitucionalidade desse ou daquele assunto quando provocado a fazê-lo.
E por que há tantas consultas ao tribunal? Aqui entra o terceiro ponto a ser esclarecido pelo ministro Luiz Fux: "Porque por sua própria estratégia política os parlamentares não enfrentam questões difíceis por receio de assumir eventual impopularidade decorrente dos conflitos que os temas encerram".
Quer dizer, justamente por serem dependentes de votos deputados e senadores se esquivam das polêmicas. E aí, o que ocorre?
Criam-se os vácuos que o Judiciário, quando instado, é obrigado a preencher. O ministro Fux lembra que o Supremo não precisaria ter-se pronunciado a respeito, por exemplo, da interrupção da gravidez de feto anencéfalo, da união homoafetiva, das cotas para negros nas universidades, se o Congresso tivesse legislado sobre essas matérias.
Conclusão, suas excelências não precisam agredir a Constituição nem desconstruir a República para defender as prerrogativas do Poder Legislativo: basta que não se acovardem diante de potenciais controvérsias e saiam da inatividade no lugar de reclamar do ativismo alheio propondo soluções fáceis e equivocadas.
Caçada. O ex-presidente Lula disse a um interlocutor na Câmara dos Deputados que o PT é alvo potencial de todos os partidos (governistas e oposicionistas) na CPI do esquema Cachoeira.
Em miúdos: se o PT está louco para se vingar de uns e outros por causa do mensalão, todos os outros estão loucos para ir à forra com o PT por variados motivos: eleitorais e governamentais.
DORA KRAMER - O Estado de S.Paulo
Com todos os olhos e ouvidos voltados para a CPI que promete abalar Brasília, não se deu a devida atenção a uma decisão tomada pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara na última quarta-feira.
Revoltados com o "ativismo" do Supremo Tribunal Federal, os deputados resolveram exorbitar: autorizaram a tramitação de proposta de emenda constitucional que dá ao Congresso a prerrogativa de suspender atos do Poder Judiciário.
Ou seja, em reação a uma presumida interferência da Justiça nas atividades do Legislativo dá-se um peteleco na Constituição com a sem cerimônia de quem vai ao bar da esquina.
Como bem observa o ministro Luiz Fux, do STF, "não é assim tão fácil". A independência dos Poderes é cláusula pétrea da Constituição, o que significa que para mudá-la de forma ao Legislativo ter o direito de desfazer atos do Judiciário seria necessário convocar uma nova Assembleia Nacional Constituinte.
E por que, então, discorrer sobre isso se o absurdo é assim tão evidente e a chance de prosperar aparentemente nula?
Justamente porque a nulidade é aparente. Existe chance de a proposta prosperar na Câmara se não se atentar para a completa falta de juízo da douta Comissão de Justiça.
Um dos poucos, talvez o único, parlamentar a se posicionar contra, o deputado Chico Alencar previu: "Vai virar discurso de valorização do Legislativo." Na opinião dele a proposta "é tão irracional e ilógica quanto popular aqui dentro".
Precisa previsão. O autor da emenda, deputado Nazareno Fonteles, faz exatamente esse discurso alegando que o Judiciário não tem legitimidade para legislar e defendendo a tese de que o Legislativo "precisa ser o Poder mais forte da República" por seu caráter representativo da sociedade.
O leitor ouviu direito, ele propõe a instituição do conceito de desequilíbrio entre Poderes.
Voltemos ao ministro Fux, que entende do riscado e explica o que se passa. Primeiro há o pressuposto da cláusula pétrea. "Em segundo lugar, se o Congresso está insatisfeito com o que chama de judicialização da política é preciso que seja informado sobre a impossibilidade de o Judiciário não se manifestar sobre os temas postos à sua consulta."
Portanto, estamos bem entendidos até aqui: o Supremo não inventa debates nem levanta questões por iniciativa própria, apenas examina e se pronuncia sobre a constitucionalidade desse ou daquele assunto quando provocado a fazê-lo.
E por que há tantas consultas ao tribunal? Aqui entra o terceiro ponto a ser esclarecido pelo ministro Luiz Fux: "Porque por sua própria estratégia política os parlamentares não enfrentam questões difíceis por receio de assumir eventual impopularidade decorrente dos conflitos que os temas encerram".
Quer dizer, justamente por serem dependentes de votos deputados e senadores se esquivam das polêmicas. E aí, o que ocorre?
Criam-se os vácuos que o Judiciário, quando instado, é obrigado a preencher. O ministro Fux lembra que o Supremo não precisaria ter-se pronunciado a respeito, por exemplo, da interrupção da gravidez de feto anencéfalo, da união homoafetiva, das cotas para negros nas universidades, se o Congresso tivesse legislado sobre essas matérias.
Conclusão, suas excelências não precisam agredir a Constituição nem desconstruir a República para defender as prerrogativas do Poder Legislativo: basta que não se acovardem diante de potenciais controvérsias e saiam da inatividade no lugar de reclamar do ativismo alheio propondo soluções fáceis e equivocadas.
Caçada. O ex-presidente Lula disse a um interlocutor na Câmara dos Deputados que o PT é alvo potencial de todos os partidos (governistas e oposicionistas) na CPI do esquema Cachoeira.
Em miúdos: se o PT está louco para se vingar de uns e outros por causa do mensalão, todos os outros estão loucos para ir à forra com o PT por variados motivos: eleitorais e governamentais.
O ROMBO DA COPA (EM SE TRATANDO DO GOVERNO PETISTA, NÃO PODIA SER DIFERENTE)
O samba da Copa
FSP - Editorial
Enquanto o governo atribui críticas a "pessimistas", obras para o Mundial de 2014 atrasam, custos sobem e falta a prometida transparência
O ministro do Esporte, Aldo Rebelo (PC do B), tem utilizado argumentos pitorescos e de conotação patriótica para tranquilizar a opinião pública acerca dos preparativos para a Copa do Mundo de 2014.
Aos que se mostram apreensivos com o andamento das obras, o titular da pasta costuma lembrar que os brasileiros, ao longo da história, já lideraram empreendimentos mais audaciosos e complexos do que um torneio internacional de futebol. As críticas e os temores de um fiasco viriam apenas de pessimistas que consideram o país um "fracasso civilizatório".
Se é evidente que o Brasil já superou desafios maiores do que a Copa do Mundo, esquece-se o ministro de dizer que também já deixou de cumprir objetivos menores.
Para ficar no campo dos esportes -em que o PC do B de Rebelo se especializou, graças ao loteamento político nos governos do PT-, basta citar os Jogos Pan-Americanos de 2007, contraexemplo do que se espera para a Copa e a Olimpíada de 2016.
Verdadeira maratona de desperdício de recursos públicos, os custos do Pan saltaram de R$ 410 milhões, estimados em 2002, para R$ 3,7 bilhões. Instalações foram abandonadas, e o legado social e urbanístico foi quase nenhum.
Rebelo também adentra o terreno da ciência social para acusar os céticos de desconhecer traços da cultura nacional. "Não temos a cultura do atraso", declarou ao programa "TV Folha" (veiculado pela TV Cultura). Temos é a "impressão de que estamos atrasados". No final, "as coisas sempre saem com pontualidade e precisão".
O exemplo típico seria, para o ministro, o galpão de escola de samba. Se alguém o visita nos dias que antecedem ao desfile, diz ele, pode ficar com a impressão de que não vai sair. O Carnaval, no entanto, sempre acontece.
Infelizmente, o palavrório oficial não corresponde à realidade. Se o país ainda tem condições de evitar um vexame, não há dúvida de que as providências seguem em ritmo muito aquém do desejável.
Os custos variam vertiginosamente; há indícios de superfaturamento; parte das obras está irremediavelmente atrasada. Especialistas já dão como certo que estádios importantes, como os do Rio, de Salvador e de Recife, não estarão prontos para receber a Copa das Confederações, evento de teste que acontecerá em 2013.
Tais percalços, contudo, não bastam, ao menos por ora, para embasar um veredito drástico contra a realização do Mundial. Estudos de instituições respeitadas indicam uma série de vantagens em hospedar o evento, algumas mensuráveis, outras menos tangíveis.
Segundo levantamento a cargo da Fundação Getulio Vargas e da agência publicitária Ernst & Young, a economia brasileira poderá quintuplicar, como ganhos, os investimentos na Copa. Em 2009, o relatório estimava acréscimo de cerca de 2% do PIB (2010), distribuídos entre os anos de 2010 a 2014.
Entre os efeitos benéficos, temporários e permanentes, são citados incremento do emprego, aumento da arrecadação, elevação do fluxo de visitantes e melhorias nas cidades-sede. Reflexos positivos favoreceriam setores como construção civil, alimentos, bebidas, turismo e hotelaria.
Além disso, o país estará no centro das atenções da imprensa internacional durante semanas. O destaque poderá proporcionar ganhos e oportunidades em diversas áreas.
Para que tudo isso ocorra, é preciso que as instâncias envolvidas atuem com eficiência e cumpram o planejado. Lamentavelmente, não tem sido essa a tônica, tanto no que se refere às organizações esportivas quanto ao setor público.
A recente renúncia do presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, explicitou mais uma vez aspectos obscuros do mundo futebolístico. As sombras projetam-se, aliás, sobre o Comitê Organizador Local (COL), que dá sinais de amadorismo, se não de incompetência, na realização de suas tarefas.
Quanto à esfera governamental, os problemas datam da época do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele perdeu a chance de passar a limpo a organização do futebol brasileiro e negociar com a Fifa condições mais razoáveis para a realização do evento.
O presidente-torcedor aliou-se à cúpula da CBF e submeteu-se às exigências faraônicas da entidade máxima do futebol. Arenas como as de Cuiabá e Manaus já nasceram com vocação para elefantes brancos -o que o tempo confirmará.
Governo federal, Estados e municípios, além dos atrasos na infraestrutura, têm falhado na promessa de transparência quanto às despesas. Estudos e portais oficiais não conseguem chegar a um acordo sobre o que é e o que não é custo da Copa. Fornecem dados contraditórios e defasados, tornando impossível até aqui saber ao certo quanto custará o evento -alguma cifra, provavelmente, entre R$ 26 bilhões e R$ 33 bilhões.
FSP - Editorial
Enquanto o governo atribui críticas a "pessimistas", obras para o Mundial de 2014 atrasam, custos sobem e falta a prometida transparência
O ministro do Esporte, Aldo Rebelo (PC do B), tem utilizado argumentos pitorescos e de conotação patriótica para tranquilizar a opinião pública acerca dos preparativos para a Copa do Mundo de 2014.
Aos que se mostram apreensivos com o andamento das obras, o titular da pasta costuma lembrar que os brasileiros, ao longo da história, já lideraram empreendimentos mais audaciosos e complexos do que um torneio internacional de futebol. As críticas e os temores de um fiasco viriam apenas de pessimistas que consideram o país um "fracasso civilizatório".
Se é evidente que o Brasil já superou desafios maiores do que a Copa do Mundo, esquece-se o ministro de dizer que também já deixou de cumprir objetivos menores.
Para ficar no campo dos esportes -em que o PC do B de Rebelo se especializou, graças ao loteamento político nos governos do PT-, basta citar os Jogos Pan-Americanos de 2007, contraexemplo do que se espera para a Copa e a Olimpíada de 2016.
Verdadeira maratona de desperdício de recursos públicos, os custos do Pan saltaram de R$ 410 milhões, estimados em 2002, para R$ 3,7 bilhões. Instalações foram abandonadas, e o legado social e urbanístico foi quase nenhum.
Rebelo também adentra o terreno da ciência social para acusar os céticos de desconhecer traços da cultura nacional. "Não temos a cultura do atraso", declarou ao programa "TV Folha" (veiculado pela TV Cultura). Temos é a "impressão de que estamos atrasados". No final, "as coisas sempre saem com pontualidade e precisão".
O exemplo típico seria, para o ministro, o galpão de escola de samba. Se alguém o visita nos dias que antecedem ao desfile, diz ele, pode ficar com a impressão de que não vai sair. O Carnaval, no entanto, sempre acontece.
Infelizmente, o palavrório oficial não corresponde à realidade. Se o país ainda tem condições de evitar um vexame, não há dúvida de que as providências seguem em ritmo muito aquém do desejável.
Os custos variam vertiginosamente; há indícios de superfaturamento; parte das obras está irremediavelmente atrasada. Especialistas já dão como certo que estádios importantes, como os do Rio, de Salvador e de Recife, não estarão prontos para receber a Copa das Confederações, evento de teste que acontecerá em 2013.
Tais percalços, contudo, não bastam, ao menos por ora, para embasar um veredito drástico contra a realização do Mundial. Estudos de instituições respeitadas indicam uma série de vantagens em hospedar o evento, algumas mensuráveis, outras menos tangíveis.
Segundo levantamento a cargo da Fundação Getulio Vargas e da agência publicitária Ernst & Young, a economia brasileira poderá quintuplicar, como ganhos, os investimentos na Copa. Em 2009, o relatório estimava acréscimo de cerca de 2% do PIB (2010), distribuídos entre os anos de 2010 a 2014.
Entre os efeitos benéficos, temporários e permanentes, são citados incremento do emprego, aumento da arrecadação, elevação do fluxo de visitantes e melhorias nas cidades-sede. Reflexos positivos favoreceriam setores como construção civil, alimentos, bebidas, turismo e hotelaria.
Além disso, o país estará no centro das atenções da imprensa internacional durante semanas. O destaque poderá proporcionar ganhos e oportunidades em diversas áreas.
Para que tudo isso ocorra, é preciso que as instâncias envolvidas atuem com eficiência e cumpram o planejado. Lamentavelmente, não tem sido essa a tônica, tanto no que se refere às organizações esportivas quanto ao setor público.
A recente renúncia do presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, explicitou mais uma vez aspectos obscuros do mundo futebolístico. As sombras projetam-se, aliás, sobre o Comitê Organizador Local (COL), que dá sinais de amadorismo, se não de incompetência, na realização de suas tarefas.
Quanto à esfera governamental, os problemas datam da época do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele perdeu a chance de passar a limpo a organização do futebol brasileiro e negociar com a Fifa condições mais razoáveis para a realização do evento.
O presidente-torcedor aliou-se à cúpula da CBF e submeteu-se às exigências faraônicas da entidade máxima do futebol. Arenas como as de Cuiabá e Manaus já nasceram com vocação para elefantes brancos -o que o tempo confirmará.
Governo federal, Estados e municípios, além dos atrasos na infraestrutura, têm falhado na promessa de transparência quanto às despesas. Estudos e portais oficiais não conseguem chegar a um acordo sobre o que é e o que não é custo da Copa. Fornecem dados contraditórios e defasados, tornando impossível até aqui saber ao certo quanto custará o evento -alguma cifra, provavelmente, entre R$ 26 bilhões e R$ 33 bilhões.
VOMITARAM NO TREM...
Possível proibição de bebida impedirá festas nos trens de Berlim
Andreas Wassermann - Der Spiegel
O transporte público em Berlim e outras cidades alemãs costuma ser o local de festas espontâneas durante o final de semana, mas nem todos os passageiros querem viajar ao lado de bêbados com cerveja na mão. Agora, muitas cidades querem impor proibições ao álcool nos transportes públicos – mas seus esforços estão sendo bloqueados pela Deutsche Bahn e outras fornecedoras de serviços que não querem arcar com o custo disso.
É lotado e barulhento – e não falta bebida. Nas noites de final de semana, o bonde M10 de Berlim se transforma num bonde de festa.
Cerveja, vinho e vodka giram pelo bonde enquanto os passageiros se beijam, fumam, cantam e dançam. O lugar cheira a Red Bull e vômito. A linha leva e traz passageiros de clubes populares, como o Berhain e Watergate, que ficam no extremo leste da linha no bairro de Friedrichshain-Kreuzberg em Berlim.
Até recentemente, quase não havia queixas sobre esta discoteca sobre trilhos. Mas agora há uma resistência cada vez maior a essas festas em transportes públicos. Por exemplo, a União Policial Alemã (DpolG) reclamou recentemente que "cantar e gritar" transformam o trajeto numa "viagem de horror" para os outros passageiros. Agora, as companhias de transporte e especialistas acadêmicos discutem a necessidade crescente de segurança para os passageiros.
As associações de transporte e o DStGB, uma associação de cidades e municípios alemães, pedem para que os legisladores façam alguma coisa. Eles querem que a bebida seja proibida em todos os sistemas de transporte de massa, como foi durante alguns meses em Hamburgo e Munique, a segunda e terceira maiores cidades alemãs.
"A qualidade da experiência no sistema de transporte público local foi muito prejudicada", escreveu Hans-Werner Franz, chefe do VBB, a autoridade de transporte público para Berlim e Brandemburgo, numa carta ao ministro de Interior alemão Hans-Peter Friedrich. Franz está pedindo uma "base legal para uma proibição nacional sobre a venda e consumo de álcool nas dependências e veículos do sistema público de transportes."
Uma proibição como esta reduziria as festas espontâneas no sistema de metrô de Berlim bem como as viagens de trem encharcadas de cerveja para os jogos de futebol – embora nem todos os frequentadores de festas e torcedores de futebol concordem que isso necessariamente levará a uma melhoria na "qualidade da experiência" do transporte público.
Mas isso não diz respeito apenas à bebedeira inofensiva. Os proponentes da proibição esperam também reduzir casos de brigas nas plataformas dos trens. O álcool continua desempenhando um papel importante nas brigas que acontecem nos trens, algumas das quais terminam em morte.
Preocupações da companhia
A proibição proposta não é apenas controversa entre os passageiros. Os fornecedores de transporte também estão preocupados em relação à sua implementação. As frentes nessa batalha foram delimitadas com firmeza, assim como aconteceu no debate de anos pela proibição do fumo.
A parte que seria mais afetada é a Deutsche Bahn (DB), companhia ferroviária estatal que também é a líder do mercado de tráfego ferroviário no país. Para implementar a proibição sobre o álcool no sistema ferroviário de Hamburgo, a companhia teve que contratar mais 50 funcionários de segurança e gastar cerca de 1,5 milhão de euros por ano. Se a companhia fosse obrigada a fazer o mesmo em toda a Alemanha, cálculos internos colocam os custos anuais em mais de 100 milhões de euros.
Pior ainda para a companhia é a ideia de como a proibição se estenderia para todos os trens e estações do país. Se isso acontecesse, colocaria um fim àquela taça de vinho branco no vagão restaurante, os bares das estações não poderiam mais servir cerveja e os quiosques teriam que reduzir sua oferta de bebidas.
Dadas as circunstâncias, executivos da Deutsche Bahn estão buscando uma forma de driblar uma possível proibição. Como operadoras do sistema ferroviário livre de álcool de Hamburgo e Munique, elas devem pelo menos apoiar oficialmente as regulações restritivas. Mas, atrás de portas fechadas, estão buscando argumentos contra quaisquer esforços que possam aumentar seus custos.
Passando a responsabilidade
Ainda assim, a maioria dos usuários provavelmente gostaria que o álcool fosse proibido. Numa pesquisa feita por telefone em Hamburgo em janeiro, mais de 80% dos passageiros recebeu bem a nova política da autoridade de transporte de Hamburgo. Um terço deles disse que já perceberam melhorias, e 8% disseram que agora pretendem usar o transporte público local com mais frequência.
Entretanto, defensores da proibição até agora encontraram pouco apoio em outros lugares. O ministro de Interior de Berlim Frank Henkel, membro da União Democrática Cristã (CDU), de centro-direita, viu seus esforços para lançar uma iniciativa semelhante em Berlim naufragarem depois de enfrentar resistência entre seus colegas democratas (o CDU e o SPD governam juntos a cidade-estado numa "grande coalizão"). Da mesma forma, Friedrich, ministro de interior da Alemanha, deu uma resposta morna à carta de VBB, escrevendo apenas que "não estão planejadas" regulações nacionais.
O ministro de Transporte da Alemanha Peter Ramsauer e seus colegas em nível estadual também se mostraram relutantes em relação ao assunto. É verdade que eles já reconheceram que uma proibição pode ter efeitos positivos sobre "a sensação de segurança dos passageiros". Entretanto, eles evitam o assunto alegando que uma proibição nacional "não seria prática". Além disso, eles observam que especialistas ainda precisam avaliar o resultado das proibições em Hamburgo e Munique.
Enquanto isso, a Deutsche Bahn prefere outra solução. Em vez de fazer com que os legisladores imponham uma proibição sobre o álcool, os executivos da filial de Berlim da companhia prefeririam que os legisladores declarassem que importunar outros passageiros é uma contravenção penal. Isso faria com que a fiscalização fosse responsabilidade da polícia federal – e, portanto, não envolveria nenhum custo adicional para a companhia.
Tradutor: Eloise De Vylder
Andreas Wassermann - Der Spiegel
O transporte público em Berlim e outras cidades alemãs costuma ser o local de festas espontâneas durante o final de semana, mas nem todos os passageiros querem viajar ao lado de bêbados com cerveja na mão. Agora, muitas cidades querem impor proibições ao álcool nos transportes públicos – mas seus esforços estão sendo bloqueados pela Deutsche Bahn e outras fornecedoras de serviços que não querem arcar com o custo disso.
É lotado e barulhento – e não falta bebida. Nas noites de final de semana, o bonde M10 de Berlim se transforma num bonde de festa.
Cerveja, vinho e vodka giram pelo bonde enquanto os passageiros se beijam, fumam, cantam e dançam. O lugar cheira a Red Bull e vômito. A linha leva e traz passageiros de clubes populares, como o Berhain e Watergate, que ficam no extremo leste da linha no bairro de Friedrichshain-Kreuzberg em Berlim.
Até recentemente, quase não havia queixas sobre esta discoteca sobre trilhos. Mas agora há uma resistência cada vez maior a essas festas em transportes públicos. Por exemplo, a União Policial Alemã (DpolG) reclamou recentemente que "cantar e gritar" transformam o trajeto numa "viagem de horror" para os outros passageiros. Agora, as companhias de transporte e especialistas acadêmicos discutem a necessidade crescente de segurança para os passageiros.
As associações de transporte e o DStGB, uma associação de cidades e municípios alemães, pedem para que os legisladores façam alguma coisa. Eles querem que a bebida seja proibida em todos os sistemas de transporte de massa, como foi durante alguns meses em Hamburgo e Munique, a segunda e terceira maiores cidades alemãs.
"A qualidade da experiência no sistema de transporte público local foi muito prejudicada", escreveu Hans-Werner Franz, chefe do VBB, a autoridade de transporte público para Berlim e Brandemburgo, numa carta ao ministro de Interior alemão Hans-Peter Friedrich. Franz está pedindo uma "base legal para uma proibição nacional sobre a venda e consumo de álcool nas dependências e veículos do sistema público de transportes."
Uma proibição como esta reduziria as festas espontâneas no sistema de metrô de Berlim bem como as viagens de trem encharcadas de cerveja para os jogos de futebol – embora nem todos os frequentadores de festas e torcedores de futebol concordem que isso necessariamente levará a uma melhoria na "qualidade da experiência" do transporte público.
Mas isso não diz respeito apenas à bebedeira inofensiva. Os proponentes da proibição esperam também reduzir casos de brigas nas plataformas dos trens. O álcool continua desempenhando um papel importante nas brigas que acontecem nos trens, algumas das quais terminam em morte.
Preocupações da companhia
A proibição proposta não é apenas controversa entre os passageiros. Os fornecedores de transporte também estão preocupados em relação à sua implementação. As frentes nessa batalha foram delimitadas com firmeza, assim como aconteceu no debate de anos pela proibição do fumo.
A parte que seria mais afetada é a Deutsche Bahn (DB), companhia ferroviária estatal que também é a líder do mercado de tráfego ferroviário no país. Para implementar a proibição sobre o álcool no sistema ferroviário de Hamburgo, a companhia teve que contratar mais 50 funcionários de segurança e gastar cerca de 1,5 milhão de euros por ano. Se a companhia fosse obrigada a fazer o mesmo em toda a Alemanha, cálculos internos colocam os custos anuais em mais de 100 milhões de euros.
Pior ainda para a companhia é a ideia de como a proibição se estenderia para todos os trens e estações do país. Se isso acontecesse, colocaria um fim àquela taça de vinho branco no vagão restaurante, os bares das estações não poderiam mais servir cerveja e os quiosques teriam que reduzir sua oferta de bebidas.
Dadas as circunstâncias, executivos da Deutsche Bahn estão buscando uma forma de driblar uma possível proibição. Como operadoras do sistema ferroviário livre de álcool de Hamburgo e Munique, elas devem pelo menos apoiar oficialmente as regulações restritivas. Mas, atrás de portas fechadas, estão buscando argumentos contra quaisquer esforços que possam aumentar seus custos.
Passando a responsabilidade
Ainda assim, a maioria dos usuários provavelmente gostaria que o álcool fosse proibido. Numa pesquisa feita por telefone em Hamburgo em janeiro, mais de 80% dos passageiros recebeu bem a nova política da autoridade de transporte de Hamburgo. Um terço deles disse que já perceberam melhorias, e 8% disseram que agora pretendem usar o transporte público local com mais frequência.
Entretanto, defensores da proibição até agora encontraram pouco apoio em outros lugares. O ministro de Interior de Berlim Frank Henkel, membro da União Democrática Cristã (CDU), de centro-direita, viu seus esforços para lançar uma iniciativa semelhante em Berlim naufragarem depois de enfrentar resistência entre seus colegas democratas (o CDU e o SPD governam juntos a cidade-estado numa "grande coalizão"). Da mesma forma, Friedrich, ministro de interior da Alemanha, deu uma resposta morna à carta de VBB, escrevendo apenas que "não estão planejadas" regulações nacionais.
O ministro de Transporte da Alemanha Peter Ramsauer e seus colegas em nível estadual também se mostraram relutantes em relação ao assunto. É verdade que eles já reconheceram que uma proibição pode ter efeitos positivos sobre "a sensação de segurança dos passageiros". Entretanto, eles evitam o assunto alegando que uma proibição nacional "não seria prática". Além disso, eles observam que especialistas ainda precisam avaliar o resultado das proibições em Hamburgo e Munique.
Enquanto isso, a Deutsche Bahn prefere outra solução. Em vez de fazer com que os legisladores imponham uma proibição sobre o álcool, os executivos da filial de Berlim da companhia prefeririam que os legisladores declarassem que importunar outros passageiros é uma contravenção penal. Isso faria com que a fiscalização fosse responsabilidade da polícia federal – e, portanto, não envolveria nenhum custo adicional para a companhia.
Tradutor: Eloise De Vylder
sábado, 28 de abril de 2012
Eu sou neguinha, eu sou neguinha.
Gustavo Nogy - MSM
Acabar com o racismo passa por não admitir a ideia de raça, e não por fazer uma raça prevalecer sobre outras.
O BRASIL TEM DE ACERTAR uma certa conta com os negros, é o que dizem. Eu acho muito bem. Calote é coisa feia, estou de acordo. Só uma coisinha: o Brasil, me desculpem, não sou eu. Não conheço tal sujeito e, ao que me consta, ninguém conhece. Brasil é o nome (feio) que se dá a certo território cujos habitantes (índios, negros, morenos, brancos, amarelos) falam determinada língua e cantam (pessimamente) determinado hino. Brasil, como toda nação, é uma entidade ficcional que, por convenção (e não só, mas também porque é melhor não mexer com o tal do “detentor do monopólio da força”) nós aceitamos como coisa real. Como se houvesse braços e pernas no Brasil. Como se houvesse coração e vísceras. Como se houvesse cérebro, razão e vontade. No Brasil.
Quando se fala, portanto, que o Brasil tem de pagar a conta de um grupo qualquer de pessoas (habitantes aqui do Brasil mas que, estranhamente, nesse caso, é como se não fossem Brasil, senão eles próprios teriam de arcar também com os custos), o que, de fato, isso quer dizer é, simplesmente: você, eu, o João, o José, a Maria teremos todos de pagar a conta. Compulsoriamente. Os impostos vão subir, os encargos e as taxas, e é assim que o Brasil, aspas, salda suas dívidas (enquanto contrai outras): forçando-nos a pagá-las por “ele”. Ah, Brasil, seu espertão.
O interessante é que as mesmas pessoas tão dispostas a aceitar que o Brasil (na prática, nós todos, cercados aqui dentro) tem uma certa dívida a ser quitada com tais ou quais grupos não me parecem tão dispostas a aceitar uma solução muito mais razoável e benemérita: adotar um universitário negro (ou índio, ou branco, ou amarelo, ou ministro do supremo). Mecenato. Todo mundo há de ter um vizinho menos favorecido por tal entidade chamada Brasil. Pois bem: assumam a educação desse pobrezinho. Ao menos uma parcela da educação. 20%. Que acham?
Agora, dívida por dívida, a África negra tem uma dívida com os negros. Os europeus compravam os negros já escravizados por negros doutras tribos. Se se considerar esse tipo de raciocínio - temos uma dívida com esses ou aqueles - a dívida remontará aos faraós (negros, também). No mais, o Brasil?... Quem, exatamente, chamamos de Brasil? Os portugueses colonizadores dos quais eu, particularmente, não descendo? Que os portugueses - lá em Portugal - assumam a conta, pois. Mas isso não se pode fazer, não é mesmo? Dirão: “Oras, mas você descende sim - considerando essa nação tão miscigenada - dos portugas”. É mesmo? Pois também descendo dos negros, então (não adoram alegar isso: que todo mundo é um tanto negro no Brasil?); logo, quero minha parte em dinheiro. Mas também quero indenização da senhora Alemanha porque meus ascendentes húngaros ("polacos", quando chegaram) tiveram de sair para qualquer lugar por conta do nazismo, e chegaram aqui exilados e pobres como Jó. E essa brincadeira não tem fim.
Acabar com o racismo passa por não admitir a ideia de raça, e não por fazer uma raça prevalecer sobre outras. Se os negros querem porque querem afirmar o orgulho pela sua raça, nada mais justo que todos os outros - de índios a caucasianos - assumam o orgulho pelas suas. E daí prevalecerá o mais forte.
Belo trabalho o do supremo (me recuso, motivos óbvios, à maiúscula): em uma semana o estado considera que os mais desprotegidos dos seus cidadãos não devem receber amparo e segurança jurídica precisamente por não serem aptos ao exercício pleno de suas faculdades e, em contrapartida, cerca de proteções outros membros crescidinhos, organizados e fortes o suficiente para fazer valer seus valores de cultura e raça. Sinal dos tempos.
Gustavo Nogy - MSM
Acabar com o racismo passa por não admitir a ideia de raça, e não por fazer uma raça prevalecer sobre outras.
O BRASIL TEM DE ACERTAR uma certa conta com os negros, é o que dizem. Eu acho muito bem. Calote é coisa feia, estou de acordo. Só uma coisinha: o Brasil, me desculpem, não sou eu. Não conheço tal sujeito e, ao que me consta, ninguém conhece. Brasil é o nome (feio) que se dá a certo território cujos habitantes (índios, negros, morenos, brancos, amarelos) falam determinada língua e cantam (pessimamente) determinado hino. Brasil, como toda nação, é uma entidade ficcional que, por convenção (e não só, mas também porque é melhor não mexer com o tal do “detentor do monopólio da força”) nós aceitamos como coisa real. Como se houvesse braços e pernas no Brasil. Como se houvesse coração e vísceras. Como se houvesse cérebro, razão e vontade. No Brasil.
Quando se fala, portanto, que o Brasil tem de pagar a conta de um grupo qualquer de pessoas (habitantes aqui do Brasil mas que, estranhamente, nesse caso, é como se não fossem Brasil, senão eles próprios teriam de arcar também com os custos), o que, de fato, isso quer dizer é, simplesmente: você, eu, o João, o José, a Maria teremos todos de pagar a conta. Compulsoriamente. Os impostos vão subir, os encargos e as taxas, e é assim que o Brasil, aspas, salda suas dívidas (enquanto contrai outras): forçando-nos a pagá-las por “ele”. Ah, Brasil, seu espertão.
O interessante é que as mesmas pessoas tão dispostas a aceitar que o Brasil (na prática, nós todos, cercados aqui dentro) tem uma certa dívida a ser quitada com tais ou quais grupos não me parecem tão dispostas a aceitar uma solução muito mais razoável e benemérita: adotar um universitário negro (ou índio, ou branco, ou amarelo, ou ministro do supremo). Mecenato. Todo mundo há de ter um vizinho menos favorecido por tal entidade chamada Brasil. Pois bem: assumam a educação desse pobrezinho. Ao menos uma parcela da educação. 20%. Que acham?
Agora, dívida por dívida, a África negra tem uma dívida com os negros. Os europeus compravam os negros já escravizados por negros doutras tribos. Se se considerar esse tipo de raciocínio - temos uma dívida com esses ou aqueles - a dívida remontará aos faraós (negros, também). No mais, o Brasil?... Quem, exatamente, chamamos de Brasil? Os portugueses colonizadores dos quais eu, particularmente, não descendo? Que os portugueses - lá em Portugal - assumam a conta, pois. Mas isso não se pode fazer, não é mesmo? Dirão: “Oras, mas você descende sim - considerando essa nação tão miscigenada - dos portugas”. É mesmo? Pois também descendo dos negros, então (não adoram alegar isso: que todo mundo é um tanto negro no Brasil?); logo, quero minha parte em dinheiro. Mas também quero indenização da senhora Alemanha porque meus ascendentes húngaros ("polacos", quando chegaram) tiveram de sair para qualquer lugar por conta do nazismo, e chegaram aqui exilados e pobres como Jó. E essa brincadeira não tem fim.
Acabar com o racismo passa por não admitir a ideia de raça, e não por fazer uma raça prevalecer sobre outras. Se os negros querem porque querem afirmar o orgulho pela sua raça, nada mais justo que todos os outros - de índios a caucasianos - assumam o orgulho pelas suas. E daí prevalecerá o mais forte.
Belo trabalho o do supremo (me recuso, motivos óbvios, à maiúscula): em uma semana o estado considera que os mais desprotegidos dos seus cidadãos não devem receber amparo e segurança jurídica precisamente por não serem aptos ao exercício pleno de suas faculdades e, em contrapartida, cerca de proteções outros membros crescidinhos, organizados e fortes o suficiente para fazer valer seus valores de cultura e raça. Sinal dos tempos.
A REALIDADE É CRUEL COM O BRASIL
Se você ainda não viu na internet, veja agora o que circula: o Brasil como terra da roubalheira
Ricardo Setti - VEJA
Amigos, o “mapa” abaixo, com o nome dos Estados brasileiros e da capital da República modificados em forma de trocadilho, é uma das tantas — seguramente milhares — de manifestações de protesto e de indignação que circulam na internet diante da desfaçatez com que, impunemente, se mete a mão no dinheiro público no Brasil.
É bem possível, é quase certo, que muitos leitores já o tenham recebido por e-mail.
Registro aqui para os que ainda não receberam.
A criação anônima tem humor, mas é um humor amargo, de desalento, de quem não acredita em mais nada.
O mapa da roubalheira: a indignação em forma de humor -- e de desalento
Ricardo Setti - VEJA
Amigos, o “mapa” abaixo, com o nome dos Estados brasileiros e da capital da República modificados em forma de trocadilho, é uma das tantas — seguramente milhares — de manifestações de protesto e de indignação que circulam na internet diante da desfaçatez com que, impunemente, se mete a mão no dinheiro público no Brasil.
É bem possível, é quase certo, que muitos leitores já o tenham recebido por e-mail.
Registro aqui para os que ainda não receberam.
A criação anônima tem humor, mas é um humor amargo, de desalento, de quem não acredita em mais nada.
O mapa da roubalheira: a indignação em forma de humor -- e de desalento
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