Cientistas descobriram que o sarin, um agente dos nervos mortal, pode ser detectado muito tempo depois de seu uso no campo de batalha. Em um caso, peritos foram até um vilarejo curdo no norte do Iraque, quatro anos após aviões de guerra iraquianos terem jogado bombas lá. Os peritos encontraram uma assinatura química singular da toxina letal no solo contaminado das crateras das bombas.
Isso sugere que o governo sírio teria dificuldade em esconder evidência se tivesse usado de fato armas químicas contra civis, em um ataque em grande escala na semana passada. Rebeldes sírios, autoridades do governo Obama e especialistas em armas químicas acusaram as forças do presidente Bashar Assad de uso de produtos químicos altamente tóxicos; o governo nega as acusações.
Especialistas em armas dizem que a ciência para detecção de substâncias químicas mortais, que podem evaporar rapidamente após os ataques, melhorou muito ao longo das décadas, à medida que a ONU realizava dezenas de investigações de ataques. A partir de 1981, seus inspetores estudaram evidências em campos de batalha em locais como Iraque, Irã, Moçambique, Azerbaijão e agora a Síria.
"Eles podem apontar substâncias químicas muito após o fato", disse Amy E. Smithson, uma especialista em armas químicas e biológicas do Instituto Monterey de Estudos Internacionais. "Em investigações anteriores, os inspetores coletaram evidência incrivelmente útil e às vezes incriminadora."
A identificação da composição exata das toxinas químicas, especialmente em campo e em condições longe de ideais, pode ser um processo complicado, cheio de falsos alarmes. Mas o envio de amostras de campo para laboratórios distantes, para análise mais ampla, geralmente pode fornecer respostas claras para as alegações de combate.
Os especialistas dizem que dois grandes instrumentos complexos estão no coração da detecção avançada de substâncias químicas – o cromatógrafo e o espectrômetro de massa. O cromatógrafo separa as substâncias químicas em seus componentes, e o espectrômetro as identifica, por meio da comparação com coleções de substâncias conhecidas.
Com as leituras de ambos os instrumentos, os cientistas em laboratórios altamente especializados geralmente podem detectar a presença de um agente químico ou de seus produtos separados em uma amostra de campo.
"Eles são muito bons", disse David H. Moore, um toxicólogo do Battelle Memorial Institute, um grupo de pesquisa sem fins lucrativos de Columbus, Ohio, e um ex-oficial do Instituto de Pesquisa Médica da Defesa, no Campo de Provas de Aberdeen, em Maryland. "Se amostras adequadas são coletadas, a probabilidade é muito alta de que encontrarão evidência conclusiva de exposição a agentes de guerra química."
Um tratado global conhecido como Convenção de Armas Químicas de 1993 proíbe o desenvolvimento, produção, estoque e uso de armas químicas. A Organização para a Proibição de Armas Químicas, com sede em Haia, policia o tratado e conta com uma rede global de mais de uma dúzia de importantes laboratórios para análise de amostras de campo.
Moore disse que já visitou muitos dos laboratórios, incluindo um no Campo de Provas de Aberdeen, e considera o trabalho deles excelente.
Na Síria, ele acrescentou, a melhor evidência de substâncias químicas estaria nas amostras de sangue e tecido das vítimas e sobreviventes que apresentam sintomas agudos. A análise cuidadosa dessas amostras, ele disse, pode revelar "marcadores denunciadores".
Moore disse que sua própria avaliação da situação síria, com base nas fotos das vítimas, "claramente parece obra de um agente dos nervos".
Mas ele também disse que os inspetores da ONU poderiam ser confundidos se, uma semana após o ataque, as vítimas que estão bem apresentassem sintomas vagos, mas nenhuma evidência sólida de exposição química. "Quanto mais distante do incidente", notou Moore, "mais difícil será a investigação".
Outro obstáculo, notam os especialistas, é que a Síria continua bombardeando a área do massacre, no que o secretário de Estado americano, John Kerry, descreveu na segunda-feira como "destruição sistemática de evidência".
O relógio pode estar correndo não apenas para as pistas ambientais na Síria, mas também para as biológicas. Ron G. Manley, um ex-especialista militar britânico e diretor de verificação da Organização para a Proibição de Armas Químicas, disse que estudos mostram que o corpo humano metaboliza os traços dos agentes dos nervos, apagando a evidência química.
Mesmo assim, disse Manley em uma entrevista, cientistas britânicos conseguiram encontrar sinais claros "em amostras de sangue e urina até duas semanas" após um ataque químico.
A ONU contribuiu para o avanço da investigação de ataques químicos, após alegações de massacres com armas não convencionais e muitos recorrendo à entidade internacional para julgamento. Em 1988, por exemplo, o Irã acusou o Iraque de ter usado armas químicas contra várias aldeias iranianas. Em resposta, a ONU enviou uma equipe investigativa que relatou evidências claras de guerra química.
Em 1992, uma equipe de peritos formada pela Médicos pelos Direitos Humanos, com sede em Boston, e o Middle East Watch, um grupo de direitos humanos com sede em Nova York, realizou um experimento incomum para ver se evidências claras poderiam ser encontradas muito após um ataque químico. Seus cientistas foram até o vilarejo curdo no norte do Iraque que foi bombardeado pelos aviões de guerra iraquianos quatro anos antes, e enviaram amostras de campo para a Instituição de Defesa Química e Biológica do Ministério da Defesa britânico. Ele encontrou traços de sarin e de gás mostarda, outro agente químico.
Graham Pearson, o diretor-geral da instituição na época, disse que a detecção mostrou que "amostras coletadas em locais apropriados podem fornecer evidência da presença de agentes de guerra química quatro anos após o ataque".
Antes da investigação síria, os inspetores da ONU analisaram mais recentemente as acusações de uso de armas químicas no conflito entre Armênia e Azerbaijão. A equipe não encontrou evidência.
Os especialistas em armas notam que as investigações de acusações de guerra química às vezes são difíceis, porque os agentes dos nervos podem lembrar outras substâncias químicas, principalmente inseticidas. Tabun e sarin, ambos poderosos agentes dos nervos, foram desenvolvidos na Alemanha em 1936 e 1938 como inseticidas e apenas posteriormente estocados para guerra.
Em uma entrevista, Raymond A. Zilinskas, um cientista sênior do Instituto Monterey de Estudos Internacionais e um ex-inspetor de armas da ONU, disse que uma questão na Síria é se as nuvens tóxicas no local do massacre vieram de um acidente industrial em vez de um ataque com armas químicas.
Mas Zilinskas disse que as equipes de inspeção, após décadas de experiência e acesso aos equipamentos mais modernos, provavelmente contarão com meios para saber a diferença entre um ataque químico e um acidente. "Há uma probabilidade muito boa de que conseguirão diferenciar entre os dois", ele disse. "Uma unidade bem equipada de inspetores é capaz de fazer muito."
Tradutor: George El Khouri Andolfato
Isso sugere que o governo sírio teria dificuldade em esconder evidência se tivesse usado de fato armas químicas contra civis, em um ataque em grande escala na semana passada. Rebeldes sírios, autoridades do governo Obama e especialistas em armas químicas acusaram as forças do presidente Bashar Assad de uso de produtos químicos altamente tóxicos; o governo nega as acusações.
Especialistas em armas dizem que a ciência para detecção de substâncias químicas mortais, que podem evaporar rapidamente após os ataques, melhorou muito ao longo das décadas, à medida que a ONU realizava dezenas de investigações de ataques. A partir de 1981, seus inspetores estudaram evidências em campos de batalha em locais como Iraque, Irã, Moçambique, Azerbaijão e agora a Síria.
"Eles podem apontar substâncias químicas muito após o fato", disse Amy E. Smithson, uma especialista em armas químicas e biológicas do Instituto Monterey de Estudos Internacionais. "Em investigações anteriores, os inspetores coletaram evidência incrivelmente útil e às vezes incriminadora."
A identificação da composição exata das toxinas químicas, especialmente em campo e em condições longe de ideais, pode ser um processo complicado, cheio de falsos alarmes. Mas o envio de amostras de campo para laboratórios distantes, para análise mais ampla, geralmente pode fornecer respostas claras para as alegações de combate.
Os especialistas dizem que dois grandes instrumentos complexos estão no coração da detecção avançada de substâncias químicas – o cromatógrafo e o espectrômetro de massa. O cromatógrafo separa as substâncias químicas em seus componentes, e o espectrômetro as identifica, por meio da comparação com coleções de substâncias conhecidas.
Com as leituras de ambos os instrumentos, os cientistas em laboratórios altamente especializados geralmente podem detectar a presença de um agente químico ou de seus produtos separados em uma amostra de campo.
"Eles são muito bons", disse David H. Moore, um toxicólogo do Battelle Memorial Institute, um grupo de pesquisa sem fins lucrativos de Columbus, Ohio, e um ex-oficial do Instituto de Pesquisa Médica da Defesa, no Campo de Provas de Aberdeen, em Maryland. "Se amostras adequadas são coletadas, a probabilidade é muito alta de que encontrarão evidência conclusiva de exposição a agentes de guerra química."
Um tratado global conhecido como Convenção de Armas Químicas de 1993 proíbe o desenvolvimento, produção, estoque e uso de armas químicas. A Organização para a Proibição de Armas Químicas, com sede em Haia, policia o tratado e conta com uma rede global de mais de uma dúzia de importantes laboratórios para análise de amostras de campo.
Moore disse que já visitou muitos dos laboratórios, incluindo um no Campo de Provas de Aberdeen, e considera o trabalho deles excelente.
Na Síria, ele acrescentou, a melhor evidência de substâncias químicas estaria nas amostras de sangue e tecido das vítimas e sobreviventes que apresentam sintomas agudos. A análise cuidadosa dessas amostras, ele disse, pode revelar "marcadores denunciadores".
Moore disse que sua própria avaliação da situação síria, com base nas fotos das vítimas, "claramente parece obra de um agente dos nervos".
Mas ele também disse que os inspetores da ONU poderiam ser confundidos se, uma semana após o ataque, as vítimas que estão bem apresentassem sintomas vagos, mas nenhuma evidência sólida de exposição química. "Quanto mais distante do incidente", notou Moore, "mais difícil será a investigação".
Outro obstáculo, notam os especialistas, é que a Síria continua bombardeando a área do massacre, no que o secretário de Estado americano, John Kerry, descreveu na segunda-feira como "destruição sistemática de evidência".
O relógio pode estar correndo não apenas para as pistas ambientais na Síria, mas também para as biológicas. Ron G. Manley, um ex-especialista militar britânico e diretor de verificação da Organização para a Proibição de Armas Químicas, disse que estudos mostram que o corpo humano metaboliza os traços dos agentes dos nervos, apagando a evidência química.
Mesmo assim, disse Manley em uma entrevista, cientistas britânicos conseguiram encontrar sinais claros "em amostras de sangue e urina até duas semanas" após um ataque químico.
A ONU contribuiu para o avanço da investigação de ataques químicos, após alegações de massacres com armas não convencionais e muitos recorrendo à entidade internacional para julgamento. Em 1988, por exemplo, o Irã acusou o Iraque de ter usado armas químicas contra várias aldeias iranianas. Em resposta, a ONU enviou uma equipe investigativa que relatou evidências claras de guerra química.
Em 1992, uma equipe de peritos formada pela Médicos pelos Direitos Humanos, com sede em Boston, e o Middle East Watch, um grupo de direitos humanos com sede em Nova York, realizou um experimento incomum para ver se evidências claras poderiam ser encontradas muito após um ataque químico. Seus cientistas foram até o vilarejo curdo no norte do Iraque que foi bombardeado pelos aviões de guerra iraquianos quatro anos antes, e enviaram amostras de campo para a Instituição de Defesa Química e Biológica do Ministério da Defesa britânico. Ele encontrou traços de sarin e de gás mostarda, outro agente químico.
Graham Pearson, o diretor-geral da instituição na época, disse que a detecção mostrou que "amostras coletadas em locais apropriados podem fornecer evidência da presença de agentes de guerra química quatro anos após o ataque".
Antes da investigação síria, os inspetores da ONU analisaram mais recentemente as acusações de uso de armas químicas no conflito entre Armênia e Azerbaijão. A equipe não encontrou evidência.
Os especialistas em armas notam que as investigações de acusações de guerra química às vezes são difíceis, porque os agentes dos nervos podem lembrar outras substâncias químicas, principalmente inseticidas. Tabun e sarin, ambos poderosos agentes dos nervos, foram desenvolvidos na Alemanha em 1936 e 1938 como inseticidas e apenas posteriormente estocados para guerra.
Em uma entrevista, Raymond A. Zilinskas, um cientista sênior do Instituto Monterey de Estudos Internacionais e um ex-inspetor de armas da ONU, disse que uma questão na Síria é se as nuvens tóxicas no local do massacre vieram de um acidente industrial em vez de um ataque com armas químicas.
Mas Zilinskas disse que as equipes de inspeção, após décadas de experiência e acesso aos equipamentos mais modernos, provavelmente contarão com meios para saber a diferença entre um ataque químico e um acidente. "Há uma probabilidade muito boa de que conseguirão diferenciar entre os dois", ele disse. "Uma unidade bem equipada de inspetores é capaz de fazer muito."
Tradutor: George El Khouri Andolfato
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