quarta-feira, 18 de abril de 2012

COMÉRCIO DE ARMAS

Navio de propriedade alemã é suspeito de entregar armas ao regime sírio
Veit Medick - Der Spiegel
Um navio de propriedade alemã tentou entregar armas e equipamento militar do Irã para o regime sírio de Bashar Assad. Mas assim que a notícia veio à tona, o Atlantic Cruiser desapareceu por horas a fio. O caso é duvidoso e alarmou políticos de muitos países. O governo alemão está exigindo uma explicação da companhia marítima.
Com o cargueiro de 6.200 toneladas aparentemente a caminho da Turquia, o navio parou perto da costa da Síria na tarde de sexta-feira, mas então desapareceu de vista por aproximadamente 24 horas. Então, na noite de domingo (15), o transponder do Atlantic Cruiser foi novamente desligado.
Após atrair atenção internacional, o capitão há dias conduz o navio pelo leste do Mediterrâneo. A "Spiegel" obteve informação indicando que o navio está transportando equipamento militar pesado do Irã com destino às forças de Bashar Assad, apesar do embargo de armas imposto pela União Europeia ao seu regime repressivo. As autoridades alemãs expressaram alarme diante do fato.
Não é de se estranhar: se a suspeita for confirmada, significaria que um navio alemão está violando o embargo de armas. Também poderia levar a comunidade internacional a questionar se a Alemanha está adotando medidas suficientemente decisivas para fazer cumprir as sanções contra o regime de Assad.
As autoridades alemãs estão investigando a situação desde sábado (14) e também intensificaram seus esforços para resolver o caso. Uma fonte dentro do Ministério da Economia alemão, que está liderando a investigação, disse para a "Spiegel Online" que o governo "pediu às embaixadas na região para que informem os governos dos países em que se encontram sobre a ocorrência, por causa de uma possível violação do embargo". Os governos de Chipre, Líbano e Turquia teriam sido informados sobre o incidente.
Disputa entre a empresa de transporte e empresa de fretamento
O governo também estabeleceu contato com a Bockstiegel, a companhia de transporte alemã que é dona do Atlantic Cruiser. "Segundo a informação da companhia de transporte, não há intenção de prosseguir até a Síria", disse a fonte no Ministério da Economia. O navio foi parado pela companhia e agora deverá viajar para um porto seguro no Mediterrâneo, onde sua carga será inspecionada.
Mas ainda persistem muitas dúvidas sobre o navio –e a versão dos eventos pela companhia de transporte está cheia de contradições. No domingo, os representantes da Bockstiegel não quiseram comentar os eventos para a "Spiegel Online". Inicialmente, o cargueiro alemão deveria chegar ao porto sírio de Tartus no final da semana passada. Antes, o navio teria sido carregado com equipamento militar pesado e munições de um navio cargueiro iraniano em Djibuti, com destino aos capangas de Assad.
Após desertores do aparato do governo sírio tomarem conhecimento da entrega e da ameaça de exposição do negócio, o Atlantic Cruiser repentinamente mudou seu porto de destino na tarde de sexta-feira, seguindo então na direção de Iskenderun. Mas então, a cerca de 80 quilômetros a sudeste de Tartus, o navio começou a navegar em círculos. "Nós paramos o navio assim que obtivemos informações de que estava transportando armas", disse o afretador Torsten Lüddecke da C.E.G. Bulk Chartering, cuja empresa é responsável pelas operações de transporte de carga do Atlantic Cruiser.
Oficialmente, tanto a empresa de transporte quanto a de afretamento dizem que não sabiam nada sobre a carga. O Atlantic Cruiser foi fretado pela empresa ucraniana White Whale Shipping em Odessa, disse Lüddecke. A empresa declarou a carga como "bombas e peças semelhantes". A empresa ucraniana mantém sua versão dos eventos e acusou Lüddecke de mentir. "O navio não está carregando nenhuma carga militar ou perigosa para a Síria", declarou a agência da White Whale Shipping em um e-mail para a "Spiegel Online". "Na verdade, o destino da embarcação nem mesmo é a Síria!"
Navio não rastreável por 24 horas
Mas o comportamento dos encarregados levanta várias dúvidas. Permanece um mistério o motivo da companhia não ter ordenado imediatamente para o navio seguir para um porto, para que a carga pudesse ser rapidamente investigada. A companhia de transporte também poderia ter ordenado ao capitão do navio para que inspecionasse a carga que estava transportando. Uma rápida checagem da carga poderia ter respondido rapidamente algumas das perguntas mais urgentes e também poderia ter exonerado todas as partes envolvidas. Mas parece que eles não queriam fazer isso.
Em vez disso, parece que foi solicitado ao capitão que desligasse o transponder do navio, para que a localização do Atlantic Cruiser não pudesse mais ser rastreada. Por 24 horas, o navio não pode ser rastreado enquanto viajava em alto-mar. Também será difícil determinar o que aconteceu no navio durante esse ínterim. O mesmo se aplica na noite de domingo, quando o transponder foi novamente desligado. O que estava acontecendo no navio naquele período?
A companhia de transporte disse em off que é normal o transponder ser desligado quando o navio para de se mover. Mas afretadores alegam que a medida é extremamente incomum. Especialistas disseram que mesmo quando um navio cargueiro está no porto ou em mar aberto, o transponder costuma permanecer em funcionamento, possibilitando rastrear o paradeiro do navio.
Como o navio está registrado em Antígua e Barbuda e navega com a bandeira do país, o governo alemão está limitado em termos do que pode fazer para investigar. "Após uma análise legal da questão e com base na informação atualmente disponível, não há ações possíveis ou intervenção segundo a lei alemã", disse a fonte no Ministério da Economia. Para parar o navio e inspecioná-lo, seria preciso submeter um pedido de assistência judicial ao país caribenho.
Seria desajeitado, mas possível. A fonte no Ministério da Economia disse que "contato já foi estabelecido com o país".
Tradutor: George El Khouri Andolfato

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