sábado, 24 de março de 2012

TERRORISMO ISLÂMICO II

Assassino de Toulouse e os crimes sectários na França
Miguel Mora - El País
Mohamed Merah, o jihadista de Toulouse, nascido em 10 de outubro de 1988, teve uma vida curta, intensa e sem dúvida excessiva. Filho de pais argelinos, foi um rapaz da periferia pobre, o garoto da casa ao lado, mais um entre um milhão de jovens parecidos: sem estudos, sem trabalho, completava a ajuda social de 400 euros por mês dando pequenos golpes pela rua, roubando celulares ou relógios para vendê-los.
Segundo contam seus colegas das periferias de Bellefontaine e Les Izards, onde se criou, era um rapaz normal, modesto, de boa aparência, educado e cortês. Apreciador de garotas, discoteca, baseados e motos, no ano passado chegou a fazer uma crista punk. "Era crente sim, mas pouco praticante; no máximo fazia o Ramadã e pronto", contou um de seus amigos.
Seu advogado, Christian Etelin, lembra dele como um jovem de voz suave, de uma beleza fascinante, e ainda não se explica como pôde sofrer essa transformação que o levou de sua paixão pela mecânica e a velocidade a adorar o Exterminador, o assassino que tinha um olho câmera, e a assassinar a sangue-frio três militares e quatro cidadãos judeus que esperavam um ônibus na porta de uma escola.
Comparando essas versões com as que deram as instituições, é possível pensar que Mohamed Merah sofria, como o Doutor Jekyll e Mister Hyde, da síndrome de dupla personalidade.
Segundo os promotores e os serviços secretos franceses,que não foram capazes de lhe atirar a luva a tempo, o assassino da Yamaha foi um pequeno delinquente de perfil muito violento, sofreu diversos problemas mentais e quando entrou na prisão repetidas vezes (sempre por pequenos delitos) tomou consciência islâmica e se radicalizou até virar um extremista, um "salafista atípico que podia passar horas vendo vídeos de decapitações", como disse o promotor da República François Molins, antes de viajar pelo menos duas vezes ao Afeganistão e ao Paquistão para ser treinado e combater na guerra contra o Ocidente.
Quando na madrugada de quarta-feira (22) os agentes especiais do Raid tentaram derrubar a porta de sua residência, Merah respondeu disparando vários rajadas que causaram ferimentos leves em três policiais. Quando se acalmou, começou a falar do outro lado da porta e foi narrando com uma oratória digna de melhor causa a história de sua vida e de seus crimes. Disse que estava orgulhoso de ter posto a França "de joelhos".
Pouco antes, por volta da 1 da manhã, tinha decidido ligar por telefone para a televisão France 24, para reivindicar seus ataques. A redatora-chefe Ebba Kalondo, que atendeu sua ligação, contou que "sua voz parecia jovem, muito educada e muito decidida". Kalondo afirmou também que falava um francês muito correto e se expressava com propriedade.
Um vizinho que mora no mesmo edifício que o suposto assassino o descreve como um "barbudo discreto", que não tinha feito nada chamativo até agora. Outros, porém, indicam que os havia assustado vê-lo rezar no meio de um campo de futebol. Merah esteve trabalhando como aprendiz em uma oficina mecânica e, segundo a imprensa francesa, no passado havia tentado entrar para a Legião Estrangeira.
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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