domingo, 1 de abril de 2012

CAPITALISMO LEVANDO O CONHECIMENTO PARA LUGARES PERIFÉRICOS DA CIVILIZAÇÃO

Faculdades de elite dos EUA e da Europa abrem filiais nos Emirados Árabes Unidos
Sara Hamdan - Herald Tribune
Quando Shaikha al-Falasi estava preenchendo os formulários de universidades no ano passado, ficou dividida entre um desejo de se desafiar em uma competitiva escola nos Estados Unidos ou ficar perto de sua família nos Emirados Árabes Unidos, onde nasceu.
Quando o campus da Universidade de Nova York em Abu Dhabi abriu as portas em 2010, ela estava determinada a se matricular.
“Sou uma garota e há algumas restrições culturais que vêm com a ideia de estudar fora, embora minha família me apoiasse nesta escolha”, disse Falasi, agora com 18 anos, que entrou na NYU aos 17. “Por que eu iria para o exterior, se posso ter o mesmo diploma, com o mesmo acesso à qualidade, aqui mesmo?”
Depois de negociações com potenciais investidores em 2008 – e um presente de US$ 50 milhões de Omar Saif Ghobash, um doador dos Emirados – a NYU abriu seu primeiro campus completo fora dos Estados Unidos no outono de 2010.
A Universidade Paris-Sorbonne; o Instituto de Tecnologia de Massachusetts; a Wharton School da Universidade da Pennsylvania; e o Insead, uma escola de administração de empresas com sede na França, também abriram escolas nos Emirados nos últimos anos.
As escolas estrangeiras enfrentam desafios e problemas crescentes, entretanto, numa região em que as exigências para entrar nas universidades locais não são tão grandes quanto as das universidades de prestígio como NYU e Sorbonne.
Para encorajar os moradores locais, sem flexibilizar os padrões de admissão, as universidades pediram a estudantes promissores dos Emirados e do Qatar que não preencham as qualificações, que participem de programas de “ponte acadêmica”. Isso normalmente significa um ano a mais de estudos depois do segundo grau.
“O governo está se esforçando para reformar o sistema do segundo grau e melhorar as habilidades dos estudantes – nós tivemos alunos que não conseguiram ficar na universidade ou tiveram de fazer um ano extra de treinamento antes de cursar”, disse Jean-Yves de Cara, diretor-executivo da Sorbonne Abu Dhabi. “Não podemos mudar nossos altos padrões e arriscar a reputação de nossa instituição.”
Instituições acadêmicas estrangeiras, que crescem com dinheiro do governo local, atraíram um amplo interesse. De acordo com a NYU, 43 mil estudantes se candidataram à universidade no ano passado, 15.489 dos quais expressaram interesse em estudar no campus de Abu Dhabi, que ofereceu apenas 150 vagas em 2012. Os estudantes vêm de mais de 70 países, enquanto que os professores vêm do campus de Nova York da NYU, bem como de Harvard, Stanford e da Escola de Economia de Paris.
O sucesso inicial da NYU levou a outros planos. Um campus maior na Ilha Saadiyat em Abu Dhabi deverá ficar pronto em 2014 e acomodar até 2.200 estudantes de graduação e 600 de pós-graduação. Enquanto isso, a universidade planeja um segundo “campus portal” em Xangai em 2013.
“Sabemos que há uma sede por um tipo diferente de educação global, mas ainda estamos surpresos com os números”, disse Josh Taylor, vice-chanceler assistente da NYU em Abu Dhabi. “Inicialmente, a NYU só queria estabelecer um programa de intercâmbio no Oriente Médio, mas ficou claro que o movimento certo era estabelecer um campus completo.”A Universidade Paris-Sorbonne Abu Dhabi, que é totalmente financiada pelo governo de Abu Dhabi, abriu oficialmente em fevereiro de 2011, embora as aulas já estivessem sendo realizadas desde dezembro de 2009. A universidade de língua francesa tem 650 estudantes de humanidades de 64 nacionalidades.
Seu currículo foi planejado para atender às necessidades locais. Por exemplo, as aulas de história da arte e estudos de museus podem preparar os alunos para empregos nas filiais do Louvre e do Guggenheim de Abu Dhabi, que devem ser inauguradas em 2013 e 2014.
“Eles estão abrindo museus e exposições, ansiosos para se envolver no mercado de artes, e as pessoas precisam de treinamento para trabalhar neste mercado”, disse o Dr. de Cara da Sorbonne Abu Dhabi. “Esses programas não são necessariamente os mesmos que temos em Paris, mas costumam ser customizados especialmente para as necessidades do país.”
Os cursos de direito também se mostraram populares, uma vez que a tradição legal local é derivada do código civil francês, enquanto o turismo é escolhido amplamente como área de concentração para as especializações em administração.
As universidades também estão contribuindo com pesquisas originais muito necessárias no Oriente Médio, uma vez que os especialistas dizem que as pesquisas existentes podem ser inconsistentes e datadas. O instituto da NYU Abu Dhabi está gastando US$ 35 milhões em pesquisa sobre questões do Oriente Médio. A Wharton Abu Dhabi, um escritório que abriu no início de 2010, está supervisionando 30 projetos de pesquisa financiados pela Fundação CERT, o braço empreendedor do Higher Colleges of Technology em Abu Dhabi.
“Nosso objetivo é criar e disseminar conhecimento na região e a melhor forma de fazer isso foi estabelecer um escritório no Oriente Médio”, disse Pankaj Paul, gerente regional do escritório UAE da Wharton, o único da escola de administração fora dos Estados Unidos.
Em 2001, o Qatar construiu um grande complexo chamado Cidade da Educação nos arredores de Doha, que hoje abriga os campi de seis universidades dos Estados Unidos, além de uma da Inglaterra e uma da França. No ano passado, a École des Hautes Études Commerciales de Paris e o University College London foram inaugurados, juntando-se a escolas como Georgetown e Carnegie Mellon.
Cursos de jornalismo da Universidade Northwestern em Illinois estão disponíveis em sua filial na Cidade da Educação, e formarão sua primeira turma de 36 estudantes em maio próximo. Os estudantes desfrutam de classes pequenas, com um total de 140 alunos que aprendem com professores visitantes.
“Elaboramos um programa baseado no conhecimento norte-americano e o calibramos para as necessidades do país e da região”, disse Everette Dennis, reitor e diretor executivo da Universidade Northwestern Qatar. “Nosso objetivo é educar e treinar as pessoas que podem ser parte de qualquer equipe global de mídia.”
Ele acrescentou que um dos desafios de elaborar um currículo de mídia e comunicações é fazer isso numa região onde a liberdade de expressão pode ser tolhida.
“Há empreendimentos bem-sucedidos de mídia na região, mas a percepção que o público tem da mídia demora a acompanhar. Entretanto, estão acontecendo mudanças encorajadoras.”
Na Universidade Northwestern Qatar, 36% dos alunos são do país, muitos dos quais entraram depois de concluir um programa de ponte acadêmica. Similarmente, 33% dos estudantes da filial da Sorbonne são dos Emirados Árabes Unidos.
“Não há uma quota a preencher ou nada parecido, mas há uma necessidade forte de ter um número substancial de qatarianos, uma vez que o Qatar nos trouxe aqui”, disse Dennis. “Mas eles precisam preencher os mesmos requisitos acadêmicos que os estudantes de nossos campi americanos, então o programa de ponte acadêmica é uma boa maneira de ajudar a prepará-los para o estudo rigoroso, enquanto nos permite manter nossos padrões altos.”
Nem todas as tentativas de estabelecer filiais de universidades estrangeiras foram bem-sucedidas. A Michigan State University, que abriu uma filial em Dubai em 2008, fechou em 2010 depois de dois anos e milhões de dólares em prejuízos.
O maior problema foram dificuldades de financiamento, de acordo com reportagens de jornais locais. Os governos de Abu Dhabi e Qatar estão tentando evitar este problema financiando em peso suas iniciativas para aumentar a pesquisa e melhorar a qualidade dos professores.
“As instituições que já existem em Abu Dhabi ainda estão em fase de crescimento em termos de capacidade de estudantes e planos de pesquisa”, disse Jihad Mohaidat, gerente da divisão de parcerias globais do Conselho Educacional de Abu Dhabi. “O orçamento para a educação aumentou todo ano até agora.”
E com isso, as inscrições de alunos continuam aumentando.
“Recebemos muitos dos professores que dão aula na sede da NYU, e aqui, os professores até moram nos mesmos prédios que nós, então nós encontramos com eles no jantar e interagimos muito mais”, disse Falasi. “É uma vantagem muito grande para nós.”
Tradutor: Eloise De Vylder

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