4.ago.2013 - Andrew Medichini/AP
Manifestantes se reúnem em protesto organizado pelo partido Povo da Liberdade (PDL) em defesa de seu líder Silvio Berlusconi, em frente a residência dele em Roma, na Itália
E se, no final, ele não sabia de nada? Nada sobre a conduta a se manter, sobre a tática a se adotar, levado pelos conselhos de uns e outros, de seus filhos, de seus advogados, de seu círculo, ele mesmo dividido... Condenado definitivamente pelo Supremo Tribunal no dia 1o de agosto por fraude fiscal, Silvio Berlusconi parece ter se esquecido de situações que durante vinte anos lhe permitiram dominar politicamente a Itália.Um exemplo disso foi no sábado, 24 de agosto. Estavam todos lá, em Arcore, na imensa mansão do "Cavaliere", nos limites de Milão. Havia os "falcões", partidários da guerra aberta com a esquerda, o governo e os juízes, as "amazonas" (versão feminina dos mesmos) e as "pombas", a favor de uma solução negociada para a crise. Segundo a lei anticorrupção, que alguns dos presentes votaram no final de 2012, o ex-presidente do conselho não pode mais ser parlamentar. Mas seus pares deverão decidir isso a partir de 9 de setembro, quando a comissão das eleições do Senado --onde a direita é minoritária-- iniciará seus trabalhos, condição prévia necessária antes de uma possível votação de destituição do "onorevole"-- membro do Parlamento-- Berlusconi. Tudo pode acontecer nesse período.
Durante mais de cinco horas, todos apresentaram suas argumentações. Os "falcões" querem adotar as estratégias da tensão, provocar a crise ou pelo menos deixar que ela desponte: ou a esquerda vota contra a deposição, ou o governo cai. Já as "pombas" propõem que se ganhe tempo e se esgotem todos os recursos, inclusive perante o Tribunal Constitucional e o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos. O argumento deles é que a lei anticorrupção não pode ser aplicada a Silvio Berlusconi porque a infração foi cometida antes que ela entrasse em vigor.
Ao final, os belicistas parecem ter vencido. O comunicado sugere uma mobilização geral. Seus signatários, entre eles o vice-presidente do conselho, Angelino Alfano, ressaltam "o direito à plena representação política e institucional dos milhões de eleitores que escolheram Silvio Berlusconi, cuja destituição de mandato como senador é impensável e inaceitável do ponto de vista constitucional". Em suma, "não mexa com Berlusconi, senão..." "A queda do governo está programada", esbravejou no dia seguinte a "amazona" Daniela Santanchè, no jornal "La Repubblica".
"Loucura"
Mas a ameaça fracassou. "Nós repudiamos qualquer chantagem e qualquer ultimato", retrucou secamente Guglielmo Epifani, secretário-geral do Partido Democrata (centro-esquerda), na segunda-feira (26). "Berlusconi deve reconhecer aquilo que o levou à sua condenação e ele precisa explicar por que ele faria o governo cair em tempos de crise econômica", acrescentou. Epifani também sabe que uma possível ajuda da esquerda para "salvar" Silvio Berlusconi jogaria o resto de seus eleitores nos braços do MoVimento 5 Estrelas de Beppe Grillo, que está só esperando por isso. Já [o premiê] Enrico Letta, em visita a Cabul com um colete à prova de balas e um capacete mais apropriados ao clima dos últimos dias, diz: "Explodir tudo hoje seria uma loucura que prejudicaria a Itália".Enquanto se admite que Berlusconi pode fazer o governo cair, nada indica que novas eleições ocorrerão, uma vez que a lei eleitoral que levou ao atual desastre ainda não foi reformada. O presidente da República, Giorgio Napolitano, poderia também renomear Letta, ou um outro, encarregado por ele de encontrar uma nova maioria… De qualquer forma, a condenação do ex-chefe do governo poderia impedir sua candidatura em uma possível eleição durante os seis próximos anos.
O "Crocodilo" de dentes gastos está procurando uma escapatória e espera que lhe entreguem pronta uma nova estratégia. Por não abalar a esquerda, sua chantagem permanente colocou em dificuldade os mercados – onde o spread, que mede a diferença entre as taxas de empréstimo da Alemanha e da Itália subiu na segunda-feira para 250 pontos-base – e suas empresas.
As negociações das ações da Mediaset, que sempre se sai melhor quando seu patrão-acionista está no poder ou nas imediações, foram suspensas na segunda-feira na Bolsa de Milão, terminando em uma queda de 6,25%. Resultado: 150 milhões de capitalização viraram fumaça... Algo para se pensar.
Tradutor: UOL
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