sábado, 28 de setembro de 2013

A ESPIONAGEM CONTRA O BRASIL: Segundo um ex-embaixador americano, “o atual governo brasileiro não é um governo amigo” dos EUA
Ricardo Setti - VEJA
Dilma no Planalto, recebendo de Maduro retrato do falecido líder "bolivariano" Hugo Chávez: governo brasileiro é amigo de governos que os EUA consideram inimigos (Foto: Roberto Stuckert Filho / Presidência da República)
O autor deste texto, Carlos Alberto Montaner, cubano radicado desde 1972 na Espanha, é jornalista e escritor. Como professor universitário, trabalhou em várias instituições da América Latina e dos Estados Unidos.
Escreve uma coluna semanal que há 30 anos é publicada em vários jornais do mundo. O texto abaixo foi publicado em seu blog e no jornal norte-americano Miami Herald.
“POR QUE NÓS ESPIONAMOS O BRASIL”
A presidente brasileira Dilma Rousseff cancelou sua visita a Barack Obama. Estava ofendida porque os Estados Unidos espionavam seu correio eletrônico. Isso não se faz a um país amigo. A informação, provavelmente fidedigna, foi brindada por Edward Snowden desde seu refúgio em Moscou.
Intrigado, perguntei a um ex-embaixador norte-americano: por que fizeram isso?
Sua explicação foi absolutamente franca: “Da perspectiva de Washington, o [governo] brasileiro não é exatamente um governo amigo. O Brasil, por definição e pela história, é um país amigo que nos acompanhou na II Guerra Mundial e na Guerra da Coreia, mas seu atual governo não é”.
Somos [o embaixador e eu] velhos conhecidos.
– Posso publicar seu nome? — pergunto-lhe.
– Não — me responde. — Isso me criaria um imenso problema, mas pode transcrever esta nossa conversa.
É o que faço.
“Basta ler os papéis do Foro de São Paulo e observar a conduta do governo brasileiro. Os amigos de Luiz Inácio Lula da Silva, de Dilma Rousseff e do Partido dos Trabalhadores são inimigos dos Estados Unidos: a Venezuela chavista, primeiro com Chávez e agora com Maduro, a Cuba de Raúl Castro, o Irã, a Bolívia de Evo Morales, a Líbia na época de Kadafi, a Síria de Bashar al-Asad”.
“Em quase todos os conflitos [na área internacional], o governo do Brasil coincide com a linha política da Rússia e da China, em oposição à perspectiva do Departamento de Estado e da Casa Branca. A família ideológica com que tem mais afinidade é a dos BRICS, com os quais tenta conciliar sua política externa”. (Os BRICS são Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
“A enorme nação sul-americana não tem, nem manifesta, o menor interesse em defender os princípios democráticos sistematicamente violados em Cuba. Pelo contrário: o ex-presidente Lula da Silva costuma levar investidores à ilha para fortalecer a ditadura dos Castro. Calcula-se em 1 bilhão de dólares a cifra enterrada por brasileiros no desenvolvimento do superporto de Mariel, perto de Havana”.
“A influência cubana no Brasil não se dá de forma escancarada, mas é muito intensa. José Dirceu, o ex-chefe da Casa Civil de Lula da Silva e seu mais influente ministro, havia sido um agente dos serviços de inteligência cubanos”.
“Exilado em Cuba, alterou seu rosto por meio de uma cirurgia plástica e voltou ao Brasil com uma nova identidade (Carlos Henrique Gouveia de Mello, comerciante judeu) e assim funcionou até que se restaurasse a democracia. De mãos dadas com Lula, colocou o Brasil entre os grandes colaboradores da ditadura cubana. Caiu em desgraça por corrupção, mas sem recuar um milímetro de suas preferências ideológicas e sua cumplicidade com Havana”.
“Algo parecido ao que sucede com o professor Marco Aurélio Garcia, atual assessor de política externa de Dilma Rousseff. É um antiamericano contumaz, pior até do que Dirceu porque é mais inteligente e tem melhor formação. Fará tudo o que puder para prejudicar os Estados Unidos”.
Dilma com o ditador de Cuba, Raúl Castro: "o governo brasileiro não tem nem manifesta o menor desejo de defender os princípios democráticos sistematicamente violados em Cuba" (Foto: Adalberto Roque / Pool / EFE)
“Para o Itamaraty — um Ministério de Relações Exteriores que ostenta tanto prestígio pela qualidade de seus diplomatas, geralmente poliglotas e com boa formação –, a Carta Democrática assinada em 2001 em Lima é um apenas um pedaço de papel sem nenhuma importância. O governo simplesmente ignora as fraudes eleitorais levadas a cabo na Venezuela ou na Nicarágua, e é totalmente indiferente diante aos abusos contra a liberdade de imprensa [em tais países].
“Mas isso não é tudo. Há outros dois temas a respeito dos quais Washington quer estar informada de tudo o que ocorre no Brasil porque, de uma ou outra maneira, afetam a segurança dos Estados Unidos: a corrupção e as drogas”.
“O Brasil é notoriamente um país corrupto, e essas práticas nefastas afetam as leis dos Estados Unidos de duas maneiras: quando brasileiros utilizam o sistema financeiro norte-americano e quando competem de forma ilegítima com empresas dos Estados Unidos, recorrendo a subornos e comissões ilegais”.
“A questão das drogas é diferente. A produção de coca na Bolívia quintuplicou desde que Evo Morales ocupa o poder, e a rota de saída dessa substância é o Brasil. Quase tudo vai parar na Europa, e nossos aliados nos vêm pedindo informações a respeito. Essas informações às vezes estão em mãos de políticos brasileiros”.
Minhas duas últimas perguntas são inevitáveis. A primeira: Washington vai apoiar a pretensão brasileira de ser membro permanente do Conselho de Segurança da ONU?
“Se você perguntar para mim, a resposta é não” — diz ele. “Já temos dois adversários permanentes ]no Conselho], a Rússia e a China. Não precisamos de um terceiro”.
E minha última pergunta: os Estados Unidos continuarão espionando o Brasil?
“É claro”, ele me diz. “É nossa responsabilidade para com a sociedade americana”.
Acho que Dona Dilma deve mudar com frequência a senha de seu e-mail.

Nenhum comentário: