domingo, 29 de setembro de 2013

Mansão depredada de Pequim teve muitos moradores, talvez até um fantasma
Amy Qin - NYT
Gilles Sabrie/The New York Times
A mansão abandonada fica no número 81 da rua Chaonei, em Pequim, e vizinhos dizem que ela é assombrada pelo fantasma da 'cuncubina' de um ex-líder do Kuomintang
A mansão abandonada fica no número 81 da rua Chaonei, em Pequim, e vizinhos dizem que ela é assombrada pelo fantasma da 'cuncubina' de um ex-líder do Kuomintang
Era 1949, e os comunistas tinham acabado de derrotar os nacionalistas na guerra civil. Diz a lenda que durante a retirada apressada do exército perdedor para Taiwan, um oficial de alto-escalão do Kuomintang que vivia em Pequim abandonou a esposa, deixando-a a própria sorte enquanto os comunistas marchavam para a cidade. Devastada, a mulher (alguns dizem que era sua concubina) se enforcou nas vigas de sua casa de três andares ao estilo barroco francês.
O espírito da mulher rejeitada tem assombrado a casa desde então, dizem os moradores locais.
Hoje, com suas teias de aranha que vão do teto ao chão e assoalho em ruínas, a casa, Chaonei Nº 81, certamente parece ser o terreno ideal para atividades paranormais. No entanto, ao contrário da famosa Cidade Proibida, cheia de fantasmas, que recebe multidões de turistas todos os dias, a casa Chaonei ficou depredada e abandonada durante anos, um enclave tranquilo no meio de blocos de apartamentos ao estilo soviético e brilhantes edifícios modernos.
Segundo a lenda local, a mansão foi construída pela família imperial Qing como uma igreja para os moradores britânicos de Pequim. Ela não podia ser mais anacrônica, com sua fachada de tijolos vermelhos, telhado Mansard e cantos de pedra. No entanto, o interesse tem aumentado pela casa nos últimos anos, com vídeos circulando na internet e notícias boca-a-boca sobre um novo filme que seria rodado na casa.
No interior, os corrimões intricados e fragmentos dos azulejos decorativos do chão são os únicos sinais remanescentes da antiga elegância da mansão. Há materiais de construção, garrafas de cerveja e pontas de cigarro espalhados por toda parte, vestígios deixados por muitos ("demais", diz um guarda) jovens aventureiros que invadem a casa à noite. Uma pichação adverte os visitantes para ficarem longe.
"Mesmo nos anos 1970, as pessoas pensavam que a casa era mal-assombrada", disse Li Yongjie, que cresceu numa viela atrás da Chaonei Nº 81. "Quando éramos crianças, brincávamos de esconde-esconde na casa, mas não ousávamos entrar sozinhos."
"Até os guardas vermelhos que viveram na casa durante a Revolução Cultural ficaram com medo e foram embora", acrescentou Li, 50, referindo-se à juventude militante leal a Mao Tsé-tung no final dos anos 60.
Apesar da localização dos edifícios no centro de Pequim, onde uma pequena casa com pátio é vendida facilmente por alguns milhões de dólares, "não há planos oficiais" para fazer qualquer coisa com as construções abandonadas, disse o reverendo Liu Zhentian da Diocese Católica de Pequim, atual proprietária do imóvel.
Os imóveis estão agora numa lista de preservação histórica, de modo que só podem ser reformados, não demolidos. E a igreja até agora não conseguiu encontrar um inquilino disposto a assumir o custo da reforma, que os oficiais da igreja estimaram em mais de US$ 1,5 milhão (R$ 3,2 milhões).
Tanto a polícia do distrito quanto a diocese católica negaram a história de fantasma de Chaonei.
"Em termos de história, não existiu nenhum oficial do Kuomintang morando lá", disse Shi Hongxi, secretário-geral da Associação Patriótica Católica Chinesa, em Pequim, que supervisiona a diocese, a um jornal local em 2009. "Toda a história sobre a casa ser assombrada não faz sentido."
Qualquer que seja a verdade , as diversas narrativas em torno da casa só têm aumentado seu fascínio.
"A morte e a religião – estes são sempre bons pontos de partida para possíveis fantasmas", disse Daniel Newman, fundador da Newman Tours, que oferece um tour fantasma a lugares supostamente assombrados nos arredores de Pequim.
A história de Chaonei nº 81 ficou mais conhecida depois de 1949, quando passou para o controle do governo. Por décadas, os edifícios passavam por vários estágios de uso e desuso, à medida que os direitos da propriedade eram passados entre ministérios do governo.
"Costumava haver um belo chafariz na frente e toda essa grama selvagem", lembrou Li, enquanto andava pela casa numa tarde, em sua primeira visita depois de muitos anos. "Eu não imaginei que estaria tão depredada assim." 
Tradutor: Eloise De Vylder

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