Reinaldo Azevedo - VEJA
Ouvi
há pouco no Jornal Nacional que os advogados dos manifestantes — quem
contrata quem nesse caso? — que representavam Fabrício Proteus Chaves, o
rapaz baleado por PMs depois de resistir à prisão e ameaçá-los com um
estilete, foram destituídos pela família. Proteus passará a ser
defendido apenas pela Defensoria Pública.
O rapaz
prestou depoimento nesta quarta. Sim, ele admitiu que avançou sobre os
policiais com um estilete, mas diz que o fez depois de ter tomado um
primeiro tiro. Acredite quem quiser. Admitiu também que os badulaques da
mochila (próprios para o confronto com a PM) eram mesmo seus, exceção
feita aos explosivos. O depoimento desmoraliza a história da luta de um
coitadinho contra uma PM assassina. A família sabe disso. A Defensoria
Pública sabe disso. A estratégia agora é a de redução de danos.
E o que
fizeram os tais advogados que servem à causa? Afirmaram que Proteus
prestou depoimento sob efeito de… morfina — sugerindo que não estaria
plenamente consciente dos seus atos. É um escândalo moral. Já se tratou
com morfina, leitor amigo? Eu já. Sim, dá uma felicidade imensa, sabem?
Mas porque tira a dor. Só por isso. O uso hospitalar da droga, sob
controle médico, não altera a consciência de ninguém. Trata-se de uma
acusação delinquente.
Durante o
depoimento, além dos advogados, estavam presentes familiares do rapaz e o
defensor público Carlos Weis, que não pode ser considerado exatamente
um amigo da polícia.
Os tais
advogados estão bravos porque, acho eu, no fundo, eles estão pouco se
lixando para o ex-cliente. Proteus havia se transformado numa causa.
Como o seu depoimento — mesmo com aquela história de que só sacou o
estilete depois do primeiro tiro — desmoraliza a história da carochinha
da luta entre o paladino da liberdade a a PM carniceira, então eles se
saem com essa história ridícula e, acho eu, eticamente grave.
Já que a
OAB tem o monopólio da concessão do registro profissional, acho que a
sua Comissão de Ética deveria se interessar pelo caso. Clientes não
podem ser instrumentos de manipulação em favor de causas — por mais
nobres que possam ser. E advogados não podem, do nada, acusar a Polícia,
a Defensoria Pública e os familiares do cliente de participarem de uma
farsa — e foi isso que eles fizeram. Estariam todos compactuando de um
crime. A propósito: não está caracterizada aí a falsa comunicação de um
crime, uma conduta prevista do Código Penal, que também vale os para os
advogados? Não custa notar: eles não fizeram uma acusação no melhor
interesse do seu cliente, não é?
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