quinta-feira, 19 de abril de 2012

INTOLERÂNCIA

Jovem norte-americano apoia ideologia de assassino em massa da Noruega
Gerald Traufetter - Der Spiegel
Ele é um norte-americano de pouco mais de 20 anos de idade que idolatra um assassino em massa. No terceiro dia do julgamento de Anders Breivik, Kevin Forts revelou que é amigo por correspondência do acusado. A ideologia ilusória de Breivik está conquistando o apoio de um pequeno, mas crescente, grupo de pessoas que odeiam o islamismo.
O jovem tem cabelos pretos e olhar penetrante, e ele posa com os braços atrás das costas. Ele deseja ser registrado pelo fotógrafo com uma imagem que sugira decisão e coragem. Os seus pais e amigos tentaram dissuadi-lo de tomar essa iniciativa, diz Kevin Forts, da cidade de Worcester, no Estado norte-americano de Massachusetts. "Mas é isso o que eu quero, de maneira que eu possa representar as ideias de Anders Breivik que, caso contrário, seriam demonizadas pela mídia", disse o jovem de 23 anos de idade aos repórteres do tabloide norueguês "VG", o jornal mais lido da Noruega.
Em uma matéria especial, o jornal revela que Forts compartilha as ideias do assassino em massa Anders Behring Breivik. "Eu represento uma alternativa nacionalista, da mesma forma que Breivik", diz Forts. Forts escreve cartas para o assassino e troca ideias com ele. Como prova ele mostra uma carta que o assassino em massa lhe escreveu da prisão.
Breivik elogia este norte-americano de aparência meio desleixada. O "VG" menciona a carta que Breivik teria enviado a Forts, na qual o norueguês escreve: "Eu recebi cartas de apoio de pessoas de 20 países, mas você parece ser alguém capaz de escrever bem. Sim, eu estou sem dúvida interessado em discutir questões ideológicas com você e estou pensando em como nós poderíamos trabalhar juntos".
O motivo pelo qual esse jovem norte-americano está se expondo publicamente pode ser o desejo de atenção. Desde os ataques perpetrados por Breivik na Noruega, em 22 de julho de 2011, grande parte do universo de direita e anti-islâmico se retirou da esfera pública digital. Os participantes desse universo, que até então usavam a Internet para trocas de mensagens regulares, se apressaram em distanciar-se das ações de Breivik. O principal deles é Fjordman, um blogueiro norueguês que, até ocorrerem os assassinatos, trocava ideias regularmente com Breivik, e que é considerado uma espécie de mentor ideológico do assassino. "A esta altura já deveria ser dolorosamente óbvio que Breivik não liga para ninguém mais, a não ser ele mesmo", escreveu o escritor de textos anti-islâmicos no seu blog nesta semana, referindo-se ao julgamento.
A maioria desses indivíduos está se distanciando de Breivik. Mas Kevin Forts não. Em um vídeo da entrevista publicado no website do "VG", no qual explica por que está defendendo os assassinatos, Forts afirma: "Eu acredito que isso que ele fez demonstra um senso de nacionalismo e de consciência moral. Ele está lutando contra o marxismo cultural e a islamização da Noruega, e ele encontrou a maneira mais racional de fazer isso, por meio de ações terroristas em Utoya e em Oslo".
Quando os repórteres lhe perguntaram como é que alguém pode defender o assassinato de adolescentes inocentes, Forts acrescentou: "Eu acredito que ele optou por isso para poder realizar um ataque sem precedentes. Eu não acho que esse tipo de ataque deva voltar a ocorrer. Creio que a ação foi atroz, mas necessária, já que ela despertou a consciência para o problema. Foi isso o que Breivik fez ao fazer as execuções".
Forts diz acreditar que Breivik seja "um nacionalista e patriota, e não o terrorista neonazista que a mídia está retratando". Ele continua, dizendo: "Agora tudo o que se vê é o choque e a carnificina de Utoya e Oslo, mas ninguém está percebendo as verdadeiras ramificações políticas que surgirão no futuro. Eu acredito que, quando chegarmos àquele estágio, será impossível odiar Breivik, e veremos que as ações dele foram de fato parte de uma guerra preventiva".
A devoção de Forts surpreende até mesmo Breivik, que acha que a brutalidade das suas ações prejudicou a sua popularidade entre os seus companheiros de causa.
Um cruzado contra o islamismo
Mas pelo menos os motivos do assassino em massa receberam a aprovação de certos grupos radicais na Europa e nos Estados Unidos. "Nós estamos presenciando o desenvolvimento de outro universo de direita", afirma Daniel Poohl, editor-chefe da revista antirracista online "Expo", que foi criada pelo já falecido escritor de suspense sueco Stieg Larsson. Poohl tem certeza de que as ideias de Breivik sobre a ameaça representada pelo islamismo são compartilhadas por um grande número de simpatizantes.
"Nos últimos cinco anos eu tenho observado a ocorrência de um extremismo de dois tipos", diz ele. "Primeiro, há os partidos de direita tradicionais e organizados como o NPD na Alemanha. E, além disso, há também os extremistas, que odeiam o islamismo e acreditam que o mundo corre perigo".
Anders Breivik pertence a esse segundo grupo. Ele se gabou de que, como um "cruzado" contra o islamismo, está lutando contra os imigrantes que se infiltram nas nações ocidentais nas quais eles em breve conquistarão poder, com o apoio de multiculturalistas dos partidos governistas de esquerda, como, por exemplo, o Partido Trabalhista da Noruega. Breivik teria desenvolvido o seu nacionalismo durante a guerra na Iugoslávia, um período no qual ele alega ter conhecido nacionalistas sérvios que apresentaram a guerra civil na ex-Iugoslávia como sendo uma luta entre cristianismo e islamismo.
"Breivik é uma prova de que o movimento antimuçulmano é capaz de radicalizar as pessoas", diz Poohl. "Eu temo que nos próximos cinco anos esse fenômeno cresça". Ele diz que não é possível estimar a magnitude desses grupos. Como indicação, Poohl cita os comentários feitos por Breivik a respeito da simpatia que está recebendo das pessoas.
Cartas repletas de apoio
No segundo relatório psicológico sobre Breivik, Terje Torrissen, um dos dois especialistas encarregados de determinar se Anders Breivik está mentalmente capacitado para ir a julgamento, disse que o assassino em massa recebeu mais de cem cartas de apoio da Suécia, da Rússia, da Alemanha e do Reino Unido. "Essas cartas estão repletas de apoio, e os remetentes exibem os mesmos pontos de vista políticos que o réu", segundo o jornal "VG", que citou os relatórios secretos. Torrissen disse que Breivik afirmou: "Eu gosto dessas cartas enviadas por pessoas que têm a mesma opinião que eu e com as quais eu poderei trabalhar conjuntamente no futuro".
Ao conversar com o psiquiatra, Breivik falou a respeito de uma rede de militantes nacionalistas que ele deseja operar a partir da sua cela. Torrissen relatou que os remetentes das cartas "usam a mesma linguagem e a mesma terminologia que Breivik. E alguns deles afirmam que se sentiram inspirados por Breivik e que cometerão ações ainda mais extremistas".
Durante o terceiro dia de julgamento, Breivik recusou-se a responder a perguntas detalhadas da promotora pública Inga Bejer Engh. Ela procurou questioná-lo a respeito dos seus contatos com outros militantes nacionalistas e da sua suposta rede de cavaleiros templários. As autoridades acreditam também que Breivik encontrou-se na Libéria com um nacionalista sérvio que é procurado devido a acusações de ter cometido crimes de guerra. "Eu não quero fazer comentários sobre a Libéria", respondeu diversas vezes Breivik, que tem 33 anos de idade. "Você vai ter que pular essa parte".
Durante o depoimento, Breivik parecia exausto, e também um pouco resignado. "Eu espero que vocês se concentrem menos em me ridicularizar e se foquem mais na questão pertinente", disse ele ao tribunal. Breivik afirmou que os promotores estavam apenas tentando provocar dúvidas quanto à existência dos cavaleiros templários. O assassino em massa afirmou que considera o seu manifesto de 1.500 páginas uma "escola de terrorismo". Breivik disse ainda que um indivíduo não precisa ser particularmente talentoso para realizar ataques como aqueles perpetrados por ele no distrito governamental de Oslo e na ilha de Utoya.
No terceiro dia de julgamento, Breivik não encontrou simpatia da plateia, e ele só pode ter certeza de contar com um único apoiador inabalável. O seu amigo por correspondência, Kevin Forts, deu uma declaração que tem provocado reações furiosas: "Eu sonho em um dia conhecer pessoalmente Breivik e em falar com ele ao telefone".
Tradução: UOL

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