domingo, 29 de setembro de 2013

Crise das companhias aéreas afeta conforto de passageiros
Para economizar, TAM passou a desligar ar condicionado com avião no chão
Empresa tirou fornos dos aviões e passou a servir refeição fria; na Gol, serviço de bordo já havia se tornado pago
RICARDO GALLO - FSP
O cenário de prejuízos milionários e corte das despesas por que passam as companhias aéreas atingiu agora o conforto dos passageiros.
Para poupar combustível, a TAM --líder de mercado no Brasil-- passou a desligar o ar condicionado que refresca a cabine de passageiros quando o avião está no chão.
O equipamento para de funcionar quando o avião deixa o gate (ponte de embarque) e volta a ser ligado após a decolagem, o que pode demorar 15 minutos.
Quando o avião pousa, o ar é desligado de novo.
A Folha esteve em um voo da TAM há nove dias, entre Congonhas (SP) e Santos Dumont (Rio): quando o ar para, a temperatura sobe e os passageiros passam a mexer nos dutos do teto --pensando ter havido algo errado.
Ninguém da tripulação informa sobre o desligamento.
Em vigor há nove meses, a medida prevê que o avião fique refrigerado por apenas um dos dois sistema de ar do avião. Mas só 25% do ar que sai desse sistema refresca os passageiros, diz um piloto; o resto vai para a cabine do piloto e do copiloto.
A economia parece pequena, mas é expressiva ao se ter em conta os 800 voos diários da TAM. A empresa teve prejuízo de R$ 1,2 bilhão em 2012.
TEMPERATURA
Com o ar ligado, um avião se mantém com 23ºC. Ciente do desconforto, a TAM manda a tripulação religar o ar se a temperatura chegar a 26ºC.
O conforto não é prejudicado, diz a companhia.
A Azul faz algo parecido, mas em menor proporção: desliga um dos sistemas de ar, mas só com o avião parado no gate e com a porta aberta.
O ar não foi o único afetado. Em abril, a TAM retirou os fornos dos aviões que atendem aos voos domésticos e nos internacionais de curta duração. A comida é servida fria --o serviço de bordo mais enxuto é tendência no setor.
Segundo a empresa, a opção por refeições "frias, leves e saudáveis" foi tomada após pesquisas com clientes.
Vice-líder de mercado e também no vermelho (R$ 1,5 bi em 2012), a Gol, com 900 voos diários, não mexeu no ar, mas cortou serviços.
Em junho, a empresa reduziu a água embarcada no banheiro em voos curtos, como a ponte aérea. Em maio, extinguira o serviço de bordo gratuito na maior parte dos voos --a água é de graça e o restante, vendido.
A empresa pagou neste ano bônus aos tripulantes por economia de combustível.
As medidas ocorrem em um cenário em que o combustível, atrelado ao dólar, representa 40% dos gastos.

Cortar custo é 'lição de casa', diz associação das empresas
Para presidente da Abear, dólar alto elevou as despesas das companhias
Entidade pediu redução de impostos ao governo; TAM afirma que ar desligado a bordo não afeta o conforto
FSP
As empresas estão "fazendo a lição de casa" ao cortar custos enquanto são pressionadas pelo aumento das despesas, diz Eduardo Sanovicz, presidente da Abear, associação que reúne TAM, Gol, Azul e Avianca --que, juntas, têm 94% do mercado doméstico.
Entre as dificuldades que o setor enfrenta, afirma, estão a alta do dólar, que está "de 15% a 18% mais caro e que impacta em 65% nos custos".
Outro problema, afirma, é a incidência de impostos. Para atingir meta de transportar 200 milhões de passageiros por ano em 2020, a associação quer a unificação do ICMS cobrado pelos Estados e a revisão da política de preços da Petrobras.
Embora 75% do combustível que abastece os aviões seja produzido no Brasil, a estatal define o preço com base na cotação do barril no golfo do México e cobra 100% pelo frete de importação.
A Abear pediu ao governo alteração nesses dois itens, mas a revisão é vista como improvável de ocorrer.
A alíquota que o setor paga é a mesma de quando levava 25 milhões de passageiros por ano, diz Sanovicz. Mas a aviação virou transporte de massa, afirma, sem redução de impostos à altura.
Para o dirigente, a discrepância afeta em cheio o turismo interno: ir para Buenos Aires é mais barato do que ir para o Nordeste. Isso porque não há cobrança de alguns impostos em voos para fora.
EMPRESAS
Sobre ter desligado o ar condicionado, a TAM informou tratar-se de um "ajuste comum, em linha com as recomendações do fabricante da aeronave e de acordo com as práticas do setor". O objetivo é "melhorar a eficiência", "sem prejuízo à segurança e ao conforto dos clientes".
O avião tem dois sistemas de ar condicionado. Quando um é desligado, como ocorre com o avião no chão, o que resta "distribui uniformemente o ar pela aeronave".
Retirar os fornos é "parte de uma readequação das aeronaves à nova proposta do serviço de bordo", que mudou para atender os clientes.
A empresa diz que, assim como outras companhias aéreas no mundo, tem se esforçado "para tornar suas operações mais eficientes e ecologicamente responsáveis".
A Gol afirma que a redução de quantidade de água nos banheiros é dimensionada para não afetar passageiros.
Diz ainda que toma 19 medidas para diminuir o consumo de combustível, entre elas o bônus para os pilotos. Afirma ainda que, para reduzir o peso do avião (que resulta em economia de combustível), os aviões mais novos virão com poltronas mais leves.
A Azul diz que sua política de desligar um dos comandos do ar condicionado enquanto o avião está parado no gate e com as portas abertas não impacta no conforto.

Nenhum comentário: