domingo, 27 de janeiro de 2013

Ocidente tem última chance contra crise econômica
Nick Carn - Prospect
Na época de sua Declaração de Outono sobre a política financeira do Reino Unido, no mês passado, o ministro das Finanças, George Osborne, teve que confrontar algumas verdades desconfortáveis sobre o crescimento da economia. Ele não é o único. Políticos, empresas e indivíduos por todo o mundo têm lutado para chegar a um acordo com economias que não estão funcionando de acordo com o plano.
Desde a crise financeira, a esperança de que este seja um ciclo econômico "normal" tem sido frustrada. Apesar da baixa recorde das taxas de juros e do imenso endividamento dos governos, as economias do mundo rico têm apenas mancado, na melhor das hipóteses. Os dedos são apontados de modo variado para os bancos, para a dívida, para a política fiscal e para a demografia. Seja qual for a causa, algo certamente parece diferente.
O colapso da atividade econômica global após a crise do sistema financeiro em 2008 foi a mais severa desde os anos 30 e envolveu o primeiro período de queda dos preços ao consumidor desde então. Não é de se estranhar que as pessoas estejam assustadas. Apesar de o sistema financeiro ter evitado o colapso total, o que aconteceu subsequentemente tem sido menos tranquilizador.
Os Estados Unidos, até o momento o país em melhor situação, conseguiram um crescimento tépido e agora são uma economia maior do que eram no pico do último ciclo econômico. Mesmo assim, o desemprego, que cresceu rapidamente durante a desaceleração, permanece alto.
Mas o trabalho difícil de tratar da escala do endividamento público começa agora. Quase todos os exemplos de redução de déficit na história envolveram períodos de rápida recuperação econômica. Apesar dos Estados Unidos terem evitado o chamado "abismo fiscal" no início deste ano, não está claro se Washington conseguirá reduzir o déficit público em um período de crescimento tão baixo.
As frustrações americanas empalidecem em comparação com os desafios em outros lugares. Após ser duramente atingido pela desaceleração do comércio mundial e então pelo terremoto e tsunami em março de 2011, as dificuldades econômicas do Japão [aparentemente sem fim] apenas continuam. Na zona do euro, a atividade está recuando, tendo fracassado em voltar ao seu pico anterior, enquanto o Reino Unido enfrenta potencialmente uma recessão de "triplo mergulho". A periferia da Europa está sofrendo as piores condições desde os anos 1930, com economias contraindo rapidamente, o desemprego entre os jovens ultrapassando 50% em alguns países e com aumento da tensão social. Estes são desdobramentos incomuns e perturbadores.
Talvez igualmente perturbador seja o fracasso crônico dos principais previsores em antecipar essas mudanças. É possível que isso seja resultado de uma série de eventos anômalos, mas a evidência está dando sinais de que nosso modelo econômico pode estar errado.
A maioria dos modelos define os altos e baixos do ciclo econômico usando componentes econômicos conhecidos como "estoques" e "gastos de capital". Os maiores elementos na economia, o consumidor e os gastos públicos, são relativamente inertes; são as mudanças nesses dois componentes que são importantes.
Mas há bons motivos para questionar a ideia de que os altos e baixos dos gastos de capital continuarão dominando o ciclo econômico das economias ricas como no passado. Grande parte da nova capacidade industrial do mundo atualmente se encontra na China, que se tornou extraordinariamente dependente da construção de infraestrutura física. Os países ricos, por sua vez, se tornaram mais suscetíveis às flutuações de confiança provocadas pela disponibilidade de crédito e pelo aumento e queda dos preços de ativos, particularmente imóveis residenciais. Esses países enfrentam ventos contrários de dois fenômenos intimamente ligados: níveis elevados de dívida e envelhecimento da população. Nenhum deles figura de modo proeminente nos modelos convencionais da economia.
De todas as coisas em grande parte excluídas dos modelos convencionais das economias do mundo desenvolvido, a mais importante é o estado do pacto entre governos e cidadãos. Por anos, os governos não foram apenas capazes de redistribuir renda de um setor da população para outro, como também foram capazes de tomar empréstimos em grande escala. Promessas de segurança financeira, assim como seguro social e aposentadoria, seriam honradas em um futuro mais próspero. Mas com o envelhecimento da população, o mito por trás da prosperidade ocidental do aqui e agora é revelado como sendo o sonho de que é possível viver bem por 85 anos trabalhando por 40.
Em outros lugares, as taxas de juros ultrabaixas não conseguiram reanimar a demanda por financiamento imobiliário e os bancos informam uma fraca demanda por crédito. Reconhecendo a escala já grande das futuras obrigações com a diminuição da capacidade de quitá-las sem dúvida exerceu um papel.
Mesmo a curto prazo, a questão das finanças públicas se avulta. No centro dos apuros da zona do euro estão questões fundamentais sobre quem pagará a conta pelas perdas do estouro das bolhas econômicas da periferia. Por ora a crise está em remissão, com a operação de apoio do Banco Central Europeu aos mercados de títulos da periferia parecendo um sucesso, mas não há como evitar o fato de que as perdas precisarão ser arcadas por alguém. Não apenas a ideia da Europa agrupar sua dívida visando dividir o fardo funciona em detrimento da Alemanha, que é o país que teria mais a perder com esse arranjo, mas outras consequências malignas já estão aparecendo. A Alemanha e a Áustria atualmente dividem com as Filipinas a honra duvidosa de contar com os níveis mais altos do mundo de inflação nos preços dos imóveis residenciais.
Enquanto os Estados Unidos começam a tratar de seu imenso déficit orçamentário, a Europa estará nas mentes dos autores de políticas. As tentativas europeias de cortar gastos e aumentar impostos foram, para alguns, contraproducentes. As estimativas do chamado "multiplicador fiscal", que traduz uma mudança nos gastos públicos em uma mudança na atividade econômica, viraram repentinamente uma área de alto debate. Antes parecia que uma redução de, digamos, 100 no déficit público significava que o produto seria aproximadamente 50 abaixo do que seria caso contrário. Evidências da Grécia, Espanha e outras chamadas "economias em ajuste" sugerem que, em algumas circunstâncias, o impacto pode ser o dobro do que foi estimado anteriormente. O impacto do aumento de impostos e dos cortes de gastos em uma economia fraca será observado com apreensão.
Com as taxas de juros próximas de zero e a política fiscal restringida, os remédios tradicionais para a fraqueza econômica não estão disponíveis. Políticas monetárias "não convencionais" como o programa de relaxamento quantitativo do Banco da Inglaterra ou o programa de compra de ativos do Federal Reserve (o banco central americano) agora são a norma. Para os mercados de investimento, de fato, eles agora são o evento principal. Quanto ao efeito deles sobre a economia, isso é menos claro.
O envelhecimento do mundo rico torna esses problemas diferentes daqueles enfrentados antes. Indivíduos e investidores exigirão saber mais sobre como os políticos pretendem resolver a Grande Pirâmide Financeira do Governo. A intervenção dos bancos centrais continuará sustentando os mercados --mas por quanto tempo?
* Nick Carn é o fundador da Carn Macro Advisors.
Tradutor: George El Khouri Andolfato

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