segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Aumento de ataques jihadistas na África pode refletir enfraquecimento do movimento
Adam Nossiter - NYT
Um cerco sangrento a um shopping no Quênia, um sequestro em massa na Argélia, os ataques a instalações do governo do Níger, assassinatos de rotina de civis na Nigéria, um impulso militar agressivo em direção à capital do Mali: será que os militantes islâmicos encontraram seus alvos de preferência no continente africano?
Saiba mais sobre o grupo islâmico Al-Shabab
Grupo responsável pelo ataque ao shopping chegou a controlar boa parte da Somália
Por devastadores que tenham sido esses ataques recentes, eles podem na verdade ter mais a ver com os desafios enfrentados pelos grupos extremistas do que com uma nova força jihadista recente na África, afirmam analistas. Em cada caso, estas erupções ocorreram quando movimentos radicais islâmicos estavam na defensiva, sob a ameaça das forças internacionais, nacionais ou às vezes até mesmo locais.  
Esses assaltos ousados podem, portanto, ser vistos como chamas durante a noite, segundo alguns analistas – a tentativa dos militantes de mostrar que ainda estão por aí e ainda são capazes de derramar sangue. No momento em que parecem mais ameaçadores, os jihadistas pode de fato estar em fuga.  
"Os movimentos que estão em retirada também pode conseguir grandes impactos na mídia", disse Jean- Pierre Filiu, especialista do Instituto de Estudos Políticos de Paris.
Alguns analistas contra-argumentam que os grupos radicais poderiam simplesmente estar mudando de tática, posicionando-se para uma nova fase mais intensa da luta islâmica – embora observem que a propaganda, ao invés de um ganho tático, parece estar em primeiro lugar na mente dos extremistas durante essas crises.  
Mas outros argumentam que a fraqueza – e não apenas as ideologias radicais, fronteiras pouco seguras e acesso a armas – podem ser outro fator importante por trás desses ataques de terrorismo espalhados por um vasto continente.  
O cerco mortal a um shopping center em Nairóbi ocorreu depois que o al-Shabab, o grupo somali radical que reivindicou a responsabilidade pelo ataque, foi expulso das cidades e do território que antes controlava dentro da Somália por forças quenianas e da União Africana. 
"A Shabab enfraquecida é uma ameaça maior fora da Somália do que a Shabab fortalecida", escreveu Ken Menkhaus, um especialista no grupo para o Davidson College. "O ataque a Westgate é o sinal mais recente de fraqueza do grupo", disse ele, referindo-se ao shopping de Nairóbi onde ocorreu o ataque neste fim de semana. "Foi uma aposta desesperada e de alto risco da Shabab para reverter suas perspectivas." 
Essa mesma lógica foi evidente no ataque à usina de gás no deserto argelino em janeiro passado, no qual 39 reféns estrangeiros foram mortos. A França havia começado seu ataque contra uma variedade de grupos islâmicos que controlam o norte do Mali na semana anterior e estava no processo de despejá-los das cidades da região.
Mesmo um avanço militar islâmico em direção à capital do Mali uma semana antes disso, que estimulou a incursão francesa, aconteceu num momento em que a posição dos militantes no norte do Mali parecia ameaçada. Seu domínio rígido no norte já estava provocando a ir entre os habitantes locais oprimidos, que às vezes iam às ruas para expressá-la.
Da mesma forma, militantes atacaram no Níger em maio depois que a campanha francesa os havia desalojado de seus acampamentos no Mali, e os combatentes jihadistas foram espalhados por toda parte no deserto. 
E na Nigéria, anos de ofensivas agressivas por parte do exército – em particular o recente ataque de quatro meses – parece ter pressionado o Boko Haram, o grupo radical em guerra contra o Estado nigeriano, para fora de seu bastião de Maiduguri. O grupo continua a lutar a partir da área rural que cerca a cidade, às vezes massacrando civis. O Exército usa táticas semelhantes, matando um grande número de civis e membros do Boko Haram. 
Pode existir algum grau de polinização cruzada entre estes grupos. Por exemplo, um membro do Boko Haram pode ir para a Al Qaida do Magreb islâmico, ou AQIM – o inglês foi ouvido entre os que ocuparam Timbuktu no ano passado. Autoridades argelinas disseram que alguns militantes presentes no ataque da usina de gás na Argélia também participaram do ataque à missão diplomática dos EUA em Bengazi, na Líbia. A AQIM pode treinar alguns membros do Boko Haram, como afirmaram alguns especialistas. 
Mas há poucos indícios de um grande planejamento intercontinental para operações específicas, concordam vários analistas. 
"Há uma espécie de cumplicidade tática, que é diferente de uma coordenação estratégica", disse Marc- Antoine Pérouse de Montclos, especialista em terrorismo do Instituto Francês de Geopolítica da Universidade de Paris. "Isso diz respeito a indivíduos. Existe uma espécie de migração de combatentes." 
Analistas dizem que o ataque do al-Shabab no shopping Westgate está alinhado com as primeiras aplicações da moderna doutrina do terrorismo, dominada pelos rebeldes argelinos que buscavam expulsar os franceses nos anos 50: criar um evento tão dramático capaz de colocar sua organização de volta no mapa. 
"É a única maneira de conseguir recrutas e parecer relevante", disse Mathieu Guidère, especialista em terrorismo da Universidade de Toulouse. "É uma ação de propaganda e recrutamento, para mostrar que o jihadismo é o melhor caminho."
Tradutor: Eloise De Vylder      

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