Em extinção, meio de pagamento sobrevive nas agências de turismo e nas compras parceladas que complementam o limite do cartão
DANIELLE BRANT - FSP
Para vender mais guarda-chuva e carregador de celular, Ednaldo Nascimento, 45, passou a aceitar cartão de débito e crédito em pleno cruzamento da avenida dos Bandeirantes com a rua Porto Alegre, em Moema (zona sul), onde trabalha há 15 anos.
Orides de Oliveira, 53, viu sua barraca de água de coco deslanchar em frente ao estádio do Pacaembu (centro), quando aderiu ao cartão. Na mesma feira, a peixeira Regina Itinoche, 50, passou a vender mais frutos do mar após aceitar cartões.
Além da maquininha de débito e crédito, os três têm em comum a completa aversão ao cheque, meio de pagamento arriscado e praticamente em extinção no país.
Cada vez mais lojas não aceitam mais cheques.
Segundo a Febraban (Federação dos Bancos), o uso de cheques cai em média 10% ao ano. Na Caixa, houve queda de 60% entre 2002 e 2012. No Santander, a queda média anual foi de 12% desde 2008.
"Houve uma queda da aceitação do cheque nos estabelecimentos que aceitam cartão", afirma Ricardo Vieira, diretor da Abecs (associação das empresas de cartões).
Os próprios bancos desestimulam o uso do cheque, cuja compensação é manual e mais cara do que os pagamentos eletrônicos. A maioria dos pacotes só permite a emissão de 20 cheques por mês sem cobrar tarifa ou exigir liberação.
Os cheques sobrevivem nas agências de turismo. Segundo a Telecheque, cerca de 65% das compras são feitas com cheque pré-datado.
Nos supermercados, 3% a 5% das compras diárias são feitas com cheques.
Houve um aumento no valor médio dos cheques emitidos. Segundo o BC, entre 2006 e 2011 esse valor cresceu 86%, de R$ 941,6 para R$ 1.752,20. Isso ocorreu porque o cheque se tornou um instrumento de crédito, afirma José Antônio Praxedes, presidente da Telecheque, empresa especializada na verificação de cheques.
O instrumento, porém, ainda supre alguns limites do mercado de cartões.
"O limite médio no Brasil de um cartão de crédito está em R$ 460. Não dá nem para comprar um fogão", diz. Por outro lado, lembra, quando alguém vai fazer uma compra com cheque, ninguém vê o limite.
Hoje, o cheque é usado em compras programadas, como a entrada para a aquisição de um veículo ou de um imóvel, ou na compra de materiais de construção. Também é um meio para pagar por serviços, diz Marcel Solimeo, economista da Associação Comercial de São Paulo. "O dinheiro sempre tem o risco de segurança."
Nos EUA, cheques ainda sobrevivem e vão pelo correio
LUCIANA
COELHO - FSPImagine todos os meses assinar o cheque do aluguel, colocá-lo no envelope e remeter pelo correio. E fazer o mesmo com a conta de luz. E a assinatura do jornal. Ou mesmo com uma doação a instituições de caridade.
Pois os norte-americanos remetem cotidianamente o pagamento das contas, em cheque, pelo correio, como correspondência simples.
Esse comportamento, arraigado, tem perpetuado a longevidade do cheque.
Em 2006, segundo o Federal Reserve (o banco central dos EUA), 32% dos pagamentos efetuados sem dinheiro vivo foram em cheque. Em 2009, dado mais recente disponível, o número caiu para 22%. Ainda assim, os americanos assinaram 24,5 bilhões de cheques naquele ano, em um total estimado de US$ 31,6 trilhões.
Apesar do avanço das transações eletrônicas, algumas pessoas e instituições (senhorios e imobiliárias, sobretudo) só aceitam receber pagamentos em cheque, principalmente pelo custo, geralmente menor do que o de transferências.
Há ainda o traço cultural de confiar nesse meio de pagamento (6% dos cheques nos EUA são estornados), que produz situações inusitadas. O motorista sem moedas pode, por exemplo, enviar pelo correio um cheque de US$ 0,50, a posteriori e sem multa, para o pedágio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário