Chicago 2016
Hélio Schwartsman - FSP
SÃO PAULO - Genial a capa do jornal "Chicago Sun-Times", de
quarta-feira passada, que trazia uma foto de protestos violentos no Rio de
Janeiro acompanhada da manchete "Perdemos para isso?", numa referência ao fato
de a capital fluminense ter derrotado a cidade ventosa na disputa pelos Jogos
Olímpicos de 2016.
Levando adiante o bom humor do diário americano, proponho que entreguemos a
Chicago o direito de sediar o evento. Acho que ainda dá tempo e todos sairiam
ganhando.
O motivo mais óbvio para opor-se à realização da Olimpíada no Rio é o elevado
custo da operação. Há dúvidas de que financiar esse tipo de competição seja uma
prioridade e é praticamente uma certeza que os gastos ocorrem de forma pouco
republicana, com aplicações orçamentárias pouco transparentes e as inafastáveis
suspeitas de favorecimento.
Meu ponto, porém, é que, mesmo que as despesas seguissem um modelo de plena
lisura e total eficácia administrativa, ainda assim Olimpíada é algo de que
governos deveriam manter prudente distância. A questão central é que esse tipo
de despesa é concentrador de renda. É verdade que empreiteiros, donos de hotéis
e de restaurantes, taxistas e o comércio em geral de fato podem beneficiar-se do
investimento. Se a aventura produzir um legado de infraestrutura permanente (o
que está longe de ser uma certeza), o carioca também ganhará algo.
O problema é que, para gerar essas oportunidades, tiramos dinheiro do caixa
geral, para o qual todos contribuíram. Não me parece muito justo que o cidadão
que paga impostos no Acre subsidie (e em condições longe das ideais) algo que
será bom, no máximo, para parte dos cariocas.
Copas, Olimpíadas e grandes eventos internacionais são bem-vindos desde que
financiados com dinheiro privado. Como não conseguimos fazer isso, preferimos
apelar à velha lei da socialização dos prejuízos e da privatização dos lucros.
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