domingo, 27 de janeiro de 2013

Diplomacia na Rússia vive momento de 'pista dupla', diz ex-embaixador
Denis Corboy, William Courtney e Kenneth Yalowitz - IHT Duas Rússias estão surgindo – uma buscando a liberdade e a prosperidade, e a outra focada no patriotismo e populismo. Na primeira, as pessoas podem viajar para o exterior, comprar e vender suas casas e manter o dinheiro guardado em segurança nos bancos. Na outra Rússia, o presidente Vladimir Putin reprime dissidentes, alega ameaças de mísseis de defesa da Otan, e procura seduzir ex-vizinhos soviéticos para uma união desigual da Eurásia. Uma nova diplomacia que lide com as duas Rússias de forma eficaz é essencial.
A primeira Rússia está se modernizando. Em 2011, ela teve a sexta maior economia do mundo em paridade de poder de compra. O rendimento nacional bruto per capita foi de aproximadamente US$ 20 mil, semelhante à Polônia e à Hungria, membros da União Europeia. As pessoas mais ricas, muitas vezes possuem propriedade estrangeira ou enviam crianças para o exterior para estudar.
Em algumas áreas a Rússia coopera com o Ocidente. Ela facilita a entrega de suprimentos para as forças da Otan no Afeganistão, apoia sanções selecionadas ao programa nuclear ilícito do Irã e lança foguetes para a estação espacial internacional. E a Rússia concluiu um novo tratado de armas estratégicas com os EUA.
A segunda Rússia é retrógrada. Ele está voltando a um passado mais estadista e autoritário, longe dos ideais de liberdades civis e do Estado de direito. A União Soviética não está prestes a reaparecer, mas os grupos de construção da democracia estão sendo atacados, dissidentes são jogados em hospitais psiquiátricos e a justiça é politicamente manipulada. A Rússia está na 142ª posição na lista de 179 países do Índice de Liberdade de Imprensa, compilado pela organização Repórteres Sem Fronteiras.
O Ocidente deveria empregar estratégias diferentes para lidar com cada uma das duas Rússias, reconhecendo que forças "patrióticas" estão no poder por enquanto, mas que elas estão cada vez mais distanciando a população urbanizada e educada.
As elites modernizadoras valorizam uma economia em crescimento e laços globalizantes. Assim, o Ocidente deveria encorajar a Rússia a respeitar as regras da Organização Mundial do Comércio, o que deverá aumentar a competitividade da economia da Rússia. Um acordo recente dos EUA sobre direitos sobre propriedade intelectual vai ajudar a garantir que a Rússia se beneficie de seus setores de alta tecnologia. No Conselho do Ártico, Moscou está cooperando para buscar oportunidades econômicas e ao mesmo tempo proteger o meio ambiente.
Ao mesmo tempo, a competitividade energética da Rússia está diminuindo por causa da interferência governamental. Oferecer mais margem de manobra para o investimento ocidental e tecnologia para desenvolver depósitos complicados de petróleo seria ajudar a Rússia a recuperar o ímpeto de exportação. Nisso, a ousada pareceria da Exxon Mobil com a Rosneft para exploração do Ártico será pioneira.
A diplomacia com a segunda Rússia deve ser guiada pelo interesse de longo prazo do Ocidente na liberalização interna e tratamento justo. O Ocidente deveria reavivar os princípios da diplomacia de direitos humanos da era soviética, como falar publicamente contra a repressão e alardear os casos individuais de injustiça. O Ocidente tem sido muito silencioso sobre as sistemáticas violações dos direitos humanos no norte do Cáucaso.
Mas os estrangeiros podem fazer pouco para fazer avançar a reforma na Rússia, exceto através da interação pessoal e da comunicação via Internet. O Kremlin terminou com os programas USAid, embora os fóruns da sociedade civil UE-Rússia permaneçam úteis. Grupos corajosos de financiamento externo como o Golos, que monitora as eleições, enfrentam assédio e fechamento. A cooperação na segurança nuclear está impedido; Moscou cancelou o programa Nunn-Lugar.
Internacionalmente, a Rússia se esforça para manter a sua identidade como uma grande potência, muito embora seja eclipsada por áreas mais dinâmicas do mundo, como o leste da Ásia. Mas o apoio teimoso ao regime de Assad na Síria manchou o prestígio da Rússia, e a intimidação dos vizinhos a deixa sem amigos ou aliados.

Embora não seja fácil, o Ocidente tomou medidas para combater a Rússia retrógrada. Em dezembro, a secretária de Estado, Hillary Clinton, advertiu contra esforços para "ressovietizar" sua vizinhança, forçando uma união econômica da Eurásia.
O Ocidente também tem encorajado a Geórgia a melhorar os laços com a Rússia, enquanto ajuda a impedir uma repetição da invasão de 2008. O Ocidente ajuda os produtores de energia cáspios apoiando múltiplas rotas de exportação para a Turquia, portos do Mar Negro e China.
A Rússia retrógrada pode ser sua pior inimiga. No mês passado, numa cúpula da UE, Putin chamou de "incivilizadas" as propostas que tratam a propriedade russa de ativos de energia na UE da mesma maneira que a propriedade de outros produtores de energia.
Uma lei para proibir que norte-americanos adotem crianças russas, muitas delas órfãs com necessidades especiais, causou desânimo. Ela foi concebida como uma resposta a uma lei recente dos EUA, o ato Sergei Magnitsky, que proíbe a entrada nos Estados Unidos e o uso de seu sistema bancário do país por parte de russos que cometem graves violações aos direitos humanos. Nesta frente, menos reuniões ocidentais com Putin, e medidas parecidas com o ato Magnitsky, merecem consideração.
A diplomacia de pista dupla, incorporando abordagens pragmáticas, mas de princípios, poderia fomentar a cooperação com a Rússia em interesses comuns e ao mesmo tempo levantar o espírito daqueles que buscam a democracia e o respeito aos direitos humanos.
(Denis Corboy, um pesquisador visitante sênior no Kings College de Londres serviu como embaixador da Comissão Europeia para a Armênia e Geórgia. William Courtney foi embaixador dos EUA no Cazaquistão e na Geórgia, e assistente especial do presidente para a Rússia, Ucrânia e Eurásia. Kenneth Yalowitz serviu como embaixador dos EUA em Belarus e Geórgia).
Tradutor: Eloise de Vylder

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