quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Netanyahu se mostra impassível diante do isolamento crescente de Israel
Laurent Zecchini - Le Monde

Os líderes dos partidos da esquerda israelense têm comparado o primeiro-ministro ao comandante do Titanic: assim como Edward Smith, que havia ignorado as mensagens de alerta sobre as formações de icebergs, Binyamin Netanyahu continua surdo aos avisos daqueles que preveem uma catástrofe diplomática para Israel, sob a forma de um fracasso definitivo na solução de dois Estados, acompanhado de um crescente isolamento internacional.
A Alemanha, a aliada mais próxima do Estado judaico no Velho Continente, talvez tenha acabado de dar o exemplo à União Europeia. Berlim decidiu que no futuro as empresas de alta tecnologia israelenses situadas nos assentamentos da Cisjordânia e em Jerusalém Oriental não poderão mais receber financiamentos alemães, uma vez que essa cláusula territorial também deve estar inserida em certos acordos de cooperação.
Esse endurecimento vai na mesma direção do acordo assinado a contragosto por Israel com a União Europeia, que previu um mecanismo parecido para o programa científico europeu Horizon 2020. A Holanda havia sido a primeira a embarcar naquilo que parece uma campanha de boicote. Vários fundos de pensão europeus acabam de se associar a ela, bem como certas universidades americanas que se recusam a cooperar com as universidades israelenses situadas nas colônias.   

O temor de uma intifada armada    

Netanyahu, que acusa os europeus de serem "hipócritas", talvez devesse prestar atenção à crescente irritação deles. É verdade que Israel pode relativizar uma ameaça que afinal é limitada, e optar por ouvir seu ministro da Economia, o nacionalista religioso Naftali Bennett, para quem "é melhor um boicote econômico do que a criação de um Estado palestino".
No final, o ano de 2013 terminou sem que um único dos graves riscos apontados pelos pessimistas se materializasse. A guerra sobre a questão nuclear iraniana não aconteceu; os jihadistas sírios não exportaram para Israel o conflito contra o regime de Damasco; o Hezbollah libanês, apesar de vários ataques militares israelenses contra seus interesses, evitou reagir; a Cisjordânia permaneceu calma e a Faixa de Gaza não sofreu uma réplica da guerra de 2012 contra o Hamas.
Mas, além do fato de que todas essas incertezas continuarão em 2014, a contagem regressiva das negociações com os palestinos está em sua fase final: no fim de abril, o ciclo de nove meses destinado a essas negociações de paz terminará. Se for constatado um fracasso, os palestinos não terão outra escolha além de "uma intifada armada ou uma intifada diplomática", acredita Amos Yadlin, diretor do Instituto de Estudos de Segurança Nacional de Tel-Aviv, fazendo uma alusão a um recurso desesperado junto à ONU e ao Tribunal Penal Internacional.
Israel alega questões de segurança para justificar sua intransigência. Para os comandantes de seu exército, a tranquilidade que tem imperado em suas fronteiras com a Jordânia e o Egito não deve incentivar o Estado judaico a baixar a guarda: as guerras inter-islâmicas do Iraque e da Síria podem se espalhar, e está fora de questão que as Forças Armadas Israelenses cedam o controle militar do vale do Jordão a um futuro Estado palestino. Essa tensão vem acompanhada de uma preocupação silenciosa, que confirma aquela sentida pela Arábia Saudita e pelos países do Golfo, e que está associada à vontade dos Estados Unidos de agora se envolverem o mínimo possível nos conflitos no Oriente Médio, o que alimenta a deterioração de sua imagem na região.    

Arábia Saudita, aliada improvável    

De nada adianta que Barack Obama saliente que a cooperação entre Israel e EUA em matéria de segurança "nunca esteve tão forte", ou que o secretário de Estado John Kerry feche os olhos para a retomada dos assentamentos: a certeza de que o Estado judaico só pode contar consigo mesmo vem ganhando força em Israel. Paradoxalmente, esse complexo histórico da "fortaleza sitiada" vem acompanhado de uma vontade de se romper um crescente isolamento.
Essa vontade se manifesta através de veleidades de aproximação com os países árabes que têm um inimigo comum com Israel: o Irã. Silvan Shalom, o ministro encarregado das Energias, foi até Abu Dhabi para uma conferência sobre energias renováveis, onde o presidente israelense Shimon Peres havia feito um discreto discurso (por vídeo) na ocasião de uma conferência sobre segurança.
A Arábia Saudita é uma aliada potencial mais improvável, ainda que os dois países partilhem de uma mesma aversão pelo regime de Teerã e de uma mesma preocupação diante do reavivamento de suas relações com Washington. Mas o apoio dado pela monarquia wahhabita aos jihadistas de todas as espécies na Síria constitui uma "linha vermelha" para o Estado judaico. De qualquer maneira, os pequenos passos de Israel para se aproximar de países árabes considerados moderados estarão fadados ao fracasso enquanto os governos desses países não puderem justificar uma reaproximação com o "inimigo sionista" através de um desbloqueio do processo de paz entre Israel e Palestina.
Só que ao exigir dos palestinos que eles reconheçam Israel como o "Estado-nação do povo judeu", ao se recusar a discutir o direito à volta dos refugiados palestinos e a divisão de Jerusalém, ao insistir que é "vital garantir que um Estado palestino não se tornará um novo Irã", Netanyahu está matando tal perspectiva de forma definitiva.

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