Especialistas não conseguem avaliar o impacto econômico que causaria o eventual rompimento entre Londres e Bruxelas
Andrei Netto - OESP
PARIS - Durante quatro anos, entre 1963 e 1967, quando o mercado comum europeu estava em gestação, o então presidente da França, Charles De Gaulle, emitiu sucessivos vetos à participação do Reino Unido no bloco, retardando a adesão britânica por uma década. Depois disso, nos últimos 40 anos, tem sido a vez de Londres dizer "não" à União Europeia.
A hipótese de um "divórcio" definitivo cresceu quando o primeiro-ministro, David Cameron, anunciou um referendo sobre a permanência ou não de seu país no bloco. Desde então, cientistas políticos, economistas e investidores tentam decifrar quem ganha e quem perde com a eventual separação. E a resposta por ora é: ninguém sabe.
Cameron anunciou a intenção de realizar uma consulta popular até 2017 na convenção do Partido Conservador (Tories), na quarta-feira, sob o pretexto de que a União Europeia já não serve aos propósitos dos britânicos. Segundo ele, é preciso reformá-la ou abandoná-la. Esse discurso foi repetido na quinta-feira, em Davos, na Suíça, quando o premiê defendeu sua visão da relação ideal com o resto da Europa: um acordo limitado ao livre comércio e à interação fiscal. Ponto final. "Eu não quero um país chamado Europa", justificou. "Eu só quero uma Europa melhor."
Para tanto, Cameron entende ser necessário renegociar os acordos que unem os britânicos à UE e retomar a "soberania cedida" por Londres para Bruxelas.
O problema é que a renegociação exigida por Cameron não é do interesse dos demais líderes europeus. A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, deixou claro na primeira quinzena de janeiro, por meio de interlocutores, que não aceitaria "chantagens" sobre a UE. Na quarta-feira, o presidente da França, François Hollande, foi ainda mais direto, afirmando que Bruxelas precisa andar para a frente, e não para trás - um indicativo de impasse político.
Para especialistas como Iain Begg, pesquisador do Instituto Europeu da London School of Economics (LSE), o momento é crítico, mas reflete uma falta de sintonia de longa data. "O Reino Unido sempre foi um europeu relutante, refletindo não só a sua história, o fato de ser uma ilha e sua afinidade com outros países de língua inglesa, mas também sua visão diferente da União Europeia."
Diante dessa aversão histórica, a integração se manteve por interesses comerciais. Hoje, mais de 50% das importações e das exportações do Reino Unido são feitos com países da UE. Deixar o mercado comum seria, advertem analistas, uma tragédia. Na sexta-feira, o presidente da Câmara de Comércio do Reino Unido, John Langworth, advertiu o premiê que "a imensa maioria dos homens de negócios do país quer permanecer no mercado comum", ainda que defendam reformas que promovam a competitividade na Europa. Na quinta, 56 empresários já haviam publicado uma carta no jornal The Times com o mesmo teor.
A preocupação dos empreendedores também se reflete na City, distrito financeiro de Londres, um dos esteios de uma economia fortemente baseada no setor de serviços, responsáveis por 73% do PIB do país. Na sexta-feira, a consultoria PricewaterhouseCoopers publicou uma análise advertindo para o risco de o eventual abandono da UE possa mexer com o mercado de ações. "A indústria britânica de gestão de ativos fora da Europa pode ver-se diante de obstáculos para a gestão de ativos de investidores da UE", advertiu Rob Mellor, coordenador do hedge fund PwC.
Há preocupações também quanto ao equilíbrio macroeconômico do país, quanto à nota britânica do risco de crédito soberano - hoje AAA -, a atração de investimentos externos, as perspectivas de crescimento e a geração de emprego. "Os efeitos dominó ainda são difíceis de prever em 2013 para algo previsto para 2017", diz Catherine Stephan, economista do banco francês BNP Paribas. "Mas eu não vejo benefícios possíveis de uma saída do Reino Unido."
Existe ainda o risco de que o euroceticismo dos ingleses alimente o sentimento independentista na Escócia, onde líderes discutiram nessa semana um pedido de integração à UE após a eventual separação da Inglaterra.
Do outro lado do Canal da Mancha, os cálculos sobre o custo econômico do divórcio entre Reino Unido e UE não são claros. Mas, no meio político, há quem veja com bons olhos a potencial separação - que eliminaria os frequentes vetos britânicos à maior integração. Esse é o caso do francês Jacques Delors, ex-presidente da Comissão Europeia considerado um dos pais do euro e da integração. Em entrevista ao jornal alemão Handelsblatt, Delors afirmou há duas semanas que o melhor seria a UE se livrar das amarras impostas pelos vizinhos ingleses. Até porque, segundo o ex-comissário, em Londres o casamento sempre teve segundas intenções. "Os britânicos só se interessam pelos seus interesses econômicos e nada mais."
A hipótese de um "divórcio" definitivo cresceu quando o primeiro-ministro, David Cameron, anunciou um referendo sobre a permanência ou não de seu país no bloco. Desde então, cientistas políticos, economistas e investidores tentam decifrar quem ganha e quem perde com a eventual separação. E a resposta por ora é: ninguém sabe.
Cameron anunciou a intenção de realizar uma consulta popular até 2017 na convenção do Partido Conservador (Tories), na quarta-feira, sob o pretexto de que a União Europeia já não serve aos propósitos dos britânicos. Segundo ele, é preciso reformá-la ou abandoná-la. Esse discurso foi repetido na quinta-feira, em Davos, na Suíça, quando o premiê defendeu sua visão da relação ideal com o resto da Europa: um acordo limitado ao livre comércio e à interação fiscal. Ponto final. "Eu não quero um país chamado Europa", justificou. "Eu só quero uma Europa melhor."
Para tanto, Cameron entende ser necessário renegociar os acordos que unem os britânicos à UE e retomar a "soberania cedida" por Londres para Bruxelas.
O problema é que a renegociação exigida por Cameron não é do interesse dos demais líderes europeus. A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, deixou claro na primeira quinzena de janeiro, por meio de interlocutores, que não aceitaria "chantagens" sobre a UE. Na quarta-feira, o presidente da França, François Hollande, foi ainda mais direto, afirmando que Bruxelas precisa andar para a frente, e não para trás - um indicativo de impasse político.
Para especialistas como Iain Begg, pesquisador do Instituto Europeu da London School of Economics (LSE), o momento é crítico, mas reflete uma falta de sintonia de longa data. "O Reino Unido sempre foi um europeu relutante, refletindo não só a sua história, o fato de ser uma ilha e sua afinidade com outros países de língua inglesa, mas também sua visão diferente da União Europeia."
Diante dessa aversão histórica, a integração se manteve por interesses comerciais. Hoje, mais de 50% das importações e das exportações do Reino Unido são feitos com países da UE. Deixar o mercado comum seria, advertem analistas, uma tragédia. Na sexta-feira, o presidente da Câmara de Comércio do Reino Unido, John Langworth, advertiu o premiê que "a imensa maioria dos homens de negócios do país quer permanecer no mercado comum", ainda que defendam reformas que promovam a competitividade na Europa. Na quinta, 56 empresários já haviam publicado uma carta no jornal The Times com o mesmo teor.
A preocupação dos empreendedores também se reflete na City, distrito financeiro de Londres, um dos esteios de uma economia fortemente baseada no setor de serviços, responsáveis por 73% do PIB do país. Na sexta-feira, a consultoria PricewaterhouseCoopers publicou uma análise advertindo para o risco de o eventual abandono da UE possa mexer com o mercado de ações. "A indústria britânica de gestão de ativos fora da Europa pode ver-se diante de obstáculos para a gestão de ativos de investidores da UE", advertiu Rob Mellor, coordenador do hedge fund PwC.
Há preocupações também quanto ao equilíbrio macroeconômico do país, quanto à nota britânica do risco de crédito soberano - hoje AAA -, a atração de investimentos externos, as perspectivas de crescimento e a geração de emprego. "Os efeitos dominó ainda são difíceis de prever em 2013 para algo previsto para 2017", diz Catherine Stephan, economista do banco francês BNP Paribas. "Mas eu não vejo benefícios possíveis de uma saída do Reino Unido."
Existe ainda o risco de que o euroceticismo dos ingleses alimente o sentimento independentista na Escócia, onde líderes discutiram nessa semana um pedido de integração à UE após a eventual separação da Inglaterra.
Do outro lado do Canal da Mancha, os cálculos sobre o custo econômico do divórcio entre Reino Unido e UE não são claros. Mas, no meio político, há quem veja com bons olhos a potencial separação - que eliminaria os frequentes vetos britânicos à maior integração. Esse é o caso do francês Jacques Delors, ex-presidente da Comissão Europeia considerado um dos pais do euro e da integração. Em entrevista ao jornal alemão Handelsblatt, Delors afirmou há duas semanas que o melhor seria a UE se livrar das amarras impostas pelos vizinhos ingleses. Até porque, segundo o ex-comissário, em Londres o casamento sempre teve segundas intenções. "Os britânicos só se interessam pelos seus interesses econômicos e nada mais."
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