Alguns conselhos para aqueles que genuinamente querem ajudar os pobres
Hans F. Sennholz - IMB
Se
você
está preocupado com a 'justiça social' e quer genuinamente ajudar os
pobres a subir na vida de maneira permanente e independente, há
alguns procedimentos que você pode seguir.
Sua
primeira e imprescindível obrigação para com os pobres é: não se torne um deles e não
faça com que outros se tornem um deles.
Será muito mais difícil ajudar pessoas pobres se você ou seu vizinho se
tornar pobre. Assim como você não deve
se tornar pobre, você também não deve defender políticas que levem ao
empobrecimento de ricos na crença de que isso levará ao enriquecimento dos
pobres. Para o pobre, não interessa se
foi você ou o seu vizinho que empobreceu por meio de medidas do governo; a
situação dele não melhorará. Um rico
empobrecido não cria um pobre enriquecido.
A economia não é um jogo de soma zero.
Não
sendo pobre, você tem uma escolha: você pode dar o peixe para os pobres comerem
ou você pode lhes arrumar um emprego e ensiná-los a pescar o peixe por
conta própria — isto é, ensiná-los a serem seres humanos produtivos.
O
que nos leva à sua segunda obrigação: se você quer ensinar os pobres a serem
independentes e capazes de se auto-ajudar, comece dando o exemplo ainda dentro
de sua própria casa. Crie seus filhos de
maneira austera. Filhos independentes e
não-mimados se tornam mais produtivos, mais solícitos, mais realistas e menos
propensos a roubar ou a ser desonestos. No futuro, seu filho poderá servir de exemplo
comportamental para aquelas pessoas que você está preocupado em ajudar.
Dado
que todos vivemos no mesmo planeta (e não há como fugir dele — vivos), todos
enfrentamos o mesmo problema sobre como alocar recursos escassos da maneira
mais eficiente possível do modo a satisfazer desejos cada vez maiores (já são quase
7 bilhões de pessoas na terra). Há duas
maneiras de se alocar recursos: 1) por meio da força, ou seja, por meio de
decretos e coerções governamentais; ou 2) voluntariamente, por meio do sistema
de preços fornecido pelo mercado.
Esta
segunda maneira é mais duradoura e, logo, preferível para ser adotada com o
intuito de sustentar a vida de um enorme número de pessoas. Por isso, é também sua obrigação explicar às
pessoas — principalmente aos seus amigos igualmente sedentos por 'justiça
social' — como funciona uma economia de mercado e por que apenas ela pode
criar a maior quantidade possível de bens e serviços para os mais pobres,
melhorando seu padrão de vida. Todo e
qualquer sistema econômico socialista sempre culmina em escassez e em
racionamento de recursos, exatamente o contrário do que você quer para os mais
pobres.
Sua
terceira obrigação para com os pobres é dar bons exemplos, de modo que eles se
sintam estimulados a emular seu sucesso.
Não minta, não roube, não trapaceie e não tome dinheiro das pessoas,
tampouco utilize o governo para fazer isso por você. Não enriqueça por meio de políticas
governamentais. Não aceite dinheiro nem
privilégios do governo — dado que o governo nada cria, tudo o que ele lhe dá
foi adquirido coercivamente de terceiros (na esmagadora maioria dos casos,
contra a vontade de seus legítimos proprietários), uma medida que gera apenas
ressentimento destes pagadores de impostos.
Uma civilização que é erigida sobre o roubo e sobre privilégios não pode ser
duradoura. Dê o exemplo não contribuindo
para o perpetuamento deste arranjo.
Em
um futuro muito próximo, será cada vez mais difícil para um indivíduo preservar
sua riqueza. Governos falidos ao redor
do mundo — consequência econômica inevitável de estados assistencialistas e
inchados — estarão sedentos para confiscar quaisquer ativos remanescentes em
uma desesperada tentativa de prolongar sua sobrevivência (mas sempre em nome do
"bem público"). Os direitos individuais serão
abolidos em nome do 'bem comum' e várias leis serão criadas com o intuito de
tornar ilegal qualquer medida que vise a proteger a riqueza dos indivíduos mais
ricos — e aí sim veremos uma verdadeira caça às bruxas.
Algumas
pessoas acreditam que poderão evitar problemas caso voluntariamente entreguem
seu dinheiro para o governo (ou peçam para que o governo o tribute). Pode ser, mas o fato é que durante a
hiperinflação da França nos anos 1790, os ricos que não fugiram foram
decapitados. Talvez a França tenha sido
um caso extremo, mas a história mostra que sempre que os ricos foram pilhados
por políticos populistas, os resultados não foram bonitos. Portanto, não empreste sua retórica e nem dê
seu apoio a políticos ou movimentos políticos que defendam o confisco direto da
riqueza dos mais ricos. Além de os
pobres nunca terem sido beneficiados por tais medidas (algo economicamente
impossível), você estará apenas aumentando o número de pobres.
Portanto, sua
quarta obrigação para com os pobres é assegurar parte da sua riqueza para as
gerações futuras. Dado que você
genuinamente quer ajudar os pobres, acumule o máximo possível de ativos,
trabalhe bastante e produza muita riqueza durante seu tempo de vida. Ao produzir riqueza, você não apenas estará
empregando pessoas e enriquecendo-as também, como estará produzindo para toda a
humanidade uma maior quantidade de bens e serviços. É assim que você fará com que as pessoas
subam na vida.
Caso prefira o assistencialismo puro, você também tem a opção de distribuir
toda a sua riqueza quando se aposentar ou quando morrer. Quanto mais riqueza você produzir, mais você
poderá distribuir. Você tem liberdade de
escolha. Em vez de folgadamente defender
o esbulho da riqueza alheia, crie você próprio a sua riqueza e então a
distribua para os pobres — ou, melhor ainda, empregue-os neste processo de
criação de riqueza.
Durante
este processo, você terá de saber manter seus ativos a salvo do perigo,
evitando que sejam confiscados pelo governo ou que simplesmente sejam esbanjados
e dissipados. É neste quesito que você
terá seus maiores problemas, muito embora várias famílias já tenham demonstrado
ser possível manter sua riqueza ao longo de gerações. Sua riqueza provavelmente estará na forma de
ativos produtivos que são difíceis de serem movidos de um país para o
outro. Isso tornará mais difícil se
proteger do governo doméstico, que estará ávido para confiscar sua riqueza
quando ele precisar do dinheiro.
Conclusão: você terá de diversificar seus ativos ao redor do mundo, de
modo que, quando o governo de um país se tornar muito ganancioso (sempre para
ajudar os pobres), você terá outra base de operações da qual operar. Isso irá garantir que você se mantenha fiel à
sua primeira obrigação para com os pobres.
Quem disse que é fácil concorrer com o amor do governo pelos pobres?
Caso continue preferindo ensinar a pescar em vez de dar o peixe, sua quinta e
última obrigação para com os pobres é legar em herança sua riqueza para alguém
(ou para um grupo de pessoas) que irá dar continuidade ao seu trabalho de fazer
deste mundo um lugar melhor para os pobres viverem, com uma maior produtividade
e uma mais eficiente alocação de ativos.
Esta poderá ser a tarefa mais difícil de todas.
Ser
caridoso com a riqueza dos outros é uma delícia. Arregaçar as mangas e produzir por conta
própria aquilo que você quer ver distribuído já é um pouco mais
trabalhoso. Mas seu amor genuíno aos
pobres servirá de estímulo todas as manhãs.
Boa sorte!
Hans F. Sennholz
(1922-2007) foi o primeiro
aluno Ph.D de Mises nos Estados Unidos.
Ele lecionou economia no Grove City College, de 1956 a 1992, tendo sido
contratado assim que chegou. Após ter se
aposentado, tornou-se presidente da Foundation for Economic Education,
1992-1997. Foi um scholar adjunto do
Mises Institute e, em outubro de 2004, ganhou prêmio Gary G. Schlarbaum por sua
defesa vitalícia da liberdade.
Tradução de Leandro Roque
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