sexta-feira, 2 de agosto de 2013

UM MATA O OUTRO E O OUTRO MATA O UM OU CHAMA O IBAMA PORQUE A SÍRIA ESTÁ EM EXTINÇÃO!

Síria vive ameaça de uma guerra entre islamitas e curdos
Christophe Ayad - Le Monde
Já abatida pela contraofensiva do regime e pelas postergações da comunidade internacional, a rebelião síria agora se encontra ameaçada por um conflito interno, que pode descambar para um conflito étnico.
A guerra interna entre curdos e jihadistas, que vem devastando o norte e o leste da Síria desde meados de julho, assumiu um novo viés, na quarta-feira (31), com a tomada de cerca de 200 civis curdos como reféns pelos rebeldes fundamentalistas da Frente Al-Nusra e do Estado Islâmico no Iraque e no Levante nos vilarejos curdos de Tall Haren e Tall Hassel (província de Aleppo). Ninguém sabe para onde os moradores foram levados por esses dois grupos próximos da Al-Qaeda.
Nas duas últimas semanas houve violentos combates entre jihadistas e milicianos curdos, ainda que ambos ferrenhamente hostis ao regime de Bashar al-Assad. Esses confrontos, que já fizeram dezenas de mortos, ameaçam descambar para uma guerra étnica entre curdos e árabes e estão submetendo o resto da rebelião, em sua maior parte árabe e sunita, a uma difícil escolha entre solidariedade étnico-religiosa e política de boa vizinhança com a poderosa minoria curda da Síria, apoiada por seus homólogos na Turquia e no Iraque.
A tomada em massa de reféns da quarta-feira, que lembra os sinistros métodos da Al-Qaeda no Iraque, parece responder às recentes derrotas do Estado Islâmico no Iraque e no levante diante das forças curdas, sobretudo no vilarejo estratégico de Ras al-Ain, na fronteira com a Turquia. No setor de Tall Abyad, o Estado Islâmico foi abandonado pelas outras forças rebeldes -- sobretudo a divisão 11 do Exército Livre Sírio, mas também grupos salafistas -- que se recusam a conduzir um combate considerado inútil e fratricida.

Hostilidade de boa parte dos rebeldes

Esse grupo jihadista conhecido por seu radicalismo é originário do Iraque, mas está cada vez mais presente na Síria. Ele tentou em vão uma fusão com a Frente al-Nusra, o braço sírio da Al-Qaeda, que recusou, mas continua a manter ligações com o braço iraquiano. Ele também foi renegado por Ayman al-Zawahiri, o líder da Al-Qaeda desde a morte de Osama Bin Laden. Acima de tudo, o grupo atraiu para si a hostilidade de boa parte dos rebeldes, que o acusam de passar mais tempo combatendo a rebelião para ampliar seu território do que enfrentando o exército do regime sírio.
Em meados de julho, um membro do Estado Islâmico havia assassinado Abou Bassir, o principal líder rebelde na região do djebel turcomeno, chocando um grande número de sírios. O Estado Islâmico no Iraque e no Levante também é suspeito de ter mandado matar Issa Hesso, um importante membro do PYD [Partido da União Democrática], o principal partido curdo sírio, em um atentado a bomba em Kamechliyé, na terça-feira. Os observadores não descartam a possibilidade de que esse assassinato tenha sido cometido pelos serviços de inteligência sírios, que veem com maus olhos a atual reaproximação entre o PYD e a Turquia, intermediada pelo PKK, a principal força política curda da Turquia, em pleno processo de paz com Ancara.
No entanto, Issa Hesso, que era encarregado das relações exteriores dentro do Conselho Supremo curdo, reagrupando todas as forças políticas curdas da Síria, havia criticado veementemente, pouco tempo antes, o Estado Islâmico no Iraque e no Levante.

PYD rompeu com o regime em março

O PYD, que no início da revolução síria se manteve em uma rigorosa neutralidade, rompeu definitivamente com o regime no mês de março. Mas o partido pretende gerir, com a ajuda de outros partidos curdos, as zonas curdas libertadas de maneira autônoma. O conflito em andamento poderia acentuar sua desconfiança atávica em relação às forças árabes, independentemente de serem a favor ou contra o regime atual em Damasco. Após a morte de Issa Hesso, os YPG, o braço armado do PYD, lançaram uma convocatória às forças curdas para se juntarem a eles em combate aos extremistas religiosos.
Ciente dos riscos potenciais de um conflito como esse para o futuro da revolução síria, que ele apoia ativamente, o padre jesuíta Paolo Dall'Oglio, que reside em Souleimaniyeh, no Curdistão iraquiano, foi em 28 de julho até Raqqa, no nordeste da Síria, para conduzir uma mediação entre islamitas e curdos. A cidade é na verdade mantida pelo Estado Islâmico no Iraque e no Levante, em colaboração com a brigada Ahrar al-Cham, um de seus últimos aliados na Síria. Desde que foi instalado, o Estado Islâmico realizou diversas execuções públicas de "traidores", desapareceu com a autoridade local que dirigia o conselho eleito após a libertação da cidade e é suspeito de ter sequestrado dois jornalistas franceses.
Segundo informações não confirmadas, o padre Paolo Dall'Oglio estaria sendo retido pelos homens do Estado Islâmico em Raqqa. O ministério italiano das Relações Exteriores e a comunidade de origem do padre Paolo por enquanto se recusam a confirmar um rapto. Mas o papa Francisco, ele mesmo oriundo da Companhia de Jesus, exprimiu sua preocupação na quarta-feira, durante uma missa celebrada em Roma. 
Tradutor: Lana Lim

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