domingo, 26 de agosto de 2012

ELIÂNICAS

O pior dos mundos
Eliane Cantanhêde -FSP
BRASÍLIA - O julgamento do mensalão recomeça amanhã com uma excrescência: a réplica do relator Joaquim Barbosa e a tréplica do revisor Ricardo Lewandowski. Onde já se viu isso? Esse negócio de réplica e tréplica é coisa de debate de candidato na TV. Ministros do Supremo Tribunal Federal argumentam e votam. Condenam ou absolvem.
Muita coisa nesse julgamento, aliás, anda curiosa. Na estreia, Lewandowski surpreendeu tirando do bolso um voto imenso sobre matéria já vencida, o desmembramento da ação. No primeiro voto, surpreendeu de novo ao inverter a ordem estabelecida pelo relator Joaquim.
Começou pela condenação de Henrique Pizzolato, ex-diretor do BB, amortecendo assim a absolvição, no dia seguinte, de João Paulo Cunha, ex-presidente da Câmara, agora candidato do PT à Prefeitura de Osasco (SP).
Relevou as explicações capengas de João Paulo para os R$ 50 mil que recebeu de Marcos Valério (lembra da "conta da Net"?), bancando candidamente que foi para "pagar pesquisa". E desvinculou totalmente da licitação milionária que Valério ganhou em seguida da Câmara presidida por Cunha. Uma coisa foi uma coisa e outra coisa foi outra coisa?
Por menos que se diga isso com todas as letras, não há mais dúvidas entre jornalistas, advogados, ministros (e Lula?): o relator Joaquim tende a condenar todo mundo, e o revisor Lewandowski, a condenar a periferia para absolver os políticos do PT.
Está, portanto, consolidada a divisão do Supremo entre dois times: o da condenação e o da absolvição. E, para apressar o ritmo e acabar com a tortura ainda neste ano, Joaquim serve de "escada" para quem quer condenar e Lewandowski, para quem quer absolver. Basta aos demais ministros declarar: "Voto com o relator" ou "voto com o revisor".
Com a saída de Cezar Peluso, já, já, o risco de empate aumenta perigosamente. O pior dos mundos.

O BLOCO ECONÔMICO QUE O MENTECAPTO CRIOU E O MOLUSCO ENDOSSOU. A BOLÍVIA ESTÁ CHEGANDO, JÁ IMAGINOU UM BLOCO ECONÔMICO EXPORTADOR DE COCAÍNA? OU É PARA CONSUMO INTERNO?

Um prego no caixão do Mercosul
O Estado de S.Paulo
Mais um prego foi posto no caixão do Mercosul, com a decisão final do Senado paraguaio contra o ingresso da Venezuela no bloco. No próximo ano o Paraguai voltará a participar das decisões da união aduaneira, depois de cumprida a truculenta suspensão imposta pelos governos brasileiro, argentino e uruguaio. Haverá cinco presidentes nas reuniões de cúpula, mas a participação de um deles será considerada ilegítima por um dos sócios fundadores do clube. E como poderá funcionar esse clube, se os seus estatutos já foram desmoralizados quando três dos seus membros decidiram sobrepor as considerações políticas - ou simplesmente ideológicas - aos compromissos jurídicos?
O Paraguai foi suspenso do Mercosul porque as presidentes Dilma Rousseff e Cristina Kirchner decidiram classificar como golpe a deposição do presidente Fernando Lugo, mesmo sem evidência de violação de qualquer lei paraguaia. O presidente uruguaio, José Mujica, mostrou-se fraco e acabou aceitando as imposições de suas colegas.
Nesse momento, o processo de adesão da Venezuela ao Mercosul ainda tramitava no Senado paraguaio. Sabia-se da forte oposição ao projeto, mas faltava a decisão. Brasil, Argentina e Uruguai já haviam aprovado, mas o ingresso do quinto sócio dependia de uma resolução unânime. As presidentes brasileira e argentina quiseram aproveitar a suspensão do Paraguai para abrir a porta ao novo sócio. O presidente uruguaio, José Mujica, mostrou-se novamente fraco e acabou concordando, contra a opinião do vice-presidente e do ministro de Relações Exteriores de seu país. Nos dias seguintes, os dois criticaram severamente o golpe e denunciaram a violência contra as instituições do bloco.
Logo depois da queda de Fernando Lugo, o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), o chileno José Miguel Insulza, comandou uma missão ao Paraguai. Em seu relatório, ressaltou a normalidade política no país, enquanto os governos de vários países, incluído o Brasil, insistiam em condenar como golpista a recém-instalada administração do presidente Federico Franco.
Nesta semana, finalmente, o Conselho da OEA examinou o assunto. A avaliação foi concluída sem consenso, mas a maioria dos embaixadores apoiou o relatório de Insulza. Não houve comunicado oficial sobre as manifestações, mas, segundo o representante paraguaio, Hugo Bernardino Saguier, 26 dos embaixadores foram favoráveis à opinião do secretário-geral. Apenas 8 foram contrários, incluídos, naturalmente, o brasileiro, o argentino e o venezuelano. Mesmo sem contagem oficial de votos, foi uma indubitável vitória do governo paraguaio. As próprias autoridades do Paraguai pediram o envio de observadores da OEA ao país, a partir de dezembro, para acompanhar a campanha, a preparação e a realização das eleições previstas para abril.
Na quinta-feira, o Senado paraguaio finalmente votou a proposta de ingresso da Venezuela. Houve 31 votos contrários e 3 favoráveis. Onze senadores faltaram. A decisão torna mais complicada a situação do bloco, já comprometida pela truculência das presidentes Dilma Rousseff e Cristina Kirchner e pela fraqueza do presidente José Mujica.
A legalidade do ingresso da Venezuela já era contestável quando foi decidida pelos três presidentes, na reunião de cúpula de Mendoza. Sem referência à hipótese de suspensão, o Tratado do Mercosul condiciona a admissão de um novo sócio à decisão unânime dos membros fundadores. Essa cláusula foi atropelada.
Outras decisões políticas do Mercosul dependem também de unanimidade. Como se poderá atender a essa condição, depois da volta do Paraguai, se o governo paraguaio rejeitar a presença do quinto sócio? Mesmo sem esse problema, o bloco já estaria em péssimas condições, pela mediocridade de seus objetivos diplomáticos e até por sua incapacidade de funcionar como simples zona de livre comércio. Promissor em seus primeiros anos, o Mercosul é hoje um bloco paralisado e um entrave a qualquer iniciativa mais ousada e mais inteligente de seus membros. Melhor seria enterrá-lo como união aduaneira e retomar com seriedade os objetivos iniciais.

JOHN COLTRANE

i12bent:

In the midnight hour we celebrate our third seminal music birthday of today:
John Coltrane, that most spiritual and visionary saxophonist and composer: Sep. 23, 1926 - 1967…
This year we’ll do tracks from his three first Atlantic albums, and finish off, as we must every year, with a slice of A Love Supreme…
Photo: Francis Wolff
Atenas mostra compromisso com austeridade
Georgios Christidis e David Böcking - Der Spiegel 
Quando Antonis Samaras viajou a Berlim na sexta-feira (24), seu papel foi claro: o primeiro-ministro conservador da Grécia chegou como um suplicante que é obrigado a pedir mais assistência financeira na Alemanha para seu país duramente atingido pela crise.
Ainda assim, pedidos de mais tempo para implementar medidas de austeridade na Grécia já encontraram resistência em grande parte do governo alemão. “A Europa e o euro não podem fracassar porque as pessoas se recusam a implementar reformas”, disse o ministro da Economia Philipp Rösler à Spiegel Online no último domingo (19). E a acusação que foi ouvida antes da reunião importante entre Samaras e a chanceler alemã Angela Merkel é de que os gregos são exatamente o tipo de pessoas que recusam as reformas.
Entretanto, a realidade é bem diferente. De acordo com medições do PIB, os gregos estão claramente fazendo cortes bem mais profundos do que todos os outros países atingidos pela crise na zona do euro. Isso foi confirmado recentemente por um estudo do banco central da Irlanda, que por si só já tem uma reputação como um cortador de gastos modelo. O relatório revelou que, desde 2010, a Grécia respondeu à pressão da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional cortando gastos e aumentando impostos no equivalente a 20% do PIB – que representa o programa mais brutal de contenção de gastos da história da UE. Esta conquista é particularmente notável dado o fato de que aconteceu em meio a uma recessão severa.
Dadas essas circunstâncias, por que continua havendo dúvidas a respeito da seriedade dos esforços gregos? Por um lado, isso resulta do fato de que, apesar de todos os cortes, o fardo da dívida grega continuará a crescer se a economia não crescer também. Por outro lado, relatórios da mídia sobre aposentados fantasma ou caos burocrático continuam criando a impressão de que o desperdício contínuo em outras áreas negará todos os esforços de contenção de gastos bem sucedidos.
Acabando com uma tradição de mentiras
O primeiro-ministro Samaras agora deixou claro, mesmo que apenas simbolicamente, que também quer quebrar com a tradição infeliz de clientelismo político da Grécia. Ele fez isso cancelando uma reunião marcada para daqui a duas semanas depois de sua viagem a Berlim: a abertura da feira de comércio internacional em Thessaloniki.
A feira de comércio está mais repleta de simbolismo do que praticamente qualquer outra ocasião política na Grécia. Até agora, o governo fez uma peregrinação anual para o norte, de Atenas a Thessaloniki para a abertura do evento. Os pontos altos do ritual sempre foram o discurso do primeiro-ministro diante dos altos líderes empresariais do país e uma coletiva de imprensa no dia seguinte que durava horas. Sempre foi um evento relacionado ao início da temporada política da Grécia – e um que também dava à grande equipe do primeiro-ministro a chance de se divertir na famosa vida noturna de Thessaloniki.
Mas isso agora faz parte do passado. Samaras cancelou tanto seu discurso quanto a coletiva de imprensa, e se limitará a fazer apenas uma visita breve.
Oficialmente, pelo menos, Samaras está fazendo tudo isso porque ele quer enfatizar os planos espartanos de austeridade de seu governo, que não vislumbra nem mesmo um único centavo para a diversão. Mas os motivos reais por trás do cancelamento de Samaras são diferentes. Desde o fim da ditadura miliar tem 1974, a feira de comércio vinha sendo o local onde os primeiros-ministros tradicionalmente faziam promessas caras para seus apoiadores enquanto atraiam a atenção para si anunciando projetos ambiciosos.
Por exemplo, foi em Thessaloniki em 1984 que o primeiro-ministro socialista Andreas Papandreou profetizou “dias ainda melhores” para os gregos, embora eles estivessem sendo financiados pela dívida pública. Em 1997, o primeiro-ministro Kostas Simitis ficou sabendo que a Grécia receberia os Jogos Olímpicos de 2004 apenas cinco minutos antes de fazer seu discurso em Thessaloniki. O que desencadeou inúmeras celebrações acabou causando uma consternação ainda maior quando os cidadãos gregos receberam uma conta de 10 bilhões de euros pelo espetáculo.
Em 2003, Simitis fez uma última tentativa de se agarrar ao poder em Thessaloniki: ele prometeu publicamente um programa de gastos do governo no valor de 1,2 bilhão de euros. Um ano depois, o primeiro-ministro recém-eleito da Grécia, Kostas Karamanlis, disse a seus conterrâneos que a Grécia só precisava de um “leve ajuste econômico” para colocar sua dívida sob controle – embora fosse apenas o prelúdio de outra fase de excessivos empréstimos públicos no caminho da Grécia rumo à falência. Tudo isso culminou em 2009, apenas seis meses antes de a Grécia bater no iceberg, quando o primeiro-ministro Georgios Papandreou, falando em Thessaloniki, fez a declaração hoje notória: “há dinheiro suficiente aqui”.
Gestos simbólicos
Então Antonis Samaras tem bons motivos para cancelar sua aparição e para reduzir ao máximo as viagens de membros de seu governo para o norte. E este não foi o único gesto com o qual ele demonstrou sua disposição de se submeter às medidas de austeridade. Durante a primeira reunião de seu gabinete, Samaras anunciou uma redução de 30% nos salários para seus ministros. Ele também decretou que o uso de carros do governo deveria ser reduzido ao máximo e também renunciou ao sedã Mercedes que normalmente fica disponível ao primeiro-ministro. Foi até dito que Samaras checa pessoalmente as despesas de viagem dos ministros de seu gabinete.
É verdade, com gestos simbólicos como este, Samaras certamente não eliminou o caos administrativo da Grécia ou quebrou a sensação de ter direitos em relação ao governo que quase todo grupo de interesse do país tem, desde motoristas de táxi até donos de barcos. Ele também precisa provar que não é mais um vira-casaca nas questões que costumava ser durante seu tempo na oposição política. Entretanto, o primeiro-ministro deixou claro que reconheceu o problema. E isso já é muito mais do que se pode dizer sobre a maioria de seus antecessores.
Além disso, medidas concretas foram acordadas sob o governo de Samaras – primeiro e, antes de tudo, mais um pacote de austeridade no valor de 11,5 bilhões de euros que o primeiro-ministro incentivou apesar da resistência da oposição.
“A Grécia está sangrando”, disse o tablóide alemão Bild numa manchete antes da visita de Samaras à Alemanha. Durante os últimos três anos, a qualidade de vida caiu em 30% e os aposentados perderam um quinto de seus benefícios mensais.
Não se pode dizer que a Grécia de Samaras não vem economizando o bastante. Mas será que os esforços também estão sendo bem sucedidos? Será que Samaras conseguirá modernizar o estado Grego e, especialmente, a cultura política doente do país? Ainda é muito cedo para responder essas perguntas. Afinal, o homem só está no governo há dois meses.
Tradutor: Eloise De Vylder
Brasil é o lanterninha do Bric em patentes
País obteve só 215 registros no ano. China teve 3.174
Eliane Oliveira - O Globo
BRASÍLIA - Os esforços feitos pelo governo e o setor privado para incentivar a inovação tecnológica no Brasil ainda não foram suficientes para o país acompanhar emergentes como Índia e China quando o assunto é o registro de invenções ou processos produtivos nos escritórios internacionais de patentes. Comparado às outras nações do Bric (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia e China), o país fica na lanterna.
Um estudo comparativo baseado em registros de patentes, feito pelo escritório Montaury Pimenta, Machado & Vieira de Mello, especializado em propriedade intelectual, revela que, em 2011, o United States Patent and Trademark Office (USPTO, escritório americano de patentes) concedeu 215 pedidos ao Brasil, contra 3.174 para a China, 1.234 para a Índia e 298 para a Rússia. A comparação não inclui a África do Sul, que só entrou para o grupo no primeiro semestre de 2011, a convite da China.
Os EUA são considerados o termômetro da inovação tecnológica global. Nos últimos cinco anos, a China obteve do país 9.483 patentes; a Índia, 4.191; e a Rússia, 1.123. Nesse mesmo período, o Brasil conseguiu apenas 684 patentes.
Luiz Edgard Montaury Pimenta, um dos autores do estudo, explica que isso se deve, entre outras razões, à ausência de uma cultura do empresariado brasileiro de proteger suas invenções e, principalmente, à falta de pessoal no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (Inpi). A instituição leva até dez anos para dar uma patente. Quanto mais inovador o produto ou a etapa de produção, mais lento o exame.
— Também há grande desinformação — diz Pimenta.
Dados do Inpi mostram quão deficiente é a estrutura brasileira. O instituto tem apenas 273 examinadores. São 3.698 pessoas na Europa, 1.567 no Japão e 5.477 nos EUA.
O diretor de Patentes do Inpi, Júlio César Moreira, diz que o órgão fará concurso público para contratar 700 funcionários até 2015. E que o governo não quer competir com o Bric, e sim trabalhar em conjunto:
— Nos Bric, temos problemas e soluções semelhantes.
Quando se medem as taxas de crescimento dos pedidos de registros, porém, o Brasil aparece à frente de EUA e Alemanha. O volume de pedidos pelo Brasil no sistema global cresceu 108,8% nos últimos seis anos. No período, os alemães solicitaram 17,8% a mais; e os americanos, 4,4%.
Paulo Coutinho, gerente de inovação da Braskem, que detém quase 500 patentes, concorda que a taxa de crescimento do Brasil é alta, mas poderia ser maior. E acrescenta que o conhecimento científico não é aplicado como deveria:
— Tem um pouco a questão cultural e a necessidade de maior aproximação entre empresas e universidades.
Coordenador de uma equipe de inventores da Universidade de Brasília (UnB), que descobriu novas propriedades de uso para o óleo de açaí, o pesquisador Ricardo Bentes diz que pedir registro de patente no exterior tem gastos elevados pela necessidade de contratar um escritório estrangeiro para tratar dos trâmites.
Aumento dos gastos com benefícios ameaça causar falência dos EUA David Brooks -NYT
Digamos que você costume ser um eleitor moderado. Você olha para a chapa Romney-Ryan e vê que eles são bem mais conservadores do que você. Eles não acreditam em aumento de impostos, jamais. Você acha que o aumento de impostos precisa ser uma parte de um acordo orçamentário. Eles querem cortar gastos sociais até o osso. Você acha que isso seria muito duro com os mais vulneráveis e ruim para a coesão social.
Você olha para a chapa Obama-Biden. Você gosta deles pessoalmente. Mas não tem certeza sobre o que eles querem realizar nos próximos quatro anos. O país precisa de grandes mudanças, e eles não parecem estar oferecendo muitas. Onde está a liderança?
Com esta insatisfação, você se pergunta: o que de fato é importante nesta eleição? Bem, a grande questão é o declínio do país. Como podemos garantir que os EUA sejam tão dinâmicos no século 21 quanto foram no século 20?
A maior ameaça ao dinamismo nacional é gastar dinheiro nas coisas erradas. Se você voltar e olhar para os orçamentos federais durante meados do século 20, verá que o eles gastavam dinheiro no futuro – em programas como a Nasa, projetos de infraestrutura, bem-estar infantil, pesquisa e tecnologia. Hoje, gastamos a maior parte do nosso dinheiro no presente – em leis de impostos e saúde para pessoas acima de 65 anos.
Um estudo feito por Jessica Perez e outros no grupo Third Way (Terceira Via) revela os fatos básicos. Em 1962, 14 centavos de cada dólar do governo federal que não iam para o pagamento de juros eram gastos em programas de benefícios. Hoje, 47% de cada dólar é gasto em benefícios. Em 2030, 61 centavos de cada dólar que não é gasto em juros será gasto em benefícios.
O gasto com benefícios está tomando o lugar dos investimentos em nossas crianças e em infraestrutura. Este gasto está ameaçando causar uma falência nacional. Ele aumenta tão rapidamente que não há nenhum aumento de impostos imaginável que possa cobri-lo. E, hoje em dia, o verdadeiro problema dos benefícios é o Medicare.
Então, quando você pensar nas eleições desta forma, a questão crucial é: que candidato poderá desacelerar a explosão de gastos com benefícios para que possamos dedicar mais recursos para o nosso futuro?
Olhando para os candidatos sob este prisma, você verá que o presidente Barack Obama merece algum crédito por reduzir os gastos com benefícios. Ele teve a coragem de cortar cerca de US$ 700 bilhões de reembolsos do Medicare. Ele teve a coragem de colocar algumas reformas do Medicare na mesa de negociação com os republicanos. Ele criou aquele quadro de tecnocratas (altamente circunscrito) que pode espremer o sistema para que ele seja mais eficiente.
Ainda assim, você não chamaria Obama de um reformador apaixonado. Ele cortou as bordas dos benefícios. Ele não fez nada que pudesse alterar fundamentalmente seu curso destrutivo.
Quando você olha para Mitt Romney sob esse prisma, vê uma paixão surpreendente. Ao escolher Paul Ryan como seu colega de chapa, Romney colocou o Medicare no centro do debate nacional. Possivelmente pela primeira vez, ele fez uma coisa politicamente perigosa. Ele deixou claro que reestruturar o Medicare terá alta prioridade.
Isso é impressionante. Se você acreditar que a reforma dos benefícios é essencial para a solvência nacional, então a dupla Romney-Ryan é o único trem na estação.
Além disso, quando você olha para o pacote de reformas do Medicare que Romney e Ryan propuseram, você se surpreende um pouco. Você acha que eles são puristas do mercado livre, mas a proposta mostra uma atividade pesada do governo, flexibilidade e pragmatismo rampante.
O governo federal definirá um pacote de benefícios de saúde obrigatórios. Os seguradores privados e uma agência similar ao atual sistema público Medicare submeteria as ofertas para fornecer cobertura para esses benefícios. O governo daria aos cidadãos mais velhos um pagamento igual à segunda oferta mais baixa em cada região para comprar seguro.
Este sistema forneceria uma rede de segurança básica de saúde. Ele também desencadearia um processo de descoberta. Se a atual estrutura do Medicare se mostrar mais eficiente, então ela dominará o mercado. Se os seguradores privados se mostrarem mais eficientes, eles dominarão. De qualquer forma, nós encontraríamos a melhor forma de controlar os custos do Medicare. De qualquer forma, o fardo de pagar pelo cuidado básico com a saúde cairia sobre o governo, não sobre os norte-americanos mais velhos. (A maior parte das críticas democratas sobre este ponto é baseada numa versão anterior e obsoleta da proposta.)
Você ainda está profundamente desconfortável com muitas outras propostas de Romney-Ryan. Mas vamos do início. A prioridade nesta eleição é conseguir um líder que possa colocar os custos do Medicare sob controle. Então podemos argumentar sobre todo o resto. Neste momento, é mais provável que Romney faça isso.
Tudo isso faz com que você olhe para os democratas e se pergunte: por que eles não têm uma alternativa? Silenciosamente, uma voz em sua cabeça está apelando para eles: corram atrás ou se calem.
Se os democratas não criarem uma alternativa em relação a esta questão crucial, como podem prometer liderar uma nação dinâmica em crescimento?
Tradutor: Eloise De Vylder

SHIRLEY HORN - OUR LOVE IS HERE TO STAY

sábado, 25 de agosto de 2012

CARRÉ OTIS

antoineverglas:

Carre Otis | Antoine Verglas

ADELE


Adele

RAMONES

MILES DAVIS

População da Islândia pode barrar entrada do país na União Europeia
Stephen Tindale (*) - Prospect
A Islândia é a democracia mais antiga do mundo. Numa época em que as instituições da União Europeia ainda estão sendo criticadas por um déficit democrático, a Islândia seria um membro valioso e bem-vindo do clube. Entretanto, a Comissão Europeia deveria continuar firme em suas demandas de negociação quanto aos setores pesqueiro e baleeiro.
A Islândia pediu para entrar na UE em 2009, logo depois da crise bancária do país. A ilha via a participação na UE como uma rota para a recuperação econômica. Dos 35 capítulos de negociação, 18 foram abertos, e dez deles foram provisoriamente completados.
O pedido de acesso da Islândia tem apoio entre os estados-membros. O principal obstáculo é que os próprios islandeses provavelmente o rejeitarão. Uma vez que as negociações estiverem concluídas, os islandeses votarão se querem ou não ser membros.
As pesquisas sugerem que um quarto votará sim, pouco mais da metade contra e um quinto indeciso. O apoio para o país se tornar membro caiu desde que as negociações começaram em 2009, em parte porque a Islândia se recuperou das crises bancárias de 2008 e da dívida, e está crescendo a uma taxa de 4% ao ano. Tornar-se membro da UE não é mais algo visto como fonte de estabilidade. Mas o apoio à ideia também caiu por causa da atual “guerra da cavala” por conta dos direitos à pesca, e o que os islandeses percebem como injustiça por parte da Comissão em relação à Icesave, o banco online de poupanças. O assunto totêmico da caça de baleia também precisa ser confrontado.
O Icesave era administrado pelo Landsbanki entre 2006 e 2008, com mais de 300 mil clientes no Reino Unido e 125 mil na Holanda. Mas em 2008, o Landsbanki passou a receber dinheiro. Os governos britânico e holandês argumentam que o governo da Islândia deve pagar 20 mil euros para cada depositante. Reykjavik argumenta que isso deixaria o banco com um saldo negativo de 2,6 bilhões de euros, o que teria de ser pago pelos contribuintes islandeses.
O tempo para negociar a Icesave já passou, uma vez que a questão agora está diante de um tribunal e metade da dívida foi paga. Então as principais questões de negociação são a pesca e a caça de baleias. A Comissão Europeia deveria continuar firme em ambas. Seria contraproducente baixar os padrões existentes na UE para atrair um novo membro. Se essa firmeza levar a Islândia a votar não num referendo, que seja.
A Islândia estabeleceu sua própria política de pesca, e o setor fornece 40% dos ganhos do país com exportação e 8% dos empregos. A atual disputa se concentra na cavala. A Islândia já aumentou sua quota anual para pesca de cavala de 2.200 a 160.600 toneladas. Reykjavik argumenta que isso é sustentável porque a mudança climática está resultando em mais cavalas em suas águas. A Comissão discorda e argumenta que a quota da Islândia está 36% acima do que é sustentável. A Irlanda, França, Portugal e Espanha estão demandando sanções. A Comissão ameaçou impedir que os navios da Islândia desembarquem a cavala nos portos da UE.
A UE, Islândia, Ilhas Faroe e Noruega vão se encontrar em setembro para negociar. Algum movimento por parte da Comissão para atenuar o argumento será compreensível. Mas a Comissão deve continuar a basear sua posição numa estimativa científica de uma pesca sustentável.
Na questão baleeira, a Comissão não deve mudar nada. Em 2006, a Islândia retomou a caça comercial de baleia fin e minke. A Noruega se juntou a ela, desafiando a moratória internacional sobre a caça comercial de baleias. A Islândia sempre caçou algumas baleias minke para “pesquisa científica”, então a decisão de 2006 fez pouca diferença prática para a minke – ela simplesmente representou o fato de a Islândia se tornar mais aberta sobre seus motivos para a caça de baleias. Mas representou um reinício na caça de baleia fin. As baleias fin são uma espécie ameaçada, mas a Islândia sustenta que existam baleias suficientes nas águas islandesas para que uma caça pequena seja sustentável.
Independente de se isso é correto ou não, não é relevante para as negociações da UE. As leis da UE proíbe a matança de quaisquer baleias, mesmo aquelas que são relativamente numerosas, como a minke. A lei da UE é baseada em parte na necessidade de proteger a biodiversidade, mas também na necessidade de evitar o sofrimento animal. A morte por arpão é particularmente dolorosa e normalmente lenta.
Nem todos os islandeses são a favor da caça de baleias. Enquanto observar baleias é uma parte importante de seu turismo – e o aumento do turismo é um dos motores da recuperação econômica. Mas alguns islandeses argumentam que matar baleias é uma parte importante de sua cultura e tradição. A cultura é importante, e a integração europeia precisa respeitar a maioria das tradições culturais, mas não todas elas – e não aquelas que envolvem crueldade com os animais.
A atual disputa sobre a Icesave e a recuperação da economia islandesa pode bem resultar em que a Islândia vote para não se tornar membro da UE, sejam quais forem as concessões que a Comissão oferecer em relação à pesca e à caça de baleias. A UE não deve baixar seus padrões, independentemente dos benefícios. Baixar esses padrões e não ganhar nada seria particularmente estúpido.
(*) Stephen Tindale é membro associado do Centro para Reforma Europeia
Tradutor: Eloise De Vylder

Em Portugal, auxílio familiar custará 15 horas de trabalho socialPara governo conservador, medida procura despertar "senso comunitário"
Fillipe Mauro - Opera Mundi
O governo de Portugal aplicou mais uma dura medida de austeridade à população com o objetivo de tentar reequilibrar suas contas públicas. A partir de agora, quem quiser ter acesso aos programas de auxílio familiar do governo deverá prestar pelo menos 15 horas de trabalhos sociais por semana. É o que prevê uma lei aprovada nesta sexta-feira (24/08) pelo Conselho de Ministros do país para “ativar o senso comunitário” dos beneficiários dos serviços de bem-estar social do Estado.
A medida se aplica a todos os portugueses em condições de trabalho e que não possuam crianças ou idosos como dependentes. Idealizada pelo ministro da Previdência Social, Pedro Mota Soares, ela seria um meio para promover “uma contribuição cívica muito importante em favor da comunidade para a comunidade na qual estão inseridos".
Em Portugal, esse programa de auxílio à renda familiar se chama RSI (Rendimento Social de Inclusão) e contempla hoje mais de 330 mil cidadãos. Em 2011, o número de beneficiários triplicou e, entre os últimos meses de janeiro e março, foram 11 mil os desempregados que pediram a concessão do benefício ao governo. Um dos critérios para receber os depósitos é o de que os rendimentos mensais do candidato não ultrapassem 189,52 euros.
O argumento do governo conservador do primeiro-ministro Pedro Passos Coelho é de que, desta forma, será possível motivar o trabalho social e, ao mesmo tempo, garantir "o desenvolvimento de outras formas de inclusão social, como a busca ativa por emprego e a ampliação das competências através da assistência à escolaridade obrigatória ou à formação profissional".
A primeira cidade a colocar em prática essa exigência é o Porto, local de onde parte o maior número de pedidos de RSI em todo o país. Em entrevista ao jornal espanhol El Mundo, seu prefeito, o também conservador Rui Rio, defendeu que o Estado exija “uma contrapartida das pessoas que recebem à ajuda”. A seu ver, “Portugal sempre deveria ter feito isso e agora mais do que nunca, porque cada vez mais pessoas pedem o RSI".
Para Rio, "muitos pensam que o Estado tem a obrigação de dar à população sem exigir nada em troca". Até agora, o Porto “empregou” 70 trabalhadores em serviços diversos com jardinaria e zeladoria de espaços públicos. Vinte abdicaram do RSI ao se recusarem a aceitar a medida.
"Financiamento da preguiça"
"Este país avança com trabalho, avança com aqueles que contribuem para a riqueza da nação, (...) não avança com financiamentos de preguiça", disse o ministro da Previdência Social de Portugal a jornalistas no último dia 9 de agosto, ao final de um ato de campanha.
Para Paulo Portas, presidente da coligação CDS-PP (Partido do Centro Democrático e Social-Partido Popular, respectivamente), principal partido da base aliada do governo Passos Coelho, do PSD (Partido Social-Democrata), a prioridade deve ser dada aos mais velhos. "É aí que é preciso gastar mais e investir melhor, em vez de ficar gastando dinheiro em um auxílio social chamado RSI, que só deveria ser dado provisoriamente", argumentou.
Para o líder conservador, existem "cada vez mais abusos, cada vez mais fraudes" por parte de beneficiários do RSI. "Gente que, pura e simplesmente, não quer trabalhar e quer viver a custa do contribuinte", acusou.
Medo marca os 20 anos de pior ataque a estrangeiros na Alemanha do pós-guerra
Rico Grimm - Der Spiegel
A viagem para Lichtenhagen leva 40 minutos de bonde. Essa é a distância do distrito do centro da cidade alemã de Rostock, no nordeste da Alemanha.
Lichtenhagen é lar do chamado Edifício Girassol. Há 20 anos, esse prédio de apartamentos de 11 andares abrigava uma chamada “central de acolhimento” de requerentes de asilo no Estado de Meckelemburgo-Pomerânia Ocidental. A maioria das pessoas que ocupava o prédio era de ciganos da Romênia, e trabalhadores vietnamitas que vieram para o leste da Alemanha para trabalho temporário quando ela ainda era um Estado comunista.
Em 22 de agosto de 1992, o prédio foi atacado por uma multidão, que atirou pedras e coquetéis molotov contra o edifício. O grupo de até 3 mil pessoas era composto tanto por transeuntes curiosos quanto baderneiros, e incluía muitas pessoas de Rostock, segundo testemunhas. Por cinco dias, a área foi tomada por uma atmosfera de massacre. Imagens de jovens enfurecidos, prédios em chamas e policiais em retirada circularam pelo mundo. Foi o distúrbio xenofóbico mais violento na história da Alemanha no pós-guerra. Lá estava ela de novo, aquela outra Alemanha sombria.
Hoje, os moradores da área alegam que a multidão era composta principalmente de “forasteiros”. Elas dizem que essas pessoas molestavam os ciganos acampados do lado de fora do prédio devido à sua lotação. Os moradores também dizem que foram “forasteiros” que atiraram os coquetéis molotov contra o prédio, prendendo 150 pessoas – a maioria vietnamita – em seu interior. Em sua defesa, eles acrescentam que sempre conviveram bem com os vietnamitas.
O jogo de culpa
De acordo com essas declarações, está claro que, duas décadas após os distúrbios, os moradores de Lichtenhagen continuam vendo a si mesmos como vítimas de forças externas. Eles também minimizam sua própria participação nos ataques. Mas nem todos. Por 20 anos, Wolfgang Richter tem tentado explicar o que aconteceu. “Começou com um assunto de Rostock”, ele diz.
Na época, Richter trabalhava para a autoridade municipal encarregada de lidar com os estrangeiros. Ele foi uma das pessoas que ficaram presas dentro do prédio e que testemunharam os distúrbios desde o início. Ele diz que apenas no domingo, 23 de agosto, é que os primeiros extremistas de direita chegaram e começaram a orquestrar a violência. “Os nazistas embarcaram em um trem em movimento”, ele diz.
Enquanto ainda estava preso no prédio, Richter prometeu a si mesmo: “Se você sair daqui vivo, você fará todo o possível para assegurar que os políticos responsáveis prestem contas”. Richter está convencido de que as autoridades poderiam ter impedido os distúrbios se tivessem reagido aos alertas, preocupações e queixas dos moradores da área.
Na época, os ciganos estavam acampados do lado de fora do Edifício Girassol e não eram autorizados a entrar no abrigo. Eles eram forçados a viver sob as sacadas e fazer suas necessidades nas moitas. Era um verão quente e a área cheirava mal.
As condições se tornaram insuportáveis, diz Erika Müller, que mora no prédio atualmente. “Os políticos nos abandonaram”, ela diz.
Müller é uma das poucas pessoas locais que falam abertamente e permitem que seu nome seja usado. Ela está cheia. Outras preferem minimizar o problema e permanecer anônimas. “Mas isso foi há muito tempo”, diz uma mulher na rua. “Nós não precisamos falar mais disso.”
Tentando manter as lembranças vivas
A mulher também não sabe o que pensar sobre a tenda no gramado atrás do antigo abrigo. A tenda é uma espécie de memorial temporário erguido para o aniversário pela “Bunt Statt Braun”, uma associação de Rostock que promove o entendimento intercultural e a tolerância.
A tenda, que é usada para abrigar oficinas para crianças e jovens, parece deslocada entre os prédios do complexo. Ela será acompanhada por vários palcos por toda a área no dia do aniversário, que ocorrerá neste fim de semana. Entre os oradores estará o presidente alemão, Joachim Gauck, que nasceu e cresceu em Rostock.
Muitos moradores locais prefeririam esquecer o episódio, mas a cidade e o país querem continuar falando a respeito. Por ocasião do aniversário, Rostock está realizando uma série de eventos sobre racismo, xenofobia e tolerância. Os professores no colégio em Lichtenhagen estão tentando “sensibilizar” seus alunos para esses assuntos. “Nosso aluno mais velho nasceu em 1994”, diz o diretor da escola, Olaf Meyer – em outras palavras, dois anos após os distúrbios. “Muitas crianças não têm ideia do que aconteceu na época.”
Lenkeit é uma imigrante vietnamita de 60 anos que prefere não ter seu sobrenome publicado. Na manhã de sexta-feira da semana passada (17), Lenkeit estava sentada no Son Ca, um mercado de alimentos asiáticos em Lichtenhagen, fazendo uma pausa após as compras matinais. Ha 20 anos, Lenkeit era uma das pessoas presas no Edifício Girassol. Ela só conseguiu sair depois que ela e outros conseguiram arrombar a porta que dava acesso ao telhado.
“Eu ainda tremo sempre que penso nisso”, diz Lenkeit em um alemão mal falado. “Mas sempre que novas pessoas chegam, nós contamos para elas sobre isso”. Quando fala em “novas pessoas”, ela fala sobre outros vietnamitas que se estabeleceram em Rostock – e seus filhos. Eles explicam aos recém-chegados o que aconteceu na época. Mas ou eles não explicam muito bem ou os jovens apenas não se importam.
Trâng Tran, 21 anos, não parece ter dado muita importância ao assunto. Ela percorre o mercado, indo de um lado para outro pelos corredores e então para o caixa, passando por camarão congelado e Budas dourados. “Eu acho que o Edifício Girassol pegou fogo”, ela diz. “Mas nunca entendi realmente como aconteceu.”
Medo e vergonha
Lenkeit está com medo de novo. Ela teme o fim de semana. “Talvez o NPD venha, perigoso”, ela diz, falando sobre o Partido Nacional Democrático (NPD) de extrema direita, que ganhou força no Estado. Descrito pela agência alemã de inteligência doméstica como um partido “racista, antissemita e revisionista”, o NPD conquistou 6% dos votos nas eleições estaduais em setembro.
Do lado de fora, uma moradora local passa pela tenda a caminho do supermercado. “Escreva que estou com pavor dos extremistas”, diz a mulher, que se recusa a dizer seu nome. A voz dela fica mais alta quando a conversa se volta para a tenda. “Eu nunca entro aí. Eu começaria a me queixar de novo. Se tentarem culpar a população local de novo... eu explodo!”
Dois homens entediados estão sentados dentro da tenda. Eles a armaram e agora têm que vigiá-la. Eles dizem que os moradores locais às vezes entram para olhar. Alguns deles até mesmo perguntam com preocupação se a tenda pertence ao NPD e se foi armada para o aniversário.
Toda a Alemanha está voltada para Lichtenhagen no momento. Ela quer se lembrar e marcar o aniversário das coisas terríveis que aconteceram aqui 20 anos atrás. Mas muitos moradores locais apenas querem ser deixados em paz. Eles estão reprimindo os eventos de 1992. “Ainda vai demorar até que muitas pessoas possam falar a respeito”, diz Meyer, o diretor da escola. “Porque elas têm vergonha do que aconteceu.”
Tradutor: George El Khouri Andolfato

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

JUDAS PRIEST - BLOOD RED SKIES

Brasil depende cada vez mais do capital estrangeiro
O Estado de S.Paulo
A situação das contas externas não é preocupante, mas cabe mostrar as fraquezas de alguns resultados que dependem mais do exterior do que da nossa capacidade administrativa.
O déficit das transações correntes, nos sete primeiros meses do ano, foi de US$ 29,1 bilhões, quase US$ 5oo milhões a menos do que no mesmo período do ano passado. Essa redução foi obtida basicamente pela queda no pagamento de serviços, que tem caráter conjuntural e pode sofrer uma modificação rápida, o que não é o caso da balança comercial enquanto o Brasil não conseguir aumentar sua competitividade.
O saldo da balança comercial, que nos sete primeiros meses do ano passado ficou em US$ 16 bilhões, caiu para US$ 9,9 bilhões de janeiro a julho deste ano. As exportações diminuíram, apesar da elevação do preço das commodities agrícolas, enquanto as importações, num período de crise, vêm subindo, como reflexo de um aumento da participação de insumos e produtos importados na fabricação de bens acabados no Brasil.
O saldo dos juros diminuiu, tanto do lado das receitas quanto do das despesas, com a redução de nossos empréstimos ao exterior. Todavia, essa redução não é tão significativa como a que se registra no saldo dos lucros e dividendos, que está caindo: de US$ 20,5 bilhões, em 2011, para US$ 11,7 bilhões, neste ano. Isso se explica pela queda no ritmo dos negócios e pela desvalorização do real ante o dólar, que torna as remessas muito mais caras. Pode-se imaginar que uma reação da conjuntura aumentaria o déficit das remessas.
Quanto aos serviços, merece destaque o fato de que os saldos de receitas e despesas de viagens internacionais estão se mantendo, não acusando grandes variações - situação que se verifica também no caso dos transportes. Os aluguéis de equipamentos crescem um pouco, em razão da ação da Petrobrás.
O que deveria preocupar é a razão entre o déficit das transações correntes e a conta capital e financeira. No ano passado, essa conta capital cobria 171% do déficit das transações correntes. Este ano, cobre 65,9%.
Assim, o Brasil depende essencialmente dos investimentos diretos e dos empréstimos estrangeiros. Os investimentos estrangeiros continuam elevados, na casa dos US$ 38 bilhões, mas só continuarão no ritmo atual no quadro de uma economia crescente. Não é o caso dos empréstimos, que reagem mais rapidamente a uma deterioração da qualidade do crescimento e estão acusando forte redução.
Caindo na real
O Estado de S.Paulo
Depois de dois meses de uma greve que colocou em pé de guerra cerca de 400 mil funcionários públicos federais e está transtornando a vida dos cidadãos em áreas vitais como a da saúde, agora são os trabalhadores rurais que desafiam o governo. Na quarta-feira, ameaçaram invadir o Palácio do Planalto para protestar contra o que consideram a baixa estima que os atuais governantes lhes dedicam. As fotos estampadas nos jornais e as imagens mostradas pela televisão, de policiais em confronto com os sem-terra, colocam em foco uma questão que certamente está tirando o sono do lulopetismo, às vésperas de eleições: aonde foi parar aquele país em que, como nunca antes na história, o governo só praticava bondades?
A abusada greve, que já fez a presidente Dilma Rousseff perder a paciência e mandar cumprir a lei, com o desconto em folha dos dias parados, e agora a manifestação de protesto em Brasília de mais de 7 mil representantes de cerca de 30 entidades ligadas ao campo - acontecimentos semelhantes a esses, no passado, teriam Lula à frente, esbravejando contra "as elites" - são uma demonstração de que o Brasil está caindo na real depois de um longo torpor em que parecia mergulhado por obra dos delírios de grandeza de uma liderança populista e demagógica que se atribui louros muito mais gloriosos do que aqueles que efetivamente conquistou ao fazer o País avançar social e economicamente na onda de prosperidade em que o planeta surfava até 2009.
A principal diferença entre os governos de Lula e de Dilma Rousseff no trato das questões sociais é que os reflexos da crise econômica mundial agora batem forte por aqui, o que tem diminuído a margem de manobra do Palácio do Planalto para atender às demandas salariais. Durante anos, o governo Lula beneficiou o funcionalismo federal com reajustes acima da inflação, que recompuseram com sobras o poder de compra de centenas de milhares de servidores. É normal que se tenham acostumado a esses benefícios, principalmente porque, tendo o PT fincado pé na administração federal, se consolidou entre a insaciável companheirada a convicção de que o Estado deve ser o Grande Provedor.
Nada justifica, no entanto, os abusos de grevistas que têm provocado enormes prejuízos e dificuldades para a população que lhes paga os salários. Na área da saúde, graves problemas no atendimento de usuários da rede hospitalar pública; atrasos em exames laboratoriais devidos à falta de reagentes importados que estão detidos nos portos e aeroportos; a desmarcação de cirurgias por falta de material. Na indústria, a paralisação de linhas de produção em decorrência da falta de insumos importados que não são liberados pelos agentes alfandegários. No âmbito das Polícias Federal e Rodoviária, primeiro o bloqueio de estradas e, depois, a insolência de colocar num posto da Via Dutra o seguinte cartaz: "Passagem livre para traficantes de armas e drogas". No que se refere às Relações Exteriores, a interrupção do fluxo normal de emissão de passaportes e vistos.
Não é de admirar, portanto, que a presidente Dilma tenha ordenado rigor na aplicação das represálias legais aos abusos dos grevistas, inclusive o desconto em folha dos dias parados, que as lideranças sindicais têm o cinismo de classificar de "injustiça". O que é compreensível, uma vez que, como já relevou o Estado, havia um acordo tácito entre governo e lideranças de servidores para que os descontos motivados por greves se limitassem a uma semana de salário.
Diante dessa realidade, chegam a ser patéticas as platitudes ditas pelo ex-presidente Lula, que voltou a deitar falação sobre tudo e todos: "O governo tem de trabalhar com o dinheiro disponível. As pessoas, de vez em quando, precisam compreender que o governo não tem todo o dinheiro que a gente quando está fora pensa que tem. O dinheiro é limitado. O governo nem sempre pode atender aquilo que as pessoas querem". Tivesse esse bom senso elementar, quando chefiou o governo, e talvez não tivesse comprometido as finanças públicas com salários nababescos.
A lógica da 'total balbúrdia'
O Estado de S.Paulo
Em dado momento da detalhada fundamentação do seu voto pela condenação do ex-diretor de marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato por corrupção passiva, peculato e lavagem de dinheiro nas suas transações com o publicitário Marcos Valério e associados, também incriminados, o revisor do processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, feriu, como dizem os juristas, a razão última de ser do aparelhamento do Estado nacional na era Lula. Depois de passar o pente-fino nos autos que tratam do desvio de recursos públicos na administração federal no período coberto pela denúncia, o ministro atinou com a lógica da aparente loucura, ou, nas suas palavras, a "total balbúrdia" que reinava na área do Banco do Brasil (BB) comandada por Pizzolato - uma amostra fidedigna do ambiente, condutas e fins disseminados no governo petista.
Logo nos meses iniciais do seu primeiro mandato, como revelou à época a jornalista Eliane Cantanhêde, da Folha de S.Paulo, o presidente Lula trocou 21 dos 33 ocupantes dos principais cargos do BB e instalou companheiros em sete vice-presidências e na maioria das diretorias da instituição, entre outros postos relevantes. Sem demolir uma estrutura baseada exclusivamente no mérito de funcionários de carreira (somente três cargos da cúpula do banco podiam ser preenchidos por quem não fosse concursado) dificilmente ocorreria a negociata - para ficar apenas nesse caso comprovado de ponta a ponta - pela qual a DNA, uma das agências de Marcos Valério, recebeu indevidamente mais de R$ 73 milhões do Fundo Visanet, de que o Banco participava, e premiou Pizzolato com R$ 326 mil em dinheiro vivo. Por sinal, a exemplo do que fizera na véspera o relator Joaquim Barbosa, Lewandowski reduziu a nada, na sua manifestação da quarta-feira, as alegações de inocência do acusado, já de si implausíveis.
Custa crer, do mesmo modo, que ele seria apenas a proverbial maçã podre do cesto de frutas em ótimo estado. Ou que cometesse os seus atos ilícitos à revelia de seus pares - menos ainda dos seus interlocutores no partido a que servia. A balbúrdia que o ministro identificou em um setor do BB que despendia, por suas naturais atribuições, grossos valores tampouco era expressão de desmazelo. "Essa falta de sistemática", apontou Lewandowski, ao destacar a precariedade das autorizações - dadas até por telefone - para vultosos repasses, tinha, a seu ver "um propósito". O que se apurou do escândalo do mensalão, antes e depois da abertura do processo no STF, deixa patente que propósito era esse. O aparelhamento do Banco do Brasil, assim como de outras entidades da administração indireta, sem falar do governo propriamente dito, não servia apenas para empregar sindicalistas e políticos derrotados em eleições - despreparados, quase sempre, para as funções que exerceriam.
Além disso, a ocupação do Estado sob Lula, notadamente dos seus ramos mais "lucrativos" em potencial, criou as condições necessárias para a manipulação de recursos públicos em benefício do partido que assumira o poder depois de atear fogo a suas vestimentas éticas ostentadas anos a fio - como evidenciaram os pagamentos prometidos pelo PT a políticos de outras legendas ainda na campanha presidencial em troca de apoio ao seu candidato. Mesmo que se tome pelo valor de face a versão petista de que a isso - e não para remunerar parlamentares pelos seus votos em favor do governo - se destinavam os milionários empréstimos conseguidos mais tarde graças ao bons ofícios de Marcos Valério, o acesso ao erário era indispensável para pôr o esquema em movimento, beneficiando em primeiro lugar o seu operador. O mensalão, ao que tudo indica, foi a ponta de um iceberg de proporções ainda por medir.
Esse não é o retrato completo dos anos Lula. Na Petrobrás, que forma com o Banco do Brasil a joia da coroa das estatais, pode não ter havido o que se denunciou e se comprovou na sesquicentenária instituição financeira, mas, aparelhada, ela não cumpriu uma única meta em sete anos - a ponto de a presidente Dilma Rousseff ter nomeado para a sua presidência a executiva Graça Foster com a missão de dar um choque de gestão na empresa. Em suma, com as clássicas exceções que confirmam a regra, o que não era preparo de terreno para corrupção era incompetência premiada.

DÓRICAS

Não usaram black-tie
Dora Kramer - O Estado de S.Paulo
A facilidade e a clareza com que o relator Joaquim Barbosa e o revisor Ricardo Lewandowski desmontaram as versões dos advogados de defesa sobre a acusação do desvio de dinheiro para as empresas de Marcos Valério em troca de vantagens pessoais para o então diretor de Marketing do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato, dão conta da existência de uma organização criminosa sim, mas muito pouco sofisticada.
No aspecto examinado pelos dois ministros, a definição usada na denúncia da Procuradoria-Geral da República estaria mais bem traduzida se a qualificasse como tosca, face à privação de sutileza na arquitetura da obra.
Há muito a ser contado ainda, mas pelo que se sabe até agora não existiu preocupação com o requinte. Ao contrário: as ações eram feitas às escâncaras como se não houvesse amanhã, nem limites para um grupo que se sentia seguro na posse de um Estado aparelhado.
Foram usadas notas frias para justificar serviços não prestados, adulterados documentos para dar veracidade a versões falsas, autorizados repasses de dinheiro pelo telefone, no que o revisor descreveu como um ambiente de "total balbúrdia" reinante na administração do departamento de marketing do Banco do Brasil.
As desculpas esfarrapadas também dão conta da ausência de fino trato. Na defesa são citadas como evidências de boa-fé. Exemplo: por que o deputado João Paulo Cunha teria enviado a mulher à boca do caixa de uma agência de shopping center do Banco Rural em Brasília para receber um dinheiro contra assinatura de recibo se tivesse algo a esconder?
Porque era a pessoa de mais confiança, um seguro de que o assunto ficaria em família. Por que o deputado mentiu inicialmente dizendo que a mulher havia ido ao banco para pagar fatura de TV a cabo se não tivesse nada a esconder?
Sorte dele é que o revisor levou em conta a "verdade processual", que não inclui a contradição anterior.
Já da grosseira explicação de Henrique Pizzolato a respeito das andanças de um envelope com R$ 326 mil, relator e revisor fizeram picadinho. Uma lorota simbólica da ausência de rigor na montagem de um esquema baseado na confiança da impunidade.
Calma no Brasil. As reiteradas tentativas de se adivinhar o comportamento do Supremo, em particular o voto dos ministros, têm levado a precipitações que ora contribuem para a desinformação ora para uma exacerbação artificial do clima de beligerância na Corte.
De onde por vezes se tem a impressão de que estejam sob o crivo da suspeita os magistrados e não os réus.
Desde o início o contraditório natural, e até essencial, de um processo complexo como esse vem sendo confundido com uma guerra de egos, de posicionamentos políticos pessoais e de desacerto na condução das audiências.
A realidade, porém, contradiz essas suposições em boa medida alimentadas pelas defesas dos acusados às quais se tem dado ouvidos de maneira pouco criteriosa. Lançam-se dúvidas sobre a imparcialidade dos juízes sem levar em conta a parcialidade inerente à função dos advogados.
Nessas três semanas, não obstante previsões, algumas catastróficas, restou demonstrado que a sistemática escolhida pelo relator facilita o entendimento e que o revisor tem exata noção do conceito de submissão ao rito.
O modelo inclusive o permitiu fazer uma exposição bastante clara, organizada e concatenada. Digna de registro é a opção de ambos pelo uso do português, em detrimento do habitual juridiquês, numa mostra de respeito ao sagrado direito do público de compreender.
Haverá discordâncias? Muitas, como a primeira exposta ontem. Mas o colegiado é maior de idade, resolve os conflitos desviando-se dos atropelos e conduz o julgamento sem protelação.
Observação final: voto é convicção, mas Ricardo Lewandowski não precisaria ter transformado o seu em celebração ao fazer um "desagravo" a Luiz Gushiken. Bastava absolvê-lo.

ELIÂNICAS


'Se manda!'
Eliane Cantanhêde - FSP
BRASÍLIA - Saí do trabalho pouco depois das 21h para jantar com uma "fonte" (no jargão dos jornalistas, pessoa que tem informações importantes), e estava voltando para casa já no início da madrugada, sozinha, dirigindo, quando percebi que um carro me seguia. Frio na barriga, pé no acelerador. Primeira curva, segunda, até concluir, na terceira, que a brincadeira estava ficando perigosa. Decidi frear, para que o carro seguisse em frente e me deixasse em paz. "Quem sabe não é um garotão fazendo 'pega'?"
Não era. O carro, um sedã caro, me ultrapassou e deu um cavalo de pau, trancando a pista. Dois homens armados com revólveres desceram. Um deles, bem jovem, gritando: "Sai do carro, sai do carro, se manda!".
Voluntariosa, minha mão direita engatou a ré. Mas o cérebro e o pé abortaram a ideia, que passou rápida, na velocidade da luz. Jamais reagir, diz o manual. É para sair do carro? Vamos sair. Agarrei o celular, abri a porta, virei de costas, aliviada por não me levarem. Já sofri sequestro-relâmpago, sei o que é.
Desta vez, não quis ver caras, placa, o modelo de carro, nenhum detalhe. Meu sentido de autopreservação venceu a minha (considerada imbatível) curiosidade jornalística.
Lá se foram eles, me deixando na rua, com frio, assustada, tentando agir, sem lembrar o número da polícia, mas martelando o que a gente vê todo dia nos seriados policiais americanos na TV: "Call 911". Qual é o "911" no Brasil, ou em Brasília? Sei lá. Acho que a gente não tem o hábito de chamar a polícia.
Horas antes, a filha do ministro da Pesca, Marcelo Crivella, tinha sofrido sequestro-relâmpago em plena hora do almoço, num local movimentado, improvável. E assim se descobriu que, de 13 a 19 de agosto, houve 16 crimes desses no DF.
A capital da República está perigosíssima, mas essa não é uma exclusividade dela. A violência no Brasil está fora de controle.
Ódio para todos
Nelson Motta - O Estado de S.Paulo
Na Itália democrática de 1986, a anárquica Rádio Radicale queria saber o que pensavam seus ouvintes e ofereceu um número de telefone grátis, prometendo colocar no ar, sem cortes, todas as mensagens de um minuto que fossem gravadas anonimamente nas suas secretárias eletrônicas. Durante um mês, dia e noite, todo o país ouviu estupefato uma torrente dantesca de insultos, xingamentos, preconceitos, canalhices, palavrões, blasfêmias e covardias.
Milaneses contra napolitanos, romanos esculachando sicilianos, napolitanos detonando florentinos, pobres amaldiçoando ricos, ricos debochando de pobres, fascistas achincalhando comunistas e vice-versa, mulheres barbarizando homens, gays, o papa, num vale tudo de todos contra todos, até a rádio ser fechada sob a acusação de vilipendiar as instituições e fazer apologia do fascismo.
Para um estrangeiro como eu, o festival de ódio turbinado pela exuberante verve peninsular era de matar de rir, mas para meus amigos italianos era de matar de vergonha. Como se odiavam, como eram ressentidos, invejosos, intolerantes, apesar dos seus séculos de cultura e civilização, lamentavam os intelectuais. Os políticos tentavam minimizar como um "desabafo nacional" passageiro. O vero é que a combinação de liberdade e anonimato trouxe o pior dos italianos à tona, sem censura, do fundo do coração. E, como dizia minha avó, a boca fala das abundâncias do coração. Pelo menos eles perderam algumas velhas ilusões e ficaram se conhecendo melhor.
Mas, nem o anarquista mais otimista poderia imaginar que era apenas uma modesta antecipação da plena liberdade de opinião na era da internet. Hoje, qualquer um pode descarregar anonimamente todos os seus ódios, insultos e maldições sobre quem ou o que quiser, em texto, áudio ou vídeo. Não apenas suas opiniões, crenças ou ideologias, mas todos os dejetos digitais que revelam mais do malfalante que do malfalado.
Nelson Rodrigues dizia que, se todo mundo soubesse da vida sexual de todo mundo, ninguém falaria com ninguém. Imaginem se todos soubessem os nomes e as caras dos autores das mensagens de ódio na internet.
Pesquisadores detectam doença semelhante à Aids
Contraída por infecção, ela afeta o sistema imunológico
Opera Mundi
Cientistas norte-americanos identificaram uma nova e misteriosa enfermidade que ataca o sistema imunológico e provoca sintomas similares ao vírus da Aids. Eles foram detectados em dezenas de pessoas na Tailândia, Taiwan e Estados Unidos, e que não são portadoras do vírus HIV. A informação foi divulgada na revista científica “New England Journal of Medecine”. As informações são da agência de notícias Associated Press.
Ao contraírem a doença, o sistema imunológico dos pacientes ficou frágil e incapaz de se defender de germes e outros problemas. A causa dessa doença é desconhecida, mas, após as primeiras investigações, não parece ser contagiosa.A principal forma de contraí-la parece ser através de infecções.
Segundo Sarah Browne, cientista do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, essa nova imunodeficiência foi encontrada nos países asiáticos pela primeira vez em 2004, mas não é hereditária, só afeta adultos e não se espalha através de vírus.
No geral, a doença se desenvolve em torno de 50 anos de idade, mas não é uma característica de grupos familiares, o que torna improvável a causa genética, disse Browne.
De acordo com Dennis Maki, especialista em doenças infecciosas da Universidade de Wisconsin, em Madison, é possível que algum tipo de infecção desencadeie a doença, mesmo que a doença em si não se propague de uma pessoa para outra. Alguns pacientes morreram de fortes infecções, entre eles alguns asiáticos que vivem nos Estados Unidos.
O HIV destrói células T, responsável por defender o sistema imunológico. Por outro lado, a nova doença não afeta as células, mas causa um tipo diferente de danos no organismo. Em um estudo feito com mais de 200 pessoas, Browne descobriu que a maioria dos pacientes criava anticorpos que bloqueavam o interferon gama, um sinal químico que ajuda o corpo a eliminar as infecções.
Assim, a doença deixa a pessoa vulnerável a vírus, infecções por fungos e parasitas, mas especialmente micobactérias, um grupo de germes semelhantes a tuberculose, que pode causar danos graves nos pulmões.
Como os antibióticos nem sempre são eficazes, os médicos têm tentado várias abordagens, incluindo medicamentos contra o câncer que ajudam a suprimir a produção de anticorpos. A doença desaparece assim que a infecção é controlada, mas como afeta o sistema imunológico, se torna uma condição crônica, dizem os especialistas.

ALEMANHA: BICHOLÂNDIA EM FÚRIA

Declaração de funcionária do governo alemão contra casamento gay provoca revolta na internet
Der Spiegel 
Em comentários publicados em jornal conservador alemão, funcionária do governo pediu que seu partido defendesse o casamento e a família
Katherina Reiche imaginava estar apenas reiterando a posição pró-família tradicional de seu partido. Mas os comentários feitos por ela esta semana sobre o casamento gay provocaram uma enxurrada de protestos. De fato, a fúria pela Internet atingiu tamanha dimensão que Reiche tirou do ar sua própria página no Facebook.
Em comentários publicados na edição da última terça-feira (21) do jornal “Bild”, Reiche pediu ao seu partido, a União Democrata Cristã (CDU) de centro-direita, que defendesse as instituições do casamento e da família. “Nosso futuro está nas mãos da família, não nas uniões civis de mesmo sexo”, ela disse, em reação a um debate recente na Alemanha sobre os direitos de casais de gays e lésbicas nas uniões civis. “Depois da crise do euro, a mudança demográfica é a maior ameaça à nossa prosperidade”, ela acrescentou, em uma referência à expectativa de que a baixa taxa de natalidade da Alemanha faça a população encolher dramaticamente nas próximas décadas. A CDU, ela disse, “deve dizer claramente que defende a família, os filhos e o casamento”.
Desde que os comentários de Reiche foram publicados, ela se tornou alvo de ataques nos fóruns de Internet, com os usuários a chamando de “homofóbica” e “pregadora do ódio contra os homossexuais”. Apesar de ter tirado do ar sua própria página no Facebook, após uma enxurrada de comentários, uma nova página no Facebook chamada “Sem Futuro com Katherina Reiche” recebeu mais de 6 mil “gostei” em um dia após ter sido criada. Uma carta aberta para Reiche na página dizia: “Seus comentários são um tapa na cara de todas as famílias que não correspondem às suas normas tradicionais”.
Mas os comentários de Reiche não são os únicos provocando a ira dos usuários de Internet alemães nesta semana. Um editorial no tabloide “Bild” na quinta-feira (23), escrito pelo antigo comentarista – e ex-editor-chefe do jornal – Franz Josef Wagner, provocou uma onda própria de ultraje. Em um editorial na segunda página, ele escreveu: “O Ministério da Justiça deseja tornar as uniões civis iguais aos ‘Casamentos-Papai-Mamãe-Bebê’. (...) Isso me deixa nauseado”. Ele prosseguiu: “Antes, os homossexuais eram sentenciados a penas de prisão. Que tempos gloriosos para você. Ninguém mais prende você, você pode amar seus parceiros e você é autorizado a amá-los”. A sugestão é clara: fique feliz por poder viver a vida fora da prisão.
Além de notar que os gays na Alemanha não apenas eram presos no passado, mas também assassinados em campos de concentração como Sachsenhausen, Christian Mentz, o editor da “Siegessäule”, uma revista de Berlim voltada para gays e lésbicas, também escreveu: “Eu não apenas fico enojado, eu quero vomitar quando penso em gays e lésbicas, incluindo aqueles que têm responsabilidade de criar filhos, lendo suas palavras”.
‘Indo longe demais’
Mas grande parte dos comentários nesta semana se concentrou em Reiche. Em uma declaração publicada na terça-feira, a Federação de Gays e Lésbicas da Alemanha (LSVD) criticou Reiche e outro membro conservador do Parlamento por seus comentários. “Por dias, políticos conservadores estão polemizando contra gays e lésbicas de modo inaceitável, em uma linguagem que normalmente esperamos apenas de populistas e extremistas de direita”, dizia a declaração.
Reiche também enfrentou críticas de dentro de seu próprio partido. “Não denigra indiretamente a mim e à minha vida como uma ‘ameaça à nossa prosperidade’”, escreveu Jens Spahn, um membro do Parlamento pela CDU, no Twitter. “Isso está indo longe demais.” A ala jovem da CDU no distrito eleitoral de Reiche, em Potsdam, perto de Berlim, também expressou sua “indignação com os comentários” em uma declaração. “A visão de mundo humanista da sra. Reiche parece terminar na cerca de seu próprio jardim”, disse Tino Fischer, chefe da ala jovem de Potsdam, em comentários para o jornal “Märkische Allgemeine” de Potsdam.
Reagindo às críticas, Reiche disse ao “Bild” que “aquelas pessoas que mais clamam por tolerância são claramente as mais intolerantes”.
Os comentários foram feitos dentro do contexto do recém-inflamado debate na Alemanha sobre as uniões civis para casais gays e lésbicos, coloquialmente tratado como “casamento gay”. Apesar da CDU e de seu partido irmão bávaro, a União Social Cristã (CSU), não terem buscado derrubar a legislação de união civil, que entrou em vigor em 2001, ambos são conhecidos por sua mensagem em prol dos “valores tradicionais da família” e por buscar preservar um status especial ao casamento heterossexual.
Divisão nas uniões civis
Mas está claro que a CDU está dividida em torno da questão das uniões civis. Um grupo de legisladores da CDU lançou recentemente uma iniciativa para conceder aos casais em uniões civis os mesmos benefícios de declaração conjunta de imposto de renda que os desfrutados pelos casais heterossexuais casados. A ministra da Família alemã, Kristina Schröder, da CDU, também manifestou recentemente seu apoio às uniões civis. “Nas parcerias de vida lésbicas e gays, as pessoas assumem uma responsabilidade duradoura uma pela outra, vivendo assim de acordo com os valores conservadores”, ela disse. Na quarta-feira (22), o jornal “Süddeutsche Zeitung” noticiou que o Ministério da Justiça alemão, que é controlado pelo parceiro menor da CDU na coalizão de governo, o Partido Democrático Livre pró-empresas, deseja reescrever dezenas de leis para incluir claramente os casais de mesmo sexo.
Observadores apontaram que Reiche, uma alta funcionária do Ministério do Meio Ambiente, também estava criticando indiretamente seu próprio chefe, o ministro do Meio Ambiente, Peter Altmaier, com seus comentários. Altmaier disse em entrevistas que está feliz vivendo sozinho e descreveu a si mesmo como “solteiro permanente” – provocando especulação na mídia alemã de que ele é um homossexual não assumido.
Os críticos de Reiche também apontaram para o fato de que a política de 39 anos também se afastou do modelo tradicional de família em seu próprio estilo de vida. Apesar de Reiche ser casada e mãe de três, dois de seus filhos nasceram fora do casamento.
Tradutor: George El Khouri Andolfato
Governo francês quer estimular carreira de professor
Maryline Baumard - Le Monde
O “emprego para o futuro” [emploi d’avenir] de 2013 tem duas faces. De um lado, Michel Sapin, o ministro do Trabalho, propõe aos “sem qualificação ou pouco qualificados”, residentes em zonas urbanas sensíveis (ZUS) e na faixa etária dos 16 a 25 anos, que se candidatem a um dos 94 mil postos de empregos para jovens que ele oferece para 2013 ou a um dos 38 mil previstos para 2014. Do outro, Vincent Peillon, ministro da Educação, apresenta a 6 mil estudantes inscritos no segundo ano da graduação (L2) a possibilidade de um “emprego para o futuro professor” em 2013. Portanto, sob a mesma denominação andarão lado a lado os sem-diploma e futuros professores.
Sapin preferia não ter cedido 18 mil empregos para o futuro em três anos (12% dos 150 mil previstos) ao ministro da Educação, pois não tinha vontade de restaurar uma incubadora de futuros professores com a verba de seu ministério. Peillon prevaleceu. Pela prioridade ao ensino, ele conseguiu até mesmo pré-recrutar seus futuros professores já no segundo ano de estudos.
Seus 18 mil postos – cujo recrutamento deverá começar já em janeiro de 2013 – em três anos, de 2013 a 2015, serão distribuídos entre as regiões onde poucos estudantes se candidatam ao concurso para professores primários, e os estudantes de disciplinas nas quais a substituição é difícil de ser feita nos colégios. É o caso sobretudo de matemática e de física, mas também das línguas antigas.
O projeto de lei que será apresentado ao conselho dos ministros no dia 29 de agosto prevê oferecer os empregos para o futuro professor a jovens bolsistas que querem passar no concurso para lecionar, mas que poderiam ficar tentados a abandonar seus estudos por falta de meios.
Ao contrário dos empregos para o futuro de Sapin, os de Peillon poderiam não se dirigir a jovens que residam obrigatoriamente em ZUS, uma vez que as universidades e seus alojamentos raramente se situam nessas zonas! Além disso, o governo, por uma maior legibilidade política, teria preferido conceder esses empregos 75% subsidiados pelo Estado somente a estudantes bolsistas. O Conselho do Estado questionou o risco de ruptura da igualdade diante dos concursos.
A fórmula tem diversas vantagens, na visão de Peillon. O ministro gostaria de dar à profissão de professor o papel de escada social que por muito tempo ela exerceu. Tanto que o emburguesamento dessa profissão, em andamento há vários anos, se acelerou com a reforma da Licenciatura – que exige um bac+5 [cinco anos de estudos após o colegial] para prestar o concurso para professor. O governo socialista vê ali também um meio de ajudar os jovens mais pobres a realizar estudos mais longos. “Não é aceitável que continuem não oferecendo vagas em um setor tão prioritário quanto a educação, nem que estudantes desistam de se candidatar por razões financeiras”, explica a apresentação dos motivos do projeto de lei.
Apoio escolar
Os empregos para o futuro professor permitirão que os jovens ganhem uma soma média de 900 euros (cerca de R$ 2.280) por mês, “somando o auxílio vinculado ao mecanismo e as bolsas por critérios sociais do ensino superior por meio período dentro de um estabelecimento escolar”. Em troca, a missão deles está prevista para mudar entre o 2º ano de graduação e o 1º da pós. No primeiro ano, poderá ser pedido a eles que atuem como monitores, e, no último, que deem apoio escolar. Mas essas tarefas, que variarão de acordo com as disciplinas e as necessidades, “devem ser pensadas como uma trajetória de inserção profissional com o estabelecimento ao qual o estudante está associado; uma atividade remunerada que permita aprender sua profissão”, estipula o projeto. O número de horas trabalhadas poderá variar ao longo de três anos, uma vez que uma hora de apoio escolar não equivale a uma hora de monitoria.
Os jovens estudantes que se candidatarem “se comprometerão a seguir um treinamento inicial em um estabelecimento de ensino superior e a se inscrever em um concurso de recrutamento do corpo docente do ensino nacional”, especifica o projeto de lei.
O ministério concebe essa fórmula como “um setor de excelência”. Os professores universitários serão encarregados de localizar os jovens dignos de mérito. Para além do papel social da fórmula, e suas virtudes em matéria de pré-formação dos professores, a medida tem como principal justificativa permitir que François Hollande garanta o recrutamento de 60 mil professores que ele prometeu. Sem restaurar a incubadora de candidatos aos concursos, isso teria sido impossível. Com os empregos para o futuro professor, isso não será simples em todas as disciplinas.
Tradutor: Lana Lim

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

WALL-E

HENDRIX

JOHN COLTRANE

theimpossiblecool:

Coltrane.

FRANK SINATRA E DEAN MARTIN

life:

Frank Sinatra and Dean Martin share a light moment during their recording sessions for Sleep Warm in 1958. (Allan Grant—Time & Life Pictures/Getty Images)
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CHET BAKER

varyagi:

theimpossiblecool:

Baker.

DÓRICAS

Cansaço de guerra
Dora Kramer - O Estado de S.Paulo
Celso Russomanno pode se eleger prefeito de São Paulo, bem como pode não resistir à supremacia do tempo de televisão e à força das máquinas federal, estadual e municipal que trabalham para levar a tradicional dicotomia entre PT e PSDB à reta final da disputa tida como a mais importante dessas eleições.
Tanto faz. Ainda que o "azarão" sucumba ao peso das estruturas, os presumidos favoritos chegarão ao segundo turno sob o efeito de uma mensagem do eleitorado que, se bem compreendida e traduzida, lhes será de grande utilidade para o futuro.
O recado é claro: notadamente nas grandes cidades - e a maior delas sai na frente na exposição dessa evidência - o eleitor preza sua autonomia, não segue o roteiro montado nas "oficinas" partidárias nem responde aos ditames das regras do manual do político profissional.
Como se dissesse: não tentem me manipular, não queiram me enquadrar porque tenho autonomia de voo.
Pelo "livrinho" de ritos, Russomanno serviria ao PT para impedir a ampliação do quadro de alianças e para tirar votos do PSDB. A este, a presença do candidato do PRB prestaria o mesmo serviço com sinal trocado, além de avançar sobre a periferia órfã com a ausência de Marta Suplicy da disputa e da campanha.
Na teoria, tudo bem montadinho em conformidade com as normas da esperteza. Na prática, um belo de um fiasco.
Inevitável? Depende. Se considerada a defasagem da cabeça da maioria dos políticos em relação às demandas de quem os escolhe, a resposta é positiva.
Quando tomam a si mesmos como referência e consideram que suas manobras terão o efeito desejado por obra de uma programação teórica cujo parâmetro é o prejuízo que podem impor ao adversário, são inevitavelmente pegos de surpresa.
Não por falta de exemplos. Do pragmatismo do eleitorado já se tem amplo conhecimento. Votou pela estabilidade econômica com o mesmo sentimento que aderiu ao misto de distributividade social e benesses consumistas oferecidas pelo grupo sucessor e com igual desprendimento incorporou os feitos como conquistas suas, sem se sentir na obrigação de retribuir.
O eleitor quer sempre mais, aconchega-se a quem enxerga como defensor de seus interesses. E o que é Celso Russomanno nessa perspectiva senão um paladino do consumidor/eleitor, seja de produtos ou de maus serviços prestados pelo Estado?
Entrou com força em cena no exato momento em que os dois principais atores, PT e PSDB, davam sinais de cansaço apegando-se a velhas fórmulas: os tucanos apostando que Serra poderia representar um porto seguro e os petistas escorando-se na figura de Lula e na receita exitosa da eleição de Dilma Rousseff.
Nenhuma inovação, nenhuma concessão consistente à expectativa de mudanças. Boas, más, inócuas ou mesmo falsas, o eleitorado está sempre em busca delas.
Nessa avaliação não entra o cotejo do erro ou do acerto. Voto, pelo que já se viu, não tem vacina nem prima pela excelência do mérito.
Russomanno na essência repete a fórmula de Fernando Collor, que em 1989 atropelou todas as figuras eminentes da República - Ulysses, Covas, Lula, Brizola, Maluf e companhia - no vácuo do cansaço preenchido com promessas justiceiras de algo compreendido pelo eleitor como "novo" por transitar numa linha de identificação com suas demandas.
O mesmo conceito pode ser transposto para a eleição presidencial de 2014. Por inércia e ausência de contraponto, Dilma por ora encarna o papel.
Mas, se daqui até lá a economia não assegurar conforto e o governo não conseguir lidar com suas gritantes falhas de gestão - em boa medida herdadas do modo publicitário petista de governar - haverá espaço aberto para qualquer tipo de aventura.
Não necessariamente igual àquela que terminaria em impeachment. Não quer dizer que a história vá se repetir, mas significa que as forças políticas que pretendem disputar o poder em 2014 precisam estar atentas ao esgotamento que impõe urgente renovação das respectivas cartilhas.

ELIÂNICAS

'Total balbúrdia'
Eliane Cantanhêde - FSP
BRASÍLIA - O relator, Joaquim Barbosa, e o revisor, Ricardo Lewandowski, vivem às turras, mas numa coisa concordam: o ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato é culpado. E mostram que o BB, instituição tão respeitável, estava a serviço de interesses escusos.
Para Lewandowski, a área de publicidade do banco era uma "total balbúrdia", serviços eram pagos e não prestados, 80 mil notas frias circulavam, rolava propina. O dinheiro saía para a DNA de Marcos Valério por um lado e voltava em parte para Pizzolato por outro.
Isso só seria possível se o próprio BB vivesse numa "total balbúrdia" no governo Lula. E não foi por falta de aviso. Na reportagem "PT é acusado de politizar comando do BB", publicada na Folha em 17/08/2003 -primeiro ano do mandato- eu já alertava sobre o aparelhamento do banco.
Apesar de ser uma instituição técnica, Lula havia trocado 21 dos 33 cargos de cúpula para acomodar a "cumpanheirada" em 5 dos 7 vice-presidentes, na maioria das diretorias e na Previ (fundo de pensão), na Cassi (serviço médico) e na Fundação BB (projetos sociais).
Instalou-se o reinado sindical. Os funcionários, desolados, já previam o que vinha por aí: tudo isso que o julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal mostra ao vivo e em cores, com enorme clareza.
Lewandowski está sob holofotes pela sua proximidade com a família de Lula e desde que se esfalfou inutilmente para corroborar a tese do desmembramento que tanto interessava aos advogados e aos réus. No primeiro voto, foi duro, implacável, como o procurador-geral Roberto Gurgel e o relator Joaquim.
Se relator e revisor concordam, fica muito difícil reverter as condenações. Mas Pizzolato, cidadão curioso que usa gravata borboleta, certamente não tinha poder sozinho para promover tanta "balbúrdia". Além dele, estão em julgamento da sociedade o BB e o próprio governo Lula.

O GOVERNO PETISTA AINDA VAI ACABAR COM O ENSINO SUPERIOR (DE QUALIDADE) NO BRASIL

Dilma vai vetar artigo da Lei de Cotas para que Enem seja critério de seleção

Anúncio foi feito pelo ministro da Educação após encontro com a presidente
OESP
A presidente Dilma Rousseff vai vetar parte do projeto de lei que institui o sistema de cotas raciais e sociais nas universidades federais de todo o País. De acordo com o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, que se reuniu nesta quarta-feira, 22, com a presidente, o artigo que trata da seleção dos estudantes será desconsiderado. Dilma tem até dia 29 de agosto para sancionar a nova lei.
A regra republicana do Brasil é o Enem', disse MercadantePelo texto aprovado no Congresso, a seleção dos estudantes que terão direito a ingressar nas universidades federais pelo sistema de cotas será feita com base no Coeficiente de Rendimento (CR), obtido a partir da média aritmética das notas do aluno no ensino médio. Com o veto a esse trecho, o governo quer garantir que o Enem seja a ferramenta para definir o preenchimento da vagas destinadas aos cotistas.
“Vai ter o veto do Artigo 2.º, que é o acesso. O acesso se faz pelo Enem. A regra republicana do Brasil é o Enem. Os alunos já optaram pelo Enem”, disse o ministro.
O projeto de lei aprovado no Senado, no começo deste mês, prevê que as universidades públicas federais e os institutos técnicos federais em todo o País reservem, no mínimo, 50% das vagas para estudantes que tenham estudado em escolas da rede pública. Dentro desse universo serão aplicados também critérios raciais.

ESTÃO CAÇANDO OS GÓTICOS NO UZBEQUISTÃO

Góticos reclamam de perseguição no Uzbequistão
Tribo presente nas ruas da capital, Tashkent, desde a década de 90, diz que situação se agravou após profanação de túmulo em cemitério
BBC-Brasil
TASHKENT, UZBEQUISTÃO - Um grupo de jovens que chama atenção com seus rostos pálidos, maquiagem pesada, cabelos tingidos de negro, cruzes e caveiras - os góticos - afirma estar sendo vítima de perseguição no Uzbequistão, e alguns dizem que estão sendo forçados a deixar o país.
Desde a profanação de um túmulo no cemitério da cidade de Tashkent, a situação teria se agravado.
De forma menos direta, a imprensa oficial do Uzbequistão também vem apertando o cerco, classificando a cultura ocidental de "imoral". Estilos musicais como rap, rock e heavy metal foram classificados de "música estranha" e alguns chegaram a ser proibidos.
Dois góticos foram presos, embora o grupo negue veementemente qualquer envolvimento no caso.
As autoridades uzbeques foram contactadas pela BBC, mas não responderam às perguntas sob a alegação de que a empresa não está autorizada a trabalhar no país.
A tribo está presente nas ruas da capital uzbeque desde a década de 90, e chama atenção não só pelo visual, mas pelos adereços de influência cristã, como cruzes e pingentes - pouco comuns no país asiático de maioria muçulmana.
Respeito aos túmulos
Os góticos também admitem ter uma predileção pelo cemitério cristão de Tashkent, fundado em 1872. Para eles, a mescla de tranquilidade, clima romântico e, de certa forma, morbidez que encontram em Botkin é irresistível.
"Gosto de passear com meus amigos pelos caminhos do cemitério cheios de folhas e sombras, admirando as esculturas antigas e discutindo arte gótica", afirma Leticia, uma das poucas góticas que continua na capital. "Nós temos respeito pelos túmulos, até romantizamos a morte", diz ela.
Mesmo assim - ou talvez por isso -, a polícia logo deteve dois jovens góticos pouco depois de descobrir a profanação de sepulturas no local.
Os góticos acreditam ser cerca de 200 em todo o país, que tem uma população de 30 milhões. Eles se conhecem nas páginas virtuais do Facebook, onde a maioria adota o sobrenome do maior ídolo gótico atual no Uzbequistão, o cantor americano Marylin Manson.
A BBC conversou com Leticia, seu amigo Gotya e outros góticos em um bar nos arredores da capital, o atual ponto de encontro dos góticos. No entanto, temendo problemas com as autoridades, a gerência pediu que o nome do local não aparecesse na reportagem.
Eventos góticos que antes reuniam até 300 pessoas agora dificilmente ultrapassam 20.
Entrada proibida
Os góticos também costumavam se reunir na única igreja católica de Tashkent, mas agora estão proibidos de entrar lá. Eles contam que sentem uma pressão crescente, não só das autoridades, mas da sociedade, que estaria sendo influenciada por uma "campanha" também na imprensa.
A banda local predileta dos góticos, Festa Martyria, teve todos os shows cancelados desde o ano passado. Agora, os jovens temem que o governo use o episódio da profanação de túmulos como pretexto para proibir oficialmente o movimento gótico no país.
A pressão é ainda maior em jovens de famílias muçulmanas que adotam o visual repleto de cruzes e caveiras. Dilshod, de família islâmica e ex-integrante da banda de heavy metal The Rebels, por exemplo, afirma que a pressão sobre a cultura alternativa acabou levando ao fim do grupo. Alguns dos amigos dele chegaram a sair do país. Ele também planeja estudar no exterior.
'Imoralidade'
A imprensa uzbeque já afirmou que a cultura ocidental incentiva a "imoralidade" e estaria "causando danos às tradições e valores nacionais".
A televisão oficial russa, popular no Uzbequistão, chegou a levar ao ar um programa em que associava góticos e canibalismo. O clima nem sempre foi tão repressivo. Os mais velhos dizem que na época da União Soviética, várias "tribos" pipocaram no país.
A mãe do gótico Gotya costumava lhe contar como Tashkent era cosmopolitana, um caldeirão de culturas em que russo, armênios e judeus coexistiam pacificamente. Com o nacionalismo crescente após a queda da União Soviética, muitos deixaram a cidade. "No passado, havia vários góticos, punks, satanistas e roqueiros por aqui", disse Gotya.
Por isso, enquanto as "tribos" alternativas encontram dificuldades no Uzbequistão, Gotya, Leticia e outros jovens pensam em buscar abrigo em países vizinhos como a Rússia ou a Polônia.