sábado, 28 de setembro de 2013

Dilma está de volta ao Twitter num diálogo frenético com “Dilma Bolada”. O governo pode ser mixuruca, mas a equipe de marketing está de parabéns. Ou: As formas do falso
Reinaldo Azevedo - VEJA
Ai, ai… Quando começo assim… Pois é. A presidente Dilma Rousseff, para todos os efeitos, está de volta ao Twitter. Como pode voltar quem nunca esteve? Com raras exceções, conta de político é gerenciada por assessores e só serve à propaganda. Ela havia postado sua última mensagem no dia 13 de dezembro de 2010, ano em que foi criada a conta, com o propósito de servir à campanha eleitoral. Escreveu algum estafeta em nome da presidente então eleita: “Amigos,muito legal ser tão lembrada no twitter em 2010. Logo eu, que tive tão pouco tempo p/estar aqui c/vcs. Vamos conversar mais em 2011.” E não cumpriu também essa promessa. Desapareceu.
Nesta sexta, voltou com tudo, numa operação cuidadosamente planejada por marqueteiros. A presidente reaparece dialogando com uma personagem chamada “Dilma Bolada”.
Apesar de o nome não ser lá muito lisonjeiro, trata-se de uma homenagem rasgada à presidente. “Linda, honesta, diva, inteligente…” são alguns dos qualificativos encontrados pelo criador da conta para designar a presidente. Mulheres, assim, com o perfil aparentemente enérgico, duronas, mandonas, acabam se tornando verdadeiras “musas” — ou “divas” — de rapazes entusiasmados. Vejam.
O Planalto achou o criador do “Dilma Bolada” e divulgou um fato oficial. Vejam.
Trata-se de Jeferson Monteiro. Leio no Globo o que ele disse: “Fui, sou e vou continuar sendo fã da Dilma. Eu gosto dela, não é segredo para ninguém. Tem dor de cotovelo. Acho que os políticos devem se preocupar mais com coisas sérias do que ficar se preocupando com personagem de internet.” Não entendi nada. Ele está nervosinho por quê? Quem tem inveja do quê? Quem estava se “preocupando” com personagem na Internet? Parece que Jeferson é daqueles que gostam de contestar a favor… Vejo a foto: a camisa vermelha fez parte do protocolo, para combinar com o modelito exibido pela “diva”, pela “honesta” e pela “humilde”, segundo, sei lá, o decoro do socialismo petista?
Aí o assessor que se faz passar pela presidente (a de verdade) responde parafraseia Guimarães Rosa ao conversar com a Bolada:
E aproveita para lançar o “Portal Digital.
Informa o Globo:
“Segundo a presidente, o portal vai oferecer cerca de 600 serviços online. Por exemplo, inscrição no Pronatec (programa de formação profissional) e no Fies (programa de crédito para estudantes de ensino superior). A mudança do portal é o primeiro produto do Gabinete Digital, vinculado diretamente à presidente e comandado por Valdir Simão, ex-secretário executivo do Ministério do Turismo. A reformulação do portal vem sendo feita pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom) e pela agência TV1, responsável pela produção de conteúdo e pelo desenvolvimento técnico do portal.”
Assim, temos que Jeferson, o rapaz entusiasmado que criou o “Dilma Bolada”, é, à sua maneira, mais “de verdade” do que Dilma, ela-mesma, cuja conta é parte de uma operação de marketing, o que não deixa de ser uma forma que os políticos encontraram de fraudar a essência — boa ou má, é discutível — do Twitter.
Os marqueteiros também aproveitaram o retorno de Dilma para contestar a reportagem especial da Economist sobre a economia brasileira. Há algum tempo, quando a revista sugeriu que era hora de Guido Mantega cuidar de outros assuntos, Dilma ficou furiosa e resolveu bater boca com a revista. Desta feita, recorreu à rede social para dizer que a publicação está desinformada sobre a realidade brasileira.
Estamos a praticamente um ano da eleição. Hora de reativar as contas nas redes sociais. Uma coisa ao menos se deve reconhecer: o governo pode ser uma porcaria, mas é bom de marketing. A operação foi muitíssimo bem-sucedida. Dilma, a verdadeira, que é mais falsa do que a falsa, que tem ao menos um criador verdadeiro (assim presumo ao menos), movimentou o Twitter. O governo pode ser mixuruca, mas a turma da propaganda está de parabéns.

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