1º.jul.2013 - Emilio Naranjo/EFE
O primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, comparece a plenário do Congresso, em Madri, para dar seu depoimento sobre o caso Bárcenas
Os fatos se resumem assim para Mariano Rajoy, presidente do governo (primeiro-ministro) da Espanha: "Enganei-me ao manter a confiança em alguém que agora sabemos que não a merecia; ele me enganou. Acreditei em sua inocência".Eram 9h30 da manhã de 1º de agosto quando o chefe do Executivo pronunciou pela primeira vez na sede parlamentar o nome do ex-tesoureiro de seu partido: Luis Bárcenas. Rajoy afirmou que jamais ganhou dinheiro de maneira fraudulenta e que de fato recebeu bonificações, mas que tudo foi declarado à Fazenda e isso, acrescentou, tem mais valor que "um rabisco escrito a mão em um papel enrugado", referindo-se aos manuscritos de Bárcenas.
Em sua vez de intervir, depois de escutar o primeiro-ministro, o secretário-geral do Partido Socialista Operário Espanhol, Alfredo Pérez Rubalcaba, declarou que não dava crédito a nada do que Rajoy acabava de dizer, porque continuou protegendo Bárcenas, e que não renunciará à moção de censura.
Em um tom seguro, para entusiasmo de seu grupo, que o aplaudiu constantemente, o primeiro-ministro afirmou que confiou em Bárcenas, até que se soube que tinha contas ilegais na Suíça, embora a última mensagem trocada entre ambos tenha ocorrido quando já se conhecia esse fato. "Esperarei que a Justiça acabe seu trabalho", disse o primeiro-ministro no plenário extraordinário do Senado, convocado exclusivamente para tratar do suposto financiamento ilegal do Partido Popular e de supostas receitas irregulares do primeiro-ministro. "A Justiça vai demonstrar que não houve nada ilegal em meu comportamento ou no de meu partido", disse Rajoy.
O primeiro-ministro não se colocou na defensiva, mas saiu ao ataque contra todos os que não respeitam "a presunção de inocência" e os que fazem "um uso partidário" desse caso, "pondo em risco a estabilidade da Espanha e jogando com o futuro dos espanhóis". Todas as bofetadas dialéticas foram para o secretário-geral do PSOE, Rubalcaba, que se permitiu "ameaçá-lo", segundo Rajoy, com uma moção de censura. Rajoy criticou Rubalcaba por usar um instrumento constitucional para deslegitimá-lo. "Não é sério, e não é que eu a tema. Não me preocupa a moção de censura, porque não seguiria adiante."
Mas Rajoy reconheceu o "dano" que a própria menção de uma moção de censura causou ao prestígio da Espanha. Depreendeu-se da dureza que empregou nesse assunto que o anúncio da moção de censura foi determinante para seu depoimento, embora tenha dito que foi movido pelo interesse "de parar tanto despropósito". Com efeito, concluiu, "causou-se dano à imagem da Espanha".
A justiça, a fé na justiça, é no que crê o primeiro-ministro. "Eu digo que o que o senhor Bárcenas diz não é verdade, e a partir daí só cabe ao juiz. Esta é uma câmara parlamentar, e não um tribunal", disse. "Alguns querem transformar o Parlamento em uma enorme delegacia, dizia um dirigente deste país." E também: "As Cortes não estão aí para suplantar os tribunais". Essas frases, embora não tenha citado seu autor, são sem a menor dúvida de dirigentes socialistas. Outra frase de grande relevância que é uma declaração de princípios: o Congresso existe para demandar as responsabilidades políticas, mas "quando os fatos sejam verdadeiros".
Não cabe a Rajoy demonstrar sua inocência, mas serão os tribunais que terão de demonstrar os fatos e "os estratagemas de Bárcenas". "Esperarei que conclua o processo judicial na confiança de que nem a mim nem a meu partido haverá algo de que nos acusar", ressaltou. Apoiou Luis Bárcenas, admitiu, como apoiará qualquer um que sofra uma perseguição "injusta". Ao que acrescentou: "Apoiei-o até que, quatro anos depois, confirmaram-se as contas milionárias na Suíça. Foi uma deslealdade com o partido e, além disso, era ilegal. Esse foi meu papel nesta história". Isso foi tudo o que ocorreu a Mariano Rajoy.
Nada é verdade, proclamou, que não tenha caído no "e você mais", em clara referência ao caso das demissões da Andaluzia. Só resta esperar que a Justiça esclareça o caso Bárcenas e tome as medidas anticorrupção anunciadas há seis meses e ainda à espera.
Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
Nenhum comentário:
Postar um comentário