Alemães parecem já ter se decidido. Pouco menos de um mês antes da eleição geral, os conservadores de Angela Merkel estão bem à frente nas pesquisas e a chanceler também permanece extremamente popular. A mudança, mesmo que Merkel seja reeleita para um terceiro mandato, provavelmente não será iminente, dizem especialistas.
Mas os alemães não são os únicos que têm interesses em jogo. Do outro lado do Atlântico, os Estados Unidos estão observando também – e Washington espera que, uma vez que a campanha se torne passado, a Alemanha assumirá um papel maior de liderança global em questões como o comércio, a crise do euro e a segurança internacional.
Daniel Hamilton, diretor do Centro de Relações Transatlânticas na Universidade John Hopkins, chama isso de "diferença de expectativas". "Acho que a suposição que os norte-americanos fazem é de que a Alemanha sempre deve dar um passo à frente e assumir uma responsabilidade proporcional ao seu peso no mundo", diz ele. Os norte-americanos, ele sugere, sempre esperam um pouco mais da Alemanha do que a Alemanha está disposta a oferecer.
Por enquanto, é claro, as exigências de Washington são poucas e silenciosas. Como é época de eleição na Alemanha, especialistas dos EUA dizem que há uma série de questões que foram deixadas em banho-maria para depois de 22 de setembro. Mas, uma vez que a eleição acabar, e um novo governo for formado, os EUA esperam que a Alemanha aborde os problemas com um esforço renovado.
"Claramente, há uma série de questões reprimidas que exigem a atenção do novo governo alemão", diz Heather Conley, diretora do Programa Europeu no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais.
Uma esperança para a liderança alemã
Essas questões, do ponto de vista de Washington, tendem a se reduzir a uma mensagem consistente: os EUA querem que a Alemanha aumente sua participação e liderança quando se trata de assuntos globais. Como o maior país e a economia mais forte da Europa, os EUA acreditam que a Alemanha pode se esforçar mais para fazer sua parte."Certamente, as pessoas admiram a chanceler Merkel, mas acho que as pessoas em Washington desejam que a Alemanha assuma um papel maior na política mundial e também na estabilização da economia global", diz David Sudha-Wilp, um funcionário sênior do programa do Fundo Marshall Alemão dos Estados Unidos.
O papel da Alemanha no cenário internacional é algo que o presidente Barack Obama aludiu em seu discurso no Portão de Brandemburgo em junho. A Alemanha, disse ele, assim como os EUA, precisam se enxergar como "parte de algo maior".
"Porque não somos apenas cidadãos dos Estados Unidos ou da Alemanha – somos também cidadãos do mundo. E nossos destinos e sorte estão ligados como nunca estiveram", disse ele. "Digo tudo isso aqui, no coração da Europa, porque nosso passado compartilhado mostra que nenhum desses desafios pode ser superados a menos que nós nos enxerguemos como parte de algo maior do que a nossa própria experiência."
Zona do euro, comércio e política externa
Talvez a maior área onde especialistas dos EUA esperam ver algum movimento é nas questões econômicas e na atual crise do euro. Eles dizem que a Alemanha poderia fazer mais para estabilizar a economia europeia e suavizar a sua posição quanto às medidas de austeridade para garantir mais crescimento."Quando grande parte do mundo ainda está balançando e não está numa trajetória clara de crescimento, e a Europa se debatendo, a economia alemã é a chave para a economia europeia", diz Hamilton.
Fran Burwell, vice-presidente do Conselho do Atlântico, disse que embora não seja uma posição política fácil de assumir na Alemanha, o novo governo deve adotar "um papel mais flexível em termos de dívida".
Quando se trata de questões econômicas, entretanto, a Parceria para o Comércio e o Investimento Transatlânticos (TTIP, na sigla em inglês) pode ter prioridade. Tanto os EUA quanto a Alemanha gostariam de ver o estabelecimento do acordo de livre-comércio e Washington considera fundamentais os esforços de Berlim para ajudar a promover as negociações e incluir outros países europeus.
"A coisa do TTIP ocupa um espaço grande na agenda aqui (em Washington), e acho que a Alemanha tem um grande investimento nisso", afirma Jackson Janes, presidente do Instituto Americano para Estudos Alemães Contemporâneos. "Esperamos que a Alemanha continue assumindo a liderança para garantir que isso chegue a algum lugar, e não desista por conta de alguns temas como a cultura ou a comida."
Matemática da coalizão
Essa expectativa em particular parece realista, dado o apoio pessoal de Merkel a um acordo comercial com os EUA. Mas quando se trata de política externa, alguns observadores em Washington dizem que, mais do que qualquer outra coisa, os EUA querem clareza. A abstenção de Berlim na votação do Conselho de Segurança da ONU em 2011, autorizando a intervenção na Líbia, ainda está fresca na memória de muitos, e a abordagem da Alemanha quanto às revoltas no norte da África e na Síria tem sido inconsistente, na melhor das hipóteses.Conley, do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais, diz que há alguma "incerteza" em Washington sobre a força da Alemanha como parceira nas questões militares e de segurança no Oriente Médio. Ela diz que gostaria de ver o novo governo "articular seus pontos de vista e estratégias sobre segurança nacional e externa" após a eleição.
Mas primeiro, ela observa, os votos devem ser lançados e contados. Mesmo que as pesquisas mostrem que Merkel provavelmente permanecerá no poder, não está claro quem será seu parceiro de coalizão. "Estamos acompanhando de perto a matemática da coalizão", disse Conley.
"O mais inquietante seria um longo período de negociações de coalizão com um novo governo que não tenha clareza sobre quais serão as linhas básicas de sua política", acrescentou Burwell.
Tradutor: Eloise De Vylder
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