sexta-feira, 20 de abril de 2012

O BISCATÓN SEGUE FIRME NO PROPÓSITO DE DESTRUIR O QUE SOBROU DA ARGENTINA APÓS O PERONISMO

País será obrigado a lidar com as consequências de decisão estúpida
JOHN GAPPER - FINANCIAL TIMES
Às vezes a estratégia mais óbvia e mais tentadora é a mais estúpida. Isso se aplica à decisão da Argentina de tomar da espanhola Repsol a participação majoritária na YPF.
A estratégia é óbvia porque empresas latino-americanas já expropriaram os ativos de companhias estrangeiras em várias ocasiões, desde que a Bolívia o fez com a Standard Oil, em 1937. É tentadora para a presidente Cristina Kirchner porque o petróleo é caro, a confiança em seu governo errático está baixa e a Repsol é um alvo fácil.
Mas é estúpida porque ela escolheu a tática errada.
O melhor momento para arrochar empresas estrangeiras é quando o trabalho árduo de investimento e prospecção está terminado, e uma petrolífera estatal poderá colher os benefícios. Não é quando seu país enfrenta problemas fiscais profundos, está sem acesso aos mercados internacionais de capital e enfrenta um desafio iminente de investimentos.
Agora, a YPF e o governo argentino precisam desenvolver o enorme campo de gás de xisto descoberto em Vaca Muerta sem uma grande petroleira ocidental para provê-los de capital, tecnologia e alguém em quem colocar a culpa.
Muitos estão escandalizados com o golpe de Cristina, como se ela tivesse inventado a ideia de expropriar recursos.
O problema é que a expropriação que cometeu é extrema, que seu timing foi ruim e que é pouco provável que isso resolva a queixa de Cristina: que a Repsol não investia o suficiente no país.
Desde que Néstor Kirchner chegou ao poder, em 2003, a Argentina vem se tornando um lugar pouco atraente para uma petroleira investir. O país impôs um teto aos preços dos combustíveis e manteve o preço ao atacado que paga à YPF abaixo do nível global.
Além disso, os campos argentinos foram descobertos em 1907 e estão se esgotando.
A expulsão da Repsol não resolve os problemas que a Argentina mesma se causou e prejudica as chances de investimento em Vaca Muerta, que pode ser a terceira maior reserva mundial de gás de xisto. Sua exploração vai demandar capital e tecnologia, e agora a Argentina não tem nem uma coisa nem a outra.
No longo prazo, talvez o país consiga que outro agente externo venha preencher o buraco que ele acaba de criar -possivelmente uma chinesa como a Sinopec, com quem a Repsol estava negociando um acordo. Mas o preço que qualquer multinacional pedirá, para compensar pelo risco político, será alto.
Se um país pretende praticar o nacionalismo com seus recursos naturais, deve ao menos agir de modo racional.
Cristina não o fez.
Tradução de Clara Allain

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