Helene Zuber - Der Spiegel
Pedro Armestre/AFP Photo
17.dez.2012 - Manifestante segura cartaz em que se lê "Rajoy, ladrão!" durante protesto em Madri, Espanha, nesta segunda-feira. Os manifestantes protestam contra as medidas de austeridade e corte de pensões impostas pelo presidente espanhol Mariano Rajoy para conter a crise política que assola o país
Os poderosos reagiram da forma como os poderosos reagem quando se veem em apuros. O ex-primeiro-ministro José María Aznar instruiu seus advogados a processarem o jornal "El País". O atual primeiro-ministro Mariano Rajoy, um conservador como Aznar, ameaçou processar quem faça acusações ao seu Partido do Povo (PP).Há semanas os jornais espanhóis publicam novos detalhes sobre um dos maiores escândalos de corrupção do país, chamado "caso Gürtel", cujo nome em alemão faz menção ao sobrenome do empresário Francisco Correa. Por anos, Correa supostamente subornou autoridades do PP com dinheiro e presentes em troca de contratos públicos.
As linhas gerais do caso eram conhecidas, mas não o fato de que o ex-tesoureiro do Partido do Povo, Luis Bárcenas, reuniu até 22 milhões de euros de fontes suspeitas em contas do Dresdner Bank em Genebra. O juiz do Tribunal Nacional Espanhol só tomou conhecimento disso em consequência da assistência legal da Suíça. Até mesmo o jornal conservador "El Mundo" não pôde mais deixar de tratar do escândalo.
Enquanto Bárcenas cuidava das finanças do PP, escreve o "El Mundo", o político entregava às autoridades do partido envelopes contendo entre 5 mil euros e 15 mil euros em dinheiro todo mês. Um ex-membro do Parlamento pelo PP confirmou a prática. Apesar da aceitação de pagamento adicional não ser proibida se a pessoa o declarar em seu imposto de renda, os conservadores estão preocupados. Bárcenas pode ter registrado a fonte dos fundos em seus livros (doações anônimas para partidos políticos foram proibidas desde 2007), assim como para quem o dinheiro foi repassado e o motivo.
Uma ‘Bomba Atômica’
Bárcenas aceitou o equivalente a mais de 1,3 milhão de euros em propinas, uma circunstância da qual o empresário Correa se gabou em conversas gravadas que levaram à descoberta do escândalo, em 2009. Rajoy, chefe do PP e líder da oposição na época, protegeu primeiro seu tesoureiro e o partido pagou um advogado. Mas um ano depois, os conservadores forçaram Bárcenas a renunciar de sua cadeira no Senado e a deixar o Partido do Povo.
Poucos dias depois da prisão de Correa em 2009, Bárcenas começou a transferir o dinheiro que estava na Suíça e, em 2010, as contas em Genebra já tinham sido esvaziadas. Graças a uma anistia fiscal declarada pelo governo Rajoy, ele transferiu perto de 10 milhões de euros de volta à Espanha nos últimos meses, disse seu advogado. Mas a anistia não cobre os fundos obtidos ilegalmente, destaca o ministro das Finanças.
Bárcenas negou todas as acusações. E se for enviado para a prisão, ele ameaçou que uma "bomba atômica" explodiria.
A secretária-geral do PP, María Dolores de Cospedal nega qualquer conhecimento dos envelopes recheados de dinheiro e diz que nunca discutiu essa prática com Rajoy. "O PP não tem nada a ver com a conta e esse cavalheiro não tem mais nada a ver com o partido." Rajoy, atormentado pela dívida pública e pelo déficit orçamentário persistente, ordenou uma auditoria interna e externa. Ele também espera que ex-autoridades do partido assinem uma declaração de que não coletaram nenhum dinheiro ilegal. O primeiro-ministro planeja responder as perguntas da oposição nesta semana.
Simpatia pela doce vida
Alfredo Rubalcaba, líder do Partido Socialista dos Trabalhadores, pediu por um pacto anticorrupção no início do ano, mas até o momento encontrou poucos adeptos, apesar de mais de 200 políticos enfrentarem acusações de corrupção em seis das 17 regiões autônomas. Na socialista Andaluzia, seis altos funcionários do governo foram indiciados em um caso de fraude envolvendo fundos de aposentadoria antecipada. Na Catalunha, as autoridades estão examinando os negócios realizados por membros da família do líder do governo regional.
Não causa surpresa o fato dos cidadãos não confiarem mais em seus políticos. Em uma pesquisa, 95% dos entrevistados disseram estar convencidos de que os partidos políticos do país encobrem a corrupção e as propinas. Logo após suas preocupações com o desemprego e a renda, os espanhóis veem os políticos e o nepotismo como o maior problema do país.
Nas últimas eleições, autoridades notoriamente corruptas foram reeleitas. Mas no sexto ano da crise, na qual o governo conservador está pedindo constantemente por novos sacrifícios e aumentando impostos, e na qual mais e mais pessoas estão perdendo seus empregos, não há mais qualquer simpatia pela doce vida dos poderosos.
Quando os primeiros relatos dos supostos pagamentos especiais por Bárcenas foram discutidos no rádio e pelo Twitter, centenas de pessoas marcharam até a sede do partido em Madri e protestaram contra os políticos que enchem seus bolsos à custa do contribuinte.
Também foram feitas novas revelações nos últimos dias sobre como o genro do rei, casado com a princesa Cristina, pode ter desviado dinheiro de uma caridade para sua própria conta. Ele foi chamado novamente a depor sobre o assunto em fevereiro, apesar de ele negar as acusações. O julgamento poderia se tornar desagradável para o rei, porque a secretária particular de sua filha também estaria envolvida no assunto.
Tradutor: George El Khouri Andolfato
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