terça-feira, 30 de julho de 2013

Dilma emborca junto com a CNV
Carlos Tautz - O Globo
Uma das melhores iniciativas do governo Dilma está a naufragar e a presidenta não intervém nessa derrocada anunciada. A Comissão Nacional da Verdade (CNV), criada para resgatar as estórias secretas da ditadura civil-militar produzida pelo golpe de 64, vai afundando em praça pública. Porém, Dilma, tragada pelas manifestações e um fragilíssimo repúdio envergonhado à espionagem dos EUA sobre o Brasil, não cobra resultados de seus comissionados nem dá o respaldo necessário para a CNV aprofundar as investigações urgentes para reescrever o passado e esclarecer o presente do Brasil.
Ao se omitir, a presidenta vai, assim, tal e qual um comandante que não abandona o navio avariado, emborcando junto com sua própria obra.
Os males de que padece a CNV não se limitam à falta de metodologia que amplie e qualifique os apoios advindos da sociedade para apurar quem fez o que durante a ditadura, nem na falta de coragem para enfrentar torturadores como o coronel Ustra.
A CNV também vacila – e se não o faz, não revela porque não o faz - justamente diante de um dos pontos em que mais precisava avançar: o mapeamento, a denúncia e as propostas de punição das grandes corporações brasileiras e estrangeiras que financiaram o aparelho repressivo e que, em contrapartida, beneficiaram-se da ditadura que apoiaram. Aí, precisa ir muito mais longe do que apenas pinçar nomes de dedos-duros que denunciavam sindicalistas nos locais de trabalho.

Dilma poderia marcar seu mandato como aquela presidenta que, após Sarney, Collor, Itamar, FHC e Lula, teve o compromisso histórico de trazer a público as maquinações, internas e externas ao Brasil, que viabilizaram a tortura como método de Estado e sustentaram e ainda sustentam as relações de poder no País. Ao se manter imóvel diante das urgências sintetizadas nos trabalhos e objetivos da CNV, Dilma entra célere para a lista de presidentes que, de tão comprometidos, faz pouco e muda nada.
Uma certa imprensa trata a crise na CNV como produto único de uma suposta fogueira de vaidades e se recusa a ver o óbvio, contribuindo pouco para os debates centrais desse país e expondo ainda mais sua própria inutilidade. Além da falsa crise de egos, a Comissão esbarra em radicais limites de tempo, estrutura, objetivos e apoio político do centro do poder para chegar onde é necessário.
Dilma finge que não vê – e não adianta jogar a culpa no séquito que a bajula. O impasse na CNV nada tem a ver com incompetência. Tem a ver com medo pessoal e com medo de arranhar os arranjos que a sustentam.
Carlos Tautz, jornalista, coordenador do Instituto Mais Democracia – Transparência e controle cidadão de governos e empresas.

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