Jeffrey Dubinsky/Louisiana Environmental Action
Network/The New York Times
Após 16 meses, sumidouro continua aumentando seu diâmetro e já divide a cidade em duas partes: a daqueles que têm esperanças e a dos desesperados, da qual muitos já fugiram
Há cerca de 16 meses, Dennis P. Landry e sua mulher, Pat, estavam num passeio na balsa Starcraft quando notaram pela primeira vez uma espuma de bolhas saindo das profundezas de Bayou Corne, um rio idílico, com ciprestes à margem, que serpenteia pelo pantonoso sul da Louisiana. Eles acharam que se tratava de um vazamento no duto de gás. Todo mundo achou.Pouco mais de dois meses depois, na escuridão da madrugada de 3 de agosto de 2012, a terra se abriu --num sumidouro voraz de 100 metros de diâmetro e algumas centenas de metros de profundidade, engolindo árvores de 100 metros de altura, a água de pântanos adjacentes e arrotando metano proviniente de 300 metros ou mais abaixo da superfície.
"Acho que tive um vislumbre do inferno ao ver aquilo", disse Landry.
Desde então, quase tudo aqui mudou.
Mais de um ano depois de ter aparecido, o sumidouro de Bayou Corne tem cerca de 25 acres (101 mil metros quadrados), quase o tamanho de 20 campos de futebol, e continua crescendo, engolindo preguiçosamente pedaços de floresta e rastejando avidamente em direção a uma barragem de barro construída para conter as águas oleosas.
Ele tem sua própria página no Facebook e seus fãs, teóricos da conspiração que insistem que poço está de alguma forma ligado ao Golfo do México, 80 quilômetros ao sul e à falha sísmica New Madrid, 720 quilômetros ao norte. Ele confundiu os geólogos que têm se esforçado para explicar essa ferida na terra.
E dividiu este vilarejo de cerca de 300 pessoas em dois lados: os esperançosos, como Landry, que acreditam que as coisas acabarão se acalmando, e os desesperados, que na maioria fugiram ou planejam fugir, e culpam o estado e as autoridades corporativas por seu suplício.
"Tudo o que eles estão fazendo, eles foram obrigados a fazer", disse Mike Schaff, um dos que está indo embora, sobre as autoridades. "Eles não tomaram qualquer iniciativa. Eu queria ficar aqui. Mas a comunidade está basicamente destruída."
Drawls Landry, que decidiu ficar, diz: "Eu tinha uma placa no meu quintal que dizia: 'isto também passará'. Isso também passará. Nós não chegamos lá ainda. Mas eu sou um homem muito paciente."
O buraco é preocupante o bastante. Mas, por enquanto, os principais vilões são as bolhas: de gás inflamável metano, elas vêm à tona não só no rio, mas no pântano em frente e atrás da área.
Algumas palavras sobre a fantástica explicação: a maior parte de Louisiana fica em cima de um antigo oceano cujos vestígios salinos, extrudados para cima pela pressão cruel de incontáveis toneladas de rocha, formaram pelo menos 127 colossais pilares subterrâneos. A 700 metros abaixo de Bayou Corne, o domo de sal de Napoleonville se espalha por 4,8 quilômetros de extensão e 1,6 de largura – e desce até pelo menos 9 mil metros até o fundo do antigo oceano.
Um pequeno grupo de companhias há muito considera o domo como uma espécie de Tupperware gigante, um lugar prático para armazenar propano, butano e gás natural, e para produzir água salgada para as muitas indústrias químicas da região. Ao longo dos anos, eles têm repetidamente perfurado o domo, esvaziando 53 enormes cavernas.
Em 1982, na borda ocidental do domo, a Texas Brine Co. perfurou um poço para começar a trabalhar na grande caverna: com 45 a 90 metros de largura e 640 metros de profundidade, ele foi parar em mais de 1,6 quilômetro de profundidade. Até fechar a ligação entre o poço e a caverna em 2011, a companhia bombeou água doce para dentro e retirou água salgada para o proprietário da caverna subterrânea, a Occidental Chemical Corp.
Quem é o culpado pelo que aconteceu em seguida está em discussão numa enxurrada de ações judiciais. Mas em algum momento, a parede oeste do poço ruiu, e a caverna começou a se encher com lama e rochas. A lama e as rochas acima começaram a cair no espaço vazio, libertando o gás natural preso ali.
O gás subiu; a rocha lentamente deslizou. O resultado foi um sumidouro borbulhante e bocejante.
Os geólogos dizem que o buraco acabará parando de crescer, talvez em 50 acres, mas quanto levará para chegar a esse tamanho não está claro. De acordo com uma ordem estatal, a Texas Brine montou um amplo esforço, embora alguns digam que tardio, para bombear o gás para fora das camadas subterrâneas de areia onde ele se espalhou. Bayou Corne está cheio de poços recém cavados, com mais ainda por vir, e seus tubos levam a chamas que lentamente queimam o metano. Isso, todos concordam, poderá levar anos.
Os dois lados receberam a notícia de formas muito diferentes.
Pesquisas estaduais mostram que uma das maiores concentrações de metano fica diretamente abaixo do bairro de Landry, um bairro bem cuidado, com casas de tijolos, muitas com decks para o rio e seus ciprestes. Mas apenas duas famílias decidiram se mudar, e embora Landry deixe as malas porntas por desencargo de consciência, o detector de gás em sua casa oferece garantias suficientes para permanecer.
"Você sente algum cheiro?", ele pergunta. "Não. Temos gás borbulhando no rio? Sim. Para onde ele vai? Direto para cima. Eles fecharam o rio? Não."
A raiva ea infelicidade estão concentradas no bairro de Schaff, em frente à rodovia estadual 70, um amontoado de casas de madeira, alguns barracos menos arrumados e trailers em estradas estreitas com nomes como Sauce Piquante Lane e Jambalaya Street. Lá, fileiras de casas abandonadas são lacradas com placas de "Não ultrapassar", e as ruas estão mortalmente silenciosas.
Candy Blanchard, professora, e seu marido, Todd, soldador, mudaram-se no dia que o sumidouro apareceu. Eles agora pagam a hipoteca mensal de sua casa de sete anos, vazia e impossível de ser vendida, bem como o aluguel de outra casa. Blanchard passa pela casa todas as manhãs para alimentar os coelhos e gatos, que vivem sozinhos há um ano porque o proprietário da casa onde eles vivem agora só aceitou que levassem o cachorro.
O casal rejeitou uma oferta da Texas Brine para comprar sua casa e, em vez disso, entrou com uma ação coletiva contra a companhia. Eles nunca vão voltar, ela disse, porque não acreditam que a área seja segura.
"Agora estamos no ponto que os cientistas disseram que nunca iria acontecer, que esse seria o pior dos cenários", disse Candy Blanchard. "Como você pode encontrar especialistas se isso nunca aconteceu em nenhum outro lugar no mundo?"
Tradutor: Eloise De Vylder
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