Hélène Bekmezian - Le Monde
Thomas Samson/AFP
Christiane Taubira é ministra da Justiça da França
A cena mais surpreendente não ocorreu no Palais Bourbon. São 20h de terça-feira (29), os deputados abriram oficialmente os debates sobre o projeto de lei "casamento para todos" há quatro horas e a sessão foi suspensa para o jantar. Do lado de fora, bem ao lado da Assembleia, na praça Édouard-Herriot, há entre 200 e 300 pessoas, ajoelhadas, protegidas por atentos policiais da tropa de choque. Elas rezam."Eu peço a Deus que esse projeto de lei não seja aprovado", diz pelo megafone o pregador desta vigília organizada sob a luz tênue dos postes pelo movimento católico integrista Civitas. Ele recita "Santa Maria mãe de Deus, rogai por nós, pobres pecadores". Os fiéis repetem em coro.
Em frente, no restaurante Le Bourbon, jantam juntos os dois únicos deputados da UMP [União por um Movimento Popular] a terem assumido publicamente a posição a favor do casamento homossexual: Franck Riester e Benoist Apparu, que aprecia com ironia – e com um sorriso – "essa musiquinha ambiente para o jantar". De volta à câmara, esses dois não se largarão mais. Assim como durante a sessão da tarde, eles permanecem sentados lado a lado, solidários na luta, os únicos da direita a não aplaudirem os oradores de seu grupo.
Apesar de Hervé Mariton e de Philippe Gosselin, principais protagonistas da oposição a esse texto, bastante envolvidos desde o começo nos trabalhos em comissão, a direita hoje só tem olhos para Henri Guaino. O deputado do departamento de Yvelines, que descobriu ter um fervor contra o "casamento para todos", teve a honra de defender a primeira moção de rejeição da direita – houve duas delas, rejeitadas, como esperado. Um belo meio de reconquistar popularidade junto a seus colegas, que lhe processavam por ilegitimidade no início da legislatura (além disso ele deixou a câmara pouco depois, e não voltou mais).
Emprestar de André Malraux seu tom para falar na tribuna é eficaz, e um verdadeiro desafio conseguir dizer "espermatozoides" no tom do ex-ministro da Cultura de Charles de Gaulle. Declamar slogans como "o casamento não é um direito, é uma instituição" só pode empolgar uma direita plantada em sua visão tradicional da família.
E voltar a falar desses "franceses simples e dignos" contrários ao casamento homossexual – ele já os havia mencionado durante seu primeiro questionamento ao governo no dia 15 de janeiro – diante de um governo que, segundo ele, só lhe respondeu com um "cale-se!", é garantir para si um belo sucesso entre a oposição. "Actors Studio!", lhe lança várias vezes a esquerda, que se uniu para ridicularizar o ex-redator de discursos de Nicolas Sarkozy, que em sua defesa garante: "Não, eu não terei vergonha quando meus filhos, meus netos lerem as palavras que usei neste debate".
Com os ouvidos atentos, uma mulher bate nervosamente com os dedos no balaústre que separa a plateia, lotada. Quinze anos depois de ter brandido uma bíblia aos prantos durante debates sobre os pactos de união civil, foi como simples espectadora que Christine Boutin assistiu aos debates sobre o casamento.
Do outro lado da câmara, em pé acima das fileiras da UMP e também vestida de branco, Frigide Barjot a encara. Mas a militante dos anti-casamento gay não parece tão tensa quanto a presidente do partido democrata-cristão, que cerra os pulsos enquanto fala a ministra da Justiça, Christiane Taubira, em preâmbulo aos debates. É o máximo que ela consegue exprimir: o público na plateia não pode emitir nenhuma manifestação partidária.
Já os deputados se manifestaram em voz alta durante a fala da ministra da Justiça. Após um início tímido, com Taubira pronunciando seu discurso sem olhar anotações, revelou seu talento de oratória, com sua voz sempre calma, lenta e determinada. Foi em uníssono que os deputados socialistas responderam "Nada!" quando ela perguntou: "O que o casamento homossexual tirará dos casais heterossexuais?" "Ridículo! É de chorar!", responde a direita, que em seguida repetirá à imprensa que "não é Badinter que quer", em referência ao discurso do ministro da Justiça pela abolição da pena de morte.
Já a maioria está encantada, eletrizada, e solta retumbantes aplausos. No Twitter, os deputados socialistas se derramam em elogios: "Taubira fantástica", escreve Razzy Hammadi, "tremendo discurso", comenta Bernard Roman, "que prazer e que orgulho ouvir o discurso de Christiane", concorda Jean-Marie Le Guen.
Ausente da sessão de perguntas ao governo que precedeu o debate, a ministra não assistiu às primeiras ofensivas da direita. Em seguida, ao longo do debate, a UMP foi aos poucos se vendo prensada, constrangida e às vezes obrigada a passar mais tempo negando ter qualquer homofobia do que desenvolvendo seus argumentos.
Como Hervé Mariton, que, sentado de pernas e braços cruzados na primeira fileira, fez uma objeção para perguntar se "se dizer enojado é uma maneira respeitosa de iniciar o debate". "Não moleste cada orador que vem à tribuna!", acabou se enervando o presidente Claude Bartolone, diante de suas falas intempestivas.
Em defesa do deputado do departamento de Drôme, deve-se dizer que os deputados do Partido Socialista não se contiveram quando ele inaugurou a discussão geral para a direita. Quando na tribuna ele perguntou no seu tom educado, "posso lhes contar uma anedota?", a resposta brotou dos bancos socialistas: "Não!" Mas algumas horas antes, o presidente da bancada do PS, Bruno Le Roux, havia avisado: "Nós previmos cerca de 200 horas de possíveis discussões." Na quarta-feira (30), para manifestar a opinião da UMP, entraram na disputa as duas figuras de proa do partido, Jean-François Copé e François Fillon.
Tradutor: Lana Lim
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