Presidente sugere que Roger Pinto Molina seja 'levado para a fronteira'
Planalto vai aguardar posicionamento do Conare sobre pedido de refúgio;
senador poderia ir para o Uruguai
ISABEL FLECK, VALDO CRUZ E TAI NALON - FSPEm sua primeira declaração após a fuga do senador Roger Pinto Molina da Bolívia, o presidente Evo Morales pediu que o Brasil entregue o opositor, que foi condenado por corrupção e enfrenta outros 14 processos no país andino.
"É importante devolver Roger Pinto à Justiça boliviana e que seja julgado como qualquer autoridade envolvida em temas de corrupção", disse Morales. Segundo ele, se estivesse no lugar do Brasil, "colocaria esse corrupto na fronteira".
"Ele não é um preso político e sua fuga é prova de que é um réu confesso", afirmou.
Entre os processos ao qual Molina responde, quatro são por corrupção, mas há acusações de má gestão e homicídio. Opositor de Morales, ele se diz perseguido politicamente e pediu asilo em maio de 2012.
O asilo diplomático foi concedido pelo Brasil em junho, mas a Bolívia nunca deu o salvo-conduto para que Molina deixasse a embaixada em segurança. Ele passou 15 meses no local, até ser trazido por um diplomata brasileiro, de carro, numa operação sem o aval do Itamaraty, na última sexta.
Segundo Morales, "é importante que o governo brasileiro explique o porquê dessa operação e do uso de carros diplomáticos".
À Folha o ministro de Governo boliviano, Carlos Romero, negou que La Paz tenha sugerido ao Brasil a opção de retirada de Molina ou deixado uma brecha para a fuga.
Eduardo Saboia, o diplomata que comandou a ação, disse que declarações de autoridades bolivianas abriram espaço para a operação.
"Eles disseram que não havia motivo para refúgio na embaixada porque não havia perseguição política, que ele poderia viajar no território boliviano", disse Romero.
Ontem, a presidente Dilma conversou com Morales por telefone, quando voltou a afirmar que a operação não contou com sua autorização. Ela informou que o caso está sob investigação do Itamaraty.
Na conversa, os dois combinaram de se encontrar no Suriname, no sábado, onde participam de encontro da Unasul (União de Nações Sul-Americanas). Na avaliação do governo, a fala mais forte de Morales ontem foi mais um recado para o público interno.
TRÂMITES LEGAIS
O Palácio do Planalto vai aguardar o posicionamento do Conare (Comitê Nacional para Refugiados) sobre o pedido de refúgio feito por Molina no último sábado, tão logo ele chegou a Corumbá (MS). O ministro Luís Inácio Adams (Advocacia-Geral da União) disse que a decisão não será política, mas técnica.
O Brasil trabalha com a informação de que Molina pode deixar o país antes dessa decisão. Um dos destinos pode ser o Uruguai --solução agradaria tanto a Bolívia como o Brasil.
Ontem, contudo, o Ministério Público boliviano anunciou ter pedido a captura de Molina à Interpol.
Ministro questiona se fuga ocorreria em país desenvolvido
JOHANNA
NUBLAT - FSPO ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) questionou ontem se a retirada secreta do senador boliviano Roger Pinto Molina ocorreria se ele estivesse em um país desenvolvido.
"Não é pela Bolívia ser um país frágil que podemos tratá-la de maneira diferenciada de como tratamos grandes nações. A pergunta é se essa atitude teria sido tomada se o cidadão estivesse num país como Estados Unidos, França ou Inglaterra. Eu não sei se teriam a mesma atitude", disse ontem o ministro.
Carvalho classificou a retirada como, "no mínimo", falta de cortesia e respeito à soberania do país vizinho.
Por fim, disse que não há "crise efetiva" entre os países, em razão do repúdio do governo brasileiro à fuga.
"Só espero que os processos em torno do senador possam evoluir, para que tenhamos clareza de sua responsabilidade real", concluiu.
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