Incertezas da Ucrânia incluem sua situação financeira
Andrew E. Kramer - NYTÀ medida que a crise política da Ucrânia se aprofunda, crescem também seus problemas financeiros.
Após meses de protestos e a renúncia nesta terça-feira (28) do
primeiro-ministro do país, a oposição na Ucrânia parece mais próxima do
que nunca de atingir suas metas, a principal delas forçar o governo a
rejeitar os acordos comerciais e de ajuda com a Rússia e se voltar para a
União Europeia.
Mas a revolta política pode rapidamente se transformar em uma crise econômica. Mesmo se a Ucrânia voltar a se inclinar para o Ocidente, não há pacote financeiro pronto para substituir a ajuda russa que o Kremlin começou a oferecer em dezembro. Sem ajuda estrangeira, a Ucrânia certamente dará o calote em sua dívida ou desvalorizará sua moeda.
Em dezembro, a Rússia forneceu US$ 3 bilhões de um pacote total de ajuda de US$ 15 bilhões e está previsto que desembolse US$ 2 bilhões adicionais na sexta-feira (31). A Ucrânia conta com enormes déficits orçamentário e em conta corrente, e o banco central está esgotando rapidamente suas reservas de ouro e moeda estrangeira.
No final da semana, ficará claro se a Rússia prosseguirá com a segunda parcela da ajuda financeira ao governo do presidente Viktor Yanukovych, apesar de sua decisão de iniciar negociações de reconciliação com a oposição pró-Ocidente e sua perda do controle sobre os governos regionais. A renúncia na terça-feira (28) do primeiro-ministro Mykola Azarov, que era um ferrenho aliado de Yanukovych, aumenta as incertezas.
"Eu não ficaria surpreso com uma decisão de adiamento por parte da Rússia, ao menos enquanto aguarda o resultado das negociações", disse Vladimir Tikhomirov, economista-chefe da Otkritie Financial Corp. em Moscou, por telefone.
"Quando você compra títulos do governo, você quer assegurar que está comprando títulos de um governo com o qual mantém relações amistosas", ele disse sobre a ajuda russa, que foi estruturada como compras de títulos da dívida ucraniana a valores abaixo de mercado. "Seria uma surpresa se os russos decidissem colocar dinheiro na mesa agora, diante de tudo o que está acontecendo."
Ativistas de oposição usando máscaras de esqui ocuparam na semana passada o principal prédio do Ministério da Agricultura e tomaram brevemente o prédio do Ministério da Justiça antes de se retirarem, mas apenas porque o ministério disse que a ocupação estava interferindo nas negociações para mudança da Constituição visando enfraquecer o poder do presidente.
Em uma resposta a uma pergunta por escrito, o serviço de imprensa do Ministério das Finanças russo se recusou a comentar suas intenções.
O Ministério das Finanças ucraniano emitiu uma declaração na segunda-feira (27) dizendo que estava preparado para emitir os títulos como previsto, mas não deu indicação se os russos prometeram comprá-los como acertado.
A economia em recessão da Ucrânia paira como um pano de fundo sombrio para os recentes protestos de rua. O orçamento de 2014 do país, aprovado neste mês por contagem manual no Parlamento depois que a oposição bloqueou o sistema eletrônico de votação, inclui um déficit equivalente a 4,3% do produto interno bruto.
O dinheiro russo e uma redução nos preços do gás natural cobrados pela empresa russa Gazprom estão subsidiando a diferença nos gastos e escorando a moeda nacional, o hrivna, e afastando um calote da dívida pelo governo.
Diante da recente violência aqui, o hrivna voltou a ser pressionado nesta semana, que o mercado agora cota a valores bem abaixo da taxa declarada pelo banco central, com o dólar cotado a 8 hrivna. No mercado interbancário ucraniano, o dólar estava cotado a 8,7 hrivna nesta semana, mas não entrou em queda livre.
"Qualquer pessoa olhando ao redor e vendo o que está acontecendo nas ruas poderia decidir vender hrivna e comprar dólares", disse Ivan Tchakarov, economista-chefe do Citibank que cobre os ex-Estados soviéticos, sobre o risco de venda por pânico da moeda nacional, um problema não incomum na região.
Em Kiev na terça-feira (21), os clientes iam de banco em banco à procura de dólares escassos. Um caixa em uma agência do UniCredit disse que o banco estava vendendo apenas dólares que foram vendidos ao banco naquele dia por outros clientes, e que às vezes só tinha algumas poucas centenas de dólares em dinheiro disponíveis. O UniCredit fechou quatro agências em Kiev na quarta-feira (22) devido à violência nas ruas.
O mercado de ações ucraniano, sem causar surpresa, está em queda. O índice da bolsa da Ucrânia caiu mais de 70% nos últimos três anos, e 8,9% desse declínio ocorreram na semana passada, à medida que a capital era tomada pela violência.
O governo de Azarov, que continuará trabalhando após sua renúncia na terça-feira, tem lutado para repassar o máximo do dinheiro russo para os funcionários do setor público e pensionistas o mais rápido possível, para acalmar os humores, apesar da disfunção do governo em grande parte paralisado.
No orçamento de 2014, o salário mínimo mensal subiu 6%, para 971 hrivna, ou aproximadamente US$ 114; e o imposto de renda para pessoa física foi reduzido em um ponto percentual, para 17%. Essas medidas só foram possíveis por causa da ajuda russa, disse Tchakarov do Citibank.
Como a crise política da Ucrânia permanecia não resolvida no momento do acordo russo, os russos tomaram precauções para não terminarem financiando um governo pró-Ocidente: a compra dos títulos ocorreria em múltiplas parcelas e o contrato de gás natural com a Gazprom está sujeito a revisões trimestrais.
No fim de semana, Yanukovych ofereceu demitir o Gabinete e nomear dois
líderes da oposição para altos cargos, além de outras concessões. Mas os
manifestantes rejeitaram a proposta e a renúncia do primeiro-ministro
como sendo insuficientes. As negociações continuam.
Em uma entrevista em dezembro, Arseniy P. Yatsenyuk, o líder do Partido Pátria ao qual foi oferecido a posição de primeiro-ministro, mas recusou, disse que os embaixadores ocidentais ofereceram garantias de que o Fundo Monetário Internacional agiria rapidamente para ajudar a Ucrânia caso esta assine um acordo de comércio com a União Europeia. Mas esse acordo ainda não está em vigor.
As autoridades do Fundo Monetário Internacional, em Washington, não responderam imediatamente na terça-feira (28) ao pedido de comentários. As "autoridades ainda precisam esclarecer suas intenções em relação a discussões sobre um possível programa apoiado pelo Fundo", disse Wiliam Murray, um porta-voz do FMI, em uma breve coletiva de imprensa na semana passada. "Nós, como instituição, permanecemos prontos para trabalhar com os ucranianos em um plano assim que for trazido para nós."
Um membro polonês do Parlamento Europeu, Pawel Kowal, publicou um artigo na segunda-feira (27) no jornal "Rzeczpospolita" pedindo por algo como um Plano Marshall de ajuda Ocidental imediata à Ucrânia, caso os líderes do protesto tenham sucesso em chegar ao poder.
Os protestos em massa continuaram se espalhando pelo país, incluindo novas tentativas de tomada dos prédios dos governos regionais no leste e sul da Ucrânia, áreas que costumam ser redutos de apoio a Yanukovych e suas políticas pró-Rússia.
Sua impopularidade com os manifestantes a parte, a ajuda russa conseguiu estabilizar o mercado de títulos da dívida.
O rendimento dos títulos, uma medida do custo de tomada de empréstimo pelo governo, subiu acima de 10,5% no final do ano passado. Mas caiu para 7,8% após o anúncio da ajuda russa. Mas mesmo este não é um custo sustentável para os ucranianos a longo prazo. Mas foi uma bênção para investidores como a Franklin Templeton, a gigante de gestão de capital com sede na Califórnia que é um dos maiores credores do governo ucraniano. Em um momento a firma possuía cerca de um quinto dos títulos em circulação, com valor nominal de US$ 5 bilhões. A Franklin Templeton se recusou a comentar sua posição na Ucrânia.
À medida que aumentava a radicalização dos protestos ao longo da semana passada, com os manifestantes queimando pneus e atirando coquetéis Molotov contra a polícia, o rendimento subiu novamente para 9,2% na terça-feira –ainda abaixo do pico de 10,5% que os investidores pediam antes do anúncio da ajuda russa.
Mas a revolta política pode rapidamente se transformar em uma crise econômica. Mesmo se a Ucrânia voltar a se inclinar para o Ocidente, não há pacote financeiro pronto para substituir a ajuda russa que o Kremlin começou a oferecer em dezembro. Sem ajuda estrangeira, a Ucrânia certamente dará o calote em sua dívida ou desvalorizará sua moeda.
Em dezembro, a Rússia forneceu US$ 3 bilhões de um pacote total de ajuda de US$ 15 bilhões e está previsto que desembolse US$ 2 bilhões adicionais na sexta-feira (31). A Ucrânia conta com enormes déficits orçamentário e em conta corrente, e o banco central está esgotando rapidamente suas reservas de ouro e moeda estrangeira.
No final da semana, ficará claro se a Rússia prosseguirá com a segunda parcela da ajuda financeira ao governo do presidente Viktor Yanukovych, apesar de sua decisão de iniciar negociações de reconciliação com a oposição pró-Ocidente e sua perda do controle sobre os governos regionais. A renúncia na terça-feira (28) do primeiro-ministro Mykola Azarov, que era um ferrenho aliado de Yanukovych, aumenta as incertezas.
"Eu não ficaria surpreso com uma decisão de adiamento por parte da Rússia, ao menos enquanto aguarda o resultado das negociações", disse Vladimir Tikhomirov, economista-chefe da Otkritie Financial Corp. em Moscou, por telefone.
"Quando você compra títulos do governo, você quer assegurar que está comprando títulos de um governo com o qual mantém relações amistosas", ele disse sobre a ajuda russa, que foi estruturada como compras de títulos da dívida ucraniana a valores abaixo de mercado. "Seria uma surpresa se os russos decidissem colocar dinheiro na mesa agora, diante de tudo o que está acontecendo."
Ativistas de oposição usando máscaras de esqui ocuparam na semana passada o principal prédio do Ministério da Agricultura e tomaram brevemente o prédio do Ministério da Justiça antes de se retirarem, mas apenas porque o ministério disse que a ocupação estava interferindo nas negociações para mudança da Constituição visando enfraquecer o poder do presidente.
Em uma resposta a uma pergunta por escrito, o serviço de imprensa do Ministério das Finanças russo se recusou a comentar suas intenções.
O Ministério das Finanças ucraniano emitiu uma declaração na segunda-feira (27) dizendo que estava preparado para emitir os títulos como previsto, mas não deu indicação se os russos prometeram comprá-los como acertado.
A economia em recessão da Ucrânia paira como um pano de fundo sombrio para os recentes protestos de rua. O orçamento de 2014 do país, aprovado neste mês por contagem manual no Parlamento depois que a oposição bloqueou o sistema eletrônico de votação, inclui um déficit equivalente a 4,3% do produto interno bruto.
O dinheiro russo e uma redução nos preços do gás natural cobrados pela empresa russa Gazprom estão subsidiando a diferença nos gastos e escorando a moeda nacional, o hrivna, e afastando um calote da dívida pelo governo.
Diante da recente violência aqui, o hrivna voltou a ser pressionado nesta semana, que o mercado agora cota a valores bem abaixo da taxa declarada pelo banco central, com o dólar cotado a 8 hrivna. No mercado interbancário ucraniano, o dólar estava cotado a 8,7 hrivna nesta semana, mas não entrou em queda livre.
"Qualquer pessoa olhando ao redor e vendo o que está acontecendo nas ruas poderia decidir vender hrivna e comprar dólares", disse Ivan Tchakarov, economista-chefe do Citibank que cobre os ex-Estados soviéticos, sobre o risco de venda por pânico da moeda nacional, um problema não incomum na região.
Em Kiev na terça-feira (21), os clientes iam de banco em banco à procura de dólares escassos. Um caixa em uma agência do UniCredit disse que o banco estava vendendo apenas dólares que foram vendidos ao banco naquele dia por outros clientes, e que às vezes só tinha algumas poucas centenas de dólares em dinheiro disponíveis. O UniCredit fechou quatro agências em Kiev na quarta-feira (22) devido à violência nas ruas.
O mercado de ações ucraniano, sem causar surpresa, está em queda. O índice da bolsa da Ucrânia caiu mais de 70% nos últimos três anos, e 8,9% desse declínio ocorreram na semana passada, à medida que a capital era tomada pela violência.
O governo de Azarov, que continuará trabalhando após sua renúncia na terça-feira, tem lutado para repassar o máximo do dinheiro russo para os funcionários do setor público e pensionistas o mais rápido possível, para acalmar os humores, apesar da disfunção do governo em grande parte paralisado.
No orçamento de 2014, o salário mínimo mensal subiu 6%, para 971 hrivna, ou aproximadamente US$ 114; e o imposto de renda para pessoa física foi reduzido em um ponto percentual, para 17%. Essas medidas só foram possíveis por causa da ajuda russa, disse Tchakarov do Citibank.
Como a crise política da Ucrânia permanecia não resolvida no momento do acordo russo, os russos tomaram precauções para não terminarem financiando um governo pró-Ocidente: a compra dos títulos ocorreria em múltiplas parcelas e o contrato de gás natural com a Gazprom está sujeito a revisões trimestrais.
Em uma entrevista em dezembro, Arseniy P. Yatsenyuk, o líder do Partido Pátria ao qual foi oferecido a posição de primeiro-ministro, mas recusou, disse que os embaixadores ocidentais ofereceram garantias de que o Fundo Monetário Internacional agiria rapidamente para ajudar a Ucrânia caso esta assine um acordo de comércio com a União Europeia. Mas esse acordo ainda não está em vigor.
As autoridades do Fundo Monetário Internacional, em Washington, não responderam imediatamente na terça-feira (28) ao pedido de comentários. As "autoridades ainda precisam esclarecer suas intenções em relação a discussões sobre um possível programa apoiado pelo Fundo", disse Wiliam Murray, um porta-voz do FMI, em uma breve coletiva de imprensa na semana passada. "Nós, como instituição, permanecemos prontos para trabalhar com os ucranianos em um plano assim que for trazido para nós."
Um membro polonês do Parlamento Europeu, Pawel Kowal, publicou um artigo na segunda-feira (27) no jornal "Rzeczpospolita" pedindo por algo como um Plano Marshall de ajuda Ocidental imediata à Ucrânia, caso os líderes do protesto tenham sucesso em chegar ao poder.
Os protestos em massa continuaram se espalhando pelo país, incluindo novas tentativas de tomada dos prédios dos governos regionais no leste e sul da Ucrânia, áreas que costumam ser redutos de apoio a Yanukovych e suas políticas pró-Rússia.
Sua impopularidade com os manifestantes a parte, a ajuda russa conseguiu estabilizar o mercado de títulos da dívida.
O rendimento dos títulos, uma medida do custo de tomada de empréstimo pelo governo, subiu acima de 10,5% no final do ano passado. Mas caiu para 7,8% após o anúncio da ajuda russa. Mas mesmo este não é um custo sustentável para os ucranianos a longo prazo. Mas foi uma bênção para investidores como a Franklin Templeton, a gigante de gestão de capital com sede na Califórnia que é um dos maiores credores do governo ucraniano. Em um momento a firma possuía cerca de um quinto dos títulos em circulação, com valor nominal de US$ 5 bilhões. A Franklin Templeton se recusou a comentar sua posição na Ucrânia.
À medida que aumentava a radicalização dos protestos ao longo da semana passada, com os manifestantes queimando pneus e atirando coquetéis Molotov contra a polícia, o rendimento subiu novamente para 9,2% na terça-feira –ainda abaixo do pico de 10,5% que os investidores pediam antes do anúncio da ajuda russa.
Tradutor: George El Khouri Andolfato
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