terça-feira, 30 de julho de 2013

Bancos lucram mais, apesar da economia fraca
Itaú Unibanco, Bradesco e Santander reduziram projeção de expansão do crédito
Roberta Scrivano - O Globo
SÃO PAULO - Apesar do fraco desempenho da atividade econômica brasileira neste ano, o lucro dos três maiores bancos privados — Itaú Unibanco, Bradesco e Santander — cresceu 1,93% no primeiro semestre na comparação anual, totalizando R$ 14 bilhões. Excluindo o Santander, que teve lucro 21,4% menor no primeiro semestre (R$ 1,1 bilhão), a média de crescimento dos resultados, também na comparação anual, é mais vigorosa e chega a 4,5%. Com o fechamento do primeiro semestre, os três bancos aproveitaram para revisar para baixo as suas projeções de expansão da carteira de crédito neste ano. Os motivos são o mau desempenho da economia e também a maior seletividade na aprovação de novos contratos, além da demanda menor.
O Itaú Unibanco divulgou alta de 4,8% no lucro líquido, para R$ 7 bilhões, e o Bradesco, 4,3%, totalizando R$ 5,9 bilhões no primeiro semestre. Já as novas previsões para a carteira de crédito no Itaú caíram de 11% a 14% para um intervalo que vai de 8% para 11%. O Bradesco baixou de 13% a 17% para uma faixa entre 11% e 15%.
— Revisamos nossa projeção para o PIB de 3,5% para 2,3%. A revisão é a principal razão pela qual não nos pareceu plausível a projeção inicial para a carteira de crédito — afirmou Rogério Calderón, diretor Corporativo de Controladoria do Itaú Unibanco, ontem, durante conferência.
Aposta no crédito consignado
Na média, a carteira dos três bancos cresceu 7,3% de janeiro a junho, chegando a R$ 902,8 bilhões. Entre as linhas ofertadas, o crédito consignado e o imobiliário, considerados mais seguros, foram os que mais cresceram em todas as instituições.
O destaque ficou para o Itaú que, depois de fazer parceria com o BMG para ampliar os empréstimos consignados, viu a modalidade avançar 58,6% no primeiro trimestre.
— Os bancos estão saneando as suas carteiras e emprestando com mais qualidade. Embora as carteiras estejam crescendo menos, o que impacta o lucro, podemos dizer que os resultados tendem a ser de mais qualidade, com maior solidez — explicou Luís Miguel Santacreu, analista de bancos da consultoria Austin Rating.
O saneamento citado por Santacreu já se reflete nas taxas de inadimplência dos grandes bancos, outro fator que também colabora para a qualidade dos resultados, segundo o especialista. O Itaú conseguiu reduzir os calotes acima de 90 dias em 1 ponto percentual, o Bradesco em 0,3 ponto. Já no Santander, a taxa subiu 0,3 ponto.
— Na comparação trimestral, a inadimplência caiu 0,6 ponto, para 5,2%. Estamos esperançosos de que essa tendência de queda se mantenha — explicou Carlos Galán, vice-presidente de Finanças do Santander Brasil, durante coletiva de imprensa.
Marcelo Torto, analista da Ativa Corretora, vincula a melhoria na inadimplência justamente ao novo modelo de concessão de crédito, mais rígido e que prioriza linhas mais seguras.
— O ponto positivo do resultado fica por conta da inadimplência, que deve seguir sua trajetória descendente, mostrando nova melhora na qualidade de crédito do banco — detalhou Torto.
A arrecadação com tarifas e a ampliação de eficiência, por meio do corte de gastos, estão ganhando cada vez mais espaço. Na média das três instituições, a alta com a arrecadação nos serviços foi de 13,9% e chegou a R$ 26,3 bilhões. Calderón, do Itaú Unibanco, afirmou que quase metade do aumento de 13,5% (R$11,4 bilhões) com as receitas do banco vieram de serviços relacionados ao cartão de crédito. Em maio, o banco anunciou a compra da Credicard por R$ 2,8 bilhões.
— Neste jogo de compensação, o que mais traz efeito é a ampliação da eficiência, por meio da redução de custos, o que inclui demissões. É uma nova fórmula de negócios para este momento — disse Santacreu.

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