quarta-feira, 18 de abril de 2012

ESPANHA EM CRISE

A batalha espanhola
FSP - Editorial
Capacidade da Espanha de superar agravamento da crise econômica com austeridade e reformas será decisiva para o destino da Europa e do euro
Depois de três meses de trégua, a crise europeia voltou à cena. A ação do Banco Central Europeu no início do ano -€ 500 bilhões injetados no mercado- foi suficiente, por certo, para conter o risco de iminente colapso dos bancos. Não resolveu os problemas, mas comprou tempo para que os países pudessem realizar seus ajustes.
Desde então se tornou comum considerar que o estado da crise passou de agudo para crônico -o que tem um fundo de verdade. Os desequilíbrios, no entanto, permanecem, e a recessão que se abate sobre a maior parte da zona do euro mantém vivos os riscos de ruptura financeira.
O principal foco de problemas no momento é a Espanha, que vive as consequências do estouro da bolha imobiliária. Em relação ao tamanho de sua riqueza, os problemas são maiores que os vividos nos últimos anos pelos norte-americanos. No auge da euforia, a construção civil chegou a representar 13% da economia espanhola, enquanto nos EUA esse setor nunca passou de 6,5%.
As perdas bancárias estão longe de terminar. Até o ano passado, a suposição era a de que a limpeza dos bancos custaria 5% do PIB espanhol, mas esse número já se aproxima de 10% (cerca de € 100 bilhões). Será difícil escapar de aportes adicionais do governo e, provavelmente, também da União Europeia (UE).
O bloco reforçou no mês passado os fundos de resgate. Nesta semana, o encontro dos ministros das Finanças dos países do G20 e a reunião do FMI talvez resultem em um acordo global para aumentar os recursos deste último.
Mas muitos não estão seguros -e com razão- de que a Europa já tenha colocado o suficiente de seu próprio dinheiro para credenciar-se a pedir contribuições alheias.
A economia espanhola, por sua vez, continua a contrair. A última projeção do FMI aponta para uma queda do PIB de 1,8% neste ano. A taxa de desemprego já supera 24%. Neste ambiente, cortes de gastos tornam-se mais difíceis. No ano passado, a meta de deficit fiscal de 6% do PIB foi estourada em 40%. A dívida pública, que era das mais baixas da Europa antes da crise, já ameaça superar a marca de 90% do PIB.
Para a Europa, a batalha da Espanha -pela dimensão de sua economia e de seus problemas- decidirá a guerra. Se a receita de austeridade e reformas estruturais mostrar-se eficaz para restaurar o crescimento, será possível falar num ponto de inflexão da crise. Do contrário, o futuro do euro permanecerá indefinido.
O curto prazo não autoriza otimismo. O segundo trimestre será difícil. As eleições na França podem comprometer temporariamente a capacidade decisória da UE, e o risco de aprofundamento da recessão ainda não foi afastado.

Nenhum comentário: