quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Democratas, um público difícil
John Hudson* - O Estado de S.Paulo
No discurso sobre o Estado da União, o presidente Obama faz um apelo direto ao povo americano para que apoie seus objetivos no campo da política externa. Mas o público que o presidente precisa conquistar na realidade é formado por seus supostos aliados democratas no Capitólio, que têm demonstrado com frequência a propensão a se opor à Casa Branca em diversas iniciativas na área. Por exemplo, uma porcentagem considerável dos democratas é contrária à política do presidente sobre as sanções contra o Irã; muitos deles também querem acelerar a saída do Afeganistão e, além disso, o partido está dividido quanto aos limites mais adequados da espionagem por parte do governo. Diante disso, perguntamos a alguns dos democratas mais influentes o que eles gostariam de ter ouvido do presidente sobre as questões globais mais importantes.
Retirada do Afeganistão. Obama já anunciou a decisão histórica de pôr fim à participação militar dos EUA na guerra no Afeganistão. Mas obter o consenso dos democratas em torno de um plano de retirada se revela uma façanha difícil em razão da enorme impopularidade desta longa guerra. Obama exige que o presidente Hamid Karzai assine um acordo bilateral de segurança negociado anteriormente que estabelece o papel futuro das Forças Armadas americanas, o que o volúvel Karzai se recusa a fazer. Embora apenas 17% dos americanos mostrem-se favoráveis à guerra, alguns democratas julgam que os EUA não podem abandonar totalmente o país e ceder poder ao Taleban. "Espero que ele pressione mais energicamente Karzai para que assine o acordo e assinale que anunciará em breve o contingente de soldados americanos que permanecerá no país depois de 2014", disse o senador Tim Kaine (democrata de Virgínia) a The Cable.
Kaine e outros democratas moderados querem que o governo Obama deixe no Afeganistão um número limitado de tropas americanas com a finalidade de treinar as forças afegãs e realizar missões contra os terroristas. O plano amplamente exposto relativo às tropas que permaneceriam no Afeganistão menciona 10 mil soldados, entretanto, alguns democratas exigem a retirada total do país - que os militares chamam de "opção zero".
"Não existe uma solução natural no Afeganistão e nós precisamos trazer para casa nossos homens e mulheres", disse a deputada democrata da Califórnia Barbara Lee. Em geral, os democratas mais representativos gostariam que as tropas americanas se retirassem muito antes do previsto. No ano passado, a líder da minoria da Câmara, Nancy Pelosi, afirmou que queria que as tropas de combate americanas saíssem do Afeganistão antes do prazo fixado em 2014. E em setembro, o Senado, apoiado pela maioria dos democratas, aprovou a retirada acelerada dos soldados americanos. 
Acordo nuclear com o Irã. Sem dúvida, a iniciativa mais polêmica do presidente na área de política externa é seu acordo nuclear provisório com o Irã. A maioria dos parlamentares da Câmara e do Senado não confia em Teerã, e afirmou que apoiará uma nova legislação que preveja a aplicação imediata de sanções rigorosas à república islâmica se não for concluído nenhum pacto concreto. O governo acredita que o projeto de lei torpedearia as conversações e afastaria o Irã da mesa de negociações. Para surpresa e indignação da Casa Branca, o projeto está sendo promovido por um dos democratas mais poderosos do Senado: o presidente da Comissão de Relações Exteriores, Bob Menendez, de New Jersey. Chamado Lei sobre Armas Nucleares do Irã Livre, o projeto tem 59 defensores no Senado, incluindo 16 democratas, embora o entusiasmo por enquanto tenha diminuído, e alguns dos que inicialmente se mostravam favoráveis à lei, nos últimos dias, aparentemente deem sinais de que estavam repensando se o apoiavam ou não. No meio tempo, os democratas que preferem que a Casa Branca se oponha ao projeto, querem que o presidente apresente argumentos convincentes para que a legislação não seja discutida agora.
"O Estado da União ofereceu ao presidente uma oportunidade para explicar ao Congresso e ao povo americano o que está em jogo e o motivo pelo qual ele acredita que o Congresso não deveria pensar por enquanto em novas sanções", disse o senador Tim Johnson (democrata de Dakota do Norte).
Como presidente da Comissão de Assuntos Bancários do Senado, Johnson teve um papel fundamental para impedir que a legislação relativa a novas sanções fosse votada em sua comissão.

Espionagem. Mas a questão que mais desperta atenção, provavelmente, é a reforma dos programas de vigilância, que se tornou assunto de proa com as revelações de Edward Snowden sobre as atividades da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês), que coletou e armazenou volumes enormes de dados relativos às comunicações dos americanos comuns. Obama propôs uma reforma modesta da NSA no início deste mês durante um discurso no Departamento de Justiça, mas o tema tem causado muitas divisões no Partido Democrata.
*John Hudson é colunista.
 TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA E TEREZINHA MARTINO

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