sábado, 21 de abril de 2012

GNOMO FRANCÊS ENTRA EM DESESPERO DIANTE DA PROVÁVEL DERROTA NAS ELEIÇÕES DE DOMINGO

‘Será preciso saber francês para entrar na França’, diz Sarkozy
Em último comício, presidente defende ‘raízes cristãs’ do país e promete blitz nas fronteiras
VITOR SORANO - O Globo
RIO — Nicolas Sarkozy encerrou sua campanha à reeleição nesta sexta-feira defendendo as “raízes cristãs” da França e da Europa e prometendo endurecer o controle das fronteiras. Em Nice, afirmou que vai retomar as blitz nas bordas do país — a legislação europeia restringe o poder de fiscalização que os Estados participantes do acordo de livre circulação podem exercer sobre as bordas internas.
Sarkozy deve ficar em segundo lugar no primeiro turno das eleições, que ocorre no domingo, segundo sete de 10 pesquisas. A vitória deve ficar com François Hollande, do Partido Socialista. No segundo turno, a derrota do atual presidente é dada quase como um fato.
— A fronteira assegura, conforta, protege. É ela que permite estender a mão e dizer “você bem vindo à minha casa — disse o presidente da França.
Alvo preferencial da extrema-direita liderada pela candidata Marine Le Pen — que atribui aos estrangeiros a criminalidade, o desemprego e mesmo a alta da dívida pública —, a imigração vem sendo também um dos temas mais explorados por Sarkozy. Em março, ele sugeriu retirar a França do espaço Schengen, que permite livre circulação entre 26 países europeus, do qual foi fundadora. Antes, havia prometido diminuir pela metade o número de imigrantes que entram legalmente no país por ano.
Pelo acordo, os Estados participantes são impedidos de fazer um controle muito ostensivo das fronteiras internas — por exemplo, checar os passaportes de todas as pessoas que entram no país. Citando uma das principais portas de entrada de imigrantes na Europa, Sarkozy propôs intensificar a vigilância — todas as bordas francesas são internas a Schengen.
— Se em um ano ainda houver um buraco gigante entre a Turquia e a Grécia, eu vou retomar as blitz nas fronteiras da França — afirmou.
Além do contexto eleitoral, as declarações desta sexta-feira se encaixam em um momento no qual a própria União Europeia está sendo levada a debater as regras para a imigração. Na última terça-feira, França e Alemanha enviaram a Bruxelas uma carta solicitando a aprovação de um mecanismo que permita a um Estado Membro fechar as fronteiras temporariamente em caso de crise entrada de estrangeiros.
O tema já havia sido discutido pela França e pela Itália em 2011 após de um grande afluxo de imigrantes da África do Norte — cerca de 20 mil tunisinos receberam autorização para entrar pela fronteira italiana em curto período de tempo.
Sarkozy é ele próprio um filho de estrangeiro — um húngaro, que fugiu de casa quando o presidente era criança. Talvez em referência a isso, comentou em seu último comício saber “quais são minhas origens. Ninguém me dá lição em matéria de imigração”. Para, pouco depois, afirmar:
— Toda pessoa que quiser vir à França precisará aprender francês e os nossos valores antes de poder entrar no nosso território.
Laica de raízes cristãs
Durante seu mandato, e também na campanha, Sarkozy insistiu na laicidade da República Francesa. Além de proibir o uso do véu islâmico em 2011, Sarkozy criticou a carne halal — produzida de acordo com preceitos muçulmanos. No início do mês passado, seu premier, François Fillon, afirmou que o consumo desse tipo de alimento, bem como da carne kosher — que segue os rituais judeus — é um costume ultrapassado.
Nesta sexta-feira, em Nice, o presidente fez acenos positivos ao cristianismo. Primeiro, criticou a Europa por ter se tornado “tecnocrata” e ter renegado — segundo ele — sua origem cristã. Depois, afirmou:
— Eu acredito nas raízes cristãs da França e da Europa. Isso não quer dizer que eu me esqueça que a França é laica.

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