quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Os riscos do relaxamento
Merval Pereira - O Globo

As vantagens de curto prazo da política de flexibilização monetária (quantitative easing) adotada em praticamente todo o mundo para enfrentar a crise econômica de 2009 superam os riscos de longo prazo? Num painel do Fórum Econômico Mundial em Davos de que participaram economistas como Nouriel Roubini, professor de economia e negócios internacionais; Stanley Fischer, presidente do Banco Central de Israel; Victor Halberstadt, Professor da Leiden University da Holanda, Leonard N. Stern da Business School da Universidade de Nova York, e Davide Serra, fundador e sócio-gerente da Algebris Investments do Reino Unido e Adam S. Posen, presidente do Peterson Institute para Economia Internacional, dos Estados Unidos, discutiu-se o tema, muito importante para o mundo e, especificamente, para o Brasil.
Houve um consenso que essa política de “relaxamento” monetário certamente ajudou a prevenir maiores estragos, impedindo que uma depressão se espalhasse pelo mundo. Mas também trouxe consigo riscos de aumento de inflação, até mesmo de hiperinflação, bolhas financeiras e um legado de dívidas para as gerações futuras.
Saber quando parar é o grande desafio para os bancos centrais. Ajustar as taxas de juros é um instrumento para contrabalançar os impactos da expansão monetária, e há até mesmo a previsão de que os Estados Unidos terão que aumentar as suas taxas nos próximos anos se a economia continuar crescendo.
Frequentemente chamada de “política monetária não-convencional”, a flexibilização monetária tem efeitos de longo prazo que ainda não estão claros para os economistas. A hiperinflação é citada como uma possível consequência, mas analistas alegaram durante o debate que os bancos centrais podem aumentar a taxa de juros para conter a inflação. Foi colocada grande ênfase no risco de bolhas, como ocorreu com o mercado imobiliário. O “afrouxamento” monetário pode levar ao aumento do preço das commodities e alimentar a demanda por produtos escassos, levando a uma distorção dos mercados.
Adiando o momento em que se dará a desalavancagem, essa política permite aos países usufruirem de crescimento econômico, mas a longo prazo pode levar a uma redução do PIB. Dada a relativa novidade dessa política de flexibilização monetária (quantitative easing), e a incerteza sobre seus efeitos, várias questões ainda não têm resposta.
Alguns especialistas sugerem que a política seja ligada a objetivos específicos, como um prazo ou a medidas de inflação ou desemprego, para sinalizar seu caráter temporário, muito embora compromissos verbais dos governos jamais sejam convincentes para o mercado.
Como os bancos centrais têm intervindo em várias partes do mundo para evitar os prejuízos mais ameaçadores, há um perigo inerente a essa política, o risco moral, pois se teme que os efeitos da alavancagem exagerada ou dos riscos excessivos sejam menosprezados diante da ação protetora dos bancos centrais.
As consequências de não utilizar as políticas de expansão monetária, no entanto, podem ser muito mais perigosas para os países, pois elas podem ser interrompidas assim que as economias começarem a se recuperar, ou que os efeitos colaterais surgirem.
A questão específica da situação econômica brasileira foi debatida em outro painel, dentro de um contexto da América Latina. Foi ressaltado que o país adotou nos últimos tempos uma política mais intervencionista, aprofundada no governo Dilma Rousseff, o que prejudicou companhias estatais como a Petrobrás, que só agora começará a se recuperar com o aumento da gasolina.
Os especialistas consideram que o câmbio brasileiro não é mais flutuante, que a política fiscal está afrouxada e que a inflação está fora das metas oficiais por uma política governamental. Como resultado, a confiança do investidor tem se reduzido, fazendo com que o país cresça pouco nos últimos dois anos. Seria preciso uma mudança de rumos, que alguns analistas acreditam que virá diante da dificuldade do crescimento econômico.

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